IEDI na Imprensa - Guerra acelera disparada dos preços na indústria
Valor Econômico
IPP sobe de 0,54% para 3,13% em março, maior alta em um ano
Lucianne Carneiro
Impulsionada pelos efeitos do início da guerra na Ucrânia, a inflação da indústria disparou de fevereiro para março. A chamada inflação de porta de fábrica, sem impostos ou fretes, acelerou de 0,54% em fevereiro para 3,13% em março, segundo o Índice de Preços ao Produtor (IPP), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior alta desde março de 2021 (4,63%) e está entre as maiores da série histórica, iniciada em janeiro de 2014.
O movimento teve forte impacto do conflito no Leste da Europa, que pressionou preços nas atividades de refino de petróleo e biocombustíveis, indústrias extrativas e outros produtos químicos, mas também foi influenciado por alimentos. Juntas, as quatro atividades responderam por quase toda a alta de março, com impacto de 3,12 ponto percentual da variação de 3,13%. Especialistas veem com preocupação o cenário, com pouca possibilidade de a inflação na indústria desacelera no curto prazo.
Em março a maior influência veio de refino de petróleo e biocombustíveis, cujos preços subiram 10,84% e responderam por 1,23 ponto percentual do índice geral, ou seja, quase 40% (39,3%). O segundo maior impacto foi alimentos, com aumento de 3,01% e impacto de 0,71 ponto percentual do IPP. A taxa de 3,01% foi a mais alta desde outubro de 2020 (4,67%).
Em seguida, quem mais pesou foram as indústrias extrativas, com variação de 10,69% e impacto de 0,61 ponto. Foi a terceira alta consecutiva e a primeira de dois dígitos desde fevereiro de 2021 (27,91%). A quarta maior influência foi da atividade de outros produtos químicos, com alta de 5,75% e impacto de 0,57 ponto.
“O comércio internacional foi um dos principais responsáveis pelos preços dos produtos industriais no ano, como por exemplo óleo bruto de petróleo e fertilizantes, que afetam de forma quase direta os setores de refino e químico”, afirma o gerente do IPP, Manuel Campos.
No caso de refino de petróleo e biocombustíveis, 10,29 pontos percentuais da alta de 10,84% em março vieram de apenas quatro produtos: óleo diesel, gasolina, óleos combustíveis (exceto diesel) e gás liquefeito de petróleo (GLP).
Na indústria química, produtos como adubos ou fertilizantes à base de NPK, herbicidas, adubos ou fertilizantes minerais ou químicos, fosfatados e adubo/fertilizante mineral/químico com nitrogênio e potássio responderam por mais de 90% da variação de 5,75% (5,31 pontos percentuais). A atividade de outros produtos químicos foi puxada principalmente por dois grupos de produtos: fabricação de produtos químicos inorgânicos, com variação de 9,27%, e o de fabricação de defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários, com alta de 11,15%, a maior de toda a série histórica do índice.
Essa pressão de custos na produção agrícola tende a elevar ainda mais os preços de alimentos, aponta Campos, que prefere não dimensionar qual será essa influência. “A alta de fertilizantes tem impacto na produção agrícola e acaba afetando os preços de alimentos. Mas a gente não sabe quanto. Em março, os preços dos alimentos subiram 3,01%, mas também teve problema do tempo, que afetou muito a soja. A combinação de tudo a gente vai ver nos próximos meses”, nota.
Para o economista sênior do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) Rafael Cagnin, a trajetória da inflação de produtos industriais preocupa não só no Brasil, mas em todo o mundo.