IEDI na Imprensa - Desempenho da indústria demonstra fragilidade do PIB em 2022
Valor Econômico
Rafael Cagnin observa que a contração de 1,4% do segmento no quarto trimestre foi o mais intenso entre todos os subsetores e indica como será difícil retomar o dinamismo olhando adiante.
Marcelo Osakabe
O desempenho pífio da indústria de transformação em 2022 é um sinal de que o crescimento do PIB no ano passado foi frágil, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Ele ressalta que a contração de 1,4% do segmento no quarto trimestre foi o mais intenso entre todos os subsetores e indica como será difícil retomar o dinamismo olhando adiante.
O setor manufatureiro tem peso de cerca de 50% na abertura do PIB da indústria e contraiu 1,4% no quarto trimestre, levando o desempenho em 2022 a 0,3%. Já a indústria como um todo, que engloba também o segmento extrativo, a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás, recuou 0,3% no quarto trimestre, mas teve alta de 1,6% no ano fechado.
“Ano passado, o eixo do crescimento do PIB foi o consumo das famílias e, em menor grau, o setor externo, que inclusive amenizou um pouco a retração industrial. Mas essa recuperação dos serviços foi, em grande parte, recomposição da cesta de consumo reprimida durante a pandemia, o que já dá sinais de esgotamento”, diz Cagnin.
“Essa situação recoloca de novo a importância de dinamismo do setor industrial, que tem cadeias mais longas e capacidade de impulsionar o restante da economia.”
Outro dado preocupante, diz, é o investimento em máquinas e equipamentos, que teve queda de 7,3% ano passado, um dado que casa com a quinta queda trimestral consecutiva da produção de bens de capital para a própria indústria.
“É a modernização do parque que pode gerar mais produtividade e competitividade. Por outro lado, é compreensível, dado que a demanda industrial vem caindo e houve elevação do custo de crédito no período”, diz.
Diante de uma perspectiva de crescimento tanto doméstico como global mais desfavorável no ano, o economista diz que um dos poucos riscos positivos a serem monitorados é o gasto em infraestrutura.
“Seja porque foram aprovados marcos regulatórios importantes para atração do setor privado recentemente, seja porque governo acordou para necessidade de aumentar investimento público, principalmente depois de desastres naturais como o do litoral paulista ou de Petrópolis.”
Em sua avaliação, esta situação também levanta a oportunidade de atuar para modernizar as empresas do setor em torno de uma agenda de infraestrutura mais resiliente.
“É algo que os Estados Unidos vêm fazendo, integrado ao seu pacote de investimentos. E abre uma oportunidade para a as empresas locais também, já que a infraestrutura é grande mobilizadora da atividade industrial.”