IEDI na Imprensa - Exportação da indústria cai com retração em itens mais influenciados por commodities, aponta IEDI
Valor Econômico
Quadro torna mais clara a vulnerabilidade da pauta de exportação da indústria a eventos pontuais
Marta Watanabe
Com a queda das cotações das commodities, a exportação da indústria de transformação perdeu o impulso da recomposição de base e também tem sido afetada pelo recuo de preços nos embarques de itens que são do “início de cadeia”, com menor agregação de valor. O quadro torna mais clara a vulnerabilidade da pauta de exportação da indústria a eventos pontuais e reforça a necessidade de medidas que garantam mais competitividade ao setor, como a aprovação da reforma tributária. A avaliação é do economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Segundo dados divulgados esta tarde pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (Mdic), junho encerrou com US$ 10,6 bilhões em superávit na balança comercial, com US$ 30,1 bilhões em exportação e US$ 19,5 bilhões em importações. A exportação total do país caiu 8,1% em relação a igual mês de 2022, considerando a média por dia útil. Os embarques da indústria de transformação caíram em ritmo maior, em 10%, em igual comparação.
“Estamos em outro momento. Depois de a indústria de transformação ter recuperado níveis de exportação em 2021 e boa parte de 2022, estamos já com bases recompostas e há dados mais modestos em 2023. No segundo trimestre vimos meses com variações negativas e positivas nas exportações do setor, resultado de enfraquecimento de desempenho dos produtos de indústria de transformação que são mais contaminados por ciclos de commodities”, diz Cagnin.
O economista explica que os produtos de “início de cadeia” foram mais afetados por recuo de cotações de commodities em razão da acomodação do mercado internacional, com economias em desaceleração, sob efeito da elevação da taxa de juros no cenário global. Ele destaca que a queda de preços contribuiu em junho para a queda no valor embarcado de produtos como farelos de soja, carne bovina e de aves, além de combustíveis, segundo dados do Mdic, sempre na comparação com igual mês de 2022.
“Esse produtos mais influenciados pelo ciclo positivo de commodities funcionaram como colchão nesse contexto de recomposição de bases, mas isso vai perdendo seu efeito amortecedor.”
Cagnin lembra que os itens de “início de cadeia” são importantes na pauta de exportação brasileira e por isso tornam os embarques mais vulneráveis a questões pontuais. Ele destaca que o embarque de alguns produtos de maior intensidade tecnológica do setor automotivo, como veículos rodoviários, autopeças e aeronaves, chegou a ter variação positiva acima de dois dígitos em junho, contra igual mês do ano passado. “Mas o desempenho relativamente positivo desses produtos que têm encadeamentos maiores foram eclipsados por esse colchão mais fino dos produtos mais vulneráveis aos ciclos de commodities.”
Para Cagnin, a reativação da demanda externa para cadeia automotiva e aeronaves é importante para o setor, já que o mercado doméstico tem “fôlego curto”, mesmo com todas as recentes ações do Mdic para tentar desovar estoques do setor automobilístico. “O mercado internacional é uma forma de dar maior dinamismo a esse setor.”
Em sua opinião, a agenda prioritária para dar mais competitividade à indústria de transformação passa pelo encaminhamento do acordo Mercosul-União Europeia e também pela aprovação da reforma tributária, medida que pode trazer um efeito de “divisor de águas” para o setor, tirando obstáculos à competitividade brasileira e eliminando a exportação de impostos.