IEDI na Imprensa - Agro e indústria extrativa surpreendem e ajudam no 2º trimestre
Valor Econômico
Alto nível de juros, apontam especialistas, ainda segura a indústria de transformação e afeta os investimentos
Anaïs Fernandes, Marcelo Osakabe, Marsílea Gombata e Rafael Vazquez
Setores menos dependentes do ciclo econômico interno, a agropecuária e a indústria extrativa surpreenderam positivamente no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre.
“Esperávamos uma contribuição negativa da parte exógena do PIB [a que não é diretamente influenciada pela política monetária]. Mas agropecuária surpreendeu ficando praticamente estável [em relação ao primeiro trimestre]”, diz Silva Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
A agropecuária recuou 0,9% ante o primeiro trimestre de 2023, uma queda bem menor do que a estimativa mediana de contração de 3,5% colhida pelo Valor. Além disso, em relação ao segundo trimestre de 2022, o agro cresceu 17%. "Ainda estamos falando de um crescimento bem robusto", afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
O agro ainda deve ter ajudado o setor de serviços, com "transbordamento", por exemplo, para serviços de transporte, aponta Victor Cândido, economista-chefe da RPS Capital.
A indústria extrativa, por sua vez, subiu 1,8%, enquanto a de transformação avançou apenas 0,3%. Em relação à extrativa, Rafaela destaca a recuperação da mineração neste ano e o avanço da produção de óleo e gás.
“O desempenho da indústria extrativa foi bom e o da de transformação veio fraco, em linha com o que esperávamos. O mesmo vale para construção, que está desacelerando”, afirma Matos.
Apesar disso, Rodolfo Margato, economista da XP, destaca o desempenho positivo na construção civil (0,7%), serviços industriais e de utilidade pública.
O alto nível dos juros ainda segura o desempenho da indústria de transformação, segundo Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Ele nota que a indústria de transformação não é a única que sofre com o crédito caro. A alta de 0,7% na construção civil — que também entra no cálculo da Formação Bruta de Capital Fixo (medida para os investimentos no PIB) pelo ótica da demanda — representa praticamente estabilidade na comparação interanual.
“Os juros elevados comprometem o investimento, que não gera demanda para bens duráveis, seja de capital ou para consumo, ou para a construção civil”, afirma. “A gente sabe que o ciclo de cortes da Selic já teve início, mas imagina que isso se traduza em mais vigor para os setores dependentes de crédito apenas na virada do ano.”
Cagnin aponta ainda que as surpresas altistas com agropecuária e indústria extrativa se concentram em “dois setores que também têm menor capacidade de espalhar crescimento pela economia, ainda que tenham ajudado a assegurar um desempenho exportador melhor”.