IEDI na Imprensa - À espera da neoindustrialização
O Estado de São Paulo
A perspectiva de queda do PIB brasileiro no ano que vem pode ser explicada, em grande parte, por causas internas, como a política monetária e o crescimento menor do PIB agropecuário projetado para o próximo ano. Mas há também fatores externos, já que a economia global vem dando sinais de perda de dinamismo e o cenário é de aperto na liquidez. A projeção mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de crescimento global de 3% em 2023, ante 3,5% no ano passado.
O cenário global dificulta um caminho percorrido em outros momentos para o crescimento econômico do Brasil: o aumento das exportações. “As tensões geopolíticas costumam gerar ações protecionistas e o redesenho das cadeiras globais. O Brasil tem a dificuldade adicional de ter a balança comercial excessivamente concentrada em poucos países e em poucos produtos”, analisa Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Para ele, está faltando uma fonte “real” de dinamismo para a economia brasileira – que pode vir a ser o projeto de neoindustrialização do governo, anunciado pelo presidente Lula como “fio condutor de uma política econômica voltada para a geração de renda e de empregos mais intensivos em conhecimento e de uma política social que investe nas famílias”. Enquanto a estratégia vai sendo desenhada com maior clareza, a realidade percebida é que o crescimento da indústria tem sido dificultado pela taxa de juros nas alturas.
“Quanto mais altos os juros, maior precisa ser a rentabilidade do sistema produtivo para justificar novos investimentos. Em cenários assim, a tendência é de que as empresas se limitem a repor a depreciação e fazer apenas o essencial, como atualização tecnológica”, avalia Cagnin. “Com isso, o Brasil está deixando de impulsionar um setor que tem fator multiplicador altíssimo. Quando a oferta na indústria de transformação cresce um real, o todo da economia cresce dois, por conta dos vínculos com outras atividades econômicas, dos serviços à agricultura.”