IEDI na Imprensa - Veja posição da indústria brasileira em ranking global
Valor Econômico
Manufatura do Brasil ganhou 8 posições e ficou em 64º lugar em 2023 entre 117 países
Anaïs Fernandes
A posição da indústria manufatureira do Brasil entre 117 países melhorou no fim de 2023, mas não deixou de ser intermediária. O Brasil ainda está longe de figurar entre os países com melhor desempenho.
As conclusões fazem parte de um levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), que constrói o ranking a partir de dados da United Nations Industrial Development Organization (Unido). O estudo considera informações apenas do segmento manufatureiro, ou seja, não inclui, por exemplo, a indústria extrativa.
Com alta de 0,1% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, o Brasil estava na 57ª posição do ranking no fim do ano passado, oito colocações acima do observado no terceiro trimestre de 2023 e nove posições à frente do quarto trimestre de 2022. Assim, o Brasil se posicionou melhor do que alguns de seus vizinhos latino-americanos, como México (71º), Argentina (100º) e Colômbia (101º), todos registrando queda de suas produções industriais no período.
Em 2023 como um todo, o Brasil ficou na 64ª posição. Embora tenha continuado na metade inferior do ranking, essa foi a melhor colocação obtida pelo Brasil desde a pandemia - em 2021, ficou em 89º e, em 2022, em 96º.
Na América Latina, o resultado industrial do Brasil superou o de Argentina (70º), Colômbia (97º) e Peru (104º), mas ficou atrás de Equador (4º), México (45º), Bolívia (42º), Uruguai (51º) e Chile (52º).
Considerando países do Brics - Rússia (11º), Índia (17º), China (20º) e África do Sul (50º), todos com crescimento da indústria em 2023 -, o Brasil foi o que se saiu pior no ano passado.
O que já tinha acontecido em 2022 piorou ainda mais em 2023”
— Rafael Cagnin
Apesar da melhora no fim do ano, a indústria manufatureira do Brasil caminhou em direção oposta à global em 2023, com queda de 0,9% no ano, contra alta de 1,1%. A produção “bastante aquém da evolução do setor no mundo” foi a “marca de 2023”, segundo o IEDI.
“O que já tinha acontecido em 2022 piorou ainda mais em 2023. Foi um ano de perdas, do ponto de vista da produção física. Houve algum suspiro, uma sinalização positiva, no fim do ano, mas, em parte, porque a base de comparação ficou muito baixa”, diz Rafael Cagnin, economista do IEDI.
Há, no entanto, fatores “economicamente mais robustos” para explicar o “suspiro” da indústria brasileira no fim de 2023, como o ciclo monetário mais favorável.
“Depois de uma fase prolongada de redução de juros, isso vai sendo repassado para as taxas de empréstimos. Ainda é modesto e o movimento acaba amortecido pela manutenção de ‘spreads’ elevados, diante de níveis de inadimplência também altos. O passado ainda se faz pesar”, afirma Cagnin.
Boa parte da assimetria entre a queda da indústria brasileira em 2023 e a alta da manufatura global pode ser explicada pelo perfil setorial do dinamismo da indústria mundial no ano passado, aponta o IEDI. Os dados da Unido mostram liderança da indústria de alta e média-alta tecnologia a nível global, com a produção avançando, por exemplo, 3,9% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, mais que o dobro do resultado do setor como um todo, segundo o IEDI.
No Brasil, por outro lado, esses ramos registraram queda de 6,3%, de acordo com dados do IBGE analisados pelo instituto.
O Brasil também cresceu abaixo do ritmo mundial na comparação entre o terceiro e o quarto trimestre de 2023: 0,4%, contra 1%. Ainda assim, para a América Latina, o país contribuiu no sentido de atenuar o desempenho da indústria regional no quarto trimestre de 2023, diferentemente de Argentina e México, que geraram um impacto negativo. Na comparação entre trimestres imediatamente anteriores, a produção manufatureira do Brasil não apresentou vigor, observa o IEDI, mas, ao menos, evitou o terreno negativo.
“Saímos da zona negativa, mas também não foi nada efusivo. Ainda assim, fomos melhor do que outros mercados de peso, como México e Colômbia, e conseguimos dar uma contribuição positiva para a América Latina, sendo que, desde a pandemia, quase sempre a performance do Brasil era inferior à do agregado da região”, diz Cagnin.
Ele credita parte desse movimento às fases dissociadas dos ciclos monetários entre o Brasil e seus pares latino-americanos. “Começamos a subir os juros antes, mas a cortar também”, afirma.
Ainda assim, a região da América Latina e Caribe foi a única em que não houve melhora da indústria em nenhum base de comparação: caiu 0,4% no quarto trimestre de 2023, ante o terceiro, chegando a cinco trimestres seguidos sem crescimento, e registrou contração de 1,5% em relação ao quarto trimestre de 2022, o pior resultado trimestral do ano passado.
Por outro lado, o crescimento da China e a melhora no quadro econômico de países de alta renda, sobretudo na Europa, levaram a indústria mundial a apresentar sinais de reaquecimento no fim de 2023, diz o IEDI. O crescimento de 1% da produção manufatureira global no quarto trimestre de 2023, ante o terceiro, foi, segundo o IEDI, o primeiro resultado positivo após uma fase de virtual estagnação que se estendia desde o fim de 2022.
Em comparação ao mesmo período de 2022, o ritmo de expansão da indústria global dobrou do terceiro para o quarto trimestre do ano passado: de 0,7% para 1,5%.
Olhando para 2024, Cagnin diz acreditar que a tendência é o Brasil seguir melhorando no ranking. “Ainda que haja algum ruído e sinalização de que o processo de corte de juros terá uma velocidade um pouco menor, tem repasse a ser feito, as taxas de financiamento ainda não captam muito da redução da Selic no ano passado.”
Na sua avaliação, o grau de incerteza no dia a dia do industrial também deve diminuir em relação a 2023, quando houve troca de governo e votações de novas regras fiscal e tributária - esta última agregando boas perspectivas para os investimentos na indústria, segundo Cagnin.
“É um ano que acho que tende a ser positivo, melhor do que o ano passado, e com uma distribuição do dinamismo maior entre os diferentes ramos da indústria”, afirma.
Além disso, Cagnin cita ações do governo federal com o novo PAC, que deve ajudar a reativar a construção civil, uma grande consumidora de insumos industriais, e o programa Nova Indústria Brasil (NIB), que teria potencial de acelerar o avanço em atividades de maior intensidade tecnológica. “Precisa ir concretizando como as missões da NIB serão, de fato, implementadas”, afirma.