IEDI na Imprensa - Indústria também ganha com Acordo Mercosul-EU. Entenda
Valor Econômico
O Acordo Comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) beneficiará o agronegócio, mas também a indústria brasileira, com potencial de atrair mais investimentos.
Marsílea Gombata
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que até 2040, o agronegócio teria aumento de produção de 2%, equivalente a US$ 10,9 bilhões, enquanto na indústria extrativa mineral o ganho seria de 0,08%, ou US$ 126 milhões, e na de transformação, 0,04%, ou US$ 498,5 milhões. Serviços, por sua vez, teria ganho de 0,41%, ou US$ 9,9 bilhões.
No agronegócio, segundo a nota técnica Avaliação dos impactos do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia, cerca de três quartos dos ganhos estariam concentrados em quatro setores: carnes de suíno e aves, outros produtos alimentares (basicamente pescado e preparações alimentícias), óleos e gorduras vegetais, e pecuária (gado em pé). Em outros, como carne bovina, açúcar e arroz processado, não haveria grande aumento de produção, já que as exportações para a UE não representariam uma fração relevante da exportação total ou da produção doméstica. A nota do Ipea não desagrega os segmentos de serviços, pois o objetivo era analisar o impacto sobre a produção e o comércio de mercadorias.
“No fim, o agronegócio é o grande ganhador, com ganhos de produção e de emprego, à exceção de alguns setores de fibras naturais, que é irrelevante no comércio bilateral”, afirma Fernando José da Silva Paiva Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e um dos autores do estudo, ao observar que o importante é mais setores que tenham aumento de produção, o que diz respeito ao impacto doméstico, do que necessariamente exportem mais. “As perdas estariam bastante concentradas e são pequenas proporcionalmente.”
No cenário até 2040 projetado no documento, as exportações do Brasil cresceriam 3%, ante alta de 0,12% das da UE e de 0,97% das dos demais países do Mercosul. No que diz respeito às importações, o ganho brasileiro também seria de 3%, ante 0,16% do bloco europeu e 0,92% do restante do Mercosul.
“Todos os setores podem se beneficiar [do acordo]. É importante ter em conta que um acordo como esse abre portas, cria acesso a mercados. Mas a constituição efetiva dos fluxos de comércio e de investimentos que se beneficiam desses acessos depende de um conjunto mais amplo de fatores”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Para além de ganhos na agroindústria como um todo, itens brasileiros com maior valor agregado poderiam ter alta importante nos embarques, como cafés de diferentes origens, cacau, açaí e cosméticos, diz Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e associada sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
“Tudo o que tem a ver com sustentabilidade, seja com o Brasil fornecendo um produto que ajudar a descarbonizar uma cadeia ou o consumidor europeu reconhecendo critérios de sustentabilidade nesse produto e disposto a pagar um valor complementar pelo esforço de preservação ecológica, é interessante”, diz. “Caberá a nós, então, implementar sistemas de rastreabilidade [para provar a sustentabilidade desses itens].”