IEDI na Imprensa - Ano marca retomada da indústria de transformação, mas juro e Trump são desafios
Valor Econômico
Após encolher nos últimos anos, segmento deve crescer 3,1% em 2024 e vem puxando as exportações
Marsílea Gombata
O ano de 2024 marcou a retomada da indústria de transformação, que vem tendo desempenho exportador melhor que no ano passado. Hoje o setor é um dos principais motores dos embarques brasileiros, com destaque para alimentos, máquinas e equipamentos e produtos de madeira. A Federação das Indústrias de São Paulo prevê que a indústria de transformação cresça 3,1% neste ano, em relação a 2023. A alta contrasta com as retrações de 1,3% em 2023 e de 0,3% em 2022. Fernando Marques, da equipe técnica da entidade, lembra que o uso da capacidade instalada da indústria manufatureira deve encerrar o ano entre 82% e 83%, acima da média histórica de 79,7% desde 2005, segundo dados do Mdic.
Entre janeiro e novembro, a indústria manufatureira puxou as exportações, atrás apenas da indústria extrativa e à frente da agropecuária. Além das vendas externas, o volume importado também teve forte alta, com destaque para bens de capital. Segundo Lia Valls, do FGV Ibre, a alta das exportações foi impulsionada pela indústria extrativa, com alta de 21,9% nos volumes embarcados em novembro, em relação ao mesmo mês de 2023. Em segundo lugar, veio a indústria de transformação, com alta de 9,5%. Em termos de preços, só tiveram variação positiva os da indústria de transformação.
Em volume, as importações da indústria de transformação cresceram 17% de janeiro a novembro, ante alta de 6,1% da indústria extrativa e de 33% da agropecuária.
Mesmo com a recessão da Argentina, que comprou menos do Brasil ao longo de 2024, o desempenho comercial da indústria de transformação surpreendeu neste ano, afirma Gustavo Bonini, diretor da Fiesp. Mas para crescer de forma mais sustentável, argumenta Rafael Cagnin, economista do IEDI, as empresas precisam de maior inserção no comércio global.
Mas depois dos bons ventos em 2024, o setor manufatureiro deve enfrentar desafios em 2025. A perspectiva de juros elevados por mais tempo, por exemplo, pode atrapalhar setores sensíveis à oferta de crédito, diz João Leme, da Tendências Consultoria. Lia Valls acrescenta ainda a incerteza do cenário externo. “Se o Trump realmente começar aumentar tarifas, com muito protecionismo, será ruim”, diz, lembrando que os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil.