IEDI na Imprensa - Entenda por que o investimento deve perder força em 2025
O Globo
Com juros baixos e consumo aquecido, confiança dos empresários cresceu e aportes saltaram 7,3% em 2024. Mas fôlego para novos avanços deve diminuir neste ano
Carolina Nalin , Vinicius Neder , Mayra Castro e Bruno Rosa
O cenário de juros mais baixos e consumo aquecido impulsionou a confiança dos empresários e fez o investimento saltar 7,3% em 2024, no maior ritmo em três anos, segundo divulgado pelo IBGE. No entanto, a alta de apenas 0,4% no quarto trimestre deu indícios da perda de fôlego já esperada pelos economistas para este ano. Um reflexo do aperto monetário e de um ambiente global e doméstico mais incerto, avaliam.
Os juros altos são o principal fator por trás das estimativas mais modestas de crescimento dos investimentos em 2025, diz Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, que ainda revisa as projeções:
— Fica mais caro financiar o investimento, e aumentam as incertezas quanto ao retorno deles. A não ser um investimento de longo prazo, como uma compra de uma concessão de rodovia, haverá impacto principalmente sobre os investimentos de curto prazo.
Padovani aponta que o cenário global, com tensões geopolíticas, tarifas, juros altos e menor crescimento econômico, se soma a fatores domésticos, como o aumento da dívida pública. Essa combinação pressiona o dólar, que impacta o investimento de dois modos: como termômetro de confiança, quando sobe e causa apreensão; e pela pressão nos custos, que encarece importações.
— Quando olhamos o conjunto da obra, o dólar deve se manter volátil com tendência de alta e os investimentos devem crescer menos ao longo desse ano — diz Padovani.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, classifica a soma de conjuntura incerta e juros altos como “uma combinação mortal para investimento”:
— Só se faz investimento quando tem um cenário estável, e a gente não sabe qual vai ser o cenário ao longo do ano.
Abaixo da média
A taxa de investimento subiu de 16,4% do PIB em 2023 para 17% em 2024. Ainda assim, está abaixo do recorde de 20,7%, alcançado em 2012, segundo IBGE. Trata-se de uma taxa não só baixa, como “muito aquém da média dos países emergentes”, que é de 32%, segundo a Firjan, em nota.
Para Claudio Frischtak, CEO da Inter.B Consultoria, o nível atual de investimento é insuficiente frente à necessidade de ampliação da capacidade produtiva do país. Ele destaca, no entanto, que muitos projetos já estão contratados pela iniciativa privada, setor que tradicionalmente concentra a maior parte dos investimentos, especialmente em infraestrutura, onde os ciclos são mais longos.
Apesar desse cenário promissor, ele diz que as pequenas e médias empresas, mais sensíveis ao custo do capital e ao ambiente econômico, devem ser mais afetadas pela incerteza fiscal e juros altos.
A participação do investimento privado em infraestrutura representa quase 70% do montante de recursos aplicados no setor. Pelas previsões da última carta de infraestrutura de Frischtak, 65,8% dos investimentos foram privados. Em 2010, eram 43,8%.
Já as importações saltaram 14,7% no ano passado, impulsionadas pela compra de máquinas.
A fabricante de sorvete Sol & Neve está ciente do cenário desafiador, mas precisa investir para atender ao aumento da demanda. A empresa está concluindo a construção de uma nova fábrica em Leopoldina (MG), ao custo de R$ 20 milhões, que vai quintuplicar a capacidade de produção.
— O investimento é necessário para atender à crescente demanda do mercado. Também estamos ampliando nossa frota de caminhões, que atenderá a crescente demanda logística e o crescimento em novas áreas de atuação — diz Luciano Larcher, diretor da Sol & Neve, que tem 220 lojas.
Ele conta que a solução foi reduzir as margens para absorver o aumento dos custos, reduzir o impacto nos preços ao consumidor e manter os investimentos programados.
Silvia Matos, pesquisadora do FGV Ibre, projeta crescimento de 4% nos investimentos este ano, número que deve ser revisado. Ela destaca que o desempenho ainda será bom, impulsionado por projetos de infraestrutura já contratados, como as obras do Minha Casa, Minha Vida, bem como pela agropecuária e a indústria extrativa. O avanço, porém, será mais concentrado e dependente da infraestrutura.
— O investimento acaba sendo penalizado pela política monetária e pela incerteza que permeia a economia. E ainda tem incerteza internacional — diz. — O mundo está difícil, o que cria mais tensão sobre como vai ser esse cabo de guerra entre política fiscal e monetária. No fim das contas, quem perde é o investimento.
Já o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin, estima que a compra de novas máquinas e equipamentos pode dar algum fôlego para os investimentos em 2025, principalmente devido à política federal de depreciação acelerada:
— É mitigatório, mas a palavra é essa, porque temos um quadro de elevação de juros.
Com os juros altos dificultando o retorno dos projetos, Cagnin teme que a falta de coordenação entre as políticas monetária e fiscal impeçam um alívio no custo do crédito.
— Se não há perspectiva de demanda, mesmo que o empresário tenha máquinas obsoletas, ele não investe — diz. — O que não estamos tendo agora é horizonte, porque temos esse ciclo de alta forte dos juros e a incerteza sobre como o governo vai reagir.