IEDI na Imprensa - Base fraca deve amenizar queda comparativa dos aportes
Valor Econômico
Alguns segmentos específicos da economia, como agronegócio e infraestrutura, podem dar fôlego aos investimentos
Taís Hirata e Ana Luiza de Carvalho
O impacto das incertezas macroeconômicas sobre os investimentos privados poderá ser amenizado pela base de comparação fraca dos últimos anos e pelo impulso de alguns segmentos específicos da economia, segundo entidades do setor produtivo ouvidas pelo Valor.
Na indústria eletroeletrônica, a previsão é que o investimento fique estável em 1,7% da receita do setor, o que corresponde a cerca de R$ 4,2 bilhões. Esse patamar está em linha com o volume dos últimos anos, que é considerado o mínimo necessário para manter a atualização das fábricas, afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
“Como grande parte dos equipamentos eletrônicos são lançados simultaneamente em todo o mundo, as plantas no Brasil não vão lançar um produto em estágio anterior. Então esse investimento é o mínimo para garantir a renovação. Até 2015, havia um patamar maior, com investimento de 2,5% da receita, mas de lá para cá nunca mais houve esse desempenho”, diz Barbato.
O setor de máquinas e equipamentos prevê um avanço nos investimentos, motivado em grande medida pela retração dos últimos anos. Segundo levantamento feito pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) entre dezembro de 2024 e janeiro deste ano, as empresas planejam investir R$ 8,35 bilhões em 2025, alta de 4,04% em relação ao realizado no ano passado.
“O setor vem de três anos consecutivos de quedas. Em 2024, havia expectativa de crescimento. Porém, no fim, como teve uma mudança drástica de desempenho, principalmente nos setores ligados ao agronegócio, muitos investimentos foram adiados. Então, a previsão de avanço neste ano está relacionada à base de comparação baixa”, afirma Cristina Zanella, diretora de competitividade, economia e estatística da Abimaq.
O setor de máquinas e equipamentos fechou 2024 com queda de 8,6% na receita total em relação a 2023, somando R$ 270,8 bilhões. Em 2023, os fabricantes registraram faturamento 11% menor em relação ao ano anterior. Mas a estimativa para 2025 é de crescimento de 3,7%.
Ela também diz que a projeção varia muito de acordo com o segmento: os investimentos ligados aos setores agrícola e de infraestrutura têm perspectiva positiva para este ano, enquanto aqueles relacionados à indústria de transformação tendem a encontrar um cenário mais difícil e podem ser revistos.
As exportações podem ser uma saída para melhorar o nível de atividade do setor. Em 2024 somaram US$ 13,1 bilhões, queda de 5,5% sobre o ano anterior. Mas o resultado ainda é o segundo melhor dos fabricantes, ficando atrás do desempenho de 2023, quando as exportações somaram US$ 13,9 bilhões.
O economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) Rafael Cagnin também destaca as concessões de infraestrutura como um fator que poderá impulsionar os investimentos. “Há projetos que ainda não se traduziram em demanda, e são obras que já estão contratadas”, diz.
Só no setor de transporte e logística, a previsão de investimento privado das concessionárias em 2025 é de R$ 41,3 bilhões, segundo cálculo da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).
A expectativa favorável para a safra agrícola é outro potencial estímulo, aponta Cagnin - embora ele avalie que o setor ainda agrega pouco valor aos produtos, o que limita o efeito positivo. “Essa safra poderia difundir um maior dinamismo para o sistema produtivo, mas o país tem uma indústria de alimentos grande e outros setores, como biocombustíveis, que são impulsionados.”
Para o economista, outro fator que pode atenuar os impactos negativos da incerteza macroeconômica são os estímulos do governo ao consumo interno, como a liberação de saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e novas regras para o crédito consignado. “Não necessariamente isso vai virar consumo diretamente, mas tende a ajudar na gestão financeira das famílias, o que abre espaço para mais consumo.”
Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), também destaca as medidas do governo, mas afirma que o pessimismo cresceu no setor. Pesquisa recente aponta que 44% dos associados pretendem manter o patamar de investimentos, enquanto 36% vão ampliar moderadamente. O cenário é mais pessimista do que o visto na pesquisa realizada em novembro. “Há uma perda de confiança e as taxas de juros vigentes são muito altas. As pessoas estão sendo cautelosas para preservar caixa.”
De acordo com Pimentel, apesar disso, não há “um cenário de catástrofe” mesmo com dificuldades macroeconômicas. “O nível de emprego deve continuar equilibrado, embora a renda seja corroída pela inflação de alimentação, então o PIB deve crescer menos”, afirma o dirigente
Para a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), a projeção para 2025 ainda é de crescimento de 2% na produção e de 6,2% nos investimentos - de R$ 1,6 bilhão, em 2024, para R$ 1,7 bilhão, neste ano. Porém, o cenário ainda dependerá de fatores macroeconômicos como a inflação dos alimentos, afirma o presidente da entidade, Haroldo Ferreira. “A prioridade das famílias é a alimentação, depois vêm outros itens de consumo semiduráveis como no caso dos calçados.”
Ele avalia que, com as taxas impostas pelo Estados Unidos às importações chinesas, os produtos brasileiros podem ganhar espaço no mercado americano neste ano e beneficiar o setor. Porém, o consumo interno ainda representa cerca de 85% da produção nacional, então a dependência em relação à economia brasileira ainda é alta, diz.
Mesmo com alguns fatores que atenuam o impacto das incertezas, no setor produtivo, a percepção geral é que a turbulência, tanto doméstica quanto internacional, traz risco aos planos das empresas. “O cenário cria condições para que se adiem processos de investimentos, para que as companhias joguem para frente, à espera de um horizonte mais confiável”, afirma Cagnin.
O economista do IEDI destaca que as indústrias de bens de capital e de consumo durável, que em 2024 impulsionaram os investimentos da indústria, dependem muito de crédito e de juros atrativos para investir, e portanto devem sofrer mais.