Carta IEDI
A pandemia e o recuo da indústria mundial
De acordo com os últimos dados da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), divulgados recentemente, a produção industrial mundial acusou forte queda no primeiro trimestre de 2020, aprofundando uma fraca trajetória que se iniciara no fim de 2018.
O recuo da produção de manufaturas no 1º trim/20 chegou a -6,9% ante o 4º trim/19 e a -6,0% frente ao mesmo período do ano anterior, já descontados os efeitos sazonais. Na origem do retrocesso estão os efeitos da pandemia de coronavírus, que nestes primeiros meses do ano foram mais intensos na China, mas também prejudicaram o desempenho do setor em economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
A taxa de variação da indústria de transformação nas nações industrializadas, que já havia sido negativa no 4º trim/19 (-1,6%), sofreu nova deterioração e marcou -2,5% em jan-mar/20, frente ao mesmo período do ano anterior.
Condicionaram este desempenho os países da Europa, com perdas de -4,4% em jan-mar/20, e também a América do Norte (-2,4%). Os desenvolvidos da Ásia conseguiram ficar estáveis (0%) na comparação com o 1º trim/19.
Nas economias emergentes e em desenvolvimento, por sua vez, a queda interanual foi menos acentuada, de -1,8% quando se exclui a China. Este grupo de países também tinha se saído melhor do que as economias avançadas no final de 2019 (+0,8%), mas pode vir a apresentar piora substancial no próximo trimestre, dado que o coronavírus passou a se disseminar posteriormente nestes países.
Dentre os emergentes, a América Latina continuou sendo o destaque negativo: -2,8% em jan-mar/20 frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Esse resultado deveu-se, principalmente, aos resultados desfavoráveis das indústrias da Argentina (-6,3%), México (-3,4%) e Brasil (-2,2%). Estes países foram atingidos pela pandemia apenas no fim do trimestre.
Sem dúvida, a China foi o país mais atingido pela Covid-19 no início de 2020. A pandemia levou a uma queda da indústria de transformação de -18,1% ante o trimestre imediatamente anterior e de -14,1% frente ao 1º trim/19. Cabe destacar, contudo, que os dados de abr/20 já apontam para uma amenização deste quadro.
A partir de dados dos próprios países, da OCDE e da Eurostat, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção indústria em diversos países para o acumulado de 2020. Até março, dentre os 40 países com dados disponíveis, o Brasil ocupou uma posição intermediária na 24ª colocação, ficando, porém, entre os casos negativos. Poucos países conseguiram crescer, tais como Irlanda, Coréia do Sul e Turquia, que ficaram entre os melhores colocados do ranking.
Entretanto, em abril, com o agravamento de nosso quadro sanitário, a difusão de medidas de isolamento social e a elevação da incerteza colocaram o desempenho da indústria brasileira entre os piores casos. No ranking até abril, por ora só com 17 países com dados disponíveis, o Brasil ficou em 15º posição, à frente apenas de Macedônia e Luxemburgo, com declínio de -8,3%.
Os dados da UNIDO também mostram que as indústrias de média-alta e alta tecnologia, que congregam muitos ramos de bens de capital e de consumo duráveis, lideraram o declínio da produção de manufaturas com queda de -6,3%. Além dos efeitos diretos da pandemia de Covid-19, o aumento da incerteza econômica afetou as decisões dos consumidores e investidores, contraindo a demanda por esses bens.
A indústria de transformação mundial no primeiro trimestre de 2020
O relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) divulgado recentemente mostra os primeiros efeitos da pandemia de Covid-19 na indústria de transformação mundial, aprofundando a tendência declinante iniciada em 2019.
No primeiro trimestre de 2020, a indústria mundial assinalou queda aguda de -6,0% frente ao mesmo período de 2019, o primeiro recuo de grande magnitude desde a crise 2008/2009, quando o setor registrou -7,1% (4º trim/08). Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, a indústria registrou queda de -6,9% em jan-mar/20, após pequeno acréscimo de +0,3% no último quarto de 2019.
Cabe destacar que a cronologia da disseminação mundial do coronavírus implicou casos mais ou menos graves neste início de 2020. A China foi a mais atingida, enquanto muitos outros países viram casos de Covid-19 se multiplicarem fortemente apenas em março, quando assumiram medidas mais restritivas de isolamento social. Portanto, um declínio ainda maior da indústria é esperado pela UNIDO no próximo trimestre.
O resultado negativo em jan-mar/20 foi puxado por todos os grupos de países. As nações industrializadas, que iniciaram as medidas de lockdown no fim do primeiro trimestre, registraram queda de -2,5% da atividade industrial comparado ao mesmo período de 2019, após variação negativa de -1,6% no trimestre imediatamente anterior. Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, o resultado foi um pouco melhor, mas nem por isso evitou o terreno negativo: -1,8% contra +0,8% em out-dez/19. Vale lembrar que esse desempenho só muito parcialmente reflete a pandemia, visto que esses países vieram a ser afetados pela Covid-19 no final de março.
A China foi o primeiro país atingido pelo coronavírus e, por isso, aquele com quedas mais intensas no primeiro trimestre de 2020, registrando uma perda na produção industrial sem precedentes. A produção industrial chinesa assinalou -14,1% por cento, especialmente por causa das medidas de lockdown, segundo a UNIDO. Vale mencionar que a indústria chinesa também havia apresentado desaceleração da manufatura ao longo de 2019, sob influência dos conflitos comerciais com os EUA.
Resultados por grupos de países
Economias industrializadas. A desaceleração da produção da indústria de transformação desse grupo de países teve seu início ainda em 2018 devido às disputas comerciais e tarifárias entre EUA e China.
No primeiro trimestre de 2020, a indústria das economias industrializadas registrou forte contração causada pela pandemia de Covid-19 e pelas incertezas em relação ao Brexit. As economias avançadas registraram queda de -2,5% na produção industrial em jan-mar/20, após um recuo de -1,6% no trimestre imediatamente anterior. Em relação ao trimestre anterior, a queda foi de -1,4%, com ajuste sazonal.
Na América do Norte, o recuo de -2,4% no primeiro trimestre foi puxado pela indústria dos Estados Unidos, que registraram variação de -2,4%, após recuo de -1,1% no trimestre anterior.
As economias desenvolvidas do Leste Asiático assinalaram estabilidade (0,0%) no primeiro trimestre de 2020, após queda de 3,1% no último quarto de 2019. A produção da indústria japonesa, maior potência industrial da região, obteve variação de -4,2% em janeiro-março de 2020, após queda de -6,7% no trimestre anterior. Em direção oposta, Taiwan, Cingapura, Coréia e Malásia registraram acréscimos na produção industrial, assinalando variações de +9,0%, +6,4%, +4,8 e +1,4%, respectivamente.
As economias europeias, por sua vez, apresentaram recuo de -4,4% na produção manufatureira, aprofundando as perdas industriais, visto que nos três trimestres anteriores esses países já haviam assinalado variações negativas queda (-0,9%, -1,2%, -1,3%).
Além dos impactos econômicos do coronavírus, os países europeus também foram afetados pelo ambiente de incertezas frente ao Brexit e outras restrições comerciais. Os dados desagregados mostram que a queda da produção de manufaturas tem afetado mais os países da Área do Euro: a manufatura da Itália, país europeu mais afetado pela pandemia no primeiro trimestre de 2020, registrou variação de -11,0%, a Alemanha de -6,8%, a França de -7,8% e a Espanha de -5,6%. Por outro lado, outros poucos países do Euro tiveram resultados positivos: Finlândia (+1,1), Malta (+8,6%) e Irlanda (+8,0%).
Fora da zona do Euro, o destaque negativo na Europa ficou a cargo da indústria da Hungria, com queda de -1,6% e da Suécia, com -1,2%. O Reino Unido assinalou novo decréscimo: -6,0%, ainda associado às incertezas do Brexit e mais recentemente ao impacto da pandemia do Covid-19.
Economias em desenvolvimento e emergentes. A indústria de transformação chinesa foi a mais afetada pelo surto de Covid-19 no primeiro trimestre de 2020. Os dados com ajuste sazonal indicam uma queda de -14,1% frente ao mesmo período de 2019. No último trimestre de 2019, a indústria chinesa registrou acréscimo de +6,4%. Entre os piores casos estão os setores de veículos automotores (-27,3%), têxteis (-22,5%), eletrônicos e computadores (-5,2%) e metais básicos (-1,9%).
Nas demais economias em desenvolvimento da Ásia, houve decréscimo de -2,5% no período entre jan-mar/20 relativamente a igual período de 2019. A produção industrial no Vietnã e nas Filipinas aumentou +7,9% e +1,4%, respectivamente, contribuindo positivamente para a taxa geral da região. Em contrapartida, caíram as produções da Índia (-5,4%), Tailândia (-7,1%) e Paquistão (-8,7%).
A indústria de transformação da América Latina continuou a apresentar ritmo fraco de crescimento, registrando queda de -2,8% na produção no trimestre jan-mar/20 frente mesmo trimestre do ano anterior, puxado pela indústria de transformação argentina (-6,3%), mexicana (-3,4%) e brasileira (-2,2%). Os dados do primeiro trimestre de 2020 não registram integralmente os impactos da pandemia no continente.
As economias emergentes da África, por sua vez, apontaram para pequeno avanço da produção industrial (+0,2%), devido principalmente ao desempenho da indústria de transformação da Nigéria (+0,6%), enquanto a indústria do Senegal decresceu -1,4%, respectivamente.
A indústria de transformação das economias em desenvolvimento do Leste Europeu registrou um crescimento de +1,7%. Este resultado deveu-se principalmente ao ótimo resultado da indústria da Turquia, que assinalou alta de +4,7%. Outros destaques positivos ficaram por conta da Moldávia (+3,7%), Sérvia (+3,0%) e Grécia (+1,5%). Por outro lado, Bósnia, Romênia e Croácia registraram queda de -8,0%, -7,5% e -3,8%, respectivamente.
Análise setorial
Segundo a UNIDO, o crescimento na produção de bens essenciais, como alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos, foi relativamente menos afetado pela Covid-19. A produção de bens de capital e bens duráveis, como máquinas e equipamentos, veículos e móveis, por sua vez, caiu drasticamente. Da mesma forma, têxteis, vestuário e couro assinalaram elevadas variações negativas no primeiro trimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019.
Analisando-se a produção industrial por intensidade tecnológica, no trimestre jan-mar/20, relativamente a igual período do ano anterior, o grupo de média-alta e alta intensidade tecnológica registrou variação negativa de -6,3%.
De acordo com a UNIDO, o resultado desta parcela da indústria deve-se, além do isolamento social necessário para combater a Covid-19, ao aumento da incerteza econômica, o afetou as decisões dos consumidores e investidores, contraindo a demanda por esses bens. Consequentemente, a produção de máquinas e equipamentos e veículos automotores apresentou forte queda. Enquanto a produção de máquinas ou veículos a motor sofreu reduções maciças nos últimos trimestres, outros setores como computadores, eletrônicos e produtos ópticos e produtos farmacêuticos alcançaram taxas de crescimento positivas notáveis no primeiro trimestre deste ano, apesar do impacto da pandemia.
As indústrias de média intensidade tecnológica apresentaram declínio acelerado nas taxas de crescimento desde o início de 2019. A taxa de variação de -5,6% no primeiro trimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019 pode ser principalmente atribuída à queda na produção de produtos minerais não metálicos (-7,2%), bem como a partir de produtos de borracha (-7,4%).
Ranking Indústria Mundial
A partir dos dados coletados pela OCDE, IBGE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 40 países para o acumulado do ano de 2020.
Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2020 será até março, mas para alguns casos já é possível avaliar o desempenho do período de janeiro-abril, justificando a construção de um ranking adicional e, por ora, menor quanto ao número de países.
O resultado da indústria no Brasil no período janeiro-março/20 foi negativo, chegando a -2,6% e no acumulado de janeiro-abril, de -8,3%, após dois anos consecutivos de crescimento: 2017 (+2,5%) e 2018 (+1,0%). A indústria brasileira já assinalava tendência declinante desde 2019, entretanto os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) refletem sobretudo os efeitos da pandemia de Covid-19.
Esse desempenho negativo colocou o Brasil na 24ª colocação entre os 40 países da amostra selecionada pelo IEDI no acumulado de janeiro-março e em 15º entre os 17 países com dados disponíveis até abril. Os dados de abril mostram que a indústria chinesa, apesar de ainda ter registrado queda (-4,9% frente abr/19), já apresentou melhora relativa, visto que nos dois meses anteriores as variações foram de -13,5% em fevereiro e de -8,4% em março.