Carta IEDI
Aspectos da “Nova” Infraestrutura
A Carta IEDI de hoje retoma o tema da infraestrutura, que, como sabemos é uma importante alavanca para o desenvolvimento dos países. Seja porque os investimentos na área dinamizam a indústria e a economia como um todo, seja porque melhora as condições de produtividade e competitividade futuras. Importante lembrar que a insuficiência da nossa infraestrutura é um destacado elemento do chamado “Custo Brasil”, que atrasa o progresso do país.
Estudo recente do Instituto, discutido na Carta n. 1331 “Alavancas para a infraestrutura e indústria”, estima que, no caso do Brasil, o avanço em dois eixos que poderia ser obtido mais rapidamente, a ampliação do acesso a gás natural e a melhoria de nossas rodovias, poderia gerar uma redução de custo para a indústria nacional entre R$ 30 e R$ 85 bilhões anuais, uma dinamização da demanda industrial equivalente a até 6,5% do PIB do setor e redução de emissões de CO2 equivalente entre 16 a 60 MtCO2/ano.
Na presente edição da Carta IEDI, discutimos a ampliação do escopo da infraestrutura crítica para o desenvolvimento dos países, dada a transformação digital e a transição climática, e a evolução recente dos investimentos e iniciativas públicas no mundo. Tomamos como base o recente relatório da consultoria McKinsey, “The Infrastructure Moment: Investing in the expanding foundations of modern society”, de autoria de Alastair Green e outros analistas.
O estudo, cujos pontos principais serão identificados a seguir, destaca a urgência em modernizar e integrar as novas dimensões da infraestrutura aos projetos públicos e privados de investimento na área. Isso tanto em países desenvolvidos como nos países emergentes e em desenvolvimento, onde as carências são ainda mais flagrantes.
A infraestrutura tradicional, lembra o relatório, é caracterizada por ser intensiva em capital, altamente regulamentada, centralizada e construída com base em tecnologias consagradas. Em contraste, a infraestrutura moderna apresenta características distintas: é habilitada pela tecnologia, orientada pelo mercado, descentralizada e modular, baseada em serviços e construída com tecnologias disruptivas e sustentáveis, e incorporando ativos mais novos como redes de fibra óptica, data centers em hiperescala e estações de carregamento de veículos elétricos, entre outros.
Segundo a McKinsey, a redefinição da infraestrutura é moldada por sete forças principais:
(1) Envelhecimento dos ativos físicos, já que muitas redes e estruturas construídas no século XX estão em fim de vida útil. É o caso dos EUA, onde grande parte da infraestrutura básica — estradas, pontes, sistemas de água e rede elétrica — tem sido afetada por décadas de subinvestimento, e também de países como França (pontes), Alemanha (ferrovias) e mesmo China (sistemas de esgoto).
(2) Rápida urbanização na África e no Sul da Ásia e mudanças demográficas na Europa e nos EUA exercem pressão sem precedente sobre os sistemas existentes.
(3) Avanços tecnológicos, como o da inteligência artificial (IA) e da digitalização, são atualmente os principais impulsionadores da transformação no setor de infraestrutura, remodelando o planejamento e a operação de ativos.
(4) A transição energética em direção a fontes de energia mais limpas e renováveis é outro grande impulsionador da configuração da “nova” infraestrutura.
(5) É crescente o papel do capital privado no financiamento de infraestrutura, sendo que os ativos sob gestão de fundos privados de infraestrutura triplicaram desde 2016, saltando de US$ 500 milhões para US$ 1,5 trilhão em 2024.
(6) A dinâmica geopolítica fez do investimento em infraestrutura uma ferramenta estratégica na política mundial, com países utilizando projetos de grande escala para ampliar sua influência, garantir recursos e remodelar as redes comerciais.
(7) Escassez de mão de obra, com falta persistente de trabalhadores qualificados, é um desafio mundial, que está sendo enfrentado por meio de automação e métodos modulares, programas agressivos de requalificação e retenção e o uso expandido de tecnologias de operação remota.
Essas forças modificam a forma como a infraestrutura é planejada, financiada e executada, segundo o estudo dos analistas da McKinsey, ao mesmo tempo em que aumentam as necessidades de investimento. Paralelamente, a transição energética e as tecnologias emergentes criam novos caminhos para o crescimento, mas adicionam complexidade às estratégias de investimento.
A definição ampliada de infraestrutura se manifesta, de acordo com o estudo, em sete grandes setores verticais de infraestrutura, muitos dos quais combinam ativos físicos, novas tecnologias e serviços contínuos. Estes sete setores críticos de infraestrutura são: transporte e logística; energia e eletricidade; digital; social; gestão de resíduos e água; agricultura; e defesa.
Os autores do relatório destacam igualmente que a infraestrutura do futuro é moldada pela crescente interdependência de diversos sistemas. É o caso, por exemplo, da intersecção energia-água-digital, que se manifesta na crescente demanda por energia sustentável para alimentar o uso crescente de inteligência artificial (IA) e por água para resfriar servidores de data centers.
Na avaliação da McKinsey, para atender às necessidades de infraestrutura nova e modernizada, o mundo precisará investir US$ 106 trilhões até 2040.
Esses valores se distribuem nos sete setores verticais de infraestrutura crítica: US$ 36 trilhões em transporte e logística, US$ 23 trilhões em energia e eletricidade, US$ 19 trilhões em infraestrutura digital, US$ 16 trilhões em infraestrutura social, US$ 6 trilhões em infraestrutura de gestão de resíduos e água, US$ 5 trilhões em agricultura e US$ 2 trilhões em defesa.
Ou seja, o binômio transporte/logística e energia/eletricidade representam mais da metade (54%) dos investimentos necessários no mundo. Cabe observar que estão estas mesmas áreas que o estudo do IEDI, discutido na Carta n. 1331, identificou como áreas prioritárias no Brasil, onde os investimentos poderiam mais dinamizar nossa economia e mais reduzir o custo sistêmico da produção nacional.
Regionalmente, o estudo da McKinsey mostra que o investimento projetado varia consideravelmente. A Ásia sozinha responderia por mais de dois terços do total, com US$ 70 trilhões. Essa maioria substancial reflete a rápida urbanização, o crescimento populacional e a contínua expansão industrial da região.
O relatório traz ainda recomendações para os governos, investidores privados e operadores do setor de infraestrutura:
• Governos devem simplificar regulações, incentivar parcerias público-privadas e focar na reutilização eficiente dos ativos existentes.
• Investidores privados precisam diversificar seus portfólios, buscando oportunidades em setores digitais e de energia limpa, frente ao aumento dos juros e da competição.
• Operadores e desenvolvedores devem priorizar o uso de tecnologia para ganhos de escala e desenvolver serviços inovadores e integrados diante das novas demandas do setor.
No contexto de crescente interdependência dos setores verticais críticos, a McKinsey sugere também que, ao planejarem estratégias de investimento, os governos, investidores e operadores do setor privado adotem uma abordagem transversal.
Embora o relatório faça apenas menções pontuais ao Brasil, sobretudo no contexto da infraestrutura agrícola, as recomendações da McKinsey são plenamente aplicáveis ao contexto brasileiro e esboçam caminhos possíveis para que o país se alinhe às transformações mundiais da infraestrutura.
Introdução
A Carta IEDI de hoje identifica os pontos principais do relatório da consultoria McKinsey “The Infrastructure Moment: Investing in the expanding foundations of modern Society”, de autoria de Alastair Green e outros, publicado em setembro de 2025. O estudo amplia o conceito de infraestrutura para além dos ativos físicos tradicionais, abrangendo também ativos digitais e serviços, e destaca a urgência em modernizar e integrar essas novas dimensões ao planejamento global.
Na avaliação da McKinsey, o momento atual representa um ponto de inflexão na sociedade global, onde novos elementos de infraestrutura convergem com os tradicionais em diversos setores, apresentando novos desafios e oportunidades.
Com base na análise das principais tendências e necessidades internacionais, estima-se que até 2040 será necessário investir US$ 106 trilhões em infraestrutura moderna para promover o crescimento econômico sustentável e garantir o bem-estar das sociedades.
Redefinindo infraestrutura
A McKinsey argumenta que a infraestrutura é um facilitador essencial do crescimento econômico global a longo prazo, apoiando sociedades prósperas, padrões de vida elevados e todas as indústrias modernas.
Tradicionalmente, infraestrutura se refere aos ativos físicos que sustentaram as sociedades ao longo da história, desde os fundamentos como estradas, portos e pontes até desenvolvimentos posteriores como barragens e redes elétricas. Esses ativos continuam importantes e exigem investimentos significativos para apoiar todos os setores da economia global, ao mesmo tempo em que contribuem para os melhorar os padrões de vida da população.
A infraestrutura mundial está envelhecendo e não consegue atender às demandas do século XXI, exigindo modernização urgente. O crescimento populacional global, o desenvolvimento econômico e os avanços tecnológicos estão criando uma demanda massiva por infraestrutura em todo o mundo.
Isso não somente em áreas tradicionais, mas também em novos tipos. A própria definição de infraestrutura está, assim, se expandindo e evoluindo, moldada tanto por mudanças dentro de setores individuais de infraestrutura quanto pelas novas maneiras como os setores se interconectam.
No contexto atual, a infraestrutura agora inclui elementos que possibilitam novos ativos, serviços e tecnologias, como inteligência artificial, energias renováveis, veículos elétricos, redes ópticas, data centers, estações de recarga de veículos elétricos e sistemas digitais de monitoramento. Em muitos casos, esses novos elementos de infraestrutura se integram aos já existentes.
Por exemplo, redes de fibra óptica, estações de recarga para veículos elétricos e sistemas de manutenção preditiva alimentados por IA e Internet das Coisas (IoT) agora operam em conjunto com estruturas tradicionais de concreto e aço.
A infraestrutura tradicional é caracterizada por ser intensiva em capital, altamente regulamentada, linear e centralizada, construída com base em tecnologias consagradas. Em contraste, a infraestrutura moderna apresenta características distintas: é habilitada pela tecnologia, orientada pelo mercado, descentralizada e modular, baseada em serviços e construída com tecnologias disruptivas e sustentáveis.
Essa definição ampliada se manifesta em sete grandes setores verticais de infraestrutura, muitos dos quais combinam ativos físicos, novas tecnologias e serviços contínuos. Segundo a McKinsey, estes sete setores críticos de infraestrutura são:
1.transporte e logística
2.energia e eletricidade
3.digital
4.social
5.gestão de resíduos e água
6.agricultura
7.defesa
Todavia, mesmo com a modernização tecnológica, desafios clássicos permanecem, especialmente no que se refere à manutenção, renovação e adaptação. Embora esses problemas sejam ainda mais evidentes em países com infraestrutura legada, como os latino-americanos, também estão presentes nos países de economia avançada, como Estados Unidos, França e Alemanha.
Forças impulsionadoras da Nova Infraestrutura
Na avaliação da McKinsey, a redefinição da infraestrutura tem sido moldada e impulsionada por sete forças mundiais principais: (a) obsolescência dos ativos físicos, (b) urbanização, (c) transformação tecnológica, (d) transição energética, (e) papel crescente do capital privado, (f) dinâmica da competição geopolítica e (g) escassez de mão de obra.
Essas forças modificam a forma como a infraestrutura é planejada, financiada e executada, ao mesmo tempo em que aumentam as necessidades de investimento.
Paralelamente, a transição energética e as tecnologias emergentes criam novos caminhos para o crescimento, ao mesmo tempo em que adicionam complexidade às estratégias de investimento.
(a) Obsolescência dos ativos e subinvestimento. Muitas redes e estruturas construídas no século XX estão em fim de vida útil. Caso, por exemplo dos Estados Unidos, onde grande parte da infraestrutura básica — estradas, pontes, sistemas de água e rede elétrica — foi construída em meados do século XX e tem sido afetada por décadas de subinvestimento. A não modernização dessa infraestrutura pode custar à economia norte americana US$ 10 trilhões até 2039.
Mesmo na China, alguns projetos de gerações anteriores, das décadas de 1980 e 1990, como sistemas de esgoto, já apresentam sinais de deterioração. Alguns ativos mais novos, tais como trens de alta velocidade e sistemas de metrô, enfrentaram desafios de lucratividade e dívida crescente, devido, em parte, aos altos custos de manutenção e ao baixo número de passageiros.
(b) Urbanização. Até 2050, 70% da população mundial viverá em cidades. Esta urbanização está criando demanda excepcionalmente alta por desenvolvimento de infraestrutura na África e no Sul da Ásia, incluindo sistemas de transporte público, serviços públicos e conectividade digital. Por exemplo, a cidade de Lagos, na Nigéria, que abriga 27 milhões de pessoas, vem implementando grandes projetos de infraestrutura para acompanhar o ritmo de crescimento da população, que aumenta cerca de 3% ao ano desde 2010.
Já a Europa e os Estados Unidos enfrentam um desafio diferente. Pois, em vez de expandir a infraestrutura para novos centros urbanos, essas regiões precisam ajustar sua infraestrutura para se adaptar às mudanças nos padrões demográficos, incluindo o envelhecimento da população e as realocações pós-pandemia para áreas rurais e suburbanas.
(c) Avanços tecnológicos. A inteligência artificial (IA) e a digitalização são atualmente os principais impulsionadores do avanço tecnológico no setor de infraestrutura, remodelando o planejamento e a operação de ativos.
O impacto da IA e da automação digital no setor de transporte é igualmente considerável: na Europa e na América uma combinação de backhaul de fibra de alta capacidade, data centers de ponta e 5G estão sendo utilizados para otimizar o planejamento de equipes, reduzindo os custos de mão de obra em 10 a 15%. Provas de conceito em manutenção preditiva ferroviária aumentaram a confiabilidade da frota em cerca de 15% e reduziram os custos de manutenção em aproximadamente 20%.
Segundo a McKinsey, o setor de transporte rodoviário também poderá passar por mudanças rápidas, já que a infraestrutura digital de baixa latência poderá desbloquear a autonomia nos próximos anos. A cadeia de valor para frotas de veículos pesados totalmente autônomas poderá gerar cerca de US$ 600 bilhões em receita até 2035 na China, Europa e Estados Unidos.
À medida que o 5G, os data centers de ponta e as salas de controle de operações remotas amadurecem, os motoristas de caminhão autônomos podem evoluir de percursos curtos em rodovias para percursos completos de ponta a ponta em centros de distribuição.
De igual modo, a demanda global por capacidade de data centers pode mais que triplicar até 2030, forçando atualizações substanciais na infraestrutura de energia, refrigeração e rede de fibra ótica. Em 2025, empresas como Amazon, Google, Meta e Microsoft investirão mais de US$ 400 bilhões em capacidade de data centers para suportar IA.
(d) Transição energética. A evolução para fontes mais limpas é uma das principais forças de transformação da “nova” infraestrutura. Embora a transição global para energias mais limpas esteja progredindo em velocidades variadas em diferentes mercados, a capacidade global instalada de energia eólica e solar aumentou cerca de 20% ao ano entre 2010 e 2023, enquanto a frota de veículos elétricos cresceu cerca de 79% ao ano.
Para atingir as metas globais de descarbonização, o investimento anual em infraestrutura energética precisará mais que dobrar até 2030, exigindo financiamento em larga escala para geração de energia renovável, modernização da rede e armazenamento de energia.
A inovação está avançando rapidamente em áreas-chave, incluindo armazenamento de baterias em escala de rede, produção de aço verde, energia nuclear de última geração e sistemas modulares de energia renovável, como eletrolisadores solares distribuídos para a produção de hidrogênio verde.
Segundo o estudo, navegar pela transição energética representa uma oportunidade econômica, pois países e empresas que investem precocemente em sistemas de energia de próxima geração podem obter vantagens competitivas de longo prazo.
(e) Participação do capital privado. O relatório destaca que o setor privado vem assumindo importância crescente no financiamento de infraestrutura. Os ativos privados sob gestão de fundos de infraestrutura triplicaram desde 2016, saltando de US$ 500 milhões para US$ 1,5 trilhão em 2024. A categoria que mais cresce é a de infraestrutura digital, que saltou para cerca de 16% do valor global dos negócios.
Embora pesquisa realizada pela McKinsey junto aos investidores tenha constatado a intenção de aumentar as alocações em infraestrutura no próximo ano, atraídos pelos fluxos de caixa previsíveis da infraestrutura, pela proteção contra a inflação e pelo alinhamento estratégico com as tendências de digitalização e transição energética, o capital privado ainda representa uma parcela minoritária do investimento total em infraestrutura. Ou seja, o financiamento ainda é proveniente majoritariamente de governos e fontes públicas.
(f) Competição geopolítica. O estudo da McKinsey destaca que o investimento em infraestrutura se tornou uma ferramenta estratégica na política mundial, com países utilizando projetos de grande escala para ampliar sua influência, garantir recursos e remodelar as redes comerciais.
Um exemplo recente é a corrida para construir infraestrutura nacional de IA, particularmente data centers soberanos projetados para manter dados confidenciais dentro das fronteiras, controlar o acesso a recursos computacionais e afirmar a autonomia digital.
À medida que empresas e nações buscam reduzir os riscos das cadeias de suprimentos, tendências nearshoring e friendshoring estão remodelando a infraestrutura comercial global, influenciando para onde novos investimentos são direcionados.
(g) Escassez de mão de obra. A falta persistente de trabalhadores qualificados é um desafio universal. Segundo o estudo, mais da metade das construtoras nos Estados Unidos relatam atrasos em projetos devido à escassez de mão de obra. Investimentos de alto perfil, como as instalações de fabricação de semicondutores da Intel e da TSMC no Arizona, relatam falta de mão de obra qualificada e acréscimo de custos.
A alta rotatividade agrava o problema da insuficiência de mão de obra especializada. A contratação anual para muitas funções profissionais excede em muito o crescimento líquido de empregos, inflando os custos das empresas com recrutamento e treinamento.
De acordo com a McKinsey, lidar com essa escassez exigirá diversas abordagens, incluindo alcançar maior produtividade por meio de automação e métodos modulares, programas agressivos de requalificação e retenção e o uso expandido de tecnologias de operação remota, como máquinas pesadas teleoperadas que permitem que trabalhadores qualificados gerenciem equipamentos a partir de centros de controle centralizados.
Tendências nos setores verticais de infraestrutura
De acordo com a McKinsey, as tendências que remodelam a infraestrutura se manifestam de forma diferente, dependendo do contexto, nos sete setores verticais de infraestrutura analisados (ver quadro-resumo abaixo).
No que diz respeito à energia, por exemplo, a modernização da rede e a integração de energias renováveis são as principais forças motoras. Já a agricultura é afetada pela evolução dos fluxos comerciais globais, pela inovação tecnológica e pelo uso crescente de insumos e práticas agrícolas sustentáveis.
Transporte e logística
As principais tendências no setor de transporte e logística incluem:
• Envelhecimento da infraestrutura, que está sobrecarregada com o peso de ativos obsoletos, a crescente demanda e a evolução das expectativas dos usuários em relação à tecnologia;
• Esforços de descarbonização. Os compromissos de descarbonização assumidos pelos países e os benefícios operacionais estão levando muitos governos e operadores a direcionar capital para eletrificação, combustíveis sustentáveis e reformas de infraestrutura.
• Diversificação da cadeia de suprimentos e os riscos geopolíticos estão redesenhando as rotas comerciais mundiais, especialmente no Sudeste Asiático.
• Crescente difusão de automação e IA, que está remodelando as operações em portos, ferrovias e centros de distribuição, tanto para aumentar a produtividade como para enfrentar a escassez de mão de obra.
O setor enfrenta um desafio de modernização sem precedentes. Cerca de 43% das estradas e 7,5% das pontes dos Estados Unidos estão em más condições estruturais, enquanto na Europa situações semelhantes se repetem: um terço das pontes francesas carece de reparos e, na Alemanha, apenas 65% dos trens de longa distância chegaram pontualmente em 2024.
De igual modo, a pressão por descarbonização e por maior eficiência induz maciços investimentos em transportes limpos, eletrificação de frotas e adoção de combustíveis sustentáveis, como o hidrogênio e os biocombustíveis avançados.
O redesenho das cadeias globais de suprimentos — impulsionado pela estratégia “China + 1” e por riscos geopolíticos — tem levado economias emergentes a ampliar sua infraestrutura logística. Governos do Sudeste Asiático anunciaram mais de US$ 250 bilhões para construção de portos de águas profundas, ferrovias intermodais e centros logísticos integrados.
Paralelamente, a automação e a inteligência artificial transformam operações portuárias e ferroviárias, combatendo a escassez de motoristas e marítimos projetada em até 90 mil nos próximos anos. Como exemplo da utilização de automação e AI, o relatório destaca o Skyline de Honolulu, primeiro sistema ferroviário urbano totalmente autônomo dos EUA (2023), e a rede de metrôs de Riad, lançada em 2024 na Arábia Saudita, como a maior malha automatizada do mundo.
Energia e eletricidade
A infraestrutura de energia deverá crescer de forma constante, impulsionada por uma aceleração sustentada da demanda por energia.
Essa demanda ampliada é impulsionada por diversos fatores, incluindo o aumento da eletrificação de residências em todo o mundo, a construção de data centers de hiperescala, que consomem muita energia, e o crescimento industrial e econômico mais amplo nos países em desenvolvimento. Outros impulsionadores importantes incluem investimentos em infraestrutura de distribuição e o aumento da viabilidade comercial de novas tecnologias digitais e de descarbonização.
De acordo com o relatório, as principais tendências no setor de infraestrutura energética são:
• Popularização de energias renováveis, como eólica e solar.
• Construção de pequenos reatores modulares para atender à crescente demanda por energia confiável e de baixo carbono;
• Esforços nos países desenvolvidos para fortalecer as redes de distribuição e torná-las mais resilientes.
• Novas tecnologias de descarbonização e digitais são cada vez mais viáveis comercialmente.
A geração eólica e solar já são majoritárias em novos empreendimentos, como o parque Hollandse Kust Zuid, na Holanda, primeiro offshore de grande escala sem subsídios (1,5 GW), e o Sofia, no Reino Unido (1,4 GW).
A fronteira tecnológica se amplia com pequenos reatores modulares (SMRs), apoiados por governos e pelo setor privado. A Amazon investiu na desenvolvedora X-energy e a Kairos Power está erguendo um reator experimental no Tennessee com apoio do governo federal.
No campo digital, o Google Tapestry, em parceria com a PJM Interconnection, aplica IA generativa para otimizar despachos de rede. No front da descarbonização, o projeto Stratos, da Occidental (Texas), tem como meta remover 500 mil toneladas anuais de CO₂, apoiado por acordos corporativos com empresas como a Microsoft.
Infraestrutura social
A infraestrutura social inclui instalações e serviços essenciais na vida cotidiana dos cidadãos, que podem ser agrupados em quatro categorias principais: educação (escolas e moradias estudantis), saúde (hospitais, clínicas ambulatoriais e unidades de atendimento), instalações cívicas (bibliotecas, centros comunitários, repartições públicas e estádios) e moradia acessível.
Diversas tendências estão moldando o desenvolvimento desse setor:
• A infraestrutura social em todo o mundo está envelhecendo, resultando em lacunas entre a demanda crescente e a capacidade existente.
• Muitos governos estão impondo metas rigorosas de redução de carbono, estimulando amplas reformas e construções com eficiência energética.
• Os avanços tecnológicos na construção digital e modular apresentam soluções econômicas para governos com orçamentos limitados.
• As restrições fiscais estão obrigando os governos a adotar modelos de financiamento mais inovadores, especialmente parcerias público-privadas.
As estruturas físicas que sustentam educação, saúde e moradia acessível estão envelhecidas, com riscos operacionais crescentes. O Reino Unido substituiu cerca de 500 escolas com problemas estruturais, enquanto Singapura direciona parte substancial do orçamento educacional à modernização.
Governos enfrentam uma equação complexa: demanda urbana em expansão — 68% da população viverá em cidades até 2050 —, restrições fiscais e dificuldade de obtenção de terrenos. Tecnologias de construção modular, sensores e gêmeos digitais oferecem ganhos de eficiência, mas o setor de edificações ainda investe menos de 2% de sua receita em TI.
O relatório enfatiza também que medidas de adaptação climática tornaram-se mandatórias para reduzir vulnerabilidade a desastres e emissões. As parcerias público-privadas (PPPs) são o modelo preferido em diversos países — iniciativas consolidadas no Canadá e na Europa e em rápida expansão em Egito, Malawi e Arábia Saudita —, permitindo que capitais privados financiem escolas, hospitais e habitações em troca de contratos de longo prazo com governos.
Infraestrutura digital
A infraestrutura digital inclui ativos como redes de fibra, torres de telecomunicações, data centers e satélites, bem como serviços associados, como gerenciamento de fornecimento de energia, soluções de refrigeração e serviços de manutenção.
Esses sistemas transformaram a forma como a sociedade gera, processa e compartilha informações, democratizando a educação e o acesso ao conhecimento. Também são essenciais para viabilizar tecnologias de próxima geração, tais como IA generativa, direção autônoma e computação avançada, e para modernizar outros setores de infraestrutura.
O setor vertical de infraestrutura digital está sendo moldado pelas seguintes tendências:
• Aceleração da construção e do investimento em data centers de IA,
• Aumento da demanda por fibra para expansão de data centers,
• Rápida expansão da infraestrutura óptica de fibra de última milha e
• Infraestrutura emergente de banda larga por cabo submarino e satélite.
Com o avanço da IA generativa e da computação em nuvem, multiplicam-se os investimentos em centros de dados, redes de fibra e cabos submarinos. O Japão converteu uma antiga fábrica da Sharp em Osaka em um hub de IA de 150 MW com a SoftBank e a OpenAI. Na Suíça, a Swisscom e a Telenor operam “fábricas soberanas de IA” com tecnologia NVIDIA, e em Abu Dhabi a G42 ergue um campus de 5 GW, enquanto a HumAIn, da Arábia Saudita, planeja 500 MW para o Vision 2030. A Microsoft deve investir US$ 80 bilhões na expansão global de data centers até 2025.
A conectividade física acompanha o ritmo. O cabo 2Africa (45 mil km) ampliará em três vezes a largura de banda africana, e o projeto Waterworth, da Meta (50 mil km), promete conectar cinco continentes e se tornar o cabo submarino mais longo do mundo. A Starlink de Elon Musk, com mais de 8 mil satélites em 2025, consolida o papel da internet via satélite como alternativa viável à fibra óptica, inclusive em áreas remotas.
A McKinsey reforça que velocidade de construção e integração energética tornaram-se fatores críticos para a competitividade digital.
Gestão de resíduos e água
A infraestrutura de água e saneamento inclui ativos e serviços relacionados à gestão de resíduos (coleta de lixo municipal, manuseio de resíduos industriais, operações de reciclagem e usinas de conversão de resíduos em energia), sistemas de águas residuais (tratamento de esgoto e de águas residuais industriais), sistemas de água potável (abastecimento, usinas de dessalinização, filtragem e distribuição), gestão de águas pluviais (captação de águas pluviais, drenagem e prevenção de inundações).
Ao abranger uma série de sistemas, a infraestrutura de gestão de resíduos e água e afeta quase todos os setores da economia, bem como os outros seis setores verticais de infraestrutura, enfatiza o estudo da McKinsey.
O crescimento urbano e industrial eleva os volumes de resíduos sólidos, projetados para dobrar até 2050. Em resposta, cidades e empresas inovam.
Nova York investiu US$ 100 milhões na Unidade de Recuperação de Sunset Park, o maior complexo de reciclagem dos Estados Unidos, e a Waste Management usa softwares de roteirização inteligente para reduzir consumo de combustível e aumentar margens. A aplicação de sensores ópticos, IA e drones torna o ciclo de descarte mais eficiente. Já a União Europeia busca reciclar 65% dos resíduos até 2035, restringindo plásticos de uso único e tributando aterros sanitários.
No setor hídrico, na maior alocação do governo federal da história dos Estados Unidos, a Lei Bipartidária de Infraestrutura destinou US$ 50 bilhões à modernização de sistemas de água potável e esgoto, enquanto a Agência Nacional de Águas (PUB) de Singapura lidera a expansão de seu sistema de esgoto de túnel profundo. Na União Europeia, a Política de Coesão 2021‑2027 reservou € 16,9 bilhões a projetos de abastecimento e tratamento.
Tecnologias de dessalinização, reuso e osmose reversa tornam-se estratégicas para indústrias intensivas em água, como semicondutores e farmacêutica. A crescente regulação sobre substâncias sintéticas como per e polifluoroalquil (PFAS) fomenta o surgimento de créditos positivos de água, mecanismo voluntário para financiar restauração hídrica e gestão sustentável.
Agricultura
A infraestrutura agrícola consiste em ativos que suportam a produção e processamento de alimentos, como canais de irrigação, silos de grãos, instalações de armazenamento refrigerado e plantas de processamento.
O crescimento populacional e mudanças climáticas impulsionam a necessidade de investimentos em toda a cadeia de valor. Com a projeção de que a população global crescerá dos atuais oito bilhões para cerca de nove bilhões até 2040, a demanda por alimentos continuará a aumentar.
Suprir essa demanda é um desafio, pois cerca de 13% de todos os alimentos colhidos globalmente são perdidos antes de chegar ao varejo, principalmente devido a sistemas inadequados de secagem, armazenamento e transporte.
As tendências que moldam o setor vertical agrícola incluem:
• Agricultura inteligente e equipamentos de precisão transformam as práticas agrícolas.
• Aumento do uso de insumos e práticas agrícolas sustentáveis impulsionados por preocupações climáticas e pelas inovações.
• Modernização da cadeia de suprimentos com o objetivo de reduzir as perdas pós-colheita.
• Novas oportunidades de mercado para produtos agrícolas.
• Mudanças na segurança nacional e nas políticas comerciais que estão remodelando os fluxos do comércio agrícola global.
A adoção de tecnologia agrícola (agritech) está acelerando, especialmente nas grandes propriedades rurais na América do Norte e na América Latina. Nos Estados Unidos, 61% dos agricultores norte-americanos usam ferramentas digitais, e 51% aplicam equipamentos de precisão. Já a Austrália registra consolidação fundiária acompanhada da adoção massiva de imagens e sensores.
Iniciativas sustentáveis, como insumos biológicos, aditivos redutores de metano e bombas solares, reduzem custos e emissões. O Brasil, com irrigação por pivô, Israel, com gotejamento, e Índia, com sistemas solares, exemplificam avanços em eficiência hídrica. Entretanto, apenas 10% das terras africanas são irrigadas, contra 39% do sul da Ásia, revelando o déficit estrutural.
No campo logístico, plataformas como a AgriDigital australiana integram contratos, monitoramento e previsão de preços por IA, o que viabiliza a redução de perdas e conecta agricultores a compradores em tempo real.
Na avaliação da McKinsey, os biocombustíveis apontam novas oportunidades de negócios para o setor privado: a União Europeia financiou a compra de 200 milhões de litros de SAF anuais; o Japão adotou o mandato E10, e o Brasil expandiu sua liderança em etanol de cana.
A tendência “bio‑to‑x”, que se refere à conversão de biomassa em múltiplos produtos, como etanol de segunda geração, biometano e biofertilizantes, amplia a captura de valor e aproxima o setor de um modelo circular.
As tensões comerciais, exemplificadas pela escolha da China em substituir importações de carne suína dos Estados Unidos por compras do Brasil, realocam fluxos globais de comércio. A concentração das exportações agrícolas, por sua vez, aumenta riscos.
Por exemplo, cinco países (Estados Unidos, Brasil, Argentina, Ucrânia e Rússia) respondem por 85% do milho global e outros cinco (Índia, China, Bangladesh, Indonésia e Vietnã) por 73% do arroz, reforçando a importância de políticas de segurança alimentar.
Defesa
Os gastos globais com defesa estão aumentando rapidamente, com países direcionando grandes volumes de recursos para a modernização da infraestrutura. Desse modo, segundo a McKinsey, o investimento em infraestrutura de defesa está emergindo rapidamente como uma categoria distinta e em expansão dentro do investimento mundial em infraestrutura.
Segundo a McKinsey, o setor de defesa está sendo moldado por inúmeras tendências, incluindo:
• Reinvestimentos regionais em defesa;
• Expansão governamental de infraestrutura de dupla utilização (militar e civil);
• Adoção militar de métodos de construção modular;
• Crescente papel do capital privado.
O investimento em infraestrutura de defesa cresce aceleradamente, impulsionado por tensões geopolíticas. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) fixou meta de 5% do PIB em defesa até 2035, com 1,5% destinado a infraestrutura militar — bases navais, centros cibernéticos e instalações logísticas.
O Japão planeja elevar seus gastos para 2% do PIB até 2027, expandindo bases aéreas e defesas antimísseis, e a Austrália, no âmbito da aliança de segurança entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos (AUKUS), direcionará AU$ 18 bilhões à renovação de estruturas navais. Em resposta à demanda por versatilidade, os países europeus priorizam projetos de dupla utilização (civil e militar), financiados parcialmente pelo Banco Europeu de Investimento.
A construção modular e a impressão 3D aceleram entregas, como os quartéis erguidos em Fort Bliss (Texas e Novo México), em 2024, abrigando 72 soldados, e os 500 postos de fronteira construídos pela Índia. A participação privada cresce por meio de PPPs: no Reino Unido, por exemplo, a Strategic Sealift PPP fornece navios de transporte militar, os quais podem ser operados comercialmente de modo limitado, enquanto na França a iniciativa CEGELOG Habitação Acessível e Eficiência Energética constrói moradias militares sustentáveis sob concessão de 35 anos.
O potencial de investimentos da “nova” infraestrutura
O estudo da McKinsey estima que o mundo precisará investir US$ 106 trilhões até 2040 para atender às necessidades de infraestrutura nova e modernizada. Esses valores estão distribuídos em sete setores verticais de infraestrutura crítica, com transporte e logística exigindo a maior parcela (US$ 36 trilhões), seguidos por energia e eletricidade (US$ 23 trilhões), infraestrutura digital (US$ 19 trilhões), infraestrutura social (US$ 16 trilhões), infraestrutura de gestão de resíduos e água (US$ 6 trilhões), agricultura (US$ 5 trilhões) e defesa (US$ 2 trilhões).
O setor de transporte e logística requer o maior investimento projetado, com US$ 36 trilhões até 2040. Este setor consiste em duas camadas interconectadas: os ativos físicos (ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e canais) e os sistemas que os gerenciam (operadores de terminais, corredores alfandegários e plataformas digitais de frete).
O setor energético demanda US$ 23 trilhões em investimentos até 2040. A infraestrutura de energia deverá crescer constantemente, impulsionada por uma aceleração sustentada da demanda. Projeta-se que a demanda por energia aumente aproximadamente 4% ao ano até 2027, com países em desenvolvimento respondendo por 85% desse valor. As estimativas sugerem que atender às crescentes necessidades globais exigirá 16,6 terawatts de geração e US$ 23 trilhões ou mais em investimentos até 2040.
A infraestrutura digital requer investimento estimado de US$ 19 trilhões até 2040. Embora seja inferior ao necessário para outros setores, o digital verá o maior crescimento em relação ao nível atual de investimento devido ao seu papel catalisador. A infraestrutura digital tornou-se central para a vida moderna, incluindo redes de fibra, torres de telecomunicações, data centers e satélites.
A infraestrutura social demanda investimentos da ordem de US$ 16 trilhões até 2040. Compreende instalações essenciais em quatro categorias: educação, saúde, instalações civis e moradia acessível. Muitas dessas instalações estão envelhecendo globalmente, criando lacunas entre demanda crescente e capacidade existente. Um relatório das Nações Unidas estimou que 2,8 bilhões de pessoas vivem em condições de moradia inadequadas, número que pode dobrar até 2030.
O setor de saneamento requer investimento estimado de US$ 6 trilhões até 2040. Os investimentos necessários abrangem: gestão de resíduos urbanos, sistemas de águas residuais, sistemas de água potável e gestão de águas pluviais. Mais de dois bilhões de pessoas não têm água potável segura e 3,5 bilhões não têm saneamento adequado.
A infraestrutura agrícola requer investimento estimado de US$ 5 trilhões até 2040. Consiste em ativos que suportam a produção e processamento de alimentos, como canais de irrigação, silos de grãos, instalações de armazenamento refrigerado e plantas de processamento.
A infraestrutura de defesa requer investimento estimado de US$ 2 trilhões até 2040, que incluem ativos físicos essenciais para segurança nacional, operações militares e logística de defesa. Exemplos incluem campos aéreos militares, bases navais, instalações de radar, sistemas de defesa antimísseis, instalações de comunicação segura, sistemas de treinamento e simulação, infraestrutura cibernética, ativos espaciais diretamente vinculados a funções militares e soluções de resiliência energética. Os gastos globais com defesa estão aumentando rapidamente, com países da OTAN direcionando grandes quantias para atualizações de infraestrutura.
De acordo com a McKinsey, o investimento projetado varia consideravelmente por região, com a Ásia sozinha respondendo por mais de dois terços, com US$ 70 trilhões. Essa maioria substancial reflete a rápida urbanização, o crescimento populacional e a contínua expansão industrial da Ásia. Grande parte desse volume de investimento será destinada a transporte, energia e conectividade digital para atender à crescente demanda em megacidades e zonas industriais.
Segundo as projeções, as Américas atrairão aproximadamente US$ 16 trilhões em investimentos, divididos entre três oportunidades. Uma delas é a modernização da infraestrutura legada, como sistemas de transporte. A segunda é a expansão de nova infraestrutura digital, incluindo o crescimento de data centers. A terceira envolve a ampliação da infraestrutura em cidades latino-americanas de rápido crescimento, como Lima e Medellín. O relatório não traz estimativas para os investimentos necessários no Brasil.
Para a Europa, estima-se cerca de US$ 13 trilhões em investimentos até 2040. Grande parte disso se concentrará na renovação de infraestruturas obsoletas, incluindo desde estradas, pontes e ferrovias construídas décadas atrás até a modernização de redes digitais. Ademais, segundo os autores, como a Europa tende a ter as metas climáticas mais ambiciosas do mundo; alcançá-las exigirá projetos consideráveis de energia renovável e modernização da rede elétrica.
Intersecções entre os setores
Na visão da McKinsey, a infraestrutura do futuro é moldada pela crescente interdependência dos sistemas, criando várias oportunidades de investimento (ver quadro abaixo). Três exemplos principais ilustram essas oportunidades transversais.
A intersecção energia-digital manifesta-se na infraestrutura energética para expansão de data centers. A IA tornou os data centers uma das infraestruturas que mais consomem energia, exigindo enorme capacidade computacional. Data centers maiores estão sobrecarregando as redes elétricas.
A intersecção agricultura-energia-resíduos-transporte emerge através dos combustíveis sustentáveis. O esforço para descarbonizar transporte de carga e aviação cria oportunidades transversais. O combustível de aviação sustentável (SAF) exemplifica essa convergência, produzindo cerca de 80% menos emissões que combustível tradicional. A demanda global por SAF deverá atingir 17 milhões de toneladas anuais até 2030.
A intersecção transporte-energia-digital materializa-se no transporte conectado e eletrificado. A descarbonização do transporte através da eletrificação exige que estes três setores funcionem harmoniosamente. Segundo o estudo, cerca de 40% dos consumidores de veículos elétricos citam velocidade de carregamento como fator mais crítico para compra.
Segundo o relatório da McKinsey, interdependência e interconexão dos sistemas de infraestrutura estão gerando novos modelos de negócios, que unem diferentes tipos de infraestrutura para criar maneiras mais flexíveis e resilientes de fornecer serviços de infraestrutura. Em muitos casos, o valor total dos ativos em diferentes setores verticais de infraestrutura só pode ser obtido quando operam como um todo integrado.
Do segundo semestre de 2023 ao primeiro semestre de 2024, as estratégias transversais atraíram 75% do capital captado para projetos de infraestrutura. O mais recente Fundo V, de € 10,2 bilhões, da empresa de private equity Antin Infrastructure Partners, por exemplo, visa explicitamente oportunidades que unem a transição energética, a infraestrutura digital, o transporte e a infraestrutura social na Europa e na América do Norte.
Da mesma forma, o Fundo VI de Infraestrutura da organização sueca EQT, que captou € 21,5 bilhões, visa investir em temas como infraestrutura digital, armazenamento e distribuição de energia, eletrificação do transporte e descarbonização.
Recomendação para os governos e setor privado
À medida que o investimento em infraestrutura aumenta globalmente, o sucesso das iniciativas depende cada vez mais não apenas da quantidade de capital investido como também da eficácia com que governos, investidores e operadores se coordenam, se adaptam e executam os projetos.
A McKinsey recomenda que:
• Governos devem simplificar regulações, incentivar parcerias público-privadas e focar na reutilização eficiente dos ativos existentes.
• Investidores privados precisam diversificar seus portfólios, buscando oportunidades em setores digitais e de energia limpa, frente ao aumento dos juros e da competição.
• Operadores e desenvolvedores devem priorizar o uso de tecnologia para ganhos de escala e desenvolver serviços inovadores e integrados diante das novas demandas do setor.
No contexto de crescente interdependência dos setores verticais críticos, a McKinsey sugere também que, ao planejarem estratégias de investimento, os governos, investidores e operadores do setor privado adotem uma abordagem transversal. Investidores com estratégia de exploração de oportunidades transversais obtêm vantagens de serem pioneiros.
O aproveitamento de novas tecnologias para criar valor está acelerando em todas as classes de ativos. A expansão da oferta de serviços em toda a cadeia de valor permite aos desenvolvedores agregar serviços para ampliar a margem. De igual modo, o prolongamento da vida útil dos ativos através de abordagens de manutenção e otimização preditiva está se tornando uma estratégia fundamental.
Os governos devem refletir sobre quais recursos direcionar e como remover gargalos. Os investidores têm oportunidade de ir além das estratégias tradicionais, gerenciando ativos de forma mais ativa. Operadores e desenvolvedores podem adotar tecnologias inovadoras e novas áreas de serviço para explorar fontes de valor. Aqueles que se adaptarem moldarão a próxima geração de infraestrutura e as economias que delas dependem.
Embora o relatório faça apenas menções pontuais ao Brasil, sobretudo no contexto da infraestrutura agrícola, as recomendações da McKinsey são plenamente aplicáveis ao contexto brasileiro e delineiam caminhos possíveis para que o país se alinhe às transformações globais de infraestrutura.





