Carta IEDI
Crescimento com novos motores
Fevereiro de 2021 foi um mês de dinamismo positivo para a economia brasileira, com os setores de serviço e do comércio varejista recobrando forças, depois de um período desfavorável na virada do ano. A indústria, desta vez, ficou no vermelho, prejudicada com alguma defasagem pela queda nos meses anteriores das vendas do varejo, que é um importante meio de escoamento dos bens industriais.
O melhor resultado na passagem de jan/21 para fev/21 foi registrado pelo comércio varejista: +4,1%, já descontados os efeitos sazonais, em seu conceito ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção. Isso, porém, compensou apenas parcialmente as perdas de dez/20 e jan/21 (-3,1% e -2,2%, respectivamente). Em seu conceito restrito, a reação foi muito mais fraca, de apenas +0,6% em fevereiro último.
Em seguida vieram os serviços, com alta de +3,7%, assegurando pela primeira vez um nível de faturamento real maior do que no pré-choque da Covid-19. A alta, que atingiu todos os seus segmentos, veio após dois meses seguidos de virtual estagnação (+0,3% em dez/20 e +0,1% em jan/21).
Estes resultados, que levaram o indicador IBC-Br do Banco Central a registrar variação de +1,7%, sinalizando expansão do PIB em fev/21 frente a jan/21, muito provavelmente serão efêmeros, diante da piora do quadro sanitário do país e da necessidade de endurecimento das medidas restritivas a partir de mar/21. Com a proibição de funcionamento de atividades comerciais e de serviços, é difícil que haja continuidade do desempenho positivo destes setores nos próximos meses.
Esta também não é uma boa notícia para a indústria, que vinha se mostrando resiliente até pouco tempo atrás, mantendo-se no positivo a despeito da redução e depois extinção dos programas emergenciais, das incertezas da pandemia e do elevado desemprego. Em fev/21, sua produção recuou -0,7% ante jan/21, com ajuste sazonal. Frente a fev/20, praticamente ficou parada, ao registrar apenas +0,4%.
Na indústria o enfraquecimento foi generalizado. Atingiu três dos seus quatro macrossetores, 14 dos 26 ramos (isto é, 54%) e 10 dos 15 parques regionais acompanhados pelo IBGE (isto é, 67% do total). São Paulo (-1,3% ante jan/21) e os estados da região Sul, que vinham se saindo melhor do que a média da indústria brasileira, também ficaram no vermelho.
Em algumas indústrias regionais, o recuo em fev/21 foi reincidente, pois já vinham sentindo o peso da redução do auxílio emergencial pago às famílias. É este o caso notadamente da região Nordeste como um todo (-0,2% em dez/20, -2,4% em jan/21 e -2,6% em fev/21, com ajuste), cuja produção industrial não cresce desde dez/20. Esta involução é grave, pois a indústria nordestina ainda está longe de superar o choque da Covid-19 em mar-abr/20.
No varejo, o resultado geral também foi acompanhado pela maioria de seus segmentos. Das 10 atividades identificadas pelo IBGE, 6 conseguiram crescer na passagem de jan/21 a fev/21. As exceções, que incluem combustíveis, informática, medicamentos e perfumaria e outros artigos de uso pessoal de doméstico, pouco caíram, aproximando-se mais de um quadro de estabilidade.
Os maiores aumentos nas vendas vieram de segmentos, como móveis e eletrodomésticos (+9,3%), veículos e autopeças (+8,8%) e tecidos, vestuário e calçados (+7,8%), que contavam com bases deprimidas de comparação dado os recuos intensos nos meses anteriores. Em sua maioria, recompuseram apenas parte das perdas.
Já o crescimento do faturamento real dos serviços em fev/21 se deu pela alta em todos os seus ramos, sem exceção. Quem melhor se saiu foram os serviços prestados às famílias, que avançaram +8,8% ante jan/21, com ajuste sazonal, também a partir de uma base muito baixa de comparação. Este ramo é quem mais deve sofrer com as medidas restritivas mais intensas.
Um perfil mais consistente tem marcado o crescimento dos segmentos de serviços profissionais, administrativos e complementares e de transportes e correios, que já tinham ficado no positivo em jan/21 e agora em fev/21 reforçaram seu desempenho na série livre de sazonalidades.
Os serviços de informação e comunicação, ajudados pela necessidade de distanciamento físico e trabalho remoto, também estão em situação confortável, pois, a despeito do baixo dinamismo dos últimos meses, estão em um ponto superior à entrada do ano passado (+2,1% ante 1º bim/20).
Indústria
Em fev/21, a indústria voltou a apresentar desempenho negativo, aprofundando os sinais de perda de dinamismo dos meses anteriores. Caiu -0,7% ante jan/21, algo que não ocorria na série com ajuste sazonal desde o tombo de abr/20 provocado pelo choque da pandemia de Covid-19.
Entre os macrossetores, o declínio geral foi condicionado principalmente pelos bens de consumo duráveis, cuja produção recuou -4,6% ante jan/21, com ajuste sazonal, mas o sinal negativo também atingiu outros dois macrossetores: bens de capital (-1,5%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,3%). A única exceção foi bens intermediários (+0,6%), que vem apresentando oscilação entre altas e baixas.
Bens de consumo duráveis foi o macrossetor com pior resultado também na comparação com fev/20 (-8,6%), seguido por bens de consumo semi e não duráveis (-1,6%). Em ambos os casos as quedas foram reincidentes, não trazendo bons sinais para este início de 2021.
Ao que parece, a perda de dinamismo recente da indústria vem sendo condicionada pelos ramos cujos mercados dependem do consumo das famílias, que tem sido freado não apenas pelo medo e isolamento decorrente diretamente da Covid-19, mas também pelo desemprego e pelo fim do auxílio pago às famílias.
Os dados regionais da indústria também mostram um perfil disseminado de perdas. Dos 15 parques industriais regionais, 10 ficaram no vermelho na passagem de jan/21 para fev/21. Os casos mais graves ficaram por conta de Ceará (-7,7%, com ajuste), Pará (-7,4%) e Bahia (-5,8%), mas a involução também atingiu os motores da recuperação industrial: São Paulo e a região Sul.
Podem ser identificados três quadros distintos neste início de ano: algumas indústrias locais recuaram pela primeira vez em fev/21, outras estão há mais tempo no vermelho e alguns poucos casos cresceram, compensando o declínio de jan/21.
Os centros industriais que vinham puxando a reativação do setor no agregado Brasil e apresentando resiliência na virada de 2020 para 2021 registraram queda agora em fev/21, em um contexto de deterioração da situação sanitária do país e fim das medidas emergenciais. Foram os casos de São Paulo (-1,3%) e dos três estados da região Sul, que perderam aquilo que haviam obtido em jan/21.
Para outros, o recuo em fev/21 foi reincidente, pois já vinham sentindo o peso da redução do auxílio emergencial pago às famílias. É este o caso notadamente da região Nordeste como um todo (-0,2% em dez/20, -2,4% em jan/21 e -2,6% em fev/21, com ajuste), cuja produção industrial não cresce desde dez/20.
Esta involução é grave, pois a indústria nordestina ainda está longe de superar o choque da Covid-19 em mar-abr/20. Seu nível de produção em fev/21 está 6,1% aquém o pré-crise. O Amazonas é outro caso que está no vermelho desde dez/20 e permanece 6% abaixo do nível de produção anterior à Covid-19.
Já entre aqueles que conseguiram ampliar produção na passagem de jan/21 para fev/21 estão Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás. Todos estes tinham apresentado retração em jan/21 e, por isso, contaram com bases de comparação menores. A rigor, não cresceram, mas compensaram perda do mês anterior. A única exceção foi o Rio de Janeiro que não apresenta variação negativa desde out/20 e é bom que seja assim, pois a produção industrial do estado ainda está 0,8% abaixo do nível pré-pandemia.
Comércio
Depois de três meses consecutivos de resultados desfavoráveis, o comércio varejista voltou a crescer em fev/21, embora sem grande vigor. Suas vendas reais aumentaram +0,6%, já descontados os efeitos sazonais, compensando apenas parcialmente o recuo de -6,3% entre out/20 e jan/21.
No conceito ampliado do varejo, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção, o desempenho recente se mostra mais significativo: +4,1% na passagem de jan/21 a fev/21, com ajuste sazonal, puxado pelo segmento de veículos, que registrou +8,8%, após a virada de ano no vermelho.
Assim como veículos, outros ramos também conseguiram ampliar vendas, de modo que a maior parte do varejo obteve variação positiva: 60% dos dez ramos acompanhados pelo IBGE. Em sua grande maioria, compensaram uma fração das perdas em meses anteriores.
Entre os ramos no negativo, estão combustíveis, equipamentos de informática, cosméticos e medicamentos e outros artigos de uso pessoal. Em todos estes casos, as quedas foram brandas e sucederam resultados positivos, sinalizando mais um quadro de virtual estabilidade.
Já em comparação com fev/20, isto é, antes do choque da Covid-19 no Brasil, voltou a haver declínio, dando continuidade a uma trajetória nítida de desaceleração. Em seu conceito restrito, o varejo recuou -0,4% em jan/21 e -3,8% em fev/21 ante o mesmo período do ano anterior. Em seu conceito ampliado, as taxas foram de -3,1% e -1,9%, respectivamente.
A inflexão recente no varejo tem no segmento de supermercados, alimentos, bebidas e fumo uma de suas principais causas. Isso porque ocorreu importante elevação de preços de alimentos e é a parte do varejo que mais tende a refletir a redução e posterior extinção do auxílio emergencial pago às famílias. Suas vendas caíram -1,7% ante o 1º bim/20 e a alta de +0,8% na passagem de jan/21 para fev/21, com ajuste, pouco fez para reverter a perda de -5,1% de out/20 a jan/21.
Outras duas contribuições negativas importantes para o varejo como um todo vêm do ramo de veículos e autopeças, que até ensaiou reação em nov-dez/20, mas voltou a cair a uma taxa de dois dígitos no 1º bim/21, e tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas estão no vermelho desde o 2º bim/20, na comparação interanual. Em ambos os casos pesam muito as medidas de restrição à mobilidade, que se tornaram mais duras em 2021 com a piora do quadro pandêmico.
O mesmo pode ser dito para as vendas de combustíveis e lubrificantes, de móveis e eletrodomésticos e de equipamentos de escritório, informática e comunicação. Todos permaneceram ou voltaram ao vermelho no 1º bim/21, inclusive móveis e eletrodomésticos que viram um bom desempenho na segunda metade de 2020 em resposta ao isolamento domiciliar.
Em direção contrária, conseguiram ampliar vendas no 1º bim/21 ante o mesmo período do ano anterior apenas três ramos, isto é, somente 30% do total de ramos acompanhados pelo IBGE. Foram os casos de medicamentos, cosméticos e perfumaria (+10,9%), condicionados pela natureza sanitária da crise; outros bens de artigo pessoal e doméstico (+6,2%), que reúnem um conjunto amplo de produtos, e material de construção (+14,3%), já que a construção não foi proibida de funcionar.
Serviços
Em fev/21, assim como no comércio varejista e em contraste com a indústria, houve reação no setor de serviços, após um quadro de virtual estagnação nos dois meses anteriores. A alta foi de +3,7% ante jan/21, já descontados os efeitos sazonais, com variações positivas em todos os seus segmentos.
Embora este desempenho tenha sido importante, por levar o setor como um todo a níveis de faturamento real superiores ao pré-pandemia (+0,9%), o mais provável é que não venha ter continuidade nos que se seguiram, dado o novo surto de Covid-19 no país e o endurecimento das medidas restritivas a partir de março. Ou seja, a reação deve ser efêmera.
A deterioração da situação sanitária tente a prejudicar principalmente a parcela dos serviços que mais cresceu na passagem de jan/21 para fev/21, a saber, os serviços prestados às famílias. O faturamento deste segmento avançou +8,8%, com ajuste sazonal, ajudado por bases de comparação deprimidas pelo recuo nos meses anteriores (-3,6% em dez/20 e -2,6% em jan/21).
Cabe observar que esta melhora dos serviços às famílias ante jan/21, proporcionada sobretudo pelos serviços de alojamento e alimentação, não foi suficiente para reduzir sua defasagem em relação ao pré-pandemia. O desempenho no 1º bim/21 ante o mesmo período do ano anterior mostra a gravidade do quadro: -28%, pior inclusive do que o resultado do último bimestre de 2020 (-25,7%).
A segunda maior alta de fev/21 na série com ajuste também compensou resultado anterior desfavorável. Foi o caso do segmento de outros serviços, que reúne um conjunto amplo de atividades, como serviços financeiros, imobiliários etc., com queda de -9,7% em jan/21 e reação de +4,7% em fev/21. Aqui também o 1º bim/21 ante o mesmo período do ano anterior foi negativo, mas o mais preocupante é sua trajetória: +10,9% em set-out/20; +8,5% em nov-dez/20 e -1% em jan-fev/21.
Um perfil mais consistente tem marcado o crescimento dos segmentos de serviços profissionais, administrativos e complementares e de transportes e correios, que já tinham ficado no positivo em jan/21 e agora em fev/21 reforçaram seu desempenho na série livre de sazonalidades. Em ambos os casos, porém, o 1º bim/21 ficou abaixo do 1º bim/20 (-5,0% e -2,2%, respectivamente), mas sua evolução aponta claramente para redução das perdas. A recuperação está incompleta, mas está presente.
Dos cinco ramos de serviços identificados pelo IBGE, quem está em uma situação mais confortável são os serviços de informação e comunicação, ajudados pela necessidade de distanciamento físico e trabalho remoto. É importante notar que nos últimos meses tem ocorrido baixo dinamismo neste ramo, com seu faturamento oscilando em torno da estabilidade na série com ajuste sazonal. Mas apenas disso, está em um ponto superior à entrada do ano passado: +2,1% no 1º bim/21.