Carta IEDI
O Brasil à margem: exportações globais de manufaturas em 2020
Os dados recentemente atualizados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que o desempenho do Brasil no comércio internacional durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19 foi mais fraco do que o dos demais países, especialmente, no que se refere às exportações de bens manufaturados.
As quedas do valor das exportações e das importações de bens do Brasil em 2020 foram, respectivamente -7% e -10%, enquanto que no mundo as perdas foram de -8%. Já as variações em valor das exportações e importações de manufaturados brasileiros foram, respectivamente, -21,6% e -10,6%, enquanto a média mundial foi em torno de -5%.
Por isso, o Brasil caiu da 34ª para a 35ª posição no ranking das exportações mundiais de manufaturas entre 2019 e 2020, passando de uma parcela de 0,52% para 0,43% do total em dólares nominais. No ranking das importações mundiais de manufaturas, o Brasil foi da 25ª para a 27ª posição de 2019 para 2020, com participação de 1,01%, cerca de 2,5 vezes maior do que a das exportações.
Por sua vez, a parcela do Brasil nas exportações mundiais de bens em valor ficou estável em 1,19% em 2020 e até levou a uma melhora do país no ranking mundial, da 27ª para a 26ª posição, com US$ 210 bilhões em 2020. As importações de bens do Brasil em 2020 foram de US$ 166 bilhões, o que significou uma parcela no total mundial de 0,93%, com ligeiro aumento em relação ao ano anterior (0,91%), mesmo assim caindo da 28ª para a 29ª colocação no ranking mundial.
Na última década, a evolução das exportações de bens e manufaturas do Brasil e do mundo tem se dado no mesmo sentido, mas em geral com variações mais contundentes no caso do Brasil. A reprimarização da pauta exportadora continua, sendo que em 2020 a parcela no total de bens exportados de bens agrícolas (incluindo alimentos) foi de 44%, combustíveis e minérios 28%, e manufaturas 25%. Nas importações de bens do Brasil, as manufaturas representaram quase 80% do total.
Segundo o anuário da OMC, o declínio no comércio mundial de mercadorias em 2020 foi menos severo do que diversas previsões apontavam por causa das políticas fiscais e monetárias que impulsionaram renda e consumo, medidas comerciais para manter as cadeias de abastecimento funcionando, pela inovação tecnológica que facilitou operações entre outras razões.
Já a recuperação do comércio em 2021 tem sido bastante heterogênea entre regiões, mais veloz na Ásia, com retorno aos níveis anteriores à pandemia na Europa e na América do Norte, mas com atraso em regiões mais pobres e menos industrializadas, como a África e o Oriente Médio.
No ranking de maiores exportadores de bens manufaturados em 2020, a China firmou-se como líder, sobretudo por ter sido um dos poucos países que assinalou crescimento (+4%) no valor em dólares em relação a 2019. Assim, sua participação no total exportado de manufaturas aumentou de 18,2% em 2019 para 20% em 2020. Alemanha (2º lugar) despontou na frente dos EUA (3º lugar) neste ranking, com Japão e Hong Kong na 4ª e 5ª posição, respectivamente.
No ranking dos maiores importadores mundiais de manufaturas de 2020, EUA mantiveram a liderança, mesmo com a queda de -5% em relação a 2019. Em seguida, vieram China, Alemanha, Hong Kong e França – tal qual em 2019.
Para além das manufaturas, ressalta-se que o impacto da pandemia sobre o comércio dos diferentes tipos de bens e serviços foi bastante heterogêneo. Mundialmente, em 2020, as exportações de combustíveis e minérios tiveram a maior redução em valor (-23,9%), devido a uma expressiva queda nos preços de energia. Já as exportações de produtos agrícolas aumentaram +0,9%. Mas, em volume, as exportações de bens agrícolas caíram -2,3%, as de combustíveis e minérios -3,1%, e as de manufaturas -6,1%.
Dentre as manufaturas, as exportações mundiais em valor de produtos automotivos (-16,4%) foram as mais afetadas pela pandemia, enquanto as de produtos têxteis cresceram significativamente (+16%). Em particular, o comércio de produtos médicos registrou aumento de +16,3% em 2020 (+4,7% em 2019), de forma que a participação dos produtos médicos no comércio mundial de mercadorias cresceu de 5,3% em 2019 para 6,6% em 2020.
Apesar do tombo considerável dos preços das commodities no primeiro semestre de 2020, subiram de forma acelerada desde então, gerando pressões inflacionárias mundialmente. Em maio de 2021, os preços dos metais e dos alimentos já haviam ultrapassado o patamar de 2014, matérias primas agrícolas estavam quase no mesmo nível, mas combustíveis continuavam 30% mais baratos ante 2014.
Cenário do comércio internacional de mercadorias
Como se sabe, no ano passado a Covid-19 causou grande impacto no comércio mundial. Os dados do anuário da Organização Mundial do Comércio (OMC, World Trade Statistical Review 2021), divulgado recentemente, detalham essas perdas. Em valor, as exportações mundiais de mercadorias caíram 7,7% e as de serviços 21%, totalizando, respectivamente, cerca de US$ 17,6 trilhões e US$ 4,9 trilhões em 2020. Em volume, o comércio de bens diminuiu 5,3%, mais do que o próprio PIB mundial, cuja queda foi de 3,6%.
Considerando-se os tipos de bens comercializados em termos de valor, as exportações de bens manufaturados apontaram queda de 5,2% em 2020 relativamente a 2019, equivalendo a US$ 12,1 trilhões – ou 71% das exportações mundiais de mercadorias em 2020. As exportações de combustíveis e minérios diminuíram 23,9%, devido a uma expressiva queda nos preços de energia. Já as exportações de produtos agrícolas aumentaram em 0,9%. Mas, em volume, as exportações de bens agrícolas caíram 2,3%, as de combustíveis e minérios -3,1%, e de manufaturas -6,1%.
Dentre as manufaturas, as exportações mundiais em valor de produtos automotivos (-16,4%) foram as mais afetadas pela pandemia em 2020, enquanto as de produtos têxteis cresceram significativamente (16%). Em particular, o comércio de produtos médicos registrou aumento de 16,3% em 2020 (tendo sido 4,7% em 2019), de forma que a participação dos produtos médicos no comércio mundial de mercadorias cresceu de 5,3% em 2019 para 6,6% em 2020.
Aliás, na composição do comércio mundial de bens, em valor, fortalece a tendência de aumento das parcelas dos produtos agrícolas (10,2% em 2020) e das manufaturas (68,9%), enquanto se reduz de combustíveis e minérios (13,2%). No grupo de manufaturados, destacam-se os ganhos de participação de equipamentos de escritório e telecomunicações (12%) e de químicos (12,5%), puxados por farmacêuticos (4,2%).
A menor participação dos combustíveis e minérios nas exportações de bens em valor tem a ver com a queda nos preços de commodities ao longo da última década. A queda foi mais drástica durante a primeira onda da pandemia, mas os preços têm crescido de forma acelerada desde abril de 2020.
Segundo o relatório da OMC, os preços dos combustíveis caíram 60% entre janeiro e abril 2020, principalmente porque a pandemia causou estrondosa redução das viagens internacionais. Preços de alimentos caíram 10%, matérias-primas agrícolas -8% e metais 1%, neste período. Em seguida, os preços das commodities subiram de forma acelerada, pouco abaladas pelas ondas sucessivas de Covid-19, gerando pressões inflacionárias.
Em maio de 2021, os preços dos metais e dos alimentos já haviam ultrapassado o patamar de 2014, matérias primas agrícolas estavam quase na mesma base, e combustíveis passaram de um nível de 20 em abril de 2020 em relação à base 100 em 2014, para quase 70 em abril de 2021.
Quanto às taxas de câmbio, o dólar americano valorizou 7% em média em relação às outras principais moedas entre janeiro e abril de 2020, contribuindo em parte para a queda nos preços dos combustíveis denominados em dólares durante o mesmo período. De abr/20 até o final de 2020, o dólar perdeu 9% em valor, com a retomada do crescimento econômico global e a política monetária e fiscal expansionistas dos EUA que pressionaram certa desvalorização da moeda.
Entre janeiro e maio de 2021, o câmbio nominal efetivo do dólar americano foi relativamente estável. O comportamento do iene seguiu as tendências do dólar dos EUA, enquanto as moedas da China, Euro e Reino Unido apontaram tendências contrárias: desvalorização nos primeiros meses de 2020, com valorização em seguida.
Todas as regiões sofreram queda nos volumes de comércio de bens no segundo trimestre de 2020, exceto a Comunidade de Estados Independentes. A magnitude dessas perdas foi maior na América do Norte e Europa. A recuperação do comércio de mercadorias desde o terceiro trimestre de 2020 tem sido forte, mas desigual, com exportações e importações crescendo mais rapidamente em algumas regiões do que em outras.
Assim, no ano, em termos de volume, as exportações da América do Norte caíram 8,5% e as importações 6,1%, na Europa recuaram 8,0% e 7,6% respectivamente. Na América do Sul e Central, as exportações retraíram 4,5% e as importações, 9,3%. O Brasil observou menores perdas, com variação de 0% no volume de exportações e -1,7% no de importações. Já na Ásia, as exportações em volume chegaram a crescer 0,3% e as importações caíram 1,3%.
Analisando-se as exportações de mercadorias em valor (US$), tem-se queda em maiores proporções, mas em linha com os movimentos observados no volume de comércio. Na Ásia, as exportações caíram 10% no segundo trimestre do ano de 2020 relativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, com forte retomada na sequência. A Europa e os EUA, registraram maiores quedas no segundo trimestre de 2020, -23% e -32% respectivamente, com retomada bem mais tímida. Na América do Sul e Central, as exportações caíram 19% no segundo trimestre de 2020, mas com recuperação subsequente.
No primeiro ano da pandemia de Covid-19, o ranking de maiores exportadores mundiais de mercadorias ficou estável no que se refere às 5 primeiras posições. Assim, a China ampliou a liderança, com parcela de quase 15% das exportações mundiais, apontando crescimento de 4%. Em seguida, vieram os Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Japão – todos com variação negativa no valor total exportado de bens em 2020 relativamente a 2019. Mesmo com retração de 7%, o Brasil melhorou da 26ª para a 27ª posição, com 1,2% das exportações mundiais de bens.
No ranking dos maiores importadores mundiais de bens, Estados Unidos, China e Alemanha, permaneceram nas 3 primeiras posições, e Reino Unido inverteu com o Japão a quinta pela quarta colocação. Destaca-se a queda de 4ª posições da Índia no ranking, da 10ª para 14ª. O Brasil, com a queda de 10% no valor das importações, perdeu uma posição nesse ranking, da 28ª para a 29ª, com parcela de 0,9% nas importações mundiais de bens.
Por sua vez, no ranking de maiores exportadores de bens manufaturados em 2020, a China firmou-se também como líder, sobretudo por ter sido um dos poucos países que assinalou crescimento (4%) no valor em dólares em relação a 2019. Assim, sua participação no total exportado de manufaturas aumentou de 18,2% em 2019 para 20% em 2020. Novamente, a Alemanha despontou na frente dos EUA neste ranking, com Japão e Hong Kong na 4ª e 5ª posição, respectivamente. O Brasil caiu da 34ª para a 35ª posição, com retração de 21,6% nas exportações de manufaturas – o pior tombo entre os 40 maiores exportadores desses bens.
No ranking dos maiores importadores mundiais de manufaturas de 2020, os EUA mantiveram a liderança, mesmo com a queda de 5% em relação a 2019. Em seguida, vieram China, Alemanha, Hong Kong e França – tal como em 2019. A Coreia do Sul ascendeu da 13ª para a 9ª posição. O Brasil caiu da 25ª para a 27ª posição, com queda de 10% em valor e parcela de 1% no total importado mundialmente de manufaturas – sendo que nas exportações sua fatia é de somente 0,4%.
A inserção do Brasil no comércio internacional
O comércio internacional de mercadorias e de manufaturas, em particular, do Brasil foi mais abalado pela pandemia do que a maior parte dos países. As quedas em valor das exportações e das importações de bens do Brasil em 2020 foram, respectivamente -7% e -10%, enquanto a queda das exportações e importações de manufaturados foram, respectivamente, -21,6% e -10,6%.
A parcela do Brasil nas exportações mundiais de bens em valor ficou estável em 1,19% em 2020 e até levou a uma melhora do país no ranking mundial (incluindo comércio intra-União Europeia), da 27ª para a 26ª posição, com US$ 210 bilhões em 2020. As importações de bens do Brasil em 2020 foram de US$ 166 bilhões, o que significou uma parcela no total mundial de 0,93%, com ligeiro aumento em relação ao ano anterior (0,91%), caindo da 28ª para a 29ª colocação no ranking mundial.
O Brasil caiu da 34ª para a 35ª posição no ranking das exportações mundiais de manufaturas entre 2019 e 2020, passando de uma parcela de 0,52% para 0,43% do total em dólares nominais. O valor das exportações de manufaturas brasileiras em 2020 foi US$ 52 bilhões, com taxa de variação de -21,6% em relação a 2019 – expressivamente mais forte do que a média mundial de -4,9%. No ranking das importações mundiais de manufaturas, o Brasil desceu da 25ª para a 27ª posição de 2019 para 2020, com participação de 1,01% e valor de US$ 131 bilhões em 2019, cerca de 2,5 vezes maior do que o das exportações.
A evolução das exportações de bens e manufaturas do Brasil e do mundo tem se dado no mesmo sentido, mas em geral as variações são mais contundentes no caso do Brasil. Seu perfil de exportador firma-se como provedor de bens agrícolas, combustíveis e minérios, com redução consistente na participação das manufaturas. Assim, em 2020, suas parcelas eram, respectivamente, 44%, 28% e 25%. Entre as manufaturas, houve redução na parcela nas exportações totais de todas divisões industriais, destacando-se os equipamentos de transporte, ferro e aço e produtos químicos.
Nas importações de bens do Brasil, as manufaturas representaram quase 80% do total importado em 2019 e 2020. Neste grupo, equipamentos de transporte perderam participação para 11% do total importado em 2020, enquanto produtos químicos cresceram para 26%. A importação de combustíveis e minérios caiu consideravelmente em valor, de 18% para 13,4%.