Carta IEDI
Desaceleração creditícia
Os últimos dados do Banco Central indicam que, a despeito das reduções recentes da taxa básica de juros, a Selic, o quadro do crédito no país segue pouco favorável ao dinamismo econômico: os juros dos empréstimos continuam elevados e as concessões de novos financiamentos perdem força, atingindo sobretudo as empresas, com destaque para as do setor industrial e de serviços.
No 3º trim/23, as novas concessões de crédito do sistema financeiro nacional somaram R$1,6 trilhão (média mensal de R$ 530,5 bilhões), representando uma elevação real de +1,0% frente ao mesmo período do ano anterior, quando deflacionado pelo IPCA mensal. Na virada do ano, a expansão creditícia se mostrava muito mais robusta: +12,8% em out-dez/22 e +8,6% em jan-mar/23 na mesma base de comparação.
E a contar pela evolução dos empréstimos corporativos, a evolução poderia ter sido ainda mais desfavorável, já que as concessões de crédito às pessoas físicas conseguiram crescer +4,4% ante o 3º trim/22, mais do que compensando o declínio de -3,1% das novas operações para pessoas jurídicas.
Ressalta-se que em 2023 praticamente não houve ampliação dos empréstimos às empresas, já que o melhor resultado obtido, em termos reais, coube ao 1º trim/23 (+0,4%) e ainda assim tratou-se de uma virtual estagnação. Nos dois trimestres seguintes houve sinal negativo na comparação interanual. Consequência: queda de -2,0% no acumulado jan-set/23.
Embora haja uma relação de duplo sentido entre esta evolução das novas operações e o nível de atividade da economia, um fator-chave para se levar em consideração é o nível dos juros a que são ofertadas. Isso devido não apenas ao patamar da taxa básica, a Selic, mas também em função da aversão a riscos, derivada da fraude contábil das Americanas e do aumento das falências.
Segundo o Banco Central, a média real das taxas de juros no 3º trim/23 até diminuiu (-2,2 p.p.) na comparação com o 2º trim/23, passando de 27,6% a.a. para 25,0% a.a. para o total das operações (a famílias e empresas), mas permaneceu em alta em relação ao ano passado, dada a desaceleração mais intensa da inflação.
A taxa média de juros reais das novas operações de crédito ante o 3º trim/22 subiu +6,1 p.p., tendo sido ainda mais expressiva no acumulado do ano: +9,9 p.p. na média de janeiro a setembro frente a igual período do ano de 2022.
Tanto é assim, que o segmento do mercado de crédito que mais reflete a situação dos juros é quem puxa o financiamento às empresas para baixo. Já descontada a inflação, as concessões do crédito livre para as pessoas jurídicas encolheram -5,0% no 3º trim/23 ante o 3º trim/22. No ano, não houve um trimestre sequer em que o sinal não foi negativo.
Com concessões fracas ou no vermelho, o estoque total de crédito do sistema financeiro nacional, que é uma medida mais estável por considerar créditos ativos mais antigos, também aponta para um dinamismo menor.
O estoque total de crédito, que alcançou R$ 5,3 trilhões, registrou variação real de somente +0,1% no 3º trim/23 ante o trimestre imediatamente anterior. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a alta foi de +10,0%, o que representa metade do ritmo de expansão que vinha registrando desde o final de 2022.
A maior desaceleração quanto ao estoque de crédito também coube às operações junto das empresas: +14,5% no 2º trim/23 para +6,5% no 3º trim/23, em relação ao mesmo período do ano anterior. Frente ao trimestre imediatamente anterior, o resultado foi de -0,3%.
Além da questão dos juros, é importante notar que o financiamento corporativo vem passando por uma mudança estrutural no país em favor da captação de recursos por meio da emissão de títulos. Entretanto, o crédito bancário e as operações direta de mercado não são substituíveis, já que para estas últimas, em geral, as empresas de menor porte não têm acesso.
Chega a +27,2% o crescimento real no 3º trim/23 ante o 3º trim/22 do estoque de títulos de dívida emitidos no mercado doméstico (debêntures, notas comerciais e recebíveis imobiliários e do agronegócio) e detidos por residentes, isto é, ritmo muito acima do estoque de crédito bancário corporativo.
O estoque de dívidas emitidas pelo setor corporativo não financeiro já é equivalente a 72% das operações de crédito e financiamento do sistema financeiro, cerca de 10 pontos percentuais a mais do que no 3º trim/22.
Voltando aos estoques de empréstimos, as estatísticas do Banco Central também permitem avaliar sua evolução por meio de dois recortes: setorial e por porte das empresas.
Entre os três principais setores da economia, houve variação real positiva em todos eles, sendo na indústria o resultado mais modesto: +10,4% para a agropecuária, +5,1% para os serviços e +4,3% para a indústria na comparação interanual. O arrefecimento no ritmo de expansão foi mais intenso nos serviços (-8,7 p.p.) e na indústria (-6,6 p.p.).
Cabe notar que, na indústria metade, de seus ramos apresentou contração de crédito no período em tela, com destaque para aqueles cujos mercados estão travados pelas condições de financiamento de seus clientes, como a indústria automobilística (-17,9%), a de outros bens de consumo duráveis (-8,3%) e o setor de bens de capital (-6,0%).
Frente ao 2º trim/23, por sua vez, o estoque de crédito às empresas industriais registrou decréscimo de -0,8%, em termos reais, no 3º trim/23, enquanto o saldo das operações com as empresas de serviços retraiu -0,3%. Em contraste, o saldo das operações de crédito contratadas pelas empresas agropecuárias cresceu +7,6% neste período, refletindo a sazonalidade da safra agrícola, e por consequência das necessidades de financiamento do setor.
No recorte por porte das empresas, as estatísticas de crédito do BCB mostram que no 3º trim/23, o estoque de crédito às empresas de menor porte cresceu +7,8% em termos reais, aumento muito superior do que registrado pela carteira de crédito às grandes empresas (+2,4%) na comparação com igual trimestre de 2022. Contudo, o ritmo de crescimento do crédito às MPME desacelerou de forma mais intensa: -13,5 p.p. ante -6,9 p.p. para a carteira das grandes empresas vis-à-vis o resultado obtido no 2º trim/23.
Crédito ampliado ao setor privado não-financeiro
De acordo com as estatísticas de crédito do Banco Central do Brasil, o estoque de crédito ampliado ao setor privado não financeiro atingiu R$ 8,6 trilhões no 3º trimestre de 2023, descontada a inflação medida pelo IPCA (R$ 9,1 trilhões em termos nominais).
Este conceito de crédito inclui tanto o saldo das operações de crédito contratadas pelas empresas e pelas famílias no mercado financeiro doméstico como o saldo da dívida externa, resultante das captações de recursos junto a não residentes, mediante a contração de empréstimos e da emissão de títulos de dívida.
Na comparação com igual trimestre do ano anterior, o estoque do crédito ampliado ao setor privado não financeiro registrou variação real de 10,4% no período de julho a setembro do corrente ano, quando deflacionado pelo IPCA.
Nessa base de comparação, a evolução do saldo do crédito ampliado ao setor privado continuou se arrefecendo, com recuo da ordem de -8,9 p.p. no 3º trim/23 frente ao trimestre precedente, devido, sobretudo, à desaceleração do crescimento das operações de crédito com as famílias (-9,9 p.p.) um pouco mais intensa do que a verificada no estoque do crédito destinado às empresas (-8,2 p.p.).
Em porcentagem do PIB, o saldo total do crédito ampliado ao setor privado não financeiro atingiu (86,4%), com queda de 0,6 ponto percentual (p.p.) frente ao 3º trimestre de 2022 e incremento de 1,2 p.p. em comparação com o trimestre precedente (85,2%).
No corte por tipo de tomador, observa-se que o estoque do crédito ampliado para as empresas em termos do PIB diminuiu na comparação interanual (-0,9 p.p.), enquanto o estoque do crédito ampliado para as famílias cresceu 0,3 p.p. nessa mesma base de comparação.
Ante ao trimestre imediatamente anterior, ocorreu aumento no 3º trimestre de 2023 tanto no estoque de crédito ampliado concedido às empresas (+1,0 p.p.) como no estoque de crédito ampliado às famílias (+0,2 p.p.) em proporção do PIB.
O mercado doméstico, responsável por 80,2% do estoque do crédito ampliado ao setor privado não financeiro, registrou expansão real da ordem de 13,4% na base de comparação interanual e de 0,9% frente ao trimestre imediatamente anterior. Nos nove primeiros meses do ano, o aumento real do estoque de crédito doméstico foi da ordem de 6,6% frente a 2022.
Esse crescimento expressa, sobretudo, a ampliação do saldo das operações com títulos de dívida direta no mercado doméstico, que alcançou R$ 1,4 trilhão, registrando variação real de 26,2% frente ao 3º trimestre de 2022 (R$ 1,1 trilhão) e de 3,4% frente ao trimestre precedente. No ano de 2023, o saldo das operações com títulos de dívida privada no mercado doméstico cresceu 13,4% em termos reais na comparação com o final do ano anterior.
Em consequência dessa expansão, a participação do saldo dos títulos domésticos no saldo total do crédito ampliado ao setor privado não financeiro se elevou a 17,6% no período julho a setembro, com incremento de 2,5 p.p. na comparação com igual trimestre do ano anterior.
As operações de empréstimos e financiamentos no mercado doméstico se mantiveram no 3º trimestre de 2023 como a principal modalidade de crédito, com participação 62,6% no total do estoque de crédito ampliado ao setor privado não-financeiro.
Na comparação com o 3º trimestre do ano anterior, o estoque dos empréstimos e financiamentos no mercado doméstico registrou expansão real da ordem de 10,3%. Frente ao trimestre precedente, o saldo dos empréstimos e financiamentos no mercado doméstico permaneceu praticamente estável, com aumento real de 0,1%. No ano (janeiro a setembro), o saldo dos empréstimos e financiamentos no mercado doméstico registrou alta de 4,9% em termos reais ante ao final do ano anterior.
Já o estoque da dívida externa do setor privado não financeiro retraiu -0,2% em termos reais na comparação com o 3º trimestre de 2022. Esse recuo reflete a forte contração dos saldos das operações com títulos de dívida no mercado internacional (-22,2% frente igual trimestre do ano anterior) enquanto estoque dos empréstimos externos registrou aumento real de 1,1% nessa mesma base de comparação.
Em um contexto de elevação das taxas básicas de juros nas principais economias desenvolvidas, o saldo dos títulos privados de dívida direta também registrou diminuição em termos reais tanto na comparação com o trimestre imediatamente anterior (-13,6%) como no ano de 2023 (-19,9%).
O setor empresarial responde por 60% do estoque do crédito ampliado concedido ao setor privado não financeiro. O saldo do crédito ampliado obtido pelas empresas atingiu R$ 5,2 trilhões (equivalente a 51,9% do PIB) no 3º trimestre de 2023, com alta de 9,2% frente a igual trimestre de 2022, impulsionada, principalmente, pelos aumentos reais de 27,2% do estoque de títulos de dívida emitidos no mercado doméstico (debêntures, notas comerciais e recebíveis imobiliários e do agronegócio) e detidos por residentes e de 6,8 % na carteira de empréstimos e financiamento do sistema financeiro.
No ano, saldo do crédito ampliado corporativo cresceu 4,1% frente ao último mês de 2022. Contribuiu para esse resultado, a alta de 13,3% em termos reais do estoque de títulos de dívida emitidos pelas empresas no mercado doméstico.
Cabe assinalar que os títulos de dívida direta já respondem por 42,0% (ante 37,8% no 3º trimestre do ano anterior) do crédito ampliado concedido às empresas no mercado doméstico e por 28,3% do estoque total do crédito ampliado corporativo. Isso indica que o mercado de capitais vem ampliando sua importância como fonte de funding, sobretudo para as grandes empresas.
No que se refere à dívida externa corporativa, observa-se decréscimo real da ordem de 0,4% no estoque de crédito das empresas na base de comparação interanual. Esse resultado pode ser explicado pela retração real da ordem de -22,3% no saldo de crédito captado sob a forma de emissão de títulos de dívida no exterior, enquanto a modalidade empréstimos, responsável por 95,7% da dívida externa corporativa, registrou aumento real de 0,9% frente ao 3º trimestre de 2022.
Evolução do estoque de crédito do SFN
No 3º trimestre de 2023, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 5,3 trilhões (equivalente a 53,0% do PIB). Porém registrou menor ritmo de expansão, com variação real de 0,1% frente o trimestre imediatamente anterior, de 10,0% na comparação com igual trimestre de 2022 e de 4,6% no ano ante o final de 2022.
Na comparação interanual, observa-se, no 3º trimestre de 2023, um forte arrefecimento no ritmo de crescimento do saldo do crédito total do sistema financeiro (-9,4 p.p.), puxado pelo recuo de -10,2 p.p. na taxa de expansão da carteira de crédito concedido às pessoas físicas e de -8,2 p.p. na carteira às pessoas jurídicas.
Não obstante o aumento real de 12,6% ante o 3º trimestre de 2022, o crescimento do crédito na maioria das modalidades de operações junto às pessoas físicas desacelerou no período julho a setembro do ano corrente frente o trimestre precedente nessa base de comparação, com destaque para aquelas de maior risco como cartão de crédito, consignado a trabalhadores do setor privado, cheque especial e crédito rural.
O saldo das operações com pessoas jurídicas também registrou menor taxa de expansão no 3º trimestre (6,3%) em base interanual, com decréscimo de -8,2 p.p. frente ao 2º trimestre de 2023, quando registrou alta real de 14,5%. Ou seja, a taxa de crescimento foi reduzida em mais de 50% do que era no trimestre precedente.
Esse arrefecimento no ritmo de expansão ocorreu em diversas modalidades da carteira de crédito a pessoas jurídicas, e foi mais intenso nas operações com recursos livres (-9,0 p.p.) do que nas operações com recursos direcionados (-6,6 p.p.).
No que se refere à origem dos recursos, o saldo das operações com recursos livres atingiu R$ 3,1 trilhões no 3º trimestre do corrente ano, com aumento real de 8,0% frente a igual período do ano anterior. Contudo, apesar da variação positiva, a carteira de crédito com recursos livres se manteve em trajetória de desaceleração (-9,4 p.p. frente ao 2º trim/23).
Ainda na base de comparação interanual, a carteira de créditos com recursos direcionados também no 3º trimestre de 2023 cresceu 13,1% em termos reais, registrou arrefecimento da mesma magnitude: -9,4 p.p. abaixo do verificado no trimestre anterior. O estoque de crédito direcionado atingiu R$ 2,2 trilhões, o que corresponde a 41,1% do crédito total do SFN e 21,8% do PIB.
Frente ao período de abril a junho 2023, o saldo das operações de crédito com recursos livres registrou queda 1,0% no 3º trimestre, enquanto o saldo da carteira de crédito com recursos direcionados subiu 1,7% em termos reais. No ano, em ambas as carteiras se verifica aumento real de, respectivamente, 2,9% e 7,1% na comparação com dezembro de 2022.
O saldo da carteira de crédito com recursos livres às pessoas físicas se manteve no patamar de R$ 1,8 trilhão, com crescimento real de 11,2% frente ao 3º trimestre de 2022 (-9,7 p.p. ante o período de abril a junho de 2023) e decréscimo de 0,3% na comparação com o trimestre precedente. No período janeiro a setembro de 2023, essa carteira registrou alta de 5,7% em termos reais na comparação com o final do ano anterior.
A despeito do arrefecimento no ritmo de expansão, o crescimento das modalidades de crédito com recursos livres às pessoas físicas foi disseminado no 3º trimestre, com destaque para cartão de crédito parcelado (+32,3% frente ao 3º trim/22), aquisição de veículos (+12,1%) crédito consignado (+11,6%), composição de dívida (+11,6%) e crédito pessoal não consignado (+8,9%). Menciona-se ainda a forte elevação do saldo da modalidade cheque especial (+16,0%), embora sua participação nessa carteira seja pequena (1,8%).
O saldo da carteira de crédito com recursos livres às pessoas jurídicas caiu no 3º trim/23, com variação real de -1,9% frente ao trimestre precedente e de -0,6% ante na comparação com final do ano de 2022, em reflexo da maior aversão ao risco do SFN observado nas operações com pessoas jurídicas em razão do aumento do número de falências. Contudo, na comparação interanual, a carteira de crédito corporativo com recursos livres registrou aumento real de 4,1% frente ao 3º trim/22 (+13,1% no 2º trim/23).
Na base de comparação interanual, entre as principais modalidades de crédito com recursos livres para pessoas jurídicas, que impulsionaram essa carteira nesse 3º trimestre, destacam-se: antecipação de fatura de cartão (+81,5%), cartão de crédito total (+25,3%), cheque especial (+15,7%) e aquisição de veículos (+14,9%).
Cabe destacar que, no mês de agosto, o BCB reviu os dados da modalidade de crédito antecipação de fatura de cartão. Os dados dessa série foram revistos desde setembro de 2020 e passaram a incorporar as operações de recebíveis das empresas credenciadoras e instituições afins junto ao SFN, devido ao rápido crescimento desse modelo de negócio.
Em contraste, ressalte-se a contração real de 6,2% verificada no 3º trimestre na modalidade de capital de giro, a qual responde por 31,8% do estoque do crédito corporativo. Esse resultado reflete a forte queda das operações com prazo inferior a 365 dias (-28,2%).
No 3º trim/23, o saldo da carteira de operações de crédito com recursos direcionados a pessoas físicas continuou em expansão, com crescimento de 14,3% em termos reais na comparação com igual trimestre do ano anterior. Esse resultado foi impulsionado pelo expressivo aumento, sobretudo, nas modalidades de financiamento habitacional (+20,9%) e de crédito rural (+38,9%), que respondem por, respectivamente, por 65,4% e 29,3% da carteira de crédito regulamentado às pessoas físicas.
Frente ao trimestre precedente, crédito direcionado a pessoas físicas registrou uma pequena alta real de 1,3%. No ano, o saldo das operações de crédito direcionado a pessoas físicas aumentou 7,6% ante ao final de 2022.
Já o saldo das operações com recursos direcionados a pessoas jurídicas alcançou R$ 743 bilhões, com incremento real de 10,7% frente ao 3º trim/22 (-6,6 p.p. ante o 2º trim/23 na base de comparação interanual). Esse desempenho reflete a forte expansão do financiamento imobiliário (+36,4,8%), crédito rural (+14,5%) e de outras operações (+13,7%). Os créditos com recursos do BNDES, que respondem por 51% do estoque da carteira direcionada às pessoas jurídicas, registrou expansão real de 5,8% nessa mesma base de comparação.
Na comparação com o 2º trim/23, o saldo da carteira de crédito direcionado ao segmento empresarial apresentou ligeiro incremento de 2,6% em termos reais, impulsionada pela forte alta do estoque de crédito rural (+28,9%). No período janeiro a setembro, essa carteira crédito direcionado corporativo apresenta variação real positiva de 6,3% ante ao final do ano anterior, reflexo do maior dinamismo dos financiamentos imobiliários (+34,3%) e das operações de crédito rural (+15,1%).
Do estoque total de crédito do SFN, em setembro de 2023, 96,1% se referem aos créditos concedidos ao setor privado (R$ 5,1 trilhões, equivalente a 50,9% do PIB). Na comparação interanual, o saldo do crédito ao setor privado desacelerou, com recuo de- 9,4p.p. na taxa de crescimento real ante o 2º trimestre de 2023.
A alta de 10,3% em termos reais do estoque dos créditos concedidos ao setor privado foi impulsionada pelo expressivo crescimento, no 3º trim/23, do saldo da carteira de pessoas físicas (+12,6%), em ritmo bem superior ao saldo da carteira de pessoas jurídicas (+6,6%) frente igual trimestre do ano anterior.
O maior dinamismo das operações com as pessoas físicas, que são relativamente mais simples de avaliar e mais lucrativas para as instituições financeiras, acarretou a ampliação em 1,2 p.p. da participação dessa carteira no estoque total de crédito ao setor privado,
Na comparação com o 2º trimestre do ano em curso, o saldo real das operações de crédito do SFN com os clientes do setor privado cresceu apenas 0,1% no 3º trim/23. Nessa base de comparação, ambas as carteiras registraram variação real de igual valor, porém com sinal trocado: -0,4% no estoque de crédito corporativo e +0,4% no saldo das operações com pessoas, razão pela qual as participações relativas no saldo total de crédito do SFN registraram ligeira alteração: 36,9% da carteira de pessoas jurídicas (-0,2 p.p.) e 63,1% da carteira de pessoas físicas (+0,2 p.p.).
Nos nove primeiros meses do ano de 2023, o estoque de crédito do SFN ao setor privado registrou alta de 4,6% na comparação com o final do ano precedente. Esse resultado foi impulsionado pelo maior dinamismo das operações de crédito com as pessoas físicas, com taxa de expansão real de 6,5%, enquanto as operações com pessoas jurídicas tiveram incremento real de 1,5%.
Nas estatísticas disponibilizadas pelo BCB, o último dado disponível sobre o endividamento das famílias em relação à renda acumulada nos últimos doze meses é o do mês de agosto de 2023.
A análise da evolução desse indicador mostra que o endividamento das famílias se mantém relativamente estabilizado. Após registrar pequeno incremento de +0,3 p.p. no mês de maio, quando atingiu 48,8%, o endividamento das famílias recuou para 47,8% no mês de julho, retornando a 48,0% no mês de agosto.
Quando se exclui o financiamento imobiliário, o endividamento das famílias se mantém inalterado no patamar de 31% desde fevereiro de 2022, a despeito do aumento do custo do crédito, na esteira da subida da taxa básica de juros (Selic), em 3 p.p. pelo BCB, entre março e agosto de 2022, e sua manutenção em 13,75% a.a. até o mês de agosto do corrente ano.
Evolução do crédito corporativo por setor econômico e porte da empresa
No 3º trim/23, na base de comparação interanual, os estoques de crédito concedidos pelas instituições financeiras aos três principais setores econômicos __ agropecuária, indústria e serviços __ registraram variação real positiva. Porém, observa-se forte arrefecimento no ritmo de expansão ante igual trimestre do ano precedente nas carteiras com operações de crédito às empresas dos setores de serviços (-8,7 p.p.) e indústria (-6,6 p.p.). A desaceleração do crédito corporativo à agropecuária foi menos intensa (-3,3 p.p.) na mesma base de comparação.
Na comparação interanual, as empresas do setor de agropecuário foram as que mais ampliaram o acesso ao crédito do SFN. O saldo da carteira de crédito rural corporativo, que responde por apenas 2,2% do crédito do SFN às pessoas jurídicas, cresceu 10,4% em termos reais frente ao 3º trim/22.
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o saldo das operações de crédito contratadas pelas empresas agropecuárias cresceu 7,6% em termos reais no período julho a setembro do ano corrente. Essa expansão reflete a sazonalidade da safra agrícola, e por consequência das necessidades de financiamento do setor. No ano, essa carteira registra alta real de 5,8% ante o saldo em final de período de 2022.
Já o estoque de crédito contratado pelas empresas do setor de serviço, que responde por 58,8% do crédito do SFN às pessoas jurídicas, cresceu 5,1% em termos reais no 3º trim/23 frente a igual trimestre do ano anterior. Na comparação com o 2º trim/23, o estoque de crédito concedido ao setor de serviço subiu 1,9% em termos reais. No ano, o saldo de crédito dessa carteira registrou incremento de 1,3% em termos reais.
No 3º trim/23, as empresas do ramo comércio, responsáveis por 43,1% do estoque de crédito concedido ao setor de serviços, ampliaram o acesso às operações de crédito em termos reais apenas na base de comparação interanual: +2,5%. O estoque de crédito a estas empresas, que necessitam de montantes elevados de capital de giro, diminuiu tanto frente ao trimestre precedente (-2,2%) como no ano (-1,7%).
O saldo das operações de crédito às empresas do setor industrial foi o que, novamente, menos cresceu no 3º trim/23 frente a igual trimestre do ano anterior (+4,3%) comparativamente aos setores da agropecuária e serviços. Frente ao trimestre imediatamente anterior, o estoque da carteira de crédito às empresas industriais registrou decréscimo de 0,8% em termos reais no período julho a setembro de 2023. No ano, o saldo das operações de crédito com as empresas industriais variou +0,7%.
Na base de comparação interanual, oito dos dezesseis ramos industriais registram variação positiva em seus estoques de crédito. Os ramos industriais que mais ampliaram, em termos reais, seu acesso acima da média do setor aos empréstimos e financiamento nessa base de comparação foram: mineração (+53,3% ante o 3º trim/22), construção (+21,9%), açúcar (+20,7%), papel e celulose (+9,0%), petróleo e gás (+6,6%), SIUP (+6,2%) e obras de infraestrutura (+6,0%). Em contraste, registram queda real os estoques de crédito à indústria automobilística (-17,9%), à indústria de embalagens (-10,8%), à indústria de outros bens de consumo duráveis (-8,3%) e à indústria de bens de capital (-6,0%).
No ano de 2023, o saldo de onze carteiras de crédito às empresas por ramo industrial registra variação negativa na comparação com o final do ano anterior. O estoque de crédito concedido às empresas de embalagem foi o que mais diminuiu (-19,5%), seguida da indústria automobilística (-15,1%), outros bens de consumo duráveis (-10,5%) e petróleo e gás (-9,4%). Em contraposição, a maior ampliação real do saldo de crédito ocorreu para as empresas industriais do ramo de mineração (+29,1%).
No corte por porte das empresas, as estatísticas de crédito do BCB mostram que no 3º trimestre de 2023, o estoque de crédito às empresas de menor porte cresceu 7,8% em termos reais, aumento muito superior do que registrado pela carteira de crédito às grandes empresas (+2,4%) na comparação com igual trimestre de 2022. Contudo, o ritmo de crescimento da carteira de operações de crédito às MPME desacelerou de forma mais intensa (-13,5 p.p.) do que o arrefecimento verificado para a carteira das grandes empresas (-6,9 p.p.) na comparação com o 2º trimestre de 2023 também na base interanual.
Na comparação com o trimestre precedente, em termos reais, o saldo das operações de crédito às MPME registrou recuo de 0,7% enquanto o estoque do crédito concedido às grandes empresas permaneceu inalterado no patamar de R$ 1,1 trilhão, o que acarretou uma pequena alteração na participação relativa dessas duas carteiras no crédito corporativo total: + 0,1p.p. para grandes empresas e -0,1p.p. para a carteira de MPME. No ano, a carteira crédito às MPME registrou variação positiva (2,6%), enquanto o saldo do crédito concedido às grandes empresas retraiu ligeiramente (-0,1%) frente ao final de 2022.
Evolução real das concessões
De acordo com os dados divulgados pelo BCB, no 3º trimestre de 2023, as novas concessões de crédito do SFN somaram R$1.591,4 bilhões (média mensal de R$ 530,5 bilhões), o que representa uma elevação real de 1,0% em relação a igual trimestre de 2022, quando deflacionado pelo IPCA mensal.
Esse desempenho decorreu do avanço das novas concessões de crédito às pessoas físicas (4,4%) que mais do que compensou a redução das novas operações de crédito para pessoas jurídicas (-3,1%) nessa base de comparação. O ritmo de crescimento das novas concessões de crédito às pessoas físicas aumentou +0,8 p.p. frente ao 2º trimestre de 2023 na comparação interanual, enquanto a queda das novas concessões às empresas também se intensificou, passando de -2,9% para -3,1%.
Frente ao trimestre imediatamente anterior, o volume das novas concessões totais de crédito cresceu 7,9% em termos reais no 3º trimestre de 2023, refletindo o aumento tanto das novas operações de crédito com pessoas físicas (+10,4%) como com pessoas jurídicas (+4,7%). Com aceleração do ritmo de concessão de crédito às famílias, a participação dessa carteira no total aumentou 1,3 p.p., alçando 56,7%.
No período jan-set/23, o volume total de novas operações de crédito do SFN registrou variação real positiva da ordem de 3,2% frente igual período do ano anterior, impulsionada pelo aumento real de 8,9% das novas contratações de crédito das famílias. Em contraste, nos primeiros nove meses do ano de 2023, as novas concessões às empresas retraíram em termos reais (-2,0%), afetadas pela fraude contábil das Americanas bem como pelo aumento das falências.
No corte por origem dos recursos, no 3º trim/23, as novas contratações de crédito com recursos livres, que respondem por 86,1% das novas concessões de crédito do SFN, registraram alta de 1,1% frente ao 3º trim/22. Já as novas operações de crédito com recursos direcionados cresceram 0,4% em termos reais nessa mesma base de comparação.
As novas concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres totalizaram R$ 758,4 bilhões no período julho a setembro do corrente ano, com crescimento real da ordem de 6,7% na comparação com igual período de 2022 e de 4,2% frente ao período abril a junho de 2023.
No ano (janeiro a setembro), as novas operações com famílias registraram elevação real de 9,4% ante a igual período de 2022. Em doze meses terminados em setembro de 2023, as novas operações de crédito às pessoas físicas avançaram 10,8% em termos reais.
Na comparação com o 3º trimestre do ano anterior, destaca-se, entre as modalidades de concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, o aumento real das operações de cartão de crédito (+7,9%), que responde por 82,1% do total da carteira, com alta de 29,7% na modalidade parcelado e de 8,9% na modalidade à vista.
Mencione-se ainda os aumentos das modalidades cheque especial (+2,8%), aquisição de veículo (+14,8%) e crédito renegociado (+17,3%). No sentido oposto, as novas concessões nas modalidades de crédito pessoal consignado __ destaque para as operações com servidores públicos (-5,4%) __, e não consignado registraram queda de -4,3% e -1,5%, respectivamente.
As novas contratações de crédito com recursos livres no segmento de pessoas jurídicas somaram R$ 611,8 bilhões, em termos reais, no período de julho a setembro de 2023, com recuo de 5,0% ante ao 3º trim/23 e alta de 0,5% frente ao 2º trim/23.
Em razão dos já mencionados efeitos-contágio da crise da Lojas Americanas e da multiplicação de falências, nos primeiros nove meses do ano, o volume de novas operações livremente pactuada com as empresas contraiu 3,6% em termos reais ante a igual período do ano anterior. Em doze meses terminados em setembro, o volume das novas concessões de crédito às empresas também registra queda de -0,9% em termos reais.
Entre as principais modalidades de crédito com recursos livres nas novas concessões a pessoas jurídicas, os recuos mais acentuados na base de comparação com o período julho a setembro de 2022 ocorreram em: desconto de cheque (-48,9%), financiamento de importação (-44,1%), repasses externos (-31,1%), aquisição de outros bens (-23,9%), desconto de duplicatas (-18,0%), capital de giro (-12,3%), com destaque para as modalidades com prazo superior a 1 ano (-21,9%) e com teto rotativo (-17,1%), ACC (-10,6%).
No sentido oposto, no 3º trim/23, destaca a forte expansão da modalidade antecipação de fatura de cartão (+30,7%), em razão da incorporação, já mencionada, das operações de recebíveis realizadas com as empresas credenciadoras nas estatísticas de crédito do SFN, bem como das modalidades cartão de crédito (+31,1%) e compror (+22,8%) na comparação com igual trimestre de 2022.
Mencione-se ainda a expressiva taxa de crescimento da modalidade arrendamento mercantil, a qual, todavia, representa apenas 0,4% da carteira de crédito corporativo com recursos livres.
Na carteira de crédito direcionado a pessoas jurídicas, as novas concessões totalizaram R$ 76,5 bilhões no 3º trim/23, com variação real positiva da ordem de 14,8% na comparação com o 2º trim/22. Esse desempenho resultou do expressivo avanço das novas concessões de crédito rural, que cresceu 109,9% em termos reais, atingindo R$ 33,2 bilhões no período julho a setembro, devido, sobretudo ao grande dinamismo das operações a taxa de mercado (+325,3%). Em razão desse desempenho, a participação das novas operações de crédito rural no total das novas concessões de crédito direcionado às empresas saltou para 43,3% (+17,4% no 3º trimestre de 2022).
Mencione-se ainda a taxas de expansão real dois dígitos das novas concessões de financiamento imobiliário (+26%) e de crédito do BNDES (12,9%), com destaque para as novas concessões de capital de giro que cresceram 339,5% na comparação com igual período de 2022.
Frente ao 2º trimestre de 2022, o volume de novas concessões com recursos direcionados a empresas registrou alta de 58,5% também em termos reais, impulsionado pelo aumento observado em todas as principais modalidades: crédito rural (+317,4%), BNDES (+45,9%), com destaque para magnitude do crescimento real da modalidade de capital de giro (+195,7%), e financiamento imobiliário (+9,9%).
No período jan-set/23, o volume de novas concessões de crédito corporativo com recursos direcionados cresceram 19,4% ante igual período do ano anterior. Esse resultado reflete as variações positivas verificadas nas carteiras de crédito rural (+17,4%), financiamento imobiliário (+29,0%) e BNDES (+9,7%). Em doze meses terminados em setembro, essas três carteiras registram alta, respectivamente, de 10,1%, 29,6% e 36,7%.
As novas concessões classificadas como Outros, que incluem as composições de dívidas e financiamentos com recursos do Pronampe, registraram, em contraste, queda real da ordem de 39,2% no 3º trim/23 ante o 3º trim/22 e de 16,4% ante ao período de abril a junho de 2023. Contudo, nos nove primeiros meses de 2023 e em doze meses terminados em setembro, essas operações cresceram, respectivamente, 273% e 45,3% ante igual período do ano anterior.
Na carteira de crédito direcionado a pessoas físicas, as novas concessões somaram R$ 144,6 bilhões no 3º trimestre do corrente ano. No cotejo com o igual período de 2022, essa carteira registrou o recuo 5,8%, puxado pela queda real das novas concessões de financiamento imobiliário (-32,0%) e de microcrédito (-18,3%). Esse desempenho foi influenciado pela retração dos financiamentos com recursos direcionados a partir dos depósitos de poupança e do FGTS, em razão da diminuição dessas fontes de funding.
Já na comparação com o trimestre imediatamente anterior, houve forte avanço no volume do crédito direcionado às famílias (+61,3%), impulsionado pelas expressivas taxas de crescimento das operações de crédito rural (+100,3%), que representam 55,5% dessa carteira, e do BNDES (+245,1%).
Nos nove primeiros meses do ano, a carteira de crédito direcionado às famílias acumula retração de 3,3% ante igual período do ano anterior, explicado pela contração das novas concessões de financiamento imobiliário (-20,3%) e de microcrédito (-19,0%). Em doze meses terminados em setembro de 2023, o volume de novas concessões na carteira crédito direcionado às famílias registrou decréscimo de 0,4% ante igual período do ano anterior.
No que se refere ao prazo médio do agregado das novas contratações de crédito, observa-se que no 3º trim/23 houve um encurtamento de prazo tanto em comparação com o trimestre imediatamente anterior (-4,1 meses) como com igual trimestre de 2022 (-1,5 mês). No período janeiro a setembro, contudo, o prazo médio das novas contratações de crédito aumentou em 3,1 meses.
Na comparação com igual trimestre de 2022, as maiores reduções de prazo nas novas operações de crédito ocorreram nas carteiras de pessoas jurídicas e de crédito direcionado: respectivamente, - 7,2 meses e -3,9 meses. Em contraposição, as novas contratações de crédito com recursos livres registraram pequena ampliação no prazo médio (+0,5 meses).
Frente ao 2º trimestre de 2023, ocorreu encurtamento de prazo nas novas contrações com pessoas jurídicas (-9,9 meses) e segmento de crédito direcionado (-11,4 meses), enquanto as novas operações com recursos livres registram extensão de prazo de 0,4 meses.
Juros e inadimplência
No 3º trimestre do ano em curso, a taxa média de juros reais do crédito total atingiu 24,1% ao ano (a.a.), com alta de 3,7 p.p. na comparação com igual trimestre de 2022 e de queda de -3,5 p.p. ante o 2º trim/23. No corrente ano, a taxa média de juros reais do crédito total registrou aumento de 1,1 p.p. frente os juros médios do final de 2022.
Na comparação interanual, a taxa média de juros reais aumentou 4,0 p.p. nas operações com pessoas físicas, alcançando 29,3%. Nas operações com pessoas jurídicas, que se caracterizam por juros médios mais baixos, as taxas reais também subiram para 13,8% a.a., com incremento de 2,4 p.p. frente 3º trim/22.
Além da maior aversão ao risco das instituições financeiras em razão das perspectivas de baixo dinamismo da economia e de deterioração das condições financeiras das empresas, a desaceleração da inflação no período é igualmente um fator explicativo importante da trajetória dos juros reais.
Segundo o índice IPCA calculado pelo IBGE, a inflação acumulada em 12 meses recuou de 7,17% em setembro de 2022 para 5,19% em setembro de 2023, se traduzindo em aumento dos juros reais, ainda que tenha ocorrido dois cortes de 0,5 p.p. na taxa Selic nominal nos meses de agosto e setembro, trazendo a taxa de juros básica para 12,75% a.a.
Frente ao 2º trim/23, as taxas médias de juros reais caíram tanto nas operações de crédito às pessoas físicas (-4,1 p.p.) como nas operações com as pessoas jurídicas (-2,4 p.p.). Nas operações com recursos livres, a taxa média de juros reais recuou para 36,2% a.a. (-3,6 p.p.). Já nas operações com recursos direcionados, a taxa média de juros reais passou de 8,6% a.a. para 5,6% a.a. (-3,0 p.p.) nessa base de comparação.
Na carteira de crédito com recursos livres, os juros reais médios das operações com pessoas físicas subiram +6,0 p.p. na comparação com o 3º trim/22, atingindo 49,5% a.a., enquanto a taxa média das operações de crédito às empresas registrou menor incremento (+2,3 p.p.), chegando a 16,8% ao ano no final do 3º trimestre do ano em curso.
Na base de comparação interanual, as maiores altas nos juros cobrados na carteira de crédito livremente pactuados com pessoas jurídicas foram verificadas nas modalidades de: cheque especial (+30,8 p.p.), cartão de crédito (+18,0 p.p.), com destaque para a modalidade de crédito rotativo, cuja taxa média de juros reais alcançou 177,9% a.a. (+14,4 p.p.).
Na carteira de crédito livremente pactuado com pessoas físicas, a alta das taxas médias de juros reais foi generalizada na comparação interanual. As modalidades que registraram as maiores altas nas taxas de juros foram: cartão de crédito (+14,9 p.p.) __ com destaque para as modalidades de crédito rotativo (+56,3 p.p.) e crédito parcelado (+12,8 p.p.), cujas taxas médias de juros reais encerraram o trimestre em patamares elevados, respectivamente, 414,4% a.a. e 179,3% a.a. __, crédito pessoal não consignado (+12,4 p.p.), cheque especial (+10,7 p.p.). Nessa base de comparação, a única modalidade a registrar recuo na taxa de juros reais médios, a composição de dívida encerrou o 3º trimestre no patamar de 29,6% a.a. (-5,3 p.p. ante o 3º trim/22).
Frente ao trimestre imediatamente anterior, houve diminuição nos juros reais médios na quase totalidade das modalidades de crédito corporativo livremente pactuado. O maior recuo foi verificado na modalidade de cheque especial (-11,6 p.p.), porém, a taxa de juros reais médios dessa modalidade permaneceu em patamar extremamente elevado (324% a.a.). Em contraposição, nessa mesma base de comparação, a modalidade cartão de crédito foi a única a registrar elevação da taxa de juros, atingindo 51,5% a.a., com alta de 13,8 p.p. ante ao 2º trimestre de 2023, em reflexo do aumento verificado na modalidade de crédito rotativo (+48,0 p.p.).
Todas as modalidades de crédito livre para pessoas físicas registraram queda nas taxas de juros médios reais frente ao 2º trimestre de 2022. Nessa carteira, os maiores recuos ocorreram nas modalidades de aquisição de outros bens (-8,9 p.p.), arrendamento mercantil (-8,3 p.p.) e cartão de crédito parcelado (-7,7 p.p.).
As taxas médias de juros reais da carteira de crédito direcionado registraram alta na comparação com o 3º trimestre de 2022 (+2,5 p.p.). O aumento dos juros reais médios foi ligeiramente maior para as operações com pessoas jurídicas (+3,7 p.p.) do que nas operações com pessoas físicas (+2,1 p.p.), atingindo, respectivamente, 5,9% a.a. e 5,5% a.a. no final do período julho-setembro do ano em curso.
Frente ao 2º trimestre de 2022, os juros reais da carteira de crédito direcionado caíram 3,0 p.p., com o recuo de -2,6 p.p. nas operações de crédito às empresas, com destaque para as operações de capital de giro do BNDES (-3,5 p.p.) e de crédito rural (-3,2 p.p.). As taxas médias de juros reais na carteira de crédito às famílias registraram queda -3,0 p.p., com destaque para as diminuições nas taxas médias reais nas modalidades de BNDES investimento (-7,7 p.p.) microcrédito (-4,7 p.p.) e crédito rural (-3,7 p.p.).
No ano de 2023 (janeiro a setembro), os juros reais médios na carteira de crédito direcionado permaneceram praticamente inalterados, com alta de apenas 0,1 p.p. ante o final de 2022.
Nas novas contratações de crédito, a média real de juros no 3º trimestre de 2023 atingiu 25,0% a.a., com elevação de 6,1 p.p. ante ao igual trimestre de 2022 e de 9,9 p.p. no período janeiro a setembro frente a igual período do ano de 2022. Na comparação com o 2º trimestre de 2023, a média real de juros caiu -2,2 p.p..
Nas novas contratações de crédito pactuadas com pessoas jurídicas, a média real de juros no período julho a setembro ficou em 14,3% a.a., com alta de 3,8 p.p. frente o 3º trimestre de 2022 e de +6,9p.p. no período janeiro a setembro. Ante o 2º trim/23, a média real de juros das novas operações de crédito caiu -2,0 p.p..
Nas novas concessões para pessoas físicas, a média trimestral real de juros ficou em 30,8% a.a., com aumento de 6,9p.p. frente ao 3º trim/22. Ante trimestre precedente, os juros médios reais das novas contrações registram queda de -2,3 p.p.. No ano de 2023 (janeiro a setembro), a média real de juros das novas contratações de crédito às famílias registrou alta de 11,9 p.p. ante igual período de 2022, alcançando 31,0% ao ano.
No segmento de crédito livre às empresas, os juros reais médios das novas operações de crédito alcançaram 17,4% a.a. no 3º trimestre do ano corrente, com incremento de +4,3 p.p. frente ao 3º trim/22 e decréscimo -1,4p.p. ante ao trimestre precedente. As novas contratações no segmento crédito corporativo direcionado também registram aumento (+3,1 p.p.) nos juros reais médios das novas operações ante igual trimestre de 2022, que alcançaram 5,9% a.a. e queda na mesma proporção frente ao 2º trim/23.
No ano de 2023, as novas operações de crédito às empresas registram elevação dos juros reais médios tanto no segmento de crédito com recursos livres (+7,4 p.p) como no segmento de crédito direcionado (+6,0 p.p.) ante o período janeiro a setembro do ano anterior. Nessas carteiras, as taxas de juros reais médias alcançaram, respectivamente, 18,0% a.a. e 7,6% a.a.
No segmento de crédito livremente pactuado às famílias, os juros médios reais trimestrais das novas contratações atingiram 50,9% a.a., com acréscimo de 9,7 p.p. no cotejo com igual trimestre de 2022, e diminuição de -2,9 p.p. frente ao 2º trimestre do corrente ano. Nas novas operações de crédito direcionados às famílias, os juros médios reais registraram alta de 4,6 p.p. na comparação interanual e de decréscimo de -1,7 p.p., ficando em 6,6% a.a..
No período janeiro a setembro de 2023, dos juros reais médios das novas operações de crédito às famílias registram elevação tanto no segmento de crédito com recursos livres (+15,0 p.p.) como no segmento de crédito direcionado (+6,9 p.p.) ante ao final de período de 2022. No ano de 2023, as taxas de juros reais médias dessas duas carteiras ficaram, respectivamente, nos patamares de 51,5% a.a. e 6,6% a.a..
No contexto de baixo dinamismo da atividade econômica, os recuos verificados nas taxas de juros reais médios praticadas pelo SFN no 3º trimestre do ano ainda não se traduziram em alívio para os tomadores com dificuldades para honrar seus compromissos financeiros.
No 3º trim/23, a inadimplência do crédito total do SFN, que considera os atrasos superiores a noventa dia, registrou alta de 0,2 p.p. no 3º trimestre ante o trimestre precedente, de 0,7 p.p. frente a igual trimestre de 2022 e 0,5 p.p. no ano (janeiro a setembro) no cotejo com igual período de 2022, encerrando o trimestre no patamar de 3,5%.
A alta da inadimplência observada na comparação interanual reflete a maior ampliação dos atrasos superiores a 90 dias nas operações de crédito com pessoas jurídicas (+1,2 p.p.) comparativamente à carteira de crédito com pessoas físicas (+0,3 p.p.). Frente ao trimestre precedente, as taxas de inadimplência das empresas e das famílias aumentaram apenas +0,2 p.p. no período julho a setembro do corrente ano.
No 3º trim/23, as taxas médias de inadimplência ficaram em 2,7% na carteira de crédito para pessoas jurídicas e de 4,0% na carteira de crédito às famílias. Ressalte-se que as taxas médias de inadimplência são mais altas na carteira de crédito com recursos livres (3,4% nas operações com empresas e 6% nas operações com as famílias) comparativamente as taxas da carteira de crédito direcionado: 1,5% para empresas e famílias.
Na comparação com o final do ano de 2022, verifica-se aumento da inadimplência na carteira de crédito às empresas (+1,0 p.p.) maior do que na carteira de crédito com as famílias (+0,1 p.p.). Esse resultado de menor avanço da inadimplência das famílias é observado também nas carteiras de crédito com recursos livres (+1,4 p.p. para empresas ante +0,1 p.p. para as famílias) e direcionados (+0,5 p.p. para empresas e +0,2 p.p.) nessa mesma base de comparação.
O menor incremento da inadimplência das famílias pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo aumento dos rendimentos associados à desaceleração da inflação, à relativa melhora do mercado de trabalho e à ampliação dos valores dos benefícios do novo programa Bolsa Família.
No corte por porte de empresas, a taxa de inadimplência média das MPME alcançou 4,0% no 3º trim/23, com alta de + 1,2 p.p. frente a igual trimestre do ano anterior, de +0,3 p.p. ante o trimestre imediatamente anterior e de +0,8 p.p. nos nove primeiros meses do ano. Já a inadimplência média das grandes empresas subiu para o patamar de 1,3%, registrando acréscimo de 1,1 p.p. na comparação com o 3º trim/22, de 0,6 p.p. frente ao trimestre precedente e de 1,2 p.p. no período janeiro a setembro.