Carta IEDI
Indústria e comércio na frente
Novembro de 2023 foi um mês de expansão nos grandes setores da economia, puxada pelo comércio varejista, em boa medida devido às vendas de veículos e autopeças, e pela indústria, impulsionada pelo ramo extrativo. O setor de serviços também cresceu com o apoio de bases favoráveis de comparação, após três meses seguidos de retração.
Na passagem de out/23 para nov/23, já descontados os efeitos sazonais, as vendas reais do comércio varejista, tomado em seu conceito ampliado, que inclui os ramos de veículos e autopeças, material de construção e atacarejo, avançaram +1,3%. Em seu conceito restrito, porém, não saiu do lugar: +0,1% na comparação.
Na indústria, o resultado foi de +0,5% na série com ajuste sazonal, interrompendo uma sequência de variações negativas ou muito próximas de zero que prevaleceu desde o início do segundo semestre. Tal expansão, além de não ter sido vigorosa, foi possível graças ao avanço de +3,4% das atividades extrativas. A produção da indústria de transformação caiu -0,2% em nov/23.
Já o faturamento real do setor de serviços registrou +0,4% em nov/23, livre de efeitos sazonais, compensando pouco da queda de -2,2% acumulada em ago-out/23. Com isso, teve continuidade seu processo de acomodação, dado que o setor já superou há tempos (desde jun/21) seu patamar pré-pandêmico. Vale observar que diferentemente da indústria, os serviços não voltaram a ficar abaixo desta marca, mesmo diante do período recente de aceleração inflacionária.
Deste modo, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, interrompeu uma sequência de três meses consecutivos de retração em nov/23 (+0,01% ante out/23, com ajuste). No acumulado do ano, isto é, em jan-nov/23 frente ao mesmo período do ano anterior, o indicador aponta crescimento de +2,4%.
Nesta comparação, o setor de serviços lidera a expansão da atividade econômica, registrando aumento de +2,7% em seu faturamento real. Em 2023, a redução do gap dos serviços prestados às famílias vis-à-vis o pré-pandemia e o crescimento dos serviços profissionais e administrativos, com o aumento das atividades presenciais, também se tornaram importantes dinamizadores.
Ao longo do ano passado, a perda de dinamismo dos serviços como um todo, que saiu de uma alta de +5,4% no 1º trim/23 para um declínio de -0,3% em out-nov/23 só não foi mais intensa porque dois ramos seguiram no positivo e com algum vigor: serviços prestados às famílias, com +2,9% em out-nov/23 e +4,4% no acumulado do ano até nov/23, e serviços profissionais, administrativos e complementares, com +4,2% e +4,1%, respectivamente.
Em segundo lugar, está o comércio varejista, cujas vendas reais cresceram +2,6% em seu conceito ampliado. Dois de seus ramos foram os principais responsáveis por este desempenho: supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+3,5% ante jan-nov/22), favorecido pelo arrefecimento da inflação, pela melhora do emprego e pelos programas governamentais de transferência de renda, e veículos e autopeças (+8,2%), que obteve impulso da redução de impostos federais.
As vendas destes ramos do varejo mantiveram-se aquecidas no bimestre out-nov/23, que dá um indicativo do desempenho do último trimestre do ano. No primeiro caso, houve alta de +3,4% neste período e no caso de veículos e autopeças as vendas ganharam robustez adicional: +13,7% ante out-nov/22. Com isso, o total do varejo ampliado acelerou de +2,9% no 3º trim/23 para +3,5% em out-nov/23.
A indústria, cujos mercados são mais afetados pelos níveis ainda elevados de taxas de juros do país, é quem destoa. Sua produção física mostra-se estagnada no acumulado jan-nov/23: +0,1% ante jan-nov/22, tal como o macrossetor de bens intermediários (+0,1%), que consiste no núcleo do sistema industrial, produzindo insumos para o restante do setor.
No último bimestre coberto por informações do IBGE, isto é, out-nov/23, bases de comparação mais favoráveis ajudaram a obtenção de um desempenho superior, de +1,2% ante out-nov/22, com liderança de bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%). Os freios continuam sendo os bens de capital, com retração de -10,7% em jan-nov/23 e de -12,2% em out-nov/23, e, mais recentemente, os bens de consumo duráveis, cuja produção recuou -5,8% no último bimestre em tela.
Regionalmente, 55% dos parques industriais apresentam aumento de produção em 2023 no acumulado até nov/23, em geral, aqueles especializados seja no ramo extrativo seja no processamento de commodities agrícolas. Entre os melhores resultados estão: Espírito Santo (+9,4% ante jan-nov/22), Mato Grosso (+5,4%), Goiás (+4,9%), Pará (+4,5%) e Rio de Janeiro (+4,4%).
Parques industriais mais diversificados, isto é, com presença de um número maior de ramos da indústria de transformação estão entre os resultados negativos. É o caso, notadamente, de São Paulo (-1,4% ante jan-nov/22), mas também do Rio Grande do Sul (-4,4%) e do Nordeste como um todo (-4,0%).
Nestes estados os dados mais recentes mostram, ao menos, uma atenuação de suas adversidades, influenciando inclusive o agregado nacional (+1,2% ante out-nov/22). A indústria paulista conseguiu ficar praticamente estável no bimestre out-nov/23 (-0,2%) e a indústria gaúcha reduziu suas perdas (-1,8% vis-à-vis -3,1% no 3º trim/23). Já o Nordeste saiu do vermelho, registrando +0,6% em out-nov/23.
Indústria
A produção da indústria nacional cresceu +0,5% na passagem de out/23 para nov/23, já descontados os efeitos sazonais, e embora este resultado tenha estado muito concentrado no ramo extrativo, foi acompanhado de altas na maioria dos parques industriais regionais.
Como discutido na Carta IEDI n. 1243, a expansão de nov/23 decorreu do crescimento de +3,4% das atividades extrativas, que amorteceu o declínio de -0,2% da indústria de transformação. Entre os macrossetores industriais, ficaram no vermelho bens de capital (-1,7%) e bens de consumo duráveis (-3,3%). Sob influência da extrativa, bens intermediários foram os que mais cresceram: +1,6%, enquanto bens de consumo semi e não duráveis registraram +0,2%.
Das quinze localidades acompanhadas pelo IBGE, nove registraram avanço em nov/23, representando uma parcela de 60% dos parques industriais regionais. O destaque neste mês coube à região Sudeste, já que todos os seus estados obtiveram aumento de produção: +1,9% em São Paulo, +2,5% em Minas Gerais, +3,7% no Rio de Janeiro e +4,3% no Espírito Santo.
Entre outros parques com altas bem acima da média nacional podem ser citados: Paraná (+5,4% ante out/23, com ajuste), Goiás (+3,3%) e Bahia (+2,7%). Já entre os piores resultados ficaram por conta de Pernambuco (-9,7%), que condicionou o agregado da região Nordeste (-1,2%), Amazonas (-4,2%) e Rio Grande do Sul (-2,9%).
No acumulado dos onze meses de 2023 já cobertos por dados do IBGE, o agregado nacional mostra-se virtualmente estagnado, com variação de +0,1% ante jan-nov/22 e só não foi pior devido à indústria extrativa (+6,1%). A indústria de transformação acumula queda de -0,9%, tendo 63% de seus ramos no vermelho.
Do ponto de vista regional, o panorama é mais favorável: 55% dos parques industriais acompanhados pelo IBGE apresentam aumento de produção, tendo entre as maiores altas aqueles especializados no ramo extrativo e no processamento de commodities agrícolas, como Espírito Santo (+9,4%), Pará (+4,5%), Rio de Janeiro (+4,4%), Mato Grosso (+5,4%) e Goiás (+4,9%).
Já parques mais diversificados encolheram em 2023 até o mês de novembro. O destaque neste grupo é São Paulo, principal polo industrial do país, com queda de -1,4% ante jan-nov/22. Outros exemplos são Rio Grande do Sul (-4,4%) e o Nordeste como um todo (-4,0%).
Nestes estados os dados mais recentes mostram, ao menos, uma atenuação de suas adversidades, influenciando inclusive o agregado nacional: -0,3% em jan-jun/23; 0% em jul-set/23 e +1,2% em out-nov/23.
A indústria paulista, que havia recuado -2,1% no acumulado do primeiro semestre do ano, caiu a metade disso no 3º trim/23 (-1,0%) e ficou praticamente estável no bimestre out-nov/23 (-0,2%). A melhora não foi suficiente para recolocá-la na trajetória de crescimento, mas cessou seu encolhimento.
Entre os ramos da indústria paulista com retomada ou reforço do crescimento estão: bebidas, têxteis, máquinas e aparelhos elétricos, borracha e plástico e derivados de petróleo. Outros ramos continuaram no vermelho, mas com quedas menos intensas, sobretudo, produtos químicos e farmacêuticos e farmoquímicos.
O Rio Grande do Sul também não conseguiu voltar a expandir sua produção industrial, mas vem caindo menos. Agora em out-nov/23 registrou -1,8% frente ao mesmo período do ano anterior. No 1º sem/23 havia recuado -6,0% e no 3º trim/23, -3,1%. Ramos que voltaram a crescer nestes últimos meses e ajudaram a amenizar o quadro geral no estado foram: derivados de petróleo, bebidas, fumo e móveis.
Já o Nordeste, diferentemente de São Paulo e Rio Grande do Sul, saiu do vermelho no bimestre out-nov/23, registrando +0,6%, depois de ter se contraído -6,2% no 3º trim/23. Isso se deu notadamente devido à produção de alimentos, bebidas e de derivados de petróleo, mas também de borracha e plástico e têxteis, todos com expansão considerável neste último bimestre.
Comércio
Diferentemente da indústria – e dos serviços, como veremos a seguir –, as vendas reais do comércio varejista praticamente não cresceram em nov/23, variando somente +0,1% já descontados os efeitos sazonais. Entretanto, devido à reação do ramo de veículos e autopeças, depois de dois meses de resultados fracos, o varejo ampliado, que também inclui material de construção e o atacarejo, teve alta de +1,3% na série com ajuste.
Tal crescimento do varejo em seu conceito ampliado foi o melhor resultado desde mar/23 (+4,7%), quando foi igualmente impulsionado pelo ramo de veículos. Em nov/23, este ramo registrou +4,0% ante out/23, com ajuste sazonal. Outros destaques positivos ficaram por conta de móveis e eletrodomésticos (+4,5%) e equipamentos de escritório, informática e comunicação (+18,6%). Todos estes casos vinham de uma sequência de meses ruins.
Com quase todos os meses do ano cobertos pelas estatísticas do IBGE, o desempenho do varejo em 2023 é próximo daquele de 2022, com certa melhora: +1,7% em jan-nov/23 e +1,1% em jan-nov/22 frente ao mesmo período do ano anterior.
Diferença maior se dá no varejo ampliado, em função da melhora do ramo de veículos, que como se sabe, teve redução de impostos federal em meados de 2023. Alta das vendas neste agregado do comércio é de +2,6% em jan-nov/23 ante -0,6% em jan-nov/22.
Cabe notar que nos últimos meses a expansão do varejo ampliado ganhou mais robustez: +2,1% em jan-jun/23; +2,9% em jul-set/23 e +3,5% em out-nov/23, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
No bimestre out-nov/23, que dá um indicativo do desempenho do último trimestre do ano, 73% dos ramos do varejo acompanhados pelo IBGE tiveram expansão. Na primeira metade de 2023 esta parcela era menor, de 55%.
Devido ao seu peso para o varejo total, dois ramos se destacam na promoção deste crescimento mais intenso nos últimos meses do ano passado: supermercados e alimentos e veículos e autopeças. Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria também ganharam ritmo.
No caso de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, as vendas se aceleraram na entrada do segundo semestre, em função da inflação menor, da expansão do emprego e dos programas governamentais de transferência de renda. Em out-nov/23 (+3,4%), embora o resultado tenha sido um pouco inferior ao do 3º trim/23 (+5,3%), superou aquele acumulado em jan-jun/23 (+2,6%).
Já no caso de veículos e autopeças, suas vendas têm registrado taxas de crescimento de dois dígitos, ajudadas não apenas pela redução de impostos, como dito anteriormente, mas também pelas bases fracas de comparação de 2022. Assim, cresceu +10% no 3º trim/23 e +13,7% em out-nov/23, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Outros ramos contribuíram mais recentemente por pararem de cair, como tecidos, vestuário e calçados (-2,8% no 3º trim/23 e +1,7% em out-nov/23) e material de construção (-2,0% e +3,7%, respectivamente). Equipamentos de informática, escritório e comunicação e o atacarejo alimentar também tiveram reação, mas já na virada do semestre, deixando para trás uma fase de declínio na primeira metade do ano.
No vermelho, ficaram os ramos de combustíveis e lubrificantes (-5,7% ante out-nov/22) e livros, jornais e papelaria (-5,0%) com a virada do primeiro para o segundo semestre de 2023. Também perdeu vendas o ramo de outros artigos de uso pessoal e doméstico, mas, ao menos, neste caso a queda dá sinais de ficar menos intensa (-7,1% em out-nov/23).
Serviços
Nos últimos meses, o setor de serviços vem reduzindo seu dinamismo em um processo que pode ser considerado de acomodação. Cabe lembrar que desde jun/21 seu faturamento real supera o nível pré-pandemia (fev/20) e em nov/23 ficou 10,8% acima desta marca.
Tal situação é bem diferente da indústria, por exemplo, que ultrapassou o pré-pandemia apenas momentaneamente, de set/20 a fev/21, e agora está 0,9% abaixo dele, graças a uma secessão de resultados negativos ou muito fracos em 2023, como vimos na primeira seção desta Carta IEDI.
Inicialmente, os serviços de informação e comunicação, devido à digitalização forçada pela pandemia, e os transportes, com a reativação da atividade produtiva e a retomada progressiva da mobilidade das pessoas, alavancaram a expansão dos serviços. Mais recentemente, a redução do gap dos serviços às famílias vis-à-vis o pré-pandemia e o crescimento dos serviços profissionais e administrativos, com o aumento das atividades presenciais, também se tornaram importantes dinamizadores.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o faturamento real dos serviços voltou a apresentar sinal positivo em nov/23, após três meses seguidos de retração. A alta foi modesta, de apenas +0,4% ante out/23, já descontados os efeitos sazonais, compensando pouco da queda de -2,2% acumulada em ago-out/23.
Deste modo, se comparado com a situação de um ano atrás, o setor de serviços como um todo segue registrando um declínio moderado. Os três últimos resultados foram negativos: -1,1% em set/23, -0,3% em out/23 e -0,3% em nov/23, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Como consequência, o bimestre out-nov/23 não aponta para um final de ano positivo: -0,3% ante out-nov/22.
Dois dos cinco ramos identificados pelo IBGE se mantêm no positivo e sem indício de desaceleração suplementar no bimestre out-nov/23 em comparação com o resultado do 3º trim/23. São justamente aqueles que apontamos como dinamizadores mais recentes: serviços prestados às famílias e serviços profissionais, administrativos e complementares, cuja retomada consistente foi possível somente após a ampla vacinação da população.
No caso dos serviços prestados às famílias, embora permaneçam aquém do pré-pandemia (-2,4%), houve uma desaceleração mais intensa do 1º trim/23 (+8,3%) para o último bimestre com dados disponíveis: +2,9% em out-nov/23 frente ao mesmo período do ano anterior. Por trás disso, estão, mais recentemente, os serviços pessoais e os de alojamento e alimentação, desde a virada do semestre.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares, por sua vez, é quem mais cresceram em out-nov/23 (+4,2%) e, ao longo do ano, apresentaram uma acomodação menos intensa que os demais ramos. Isso ocorreu notadamente devido ao seu componente de serviços técnico-profissionais. Já as atividades que exigem menos qualificação não se saíram bem, como serviços de apoio às atividades empresariais (-2,3% ante out-nov/23).
Os três outros ramos do setor de serviços ficaram no vermelho, sendo o pior caso o de transportes, armazenagem e correios (-2,4% ante out-nov/22). O componente de auxiliares de serviços, armazenagem e correios (-12,7%) é quem mais puxou este ramo para baixo, seguido por transporte rodoviário de pessoas (-6,9%). O transporte aéreo também voltou ao negativo em out-nov/23 e o transporte terrestre de carga desacelerou bastante.
Por fim, a segunda metade do ano trouxe taxas de crescimento bem mais modestas para os serviços de informação e comunicação, que chegou a cair em out-nov/23 (-0,4% ante out-nov/22), sob influência dos serviços de tecnologia da informação (-2,6%) e de edição e audiovisuais (-5,5%). Para os outros serviços, que já vinham próximos da estabilidade, houve queda tanto no 3º trim/23 (-2,4%) como em out-nov/23 (-0,5%).