Carta IEDI
A redução do déficit industrial em 2023 por intensidade tecnológica
Em 2023, o Brasil obteve superávit comercial de US$ 98,8 bilhões, recorde da série em dólares correntes. Tal saldo foi logrado com aumento de +1,7% das exportações totais em relação a 2022 e principalmente com redução de 11,7% das importações do país. Isso, contudo, foi resultado do comércio de produtos agropecuários, de pesca e minerais.
Quando analisado o desempenho da indústria de transformação, a que se dedica esta Carta IEDI, a quadro é mais controverso. É fato que o déficit comercial do setor se reduziu e não foi pouco: de US$ 61,1 bilhões em 2022 para US$ 41,1 bilhões em 2023, isto é, 1/3 menor. Isso, contudo veio acompanhado de contração de suas exportações.
Em 2023, as vendas externas de bens da indústria de transformação encolheram -2,3% ante 2022, para US$ 177,2 bilhões. Foi a primeira vez desde o choque da Covid-19, em 2020, que o sinal foi negativo. Como veremos em mais detalhes a seguir, dos quatro grupos por intensidade tecnológica, três apresentaram exportações estáveis ou em queda no ano passado.
Assim, foram as importações industriais que comandaram o desempenho do saldo de comércio exterior do setor. O déficit caiu porque as compras externas da indústria de transformação em seu agregado recuaram -10% ante 2022, um patamar de queda não muito distante daquele causado pela pandemia (-13,2% em 2020).
Na origem destas importações menores está o baixo dinamismo da indústria de transformação, cuja produção caiu -1,0% em 2023, mas também o recuo de alguns preços internacionais, influenciados pelas cotações de commodities, a exemplo de derivados de petróleo e produtos químicos.
O objetivo desta Carta é analisar os fluxos de comércio exterior da indústria de transformação brasileira, segundo a intensidade tecnológica de seus ramos. A metodologia vem sendo utilizada há muito tempo pela OCDE e o IEDI a emprega para o caso brasileiro periodicamente.
Há quatro grupos ou faixas de intensidade tecnológica para a indústria de transformação: alta, média-alta, média e média-baixa. Não existem ramos classificados como baixa tecnologia pela versão mais recente da metodologia da OCDE. A faixa de baixa intensidade contém bens da agropecuária, produção florestal e pesca.
Para 2023, a queda do déficit da balança comercial da indústria se deu notadamente pelo grupo de média-alta tecnologia, cujo saldo negativo encolheu -21,1% ante 2022, saindo de US$ 82 bilhões para US$ 64,7 bilhões. Tal resultado se deu em um quadro de virtual estabilidade de suas exportações (+0,2%) e de queda de suas importações (-13,8%).
As compras externas de bens industriais de média-alta tecnologia foram as que mais recuaram em 2023 dentre as quatro faixas identificadas. O principal condicionante coube aos produtos químicos (-29,5%), que representam 45% das importações deste grupo.
O segundo grupo que mais contribuiu para o menor déficit industrial foi a média-baixa tecnologia. Este grupo é tradicionalmente superavitário e gerador do maior saldo positivo na indústria de transformação. Isso porque comporta ramos responsáveis pelo processamento inicial de commodities, valendo-se, assim, da competitividade da produção primária e da menor exposição às distorções da economia brasileira do que outros ramos mais à frente das cadeias produtivas.
O saldo positivo da média-baixa em 2023 chegou a US$ 54,6 bilhões, o mais elevado da série histórica a preços correntes iniciada em 1997. A alta frente a 2022 foi de +10,1%. Mas até neste caso, a melhora do saldo não veio do aumento das exportações, que caíram -0,9% em 2023. A despeito do reforço das vendas externas de alimentos (+5,0%), todas os demais produtos deste grupo recuaram.
Assim, também para a média-baixa tecnologia, o resultado de 2023 foi explicado pela evolução de suas importações, cuja queda chegou a -12,2%, sendo a segunda maior dentre as faixas por intensidade tecnológica. Neste caso, o fato causador foi a queda das importações de derivados de petróleo (-24,3%), sob influência dos preços internacionais.
A terceira contribuição positiva em 2023 veio da indústria de alta tecnologia, cujo déficit declinou -4,6%, para US$ 40 bilhões. A queda não foi grande, mas ao menos veio acompanhada de expansão de suas exportações: +8,8% ante 2022. Foi a única variação positiva significativa dentre as quatro faixas, mas cabe notar que é também a única parcela da indústria cuja exportação ainda não retomou patamares pré-pandemia.
A exportação da alta tecnologia em 2023 está cerca de 20% abaixo do patamar de 2019, em valores correntes e quase 30% aquém da média anual do quinquênio 2015-2019. Muito disso reflete o efeito da pandemia sobre o mercado de aeronaves.
Não foi apenas as vendas externas que ajudaram a ata tecnologia; suas importações também encolheram -2,8%, condicionadas pelas compras externas de produtos típicos do complexo eletrônico (-11,5%). Outro destaque, neste caso positivo, do lado das importações é a indústria farmacêutica (+8,8%), que após a pandemia vem registrando sistematicamente compras externas anuais acima de US$ 10 bilhões.
Por fim, a indústria de média intensidade tecnológica, em geral superavitária, apresentou redução de -32,3% de seu saldo, sendo o único grupo a andar na direção oposta e atenuar a melhora do resultado externo da indústria de transformação como um todo.
As exportações da média tecnologia encolheram -11,6%, sobretudo devido à metalurgia (-13,7%), mas também a minerais não metálicos e borracha e plástico. Já suas importações subiram +1,3%, principalmente em função de borracha e plástico (+2,0), que representa 30% das compras externas deste grupo.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
Em 2023, o Brasil apresentou o superávit comercial de US$ 98,8 bilhões, recorde da série em dólares correntes. Esse saldo foi logrado com aumento de 1,7% das exportações em relação a 2022, US$ 339,7 bilhões e principalmente com redução de 11,7% nas importações, parando em US$ 240,8 bilhões.
Tal superávit foi obtido sobretudo pelo recordista resultado positivo de US$ 140,0 bilhões, dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais. Suas exportações atingiram patamar sem igual em dólares correntes, US$ 162,5 bilhões, acompanhadas pela retração de 25,3% de suas importações.
Os produtos típicos da indústria de transformação contribuíram para o melhor resultado frente a igual período de 2022, ao registrar redução em seu déficit, de US$ 61,1 bilhões para US$ 41,2 bilhões. As exportações diminuíram 2,3%, ficando em US$ 177,2 bilhões. As importações declinaram 10,0%, caindo para US$ 218,4 bilhões.
2023 encerrou tal como delineado ao longo de seus trimestres: melhora no saldo dos bens típicos da indústria de transformação, mas sem avanço nas exportações em dólares correntes. O superávit dos demais bens cresceu tanto por conta do incremento nas exportações, quanto devido ao Brasil ter diminuído suas importações.
Tais resultados devem ser vistos em meio ao cenário de aumento nas taxas de juros nos países avançados para enfrentamento da inflação no ano passado, enquanto a guerra na Ucrânia e o conflito na Faixa de Gaza adentraram 2024.
A claudicante retomada chinesa tem sido outro fator, afetando para baixo o preço internacional de minérios e insumos metálicos e, por conseguinte, o valor monetário das exportações brasileiras. No âmbito interno, a continuidade na redução na taxa de juros e a reforma tributária – a depender de suas regulamentações – tendem a melhorar o ambiente doméstico.
No quarto trimestre do ano, o superávit de US$ 27,3 bilhões, quase duplicou o saldo obtido em igual período de 2022, atingindo o maior patamar para outubro-dezembro da série. As exportações cresceram 6,9% frente ao último trimestre do ano passado, chegando a US$ 86,4 bilhões. As importações retrocederam 11,5%, para US$ 59,1 bilhões. Os demais produtos (bens agropecuários e minerais em destaque) obtiveram saldo de US$ 35,4 bilhões, com exportações crescendo 15,4% em relação ao quarto trimestre de 2022, atingindo US$ 40,7 bilhões, e importações caindo 25,6%.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, foram exportados US$ 45,7 bilhões, estável comparativamente ao mesmo período de 2022, aumento de 0,2%. Suas importações, US$ 53,8 bilhões, declinaram 9,8%. Assim, o déficit desses bens caiu de US$ 14,0 bilhões em outubro-dezembro de 2022 para US$ 8,1 bilhões no último trimestre de 2023.
A balança por intensidade tecnológica
Conforme exposto em carta anterior, a nova classificação por intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não só as da indústria de transformação. Ademais, no lugar de quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não houve transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Com base em tanto, a balança comercial brasileira pode ser esmiuçada a partir da versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de P&D.
Tomando o resultado do ano, a balança comercial de bens produzidos por atividades classificadas como de alta intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, experimentou déficit de US$ 40,0 em 2023, abaixo do recorde em dólares correntes registrado em 2022.
As exportações desses bens cresceram 8,8%, chegando a US$ 7,0 bilhões. Esse aumento foi decorrente da ampliação nas vendas externas de aeronaves e de bens do complexo eletrônico, mas com queda nas exportações de produtos farmacêuticos. Seus três ramos experimentaram déficit. Por sinal, mesmo com importações declinando, o complexo eletrônico representou quase 60% do déficit da faixa.
A faixa de média-alta intensidade encerrou 2023 com saldo negativo de US$ 64,7 bilhões, abaixo do déficit recorde observado em 2022. Apesar de menor, ainda continua como a mais deficitária dentre as cinco faixas. Suas exportações ficaram praticamente estáveis, taxa de 0,2%, chegando a US$ 42,8 bilhões, grandeza abaixo do que o País já exportou desses bens em 2008, 2011 e 2012.
A expansão das exportações foi bem disseminada entre seus ramos. As exceções foram os de produtos químicos e de material de transporte ferroviário e de outros equipamentos de transporte. O maior ramo exportador, o de veículos automotores, reboques e carrocerias, ampliou suas vendas externas em 1,6%, respondendo por um terço das exportações desse segmento.
Já os ramos de equipamentos bélicos, armas e munições e o de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados noutras atividades (M&E) lograram as maiores taxas de expansão exportadora dessa faixa.
As importações do segmento de média-alta recuaram 13,8%, por conta da redução em 29,5% das aquisições internas de produtos químicos, mas ainda assim respondendo por 45,2% das importações de média-alta. O maior incremento importador coube a veículos automotores, reboques e carrocerias, aumento de quase dois dígitos, seguido por máquinas e equipamentos (M&E) e por materiais, máquinas e aparelhos elétricos. Produtos químicos e M&E registraram os maiores déficits da faixa no ano.
Quanto aos produtos tipicamente oriundos de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, sua balança apresentou superávit de US$ 8,9 bilhões em 2023, aquém do resultado obtido nos dois anos anteriores. Suas exportações retrocederam 11,6%, ficando em US$ 30,5 bilhões. As importações, a ser turno, cresceram 1,3%.
Ironicamente, o superávit menor decorreu menos de seus ramos deficitários e mais principalmente da retração no superávit dos produtos metalúrgicos, caindo para US$ 13,0 bilhões, devido à queda de 13,7% em suas exportações, para US$ 24,4 bilhões. Os produtos de minerais não-metálicos também registraram menor superávit com queda nas exportações, enquanto o ramo naval e náutico logrou superávit em contraste com o sinal negativo no ano anterior. Dos ramos que experimentaram saldo negativo, destaque-se o aumento no déficit dos produtos de borracha e de material plásticos, saldo negativo de US$ 3,6 bilhões.
Quanto ao segmento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 117,3 bilhões em 2023, o maior resultado para a série em dólares correntes. Suas exportações aumentaram 1,0%, atingindo o recorde de US$ 175,8 bilhões. As exportações de minérios avançaram 3,5%, chegando a US$ 78,8 bilhões, apresentando superávit de US$ 62,7 bilhões.
As exportações dos bens da indústria de transformação dessa faixa registraram variação negativa, -0,9%, ficando em US$ 96,8 bilhões, mas sem impedir o superávit sem igual de US$ 54,6 bilhões em 2023, devido ao recuo de 12,2% nas importações desses produtos. Tal aumento no saldo decorreu principalmente da redução do déficit de coque, produtos do refino do petróleo e biocombustíveis e do recorde no superávit e nas exportações de produtos alimentares industriais, bebidas e fumo em dólares correntes.
Essas melhoras foram mitigadas pela redução no superávit de produtos industriais madeireiros, papel, celulose e de impressão e pela ampliação no déficit em produtos têxteis, de vestuário, de couro e calçados. Esses dois ramos tiveram queda de dois dígitos nas exportações.
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados, observou superávit recorde de US$ 76,7 bilhões, com aumento de 9,2% das exportações, chegando a US$ 82,3 bilhões. Esse incremento é um pouco maior do que o das vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 9,0%, principal componente desse segmento em face da pouca expressão dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens da indústria de transformação.
Passando para a comparação entre quartos trimestres de 2023 e de 2022, o déficit do segmento de alta intensidade caiu de US$ 10,0 bilhões para US$ 9,4 bilhões. As exportações retrocederam 1,0% em relação a outubro-dezembro de 2022, ficando em US$ 2,1 bilhões. Tal queda se deveu à retração de dois dígitos na exportação de produtos farmacêuticos e de bens eletrônicos, enquanto as exportações de aeronaves e afins lograram incremento de 5,8%. As importações declinaram 4,6%, em decorrência da redução de dois dígitos nas aquisições externas de produtos eletrônicos, com os outros dois ramos registrando aumento nas importações.
Quanto à faixa de média-alta, experimentou déficit de US$ 15,8 bilhões, uma magnitude bem abaixo da registrada em igual trimestre do ano anterior, como também frente a outubro-dezembro de 2021. As exportações retrocederam 2,3%, para US$ 10,7 bilhões, com queda exportadora nos ramos químico, de automóveis, reboques e carrocerias e de outros materiais de transporte, sobressaindo a retração das vendas externas de produtos químicos tanto pela grandeza, quanto pela variação, com a segunda maior queda.
Por outro lado, as exportações dos dois ramos que incluem bens de capital – máquinas e equipamentos mecânicos e não classificadas noutras atividades e as de máquinas, aparelhos e materiais elétricos – cresceram bem. As vendas externas de instrumentos e materiais médicos, odontológicos e óticos e de equipamentos bélicos, armas e munições foram as que mais cresceram nessa base comparativa. As importações de mercadorias dessa faixa recuaram 11,5%, devendo-se tanto principalmente aos próprios produtos químicos devido a seu peso.
Outubro-dezembro de 2023 para a faixa de média intensidade foi superavitário, US$ 1,8 bilhão, expressivo, porém quase US$ 600 bilhões aquém do logrado no mesmo trimestre de 2022. A metalurgia, como de costume no Brasil, respondeu pela magnitude do superávit e pelo recuo na comparação entre terceiros trimestres. Suas exportações sofreram retração de 10,2%, ficando em US$ 7,1 bilhões, o que foi disseminado, com exceção de embarcações navios e produtos náuticos. As maiores quedas na exportação ocorreram nos deficitários ramos de borracha e produtos plásticos e de bens diversos e no superavitário ramo de produtos metalúrgicos.
As importações de bens da indústria de transformação dessa faixa, a seu turno, diminuíram 4,0%, retração também observada em quase todos os ramos. Ainda assim, os produtos metalúrgicos responderam em larga medida pelo superávit desse segmento, com saldo positivo de US$ 2,6 bilhões. Os produtos plásticos e de borracha registraram o maior déficit dessa faixa.
Passando para os fluxos comerciais da faixa de média-baixa intensidade tecnológica, no último trimestre de 2023, suas exportações, US$ 48,4 bilhões, aumentaram 10,2% frente a igual período de 2022. As exportações de minérios avançaram 17,2%, para US$ 22,6 bilhões, enquanto as de produtos da indústria de transformação dessa faixa cresceram 4,2%, chegando a US$ 25,8 bilhões. Dessa forma, o superávit de todos os produtos do segmento de média-baixa intensidade foi de US$ 34,0 bilhões, o maior de toda a série em dólares correntes, com a extração mineral obtendo saldo positivo de US$18,8 bilhões e os ramos da indústria de transformação apresentando superávit de US$ 15,2 bilhões.
As importações da média-baixa diminuíram 17,6%, com as importações de minérios caindo perto de 30% e as de bens dos ramos da indústria de transformação dessa faixa caindo 13,1%. Cabe notar que os alimentos industriais, bebidas e fumo, que costuma ditar o comportamento dessa faixa, apresentou patamar recorde de superávit e de exportações em dólares correntes.
A faixa de baixa intensidade apresentou aumento no superávit no terceiro trimestre, chegando a US$ 16, bilhões, devido ao de incremento de 13,2% nas exportações em relação ao último trimestre de 2022, atingindo US$ 17,8 bilhões e à retração de 17,8% em suas importações. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
Como visto, em 2023, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade diminuiu frente ao mesmo acumulado de 2022, saldo negativo de US$ 40,0 bilhões, ainda assim o segundo maior da série em dólares correntes. O déficit menor decorreu do crescimento de 8,8% nas exportações em dólares correntes, alcançando US$ 7,0 bilhões, mas permanece em patamar abaixo daqueles dos anos pré-pandêmicos, de 2005 a 2019. As importações recuaram 2,8%.
Os produtos da indústria aeronáutica tiveram balança negativa de US$ 5,3 bilhões, o maior déficit em dólares correntes da série. Suas vendas externas até avançaram bem, 20,0%, chegando a US$ 4,1 bilhões, mas as importações cresceram 11,2%, sobre uma base maior.
Os produtos farmacêuticos também experimentaram seu maior déficit em dólares correntes, de US$ 11,0 bilhões. As vendas desses bens retrocederam 12,5%, para US$ 1,3 bilhão, enquanto as importações cresceram 8,8%.
Quanto aos bens do complexo eletrônico, registrou déficit menor, de US$ 23,7 bilhões, respondendo pela redução do déficit da faixa como um todo. Mas, ainda assim, representou praticamente 60% do déficit. As exportações de produtos eletrônicos cresceram 5,2%, para US$ 1,6 bilhão, enquanto suas importações caíram 11,5%.
No quarto trimestre, o saldo dos bens das indústrias de alta intensidade apresentou saldo deficitário de US$ 9,4 bilhões, uma diferença de US$ 530 milhões frente ao déficit do mesmo trimestre de 2022. Suas exportações tiveram variação de -1,0%, ficando em US$ 1,6 bilhão. As importações caíram 4,6%, parando em US$ 11,5 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais experimentaram déficit de US$ 1,2 bilhão no último quarto de 2023. Suas exportações cresceram 5,8%, atingindo US$ 1,4 bilhão, constituindo cinco trimestres consecutivos de aumento na comparação entre trimestre e igual período do ano anterior. As importações cresceram 16,5%, levando-as ao patamar de US$ 2,6 bilhões.
Os bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para essa balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 5,7 bilhões. As exportações retrocederam 10,3% na comparação entre quartos trimestres, ficando em US$ 373 milhões. Já suas importações foram de US$ 6,1 bilhões, mesmo recuando 13,9%.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 2,5 bilhões. Suas exportações diminuíram 15,2%, vendendo ao exterior US$ 320 milhões em outubro-dezembro. As importações desses bens, a seu turno, cresceram 2,1%, chegando a US$ 2,8 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta intensidade experimentou saldo negativo de US$ 64,7 bilhões em 2023, o segundo maior de toda a sua série em dólares correntes, superado somente pelo déficit de 2022, sendo também o maior déficit dentre todas as faixas de intensidade no ano passado. Suas exportações ficaram praticamente estáveis, 0,2%, em US$ 42,8 bilhões. As importações declinaram 13,8%, caindo para US$ 107,6 bilhões.
Os produtos da indústria automobilística apresentaram resultado negativo de US$ 5,8 bilhões, o maior déficit de 2015 até 2023. Suas exportações aumentaram 1,6%, chegando a US$ 14,4 bilhões, enquanto as importações avançaram 9,4%. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 1,0 bilhão, o maior desde 2016 Suas exportações caíram 11,2%, ficando em US$ 200 milhões, enquanto as importações aumentaram 1,8%.
Os dois ramos ligados a bens de capital experimentaram déficits maiores em 2023 do que os observados no ano anterior, apesar das exportações em expansão. O de equipamentos não especificados noutras atividades, M&E, teve déficit de US$ 12,2 bilhões, exportando US$ 11,7 bilhões, 14,7% a mais do que em 2022. Suas importações aumentaram 4,2%. Sobre os materiais e equipamentos elétricos, tiveram intercâmbio deficitário de US$ 7,6 bilhões, o maior déficit anual em dólares correntes da série. Suas exportações foram de US$ 3,6 bilhões, crescimento de 7,9% frente a 2022, com as importações avançando 4,0%.
Passando para os produtos químicos, experimentaram saldo negativo de US$ 36,7 bilhões, representando 56,7% do déficit de toda a faixa de média-alta intensidade tecnológica. O país vendeu para o exterior US$ 12,0 bilhões desses bens, ficando estável em relação a 2022, 0,2%. Suas importações retrocederam 29,5%, parando em US$ 48,6 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 1,8 bilhão, com aumento de 13,4% nas exportações, chegando a US$ 455 milhões. Já suas importações apresentaram variação de -0,3%.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 398 milhões, o único ramo com saldo positivo do segmento de média-alta no ano passado. Suas exportações, US$ 583 milhões, tiveram expansão de 40,2%. As importações desses itens declinaram 11,4%.
Em outubro-dezembro, o déficit dessa faixa foi de US$ 15,8 bilhões, US$ 3,2 bilhões menor do que no mesmo trimestre de 2022, mesmo as exportações declinando 2,3%, parando em US$ 10,7 bilhões. Ou seja, a retração no déficit decorreu da retração de 11,5% nas importações na comparação entre quartos trimestres de 2023 e de 2022.
As exportações de produtos químicos declinaram 10,5%, caindo para US$ 3,0 bilhões. As importações retrocederam ainda mais, queda de 22,9% pelo contraponto entre quartos trimestres, ficando em US$ 11,6 bilhões. Dessa forma, os produtos químicos apresentaram déficit de US$ 8,6 bilhões, bem menor do que em 2022, porém ainda responsável por 54,6% do resultado negativo dessa faixa.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 2,5 bilhões no último quarto de 2023. Os automóveis, reboques e carrocerias responderam por US$ 2,2 bilhões deste montante. As exportações destes últimos foram de US$ 3,4 bilhões, queda de 11,4% frente ao ano anterior. Suas importações cresceram 14,7%.
Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), sua balança com déficit de US$ 229 milhões ocorreu com redução nos fluxos comerciais, suas exportações diminuíram 34,7%, enquanto as importações caíram 20,2%.
O intercâmbio comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos (M&E) e o de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 2,8 bilhões e de US$ 1,6 bilhão em outubro-dezembro de 2023. As exportações de M&E subiram 11,1%, chegando a US$ 3,0 bilhões, enquanto as importações retrocederam 5,4%, levando a um déficit menor frente a igual trimestre de 2022. As exportações de aparelhos e materiais elétricos cresceram 15,9%, chegando a US$ 981 milhões, enquanto as aquisições externas diminuíram 9,2%.
Quanto aos I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos, o país exportou US$ 126 milhões no quarto trimestre do ano, 18,0% a mais do observado no mesmo período de 2022. Suas importações cresceram bem menos, 0,7%, chegando a US$ 556 milhões. O saldo negativo desses bens foi de US$ 431 milhões, déficit menor do que o observado no mesmo período de 2022.
Quanto ao saldo comercial de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 161 milhões em outubro-dezembro de 2023, com avanço de 121,9% em suas exportações, alcançando US$ 197 milhões, enquanto suas importações retrocederam 62,1%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As exportações em dólares correntes de produtos típicos de indústrias de média intensidade tecnológica retrocederam 11,6% em 2023, ficando em US$ 30,5 bilhões. As importações, por sua vez, avançaram 1,3%. Ainda assim, o intercâmbio desses bens experimentou expressivo superávit de US$ 8,9 bilhões, porém US$ 4,3 bilhões menor do que o saldo superavitário de 2022.
As embarcações e demais produtos do setor naval-náutico lograram a única taxa de expansão nas exportações, 712,3%, atingindo US$ 522 milhões. Suas importações cresceram mais de 2.000% em relação ao ano anterior, mas partindo de uma base bem baixa, chegando a US$ 325 milhões. Desse modo, esse ramo obteve superávit de US$ 197 milhões. Desde 2012, não lograva intercâmbio positivo.
Os produtos da metalurgia apresentaram superávit de US$ 13,0 bilhões em 2023, o terceiro maior da série em dólares correntes, mas ficando bem atrás do acumulado correspondente do ano anterior. O Brasil exportou US$ 24,4 bilhões, retração de 13,7% frente a 2022, ocasionando a diminuição no resultado comercial. Suas importações ficaram estáveis.
O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos logrou superávit de US$ 102 milhões, aquém do saldo obtido no ano anterior. Suas vendas externas diminuíram 12,4%, para US$ 2,1 bilhões, com as importações registrando variação de -0,3%.
Os demais grupos de bens experimentaram intercâmbio negativo em 2023. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 3,6 bilhões, acima do registrado em 2022. Suas exportações declinaram 7,5%, para US$ 2,9 bilhões, enquanto as importações aumentaram 2,0%.
Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) experimentaram déficit de US$ 773 milhões, com declínio de 5,0% nas exportações, que ficaram em US$ 563 milhões, e incremento de 6,4% nas importações.
Atendo-se ao quarto trimestre de 2023, as exportações de gêneros típicos da atividade de média intensidade tecnológica declinaram 10,2% em relação a igual período de 2022, ficando em US$ 7,1 bilhões. Suas aquisições externas recuaram 4,0%. Dessa maneira, o saldo positivo dessa faixa teve redução de quase US$ 600 milhões em relação a outubro-dezembro de 2022, registrando superávit de US$ 1,8 bilhão no último quarto de 2023.
As embarcações e demais produtos da construção naval registraram aumento de 188,0% nas exportações, subindo para US$ 51 milhões no trimestre em comento. Suas importações retrocederam 9,3%, ficando em US$ 63 milhões. Em que pese o déficit de US$ 12 milhões no trimestre em questão, o ramo ainda logrou saldo positivo em 2023, como visto.
Os produtos da metalurgia apresentaram saldo de US$ 2,9 bilhões, um superávit US$ 641 milhões menor do que o logrado no quarto trimestre do ano anterior. Suas exportações sofreram retração de 10,7%, para US$ 5,7 bilhões, ainda assim uma grandeza de monta. As importações recuaram 1,6%. Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 29 milhões, exportando US$ 488 milhões, queda de 7,5% em relação a outubro-dezembro do ano anterior. Suas importações retrocederam 7,7%.
Passando para os dois outros conjuntos de bens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 871 milhões, com retração tanto nas vendas externas, queda de 12,0%, exportando US$ 710 milhões, quanto nas importações, recuo de 8,0%. Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 238 milhões foi acompanhado de retração de 7,5%, nas exportações, de US$ 123 milhões, e de incremento de 2,1% nas importações.
Bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica
As vendas externas de bens produzidos pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica declinaram 0,9% em 2023, ficando em US$ 96,8 bilhões. O intercâmbio desses produtos registrou superávit de US$54,6 bilhões, recorde em dólares correntes. Esse saldo maior decorreu da retração de 12,2% nas importações, caindo para US$ 42,2 bilhões.
As exportações do ramo de maior peso dessa faixa, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, cresceram 5,7%, atingindo recorde de US$ 65,4 bilhões. Já suas importações avançaram 6,1%, mas sobre uma base menor, o que propiciou o superávit recorde de US$ 56,3 bilhões.
Quanto à balança de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos, obteve superávit de US$ 12,6 bilhões, exportando US$ 14,4 bilhões, 12,9% a menos do que no ano anterior.
O comércio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, a seu turno, registrou resultado negativo de US$ 8,6 bilhões, bem abaixo do déficit observado em 2022, embora mantendo a condição de ramo mais deficitário desse segmento de intensidade tecnológica. Suas exportações retrocederam 12,5%, ficando em US$ 11,9 bilhões, enquanto as importações caíram 24,3%, para US$ 20,5 bilhões.
Os artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados experimentaram déficit de US$ 2,7 bilhões, o maior em dólares correntes de toda a série. Suas exportações retrocederam 12,3% pela mesma base de comparação, caindo para US$ 3,3 bilhões. As importações desses itens aumentaram 4,6%.
O déficit dos produtos metálicos teve ligeiro acréscimo, déficit de US$ 3,0 bilhões em 2023. Suas exportações declinaram 5,4%, parando em US$ 1,8 bilhão, enquanto as importações recuaram 1,7%.
Atendo-se ao último trimestre de 2023, em relação a igual período de 2022, o país ampliou em 4,8% as exportações de bens típicos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica. Atingiu, assim, US$ 25,8 bilhões, o maior montante exportado num quarto trimestre na série em dólares correntes. O Brasil adquiriu do exterior US$ 10,6 bilhões desses produtos, recuo de 13,1% nas importações. Dessa maneira, o superávit alcançou US$ 18,8 bilhões em outubro-dezembro, também recorde para quarto trimestre.
A balança de alimentos da indústria, bebidas e tabaco logrou resultado positivo de US$ 15,2 bilhões, outro patamar sem equivalente para outubro-dezembro em dólares correntes. Esse superávit maior decorreu do avanço de 11,9% em suas exportações frente a igual período de 2022, chegando a US$ 18 bilhões, outro recorde. Já suas importações cresceram 3,6%, para US$ 2,3 bilhões.
Os produtos madeireiros, de papel e celulose obtiveram saldo positivo de US$ 3,0 bilhões, expressivo, mas aquém do registrado em outubro-dezembro do ano anterior. Suas exportações, de 3,4 bilhões, representaram queda de 12,5%, enquanto suas importações caíram 6,2%.
As exportações do deficitário segmento de coque, derivados de produtos de petróleo e afins retrocederam 5,5%, ficando em US$ 3,2 bilhões em outubro-dezembro de 2023. Suas importações diminuíram ainda mais, variando -25,3%. Essa retração maior das aquisições externas possibilitou uma retração no déficit para quarto trimestre, de US$ 3,4 bilhões em outubro-dezembro de 2022, para saldo negativo de US$ 1,9 bilhão para igual período de 2023.
Quanto aos dois outros agrupamentos de produtos típicos da indústria de transformação de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As exportações de produtos de metal, de US$ 441 milhões, tiveram aumento de 1,1% frente ao último trimestre de 2022. Suas importações cresceram 8,9%, culminando no resultado negativo de US$ 840 milhões, déficit maior do que em outubro-dezembro de 2022.
Passando para os artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit, de US$ 697 milhões, também aumentou em comparação ao último quarto do ano anterior 2022. Suas vendas externas declinaram 8,0%, para US$ 774 milhões, com suas importações diminuindo 2,1%.