Carta IEDI
Dinamismo positivo concentrado no varejo
Em mai/24, o nível de atividade econômica do país manteve-se em expansão, a despeito do arrefecimento em mercados de bens mais sensíveis ao crédito e às taxas de juros e dos efeitos negativos do desastre ambiental no Rio Grande do Sul.
O indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, registrou variação de +0,25% na passagem de abr/24 para mai/24, já descontados os efeitos sazonais. Ou seja, praticamente no mesmo ritmo do mês anterior (+0,26%), mas desta vez com um dinamismo superior no varejo, compensando o recuo da indústria e a desaceleração dos serviços.
Ainda na série com ajuste sazonal, a produção industrial registrou -0,9% em mai/24, repetindo o resultado de abr/24 (-0,8%), mas agora com queda na indústria de transformação (-2,2%). Os serviços refluíram de +0,3% em abr/24 para 0% em mai/24, enquanto as vendas reais do varejo ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção, aceleraram de -0,8% para +0,8%, respectivamente.
Na liderança, o crescimento do varejo veio acompanhado de recuo em metade de seus ramos, sobretudo naqueles mais dependentes de financiamento: -1,2% em móveis e eletrodomésticos, -2,3% em veículos e autopeças, -3,5% em material de construção e -8,5% em equipamentos de escritório, informática e comunicação. Como o varejo é um importante canal de escoamento da produção de bens, esta evolução também se refletiu na indústria.
Em mai/24, todos os macrossetores industriais perderam produção, mas as quedas foram mais intensas para aqueles que vinham puxando o crescimento no início do ano: -5,7% em bens de consumo duráveis e -2,7% em bens de capital, já descontados os efeitos sazonais. Ambos os casos também mais sensíveis às condições de juros e crédito.
Regionalmente, 60% dos parques industriais ficaram no vermelho (ante 33% em abr/24), sendo que o recuo da produção gaúcha chegou a -26,2% na série com ajuste sazonal e -22,7% na comparação com mai/23, com quedas de dois dígitos em praticamente todos os seus ramos.
Já nos serviços, a estabilidade de mai/24 interrompeu dois meses seguidos de expansão e a maior parte de seus ramos registrou perda, sendo que aqueles que cresceram nem sempre compensaram os resultados adversos anteriores. Os três ramos no vermelho na série com ajuste sazonal foram: informação e comunicação (-1,1%), transportes (-1,6%) e outros serviços (-1,6%).
Deste modo, teve continuidade a tendência de convergência dos serviços em direção ao desempenho dos demais setores. É o que denota a variação do acumulado em 12 meses, que desacelerou de +11,7% em mai/22 para +6,4% em mai/23 e então para +1,3% em mai/24. Com este último resultado, os serviços encontram-se no mesmo ritmo da indústria geral (+1,3%), mas aquém do varejo (+3,7% em seu conceito ampliado).
Contrastando os resultados de jan-mai/23 e de jan-mai/24, os serviços também são os únicos a apresentar desaceleração (de +4,8% para +2%), enquanto indústria (de -0,3% para +2,5%) e varejo (de -0,3% para +3,7%) ganharam vigor. Vale notar, contudo, que o nível de faturamento real dos serviços é o que mais supera patamares pré-covid-19 (+12,7% ante fev/20) e por isso era de se esperar alguma acomodação.
No caso da indústria, a expansão do acumulado jan-mai/24, de +2,5% frente a igual período do ano anterior, foi impulsionada por 76% de seus ramos e por 83% de seus parques regionais. Apenas 3 indústrias locais ficaram no negativo em jan-mai/24: Rio Grande do Sul (-1,1%), sob efeito das enchentes, Pará (-1,6%) e Mato Grosso do Sul (-0,1%).
Em contraste com o desempenho de jan-mai/23, 2024 trouxe melhora para 78% dos parques industriais regionais. São Paulo, que tem o maior e mais diversificado parque do país, reverteu a queda de -2,4% em jan-mai/23 em crescimento de +3,6% em jan-mai/24, ficando, assim, bem acima do resultado do total Brasil.
No varejo, os ramos com expansão de vendas em jan-mai/24 representaram 72,7% do total e aqueles que assinalaram resultados superiores ao de igual período de 2023 representaram 63,6% do número total de ramos. Em seu conceito restrito, a alta foi de +5,6%, isto é, quatro vezes mais do que em jan-mai/23 (+1,4%), e em seu conceito ampliado, de +4,8%, também superior ao desempenho de igual período do ano passado (+1,6%).
Por sua vez, o principal fator da acomodação dos serviços em 2024 tem sido o ramo de transportes, seus auxiliares e correios, mais diretamente relacionado ao nível de atividade econômica, mas também mais vulnerável aos efeitos do desastre climático no Rio Grande do Sul, ainda que, como observado pelo IBGE, haja dificuldades na identificação de preços praticados e, consequentemente, na obtenção de informações precisas a respeito do faturamento real dos serviços no estado.
Entre os componentes dos serviços de transporte, houve perda generalizada de dinamismo, mas isso se deu mais fortemente naqueles que já não vinham bem desde o começo do ano: transporte aéreo (-7,4% ante jan-mai/23) e armazenagem, auxiliares de transporte e correios (-5,1%). O transporte terrestre encolheu -0,8%.
Indústria
Em mai/24, a produção da indústria brasileira encolheu -0,9%, com resultados negativos verificados na maioria de seus ramos e parques regionais, notadamente, no Rio Grande do Sul, em função de rupturas nas cadeias produtivas provocadas pelas enchentes.
Os sinais promissores, na entrada do ano, de um desempenho mais robusto vêm dando lugar a um cenário mais nebuloso, não apenas pelo bloqueio de atividades produtivas devido às chuvas no sul do país, mas também pela interrupção da fase de redução da taxa básica de juros (Selic) e mais recentemente pela maior aversão a risco dos mercados financeiros, que tem provocado movimentos bruscos de desvalorização da taxa de câmbio, renovando incertezas em relação à trajetória da inflação e elevando custos de produção de muitos setores.
Episódios de distensão política, sobretudo, entre Executivo e Legislativo também prejudicam o horizonte para uma adequada regulamentação da reforma tributária, de modo a assegurar a menor alíquota padrão possível com incidência ampla sobre as atividades econômicas. Corre-se o risco de a indústria continuar arcando com uma parcela desproporcional da carga tributária.
Em mai/24 (-0,9%), embora o resultado tenha sido muito próximo daquele registrado em abr/24 (-0,8%), na série com ajuste sazonal, há diferenças importantes. Em primeiro lugar, desta vez foi a indústria de transformação que ficou no vermelho, enquanto o ramo extrativo recuperou parte da perda anterior.
Em segundo lugar, todos os macrossetores perderam produção e as quedas foram mais intensas justamente para aqueles que vinham puxando o crescimento no início do ano: -5,7% em bens de consumo duráveis e -2,7% em bens de capital, já descontados os efeitos sazonais. Ambos os setores são mais sensíveis às taxas de juros e condições de crédito.
Além disso, 16 dos 25 ramos industriais acompanhadas pelo IBGE apontaram recuo na produção na passagem de abr/24 para mai/24, representando 64% do total (ante 32% em abr/24). Regionalmente, 60% dos parques industriais ficaram no vermelho (ante 33% em abr/24). O recuo da indústria gaúcha chegou a -26,2% na série com ajuste sazonal e -22,7% na comparação com mai/23, com quedas de dois dígitos em praticamente todos os seus ramos.
Entre os demais parques regionais no vermelho na passagem de abr/24 para mai/24, já descontados os efeitos sazonais, destacam-se Espírito Santo (-10,2%), Amazonas (-5,3%) e Ceará (-4,5%), além do restante dos estados do Sul do país. A indústria paulista também perdeu produção: -0,2%, dando sequência a uma trajetória de alternância de sinal, em que por ora as altas se mostram mais vigorosas.
Apesar destas indicações mais de curto prazo, 2024 ainda se mostra mais positivo do que o ano passado. Os resultados interanuais do acumulado destes cinco primeiros meses já cobertos pelas pesquisas do IBGE ilustram a diferença de quadro, tanto para o setor em seu agregado como nos panoramas setorial e regional.
No acumulado jan-mai/24, a indústria nacional acumula expansão de +2,5% frente a igual período do ano anterior, com 76% de seus ramos no azul. Entre os macrossetores, bens de capital (+4,1%) lideram o dinamismo industrial, com ajuda de bases baixas de comparação e bens de consumo semi e não duráveis (+3,8%) não apenas cresceram, como ganharam velocidade no último bimestre coberto por dados oficiais (+6,8% em abr-mai/24).
Bens de consumo duráveis, com alta de +2,8% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024 e de +5,7% no último bimestre em tela, só não se saiu melhor devido ao declínio da produção de veículos (-6,5% em abr-mai/24). Bens intermediários, a seu turno, cresceram +2,0% em jan-mai/24, mas desaceleraram no último bimestre, registrando +1%, em função de derivados de petróleo e da siderurgia.
Do ponto de vista regional, de todos os parques acompanhados pelo IBGE, apenas 3 ficaram no negativo em jan-mai/24, ou seja, uma parcela largamente minoritária de 17%. Além do Rio Grande do Sul (-1,1%), este grupo é composto pelo Pará (-1,6%) e Mato Grosso do Sul (-0,1%).
Em contraste com o desempenho de jan-mai/23, 2024 trouxe melhora para 78% dos parques. As exceções somam 4, entre as quais Pará e Mato Grosso do Sul, que foram acompanhados por Minais Gerais, com +6,2% em jan-mai/23 e +1,0% em jan-mai/24, e Amazonas, com +10,4% e +3,6%, respectivamente.
São Paulo, que tem o maior e mais diversificado parque industrial do país, conseguiu reverter a queda de -2,4% em jan-mai/23 em crescimento de +3,6% em jan-mai/24, ficando, assim, bem acima do resultado do total Brasil (+2,5%). A região Nordeste também saiu da região negativa (-4,0% em jan-mai/23), mas conseguiu apenas se estabilizar, registrando variação de +0,4% em jan-mai/24.
Comércio
Em mai/24, diferentemente da indústria, o comércio varejista registrou expansão real de suas vendas de +1,2% em seu conceito restrito e de +0,8%, em seu conceito ampliado, já descontados os efeitos sazonais. A despeito do sinal positivo no agregado, metade de seus ramos ficou no vermelho.
Aqueles mercados que dependem mais das condições de crédito e juros foram os que pior se saíram na passagem de abr/24 para mai/24: -1,2% em móveis e eletrodomésticos, -2,3% em veículos e autopeças, -3,5% em material de construção e -8,5% em equipamentos de escritório, informática e comunicação.
Com a interrupção da fase de declínio da taxa de juros pelo Banco Central, pode-se esperar que estes freios que começam a aparecer no varejo venham a ficar ainda mais resistentes no futuro.
Na comparação com a situação de um ano atrás, contudo, o desempenho segue favorável, com ganho de robustez na maioria dos casos. Os ramos com expansão de vendas em jan-mai/24 representam 72,7% do total e aqueles que assinalam resultados superiores ao de igual período de 2023 representam 63,6% do número total de ramos.
Em seu conceito restrito, as vendas do varejo cresceram +5,6% em jan-mai/24, isto é, 4 vezes mais do que em jan-mai/23 (+1,4%). Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças, material de construção e atacarejo, a alta foi de +4,8%, também superior ao desempenho de jan-mai/23 (+1,6%).
Três ramos se destacam por terem melhorado bastante seu quadro, com dois deles voltando a crescer em 2024. Outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento, progrediram de -13,5% em jan-mai/23 para +7,8% em jan-mai/24 e material de construção, de -3,8% para +1,6%, respectivamente.
Tecidos, vestuário e calçados, premidos pela concorrência externa por meio das plataformas digitais estrangeiras, não voltaram ao azul, mas saíram de uma queda de -9,6% em jan-mai/23 para -0,5% em jan-mai/24.
Entre aqueles que já cresciam no ano passado e que agora intensificaram sua expansão, chamam atenção veículos e autopeças (+2,8% em jan-mai/23 e +13,4% em jan-mai/24), artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria (+2,0% e +13,8%, respectivamente) e supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+2,5% e +6,6%).
No primeiro caso, vale lembrar a política mais agressiva dos bancos das montadoras na melhora das condições de financiamento da aquisição de veículos novos, ensejada pela redução da taxa básica de juros (Selic) que o Banco Central vinha promovendo até pouco tempo atrás.
Nos dois outros casos acima mencionados, por compreenderem bens de consumo não duráveis, a redução do desemprego e o aumento da renda real das famílias, inclusive com ajuda dos programas públicos de transferência de renda, têm ajudado em sua dinamização.
Serviços
Depois do fraco resultado em abr/24, o faturamento real do setor de serviços ficou estável em mai/24: 0%, já descontados os efeitos sazonais. A maior parte de seus ramos, contudo, teve perdas e os que cresceram nem sempre compensaram os resultados adversos anteriores.
Os três ramos no vermelho na série com ajuste azonal foram: informação e comunicação, com -1,1%, e transportes e outros serviços, ambos com variação de -1,6%. Em todos estes casos, porém, os resultados positivos ainda preponderam em 2024.
Os ramos em expansão, por sua vez, foram os serviços prestados às famílias, cujo resultado de +3,0% anulou a queda de -2,7% registrada em abr/24, e os serviços profissionais, administrativos e complementares, para quem a alta de +0,5% pouco compensou o declínio de -1,4% do mês anterior.
Deste modo, teve continuidade a tendência de convergência dos serviços em direção ao desempenho dos demais setores. É o que denota a variação do acumulado em 12 meses, que desacelerou de +11,7% em mai/22 para +6,4% em mai/23 e então para +1,3% em mai/24. Com este último resultado, os serviços encontram-se no mesmo ritmo da indústria geral (+1,3%), mas aquém do varejo (+3,7% em seu conceito ampliado).
Contrastando os resultados de jan-mai/23 e de jan-mai/24, os serviços também são os únicos a apresentar desaceleração (de +4,8% para +2%), enquanto indústria (de -0,3% para +2,5%) e varejo (de -0,3% para +3,7%) ganharam vigor. Vale notar, contudo, que o nível de faturamento real dos serviços é o que mais supera patamares pré-covid-19 (+12,7% ante fev/20) e por isso era de se esperar alguma acomodação.
O principal fator desta acomodação em jan-mai/24 tem sido o ramo de transportes, seus auxiliares e correios, mais diretamente relacionado ao nível de atividade econômica, mas também mais vulnerável aos efeitos do desastre climático no Rio Grande do Sul, ainda que, como observado pelo IBGE, haja dificuldades na identificação de preços praticados e, consequentemente, na obtenção de informações precisas a respeito do faturamento real dos serviços no estado.
Entre seus segmentos, houve perda generalizada de dinamismo, mas isso se deu mais fortemente naqueles que já não vinham bem desde o começo do ano: transporte aéreo (-7,4% ante jan-mai/23) e armazenagem, auxiliares de transporte e correios (-5,1%). O transporte terrestre encolheu -0,8%.
Serviços de informação e comunicação, por sua vez, foram os que mais se mostraram resilientes: +5,4% em jan-mai/23 e +5,5% em jan-mai/24. Serviços prestados às famílias e os profissionais, administrativos e complementares desaceleraram em comparação com jan-mai/23, mas foi pouca coisa.
Por fim, o único ramo que ganhou vigor foi o de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades. Seu faturamento real, que havia variado +0,4% em jan-mai/23, cresceu +3,4% agora em jan-mai/24, devido aos serviços financeiros (-5,6% e +4,4%, respectivamente).