Carta IEDI
A evolução recente do comércio mundial e a posição do Brasil
Os relatórios mais recentes da OMC mostram que o comércio mundial perdeu dinamismo nos últimos anos, após os distúrbios provocados pela pandemia de Covid-19, em função de pressões inflacionárias e à elevação das taxas de juros, deprimindo a demanda em muitos países e moderando do crescimento do PIB global.
As tensões geopolíticas e a adoção de medidas protecionistas também são obstáculos para que o comércio internacional volte a ganhar mais vigor. Embora o quadro ainda não seja conclusivo, há sinais de fragmentação das relações comerciais de bens e serviços, envolvendo sobretudo EUA e China.
Esta Carta IEDI, com base no estudo realizado pela professora da UFRJ Marília Bassetti a partir dos dados da OMC, analisa a evolução recente do comércio mundial, com ênfase nos bens manufaturados, identificando a evolução do Brasil no ranking dos maiores exportadores e importadores do mundo.
O volume do comércio de mercadorias cresceu cerca de +3% em 2022, o equivalente a menos de 1/3 do resultado de 2021, e em 2023 recuou -1,2%, segundo o último Global Trade Outlook. O comércio de serviços, que até 2022 não havia superado a pandemia, segue crescendo mais intensamente, mas desacelerou de +15% em 2022 para +9% em 2023.
As expectativas da OMC apontam para uma retomada do comércio exterior de mercadorias no ano corrente e no próximo: +2,6% em 2024 e +3,3% em 2025, em volume. Apesar disso, o comércio não deve crescer muito à frente do PIB global, restringindo estratégias nacionais de crescimento econômico alicerçadas em exportações.
Este tem sido o padrão desde a crise global de 2008/2009, que interrompeu um longo período de forte dinamismo das trocas internacionais. A OMC destaca que, em 1990-2000, o crescimento do comércio era 2,3 vezes mais intenso do que o do PIB global, caindo para 1,5 vez entre 2001-2008. Esta relação foi de apenas 0,9 em 2011-2023.
A desaceleração ocorrida nas exportações mundiais de mercadorias na passagem de 2021 (+8,6%) para 2022 (+2,3%) foi sentida em quase todas as regiões do mundo, mas em maior medida na Ásia (de +13,1% para +0,4%). O Brasil fugiu à tendência geral e registrou +4,7%, ficando acima do ritmo mundial e de sua média 2010-2022 (+2,8%).
Em 2023, quando as exportações totais de bens do mundo recuaram -0,6%, os piores resultados ocorreram na Europa (-2,6%) e na Comunidade dos Estados Independentes (-6,2%), com o prolongamento da guerra na Ucrânia e desdobramentos inflacionários. O Brasil mais uma vez caminhou em direção oposta e registrou +8,8%, com a contribuição da supersafra de grãos e do ramo de petróleo e biocombustíveis.
Ademais, como pontua a OMC, variações de preços de commodities não totalmente consideradas na deflação dos dados podem ter influenciado os resultados agregados e, consequentemente, favorecido o Brasil.
Deste modo, a participação do Brasil nas exportações totais de bens do mundo se ampliou tanto em 2022 como em 2023, passando de 1,26% em 2021 para 1,34% e então para 1,43%, a maior fração desde 1955 (1,51%).
Em 2022, isso não foi suficiente para mantermos nossa posição no ranking global e caímos da 25ª para a 26ª posição, superados pela Malásia. Em 2023, contudo, voltamos a ascender e ocupamos o 24º lugar, nossa melhor posição dos últimos dez anos (em 2013 estávamos em 22º).
O ranking dos maiores exportadores de bens do mundo é liderado, de forma bastante estável ao longo dos últimos anos, pela China, em 1ª posição, com 14,2% do total, seguida pelos EUA, com 8,5%, e pela Alemanha, com 7,1% dos embarques mundiais.
Cabe notar que desde os anos 2000 a China vem acentuadamente ganhando participação, chegando em 2021 a praticamente responder (14,9%) pela mesma parcela de EUA e Alemanha somados (15,2%). Desde então, a diferença tem se aumentado em detrimento da China (0,8 p.p. em 2022 e 1,4 p.p. em 2023), mas é cedo para concluir uma reversão da tendência construída até agora pelos chineses.
No caso apenas dos produtos manufaturados, os dados mais recentes da OMC referem-se a 2022, por isso o ranking dos maiores exportadores destes bens pôde ser atualizado somente até este ano. Aqui também a liderança é ocupada pela China (1º), Alemanha (2º) e EUA (3º), mas a preponderância chinesa é inconteste.
A participação da China nas exportações mundiais de manufaturados tem sido repetidamente superior ao somatório de EUA e Alemanha desde 2019, com uma vantagem cada vez maior. Em 2022, a China sozinha respondeu por 21,2% do total vis-à-vis 16,5% da soma das duas posições seguintes. Mesmo incluindo a participação do Japão (4,1%), que ocupa o 4º lugar, a parcela chinesa segue sendo superior.
Quanto à posição do Brasil, demos sequência ao movimento de ampliação de nossa participação verificada já em 2021, mas mantivemos inalterada nossa colocação no ranking de exportações de manufaturados. Em 2021 e em 2022 ficamos em 34º lugar, ainda que nossa participação tenha passado de 0,47% para 0,54% do total.
Com isso retomamos o quadro pré-pandemia, já que em 2018-2019 também ocupávamos a 34ª colocação, com uma participação próxima à de 2024 (0,57% e 0,52%, respectivamente). De todo modo, vale lembrar que em 2010 éramos o 28º maior exportador de manufaturados e tínhamos uma participação de 0,71% do total – por certo pequena frente ao tamanho de nossa indústria, mas bem acima da fração atual.
Desde 2010, duas assimetrias vêm se ampliando no caso do Brasil. A primeira delas é o aumento da distância de nossa posição nas exportações totais de mercadorias e nas exportações de manufaturados, refletindo a concentração de nossa pauta em bens primários.
Em 2010, éramos o 22º maior exportador de mercadorias e o 28º maior de manufaturados (diferença de 6 posições) e nossa participação no primeiro caso não chegava a ser o dobro da nossa participação em manufaturados. Em 2022, no ranking de bens exportados o Brasil estava 8 posições acima de sua colocação em manufaturas, com uma participação no total mundial 2,5 vezes do que neste último caso.
A segunda assimetria diz respeito ao distanciamento de nossas posições enquanto exportador e importador de manufaturas, refletindo o reiterado déficit da balança destes bens. Em 2010, o Brasil ocupava a 28º posição no ranking de exportadores e a 22ª no ranking de maiores importadores de manufaturados, ou seja, 7 posições de diferença. Em 2022, éramos o 34º e o 22º, respectivamente, o que amplia a diferença para 12 posições.
Nossa participação nas importações de manufaturados era 1,8 vez a nossa participação nas exportações destes bens, em 2010. Em 2022, esta relação subiu para 2,35 vezes. Ou seja, nosso retrocesso no comércio global se dá bem mais do lado das exportações do que do lado das importações de produtos manufaturados.
A OMC também identifica separadamente alguns ramos da indústria manufatureira, permitindo algum detalhamento da evolução do comércio exterior destes bens. Destaca-se a diferença da pauta exportadora do Brasil vis-à-vis o agregado mundial. O único ramo com uma participação maior em nossa pauta do que na pauta mundial é o de ferro e aço: 5,2% ante 2,5%.
Todos os demais ramos da indústria manufatureira estão sub-representados em nossa pauta. Equipamentos de escritório e comunicação é uma das maiores divergências. No nosso caso representam apenas 0,3% das exportações totais de bens e no agregado mundial 10,3%. Máquinas e equipamentos também chamam atenção: 9,6% na pauta brasileira e 30,8% na pauta mundial.
Evolução do comércio mundial em 2022-2023
A última edição do relatório World Trade Statistical Review da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre comércio mundial apresenta a evolução detalhada dos padrões do comércio mundial até o ano de 2022, com considerações sobre o comércio em 2023. Já o relatório Global Trade Outlook, mais resumido do que o anterior e divulgado em abr/24, estima o desempenho de 2023 como um todo e projeta os resultados para 2024-2025. Ambos os relatórios são analisados nesta Carta IEDI.
Em 2022, o comércio de bens e serviços ascendeu a US$ 31 trilhões de dólares, segundo o World Trade Statistical Review, o que significou um aumento de 13% em termos anuais. Vale observar que, embora o comércio de mercadorias tenha excedido os níveis pré-pandemia já em 2021, o comércio global de serviços recuperou-se apenas em 2022, com um aumento de 15% em comparação ao ano anterior.
Em termos de volume, isto é, desconsideradas as mudanças de preços, o comércio mundial de mercadorias registou um aumento de 2,7% em 2022, ainda de acordo com o World Trade Statistical Review 2023. O relatório da OMC destaca que o valor em volume foi bastante inferior ao crescimento em termos de valor monetário, refletindo o efeito dos preços internacionais elevados das matérias-primas.
A atualização dos dados globais de comércio exterior realizada pelo Global Trade Outlook de abril de 2024 mostra desaceleração do comércio de serviços em 2023, para 9%, e um declínio de -1,2% do volume de comércio exterior de mercadorias. Neste último caso, a projeção da OMC para 2024 e 2025 é de alta, de 2,6% e 3,3%, respectivamente.
Cabe ainda observar que a OMC estima, na atualização de cenário de abril de 2024, que o resultado do volume do comércio mundial de mercadorias em 2022 pode ter chegado a 3,0% em 2022, isto é, um pouco acima do apontado em seu relatório anual mais completo divulgado anteriormente.
A OMC chama atenção para o fato de que o comércio internacional de mercadorias tem reagido cada vez menos às flutuações do PIB mundial. Nos anos 1990, o comércio internacional crescia a um ritmo duas vezes mais intenso do que o PIB global, implicando para muitos países uma estratégia de dinamização econômica. Nos anos 2000, esta relação caiu para de 1,5 vez e a partir da crise global de 2008/2009 declinou ainda mais, para cerca de 0,9. A variabilidade desta relação tornou-se mais acentuada nos últimos anos devido a choques como os da Covid-19 e guerras comerciais.
Trajetória do comércio internacional de mercadorias por regiões
O crescimento do comércio de mercadorias abrandou na maioria das regiões desde o início da guerra na Ucrânia e o impacto da pandemia de COVID-19 revelou-se duradouro, segundo a OMC.
As exportações mundiais em volume cresceram 2,3% e as importações 3,7%, em 2022, segundo o relatório de abril de 2024 da OMC, o que significa uma queda abrupta comparado ao crescimento das exportações (8,6%) e importações (10,5%) no ano de 2021, ano cujo resultado contou com bases deprimidas pela pandemia em 2020.
Tal arrefecimento das exportações e das importações foi sentido em quase todas as regiões do mundo, mas em maior medida na Ásia, que havia registrado, em 2021, 13,1% de crescimento das exportações, em volume, e 10,5% das importações, e registrou, em 2022, apenas 0,4% de crescimento das exportações e -0,7% das importações. Em 2022, comparando as regiões, o Oriente Médio (6,6%) registrou o maior crescimento das exportações em volume, seguido da América do Norte (3,8%).
O Brasil registrou uma taxa de crescimento das exportações em volume de 4,7%, isto é, consideravelmente maior do que a taxa mundial e o resultado da América do Sul, Central e Caribe (2,9%). Tal marca brasileira foi superior à de 2021 (3,7%) e à média do país entre 2010 e 2022 (2,8%).
Já as importações brasileiras apresentaram uma das maiores desacelerações em volume dentre os países destacados pela OCDE, em 2022, alcançando a marca de 1,8%, enquanto o crescimento das importações era de 24,7% em 2021.
Em 2023, tanto as exportações como as importações mundiais perderam ainda mais dinamismo, passando a registrar um desempenho negativo: -0,6% no primeiro caso e -1,8% no segundo caso. Isso se deve, como pontua a OMC, às condições macroeconômicas vigentes no ano passado: pressões inflacionárias e aumento das taxas de juros por muitos Bancos Centrais, restringindo salários reais e piorando as condições de crédito ao consumo. Esta conjuntura pesou mais sobre o comércio de bens, notadamente o de manufaturas.
Foi na Europa que o volume de importações mais se contraiu em 2023: -4,7% frente a 2022, sob a influência do enfraquecimento de sua demanda. Na América do Norte (-2,0%), contudo, também houve retração, sobretudo, devido à queda de -2,9% das importações dos EUA.
Variações de preços de commodities não totalmente consideradas na deflação dos dados também explicam os resultados de 2023 e a diferença expressiva de ritmo entre exportações e importações, segundo a OMC.
As expectativas da OMC de retomada do crescimento do comércio mundial em 2024, em função do processo de desinflação e de políticas monetárias menos restritivas, contam com projeções de aceleração das exportações da Ásia (de +0,1% em 2023 para +3,4% em 2024), da Europa (de -2,6% para +1,7%) e da América do Sul, Central e Caribe (de +1,9% para +2,6%). Também será importante a resiliência dos embarques da América do Norte.
Do lado das importações de mercadorias, praticamente todas as regiões devem deixar o terreno negativo de 2023 e voltar a registrar expansões. Duas são as exceções: o Oriente Médio e a Comunidade dos Estados Independentes, que tinham ampliado importações no ano passado e agora em 2024 devem perder dinamismo.
Ranking Mundial dos Maiores Exportadores e Importadores de Mercadorias
Para os fluxos de comércio de mercadorias como um todo, o banco de dados da OMC já apresenta as informações de 2023 para o conjunto de países, de modo que foi possível construirmos um ranking mundial para este ano.
Ao analisar o ranking dos principais exportadores de mercadorias em valor (US$), os cinco primeiros colocados permaneceram em suas posições no período 2021-2023, com destaque a China, em 1º lugar, cuja parcela das exportações mundiais de mercadorias vem se mantendo um pouco acima de 14% desde 2020.
Em seguida, temos os EUA, em 2º lugar, e a Alemanha, em 3º lugar, com posições bastante estáveis ao longo do tempo. Vale notar, contudo, que os EUA vêm aumentando sua participação desde a pandemia, passando de 7,9% em 2021 para 8,3% em 2022 e 8,5% do total em 2023, a mesma parcela de 2018. O mesmo não ocorre com a Alemanha, cuja participação em 2023 (7,1%) foi 0,9 p.p. inferior à de 2018 (8%).
Assim, a diferença da participação nas exportações globais de mercadorias da China em relação à soma do segundo e terceiro colocado do ranking segue muito menor do que era no início da década passada. Em 2010, China respondia por 10,3% do total ante 16,6% de EUA mais Alemanha e, em 2023, por 14,2% ante 15,6%.
Entre as 10 primeiras posições, cujas exportações representaram quase 50% do total de bens exportados, chama atenção a ascensão da Itália, passando de 8º lugar em 2021 para 7º em 2022 e 6º em 2023. A Coreia do Sul, que havia subido em 2022 (de 7º para 6º), regrediu em 2023 (8º).
No caso de Hong Kong, a queda ocorreu em 2022 (de 6º para 10º), ficando estável em 2023. O oposto foi registrado pela França, que havia preservado sua 9ª colocação entre 2021 e 2022, mas agalgou duas posições em 2023, ficando em 7º.
A Bélgica, que tinha melhorado de posição entre 2021 e 2022, passando a ocupar o 8º lugar, deixou o rol dos 10 maiores exportadores de mercadorias em 2023. Quem ascendeu passou a integrar este grupo foi o México, na 9º posição, depois de ter ficado em 13º em 2022.
Já no ranking dos principais importadores mundiais de mercadorias, EUA, China e Alemanha, nesta ordem, ocuparam as primeiras posições tanto em 2022 como em 2023. A diferença de participação no total importado foi mínima de um ano para outro: -0,1 p.p. para os EUA e para a Alemanha e estabilidade no caso chinês.
Em 2023, a participação da China foi de 10,6% do total de bens importados do mundo, enquanto EUA e Alemanha respondiam por 13,1% e 6,0%, respectivamente. Desde 2010, a parcela da China tem correspondido a metade da parcela somada de EUA e Alemanha, em uma trajetória estável que contrasta com a evolução no caso das exportações, como visto acima.
Entre os 10 maiores importadores de bens (cerca de 51% do total), houve um número maior de mudanças de posição do que no ranking das exportações. Chama atenção a queda sistemática do Japão, que passou de 4º em 2021 para 5º em 2022 e então para 7º em 2023. Também se destacam as melhoras no ranking do Reino Unido, de 8º para 6º e então para 5º neste período, e da Índia, de 10º para 9º e 8º lugar entre 2021 e 2023.
A Itália, que havia ficado em 10º em 2022, saiu do grupo dos dez maiores importadores de mercadorias no mundo e quem ascendeu foi Hong Kong, que estava em 11º e passou para a 9º posição.
Ranking Mundial dos Maiores Exportadores e Importadores de Manufaturados
Para o comércio de manufaturados, os dados por países para 2023 ainda não estão disponíveis na base da OMC. Por esta razão o ranking aqui analisado foi construído com informações de 2022, que serviram de base para o World Trade Statistical Review 2023.
Também para este conjunto de conjunto de bens, a China lidera ranking de exportadores e, neste caso, com larga vantagem. Sua parcela do total mundial foi de 21,7% em 2022. Em 2º lugar ficou a Alemanha, com 8,9%, e os EUA com 7,8% do total.
Cabe observar que em 2022, a participação chinesa nas exportações global de manufaturas é, sozinha, maior do que o somatório das participações de Alemanha e EUA (16,7%). Em 2010, a China detinha uma participação (14,8%) de apenas 1/3 a mais do que o segundo colocado do ranking, a Alemanha (10,8%). Em 2000, a diferença era ainda maior: a parcela chinesa (4,7%) era metade da parcela da Alemanha (10,3%) nas exportações de manufaturados mundiais.
Entre as 10 primeiras posições, o Japão tradicionalmente ocupa o 4º lugar, representando em 2022 uma parcela de 4,1% das exportações mundiais de manufaturados. Para o restante da lista, costuma haver mudanças de ano para ano.
De 2021 para 2022, subiram de posição Holanda (de 6º para 5º) e Coreia do Sul (de 7º para 6º). Hong Kong caiu duas posições, de 5º para 7º e Taiwan ou Taiwan, recuou uma posição, para a 11ª, saindo da lista dos dez maiores exportadores. Ascendeu a este grupo o México, que havia ficado em 12º em 2021 e em 2022 ocupou a 10ª posição. A França e a Itália mantiveram-se em seus postos: em 9º e 8º lugar, respectivamente.
Já o ranking de maiores importadores de bens manufaturados para 2022 é liderado pelos EUA (15,7%), seguido por China (8,9%) e Alemanha (6,5%). Em 4º lugar aparece Hong Kong, com 3,4% do total importado. Todos estes países ocupavam as mesmas posições em 2021.
Neste caso, a participação da China pouco se alterou em relação a 2010, quando representava 8,6% do total mundial. Na verdade, como mostra a tabela acima, somente os EUA registraram aumento importante de participação na importação de manufaturados, ganhando 2,5 pontos percentuais entre 2010 e 2022. Para a Alemanha, houve queda de 0,8 p.p. no período.
As principais alterações entre 2021 e 2022, considerado o grupo dos dez maiores importadores, compreenderam Holanda (de 6º para 5º) e Reino Unido (de 8º para 7º), que subiram uma posição, e principalmente o México, que saiu da 12ª posição para a 9º lugar.
Em sentido oposto, França (de 5º para 6º) e Japão (de 7º para 8º) caíram uma colocação, enquanto a Itália saiu da 9ª posição para a 11ª, isto é, deixando o grupo dos dez maiores. Em seu lugar, entrou neste rol de países o Canadá, que estava em 13º em 2021 e passou para 10º em 2010.
O Brasil nos rankings mundiais
O ano de 2022 foi favorável para o Brasil, especialmente diante de um cenário internacional marcado por forte desaceleração do crescimento do comércio mundial. Mais uma vez, a evolução dos preços internacionais de commodities foi fator importante para isso.
O Brasil, após descer uma posição no ranking de exportações de bens em 2022, passando da 25ª posição em 2021 para a 26ª, voltou a subir em 2023, ocupando a melhor posição desde 2013: 24º lugar.
Além disso, cabe notar que sua participação nas exportações mundiais de bens, de 1,43% em 2023, atingiu a maior fração desde 1955 (1,51%), apoiada no patamar de preços de commodities, supersafra de grãos e vendas externas de petróleo e derivados. Em 2022 sua participação havia sido de 1,3%.
Já as importações de bens pelo Brasil, após alcançarem a marca de US$ 292 bilhões em 2022, declinaram para US$ 253 bilhões em 2023, com o que nossa participação no total mundial recuou de 1,14% para 1,04%, mesma fração de 2021.
Desta forma, o Brasil voltou à 27ª posição no ranking de maiores economia importadoras de bens, a mesma de 2021. Em 2022 aparecia no 26º lugar, sua melhor marca desde 2016.
Ao considerar o ranking de exportações de manufaturados, os dados disponibilizados pela OMC cobrem o período até 2022, como mencionado anteriormente. O Brasil, neste caso, permaneceu na mesma posição entre 2021 e 2022, isto é, na 34ª colocação.
Nossa participação, contudo, aumentou neste período de 0,47% para 0,54% do total de manufaturas exportadas no mundo, superando pela primeira vez aquela de 2019 (0,52%), isto é, antes da pandemia de Covid-19.
A título de comparação, vale destacar que em 2010, o Brasil ocupava a 28ª posição do ranking de exportações de manufaturados, com uma parcela de 0,71% do total mundial. A crise de 2015-2016, que teve na indústria um de seus principais epicentros, inaugurou um período em que nossa participação oscilou em torno de 0,6% em 2014-2018. Os conflitos comerciais EUA-China e, posteriormente, a pandemia de Covid-19, por sua vez, reduziram nossa participação para algo em torno de 0,5% em 2019-2022.
Já no ranking das importações mundiais de bens manufaturados, o Brasil subiu três posições entre 2021 e 2022, passando a ocupar a 22ª colocação, com a participação de 1,26% nas importações mundiais de bens manufaturados.
Esta é ainda uma posição muito inferior se comparado à posição alcançada em 2013: 19ª colocação, com 1,4% de participação nas importações mundiais e está associada a um dinamismo menor da produção doméstica da indústria, reduzindo sua demanda externa por bens intermediários e de capital. Vale lembrar que já em 2014, a produção industrial deu sinal negativo, muito agravado em 2015-2016.
Deste modo, após a interrupção provocada pela pandemia em 2020, retomamos uma trajetória gradual de recomposição da participação brasileira na importação mundial de manufaturados e de sua ascensão neste ranking, que fora iniciada em 2017.
A partir da pauta de exportações de mercadorias do Brasil para o período recente, é possível identificar o perfil do país como provedor de bens agrícolas, combustíveis e minérios, reforçando sua suscetibilidade às variações de preços internacionais de commodities (inclusive energéticas), tal como vivenciado no período recente.
Em 2022, a parcela de manufaturas na pauta exportadora do Brasil foi de 25,2%, isto é, praticamente estável frente a 2021 (25,2%), mas com redução nada desprezível se comparada à participação de 2017 (saída da crise de 2015-2016), que foi de 34,6%.
O retrocesso dos produtos manufaturados em nossa pauta exportadora é antigo e tem início, nos dados da OMC, a partir de meados dos anos 1990. Embora tenha ensaiado alguma interrupção ao longo do tempo, a trajetória tem sido sistematicamente declinante.
Entre os setores identificados nas estatísticas da OMC, esse recuo de manufaturados entre 2017 e 2022 ocorreu de forma generalizada, sobretudo naqueles de maior intensidade tecnológica. Foram os casos de equipamentos de transporte (de 9,6% para 5,2%) e de produtos automotivos (de 6,9% para 3,7%). Importante exceção coube ao setor de ferro e aço, que manteve sua participação de 5,2%.
Outra observação diz respeito à diferença frente à pauta de exportação média mundial. A participação de manufaturados no mundo é mais do que o dobro da participação do Brasil: 63,1%, em 2022.
Em produtos de três setores industriais apresentamos as maiores defasagens: equipamentos de escritório e telecomunicações (0,3% ante 10,3% na média mundial), químicos (4,8% ante 12,3%) e equipamentos de transporte (5,2% ante 8,9%). Acima da média mundial apenas em ferro e aço (5,2% ante 2,5%).
Ao observar a pauta de importações de mercadorias do Brasil, as manufaturas representaram 73,2% do total importado em 2022, tendo sido 75,9% em 2021 e 74,5% em 2017. Neste grupo, os produtos químicos foram os únicos que apresentaram uma parcela crescente, de 23,6% em 2017 para 29% em 2022. Por sua vez, combustíveis e minérios também apresentaram um aumento na participação, de 21,8% em 2017 para quase 21% em 2022. Cabe lembrar o efeito preço positivo neste período.