Carta IEDI
Acomodação sem mudança de rota
O último trimestre do ano teve início com declínio da produção industrial, interrompendo uma sequência de dois meses consecutivos de expansão. Apesar disso, além de modesta, a queda foi restrita a poucos ramos, o que relativiza o significado deste sinal negativo.
Frente ao quadro de um ano atrás, a difusão de taxas positivas de crescimento é ainda maior e, vale notar, o ganho de vigor em relação ao resultado do 3º trim/24, ainda que pese um efeito calendário favorável.
Já corrigidos os efeitos sazonais, o resultado foi de -0,2% na passagem de set/24 para out/24, condicionado apenas pelo macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção registrou -0,7%, principalmente sob influência de biocombustíveis e derivados de petróleo (-2,0%), fumo (-1,8%) e bebidas (-1,1%).
Dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE, 19 conseguiram ampliar produção em out/24, ou seja, uma parcela de 76% do total, com destaque para vestuário (+14,1% com ajuste), veículos (+7,4%) e máquinas e aparelhos elétricos (+5,4%), que figuraram entre as maiores taxas de crescimento no mês.
Entre os quatro macrossetores, três avançaram em out/24 e aqueles com mercados mais sensíveis às condições de crédito e juros continuaram ocupando as posições de liderança: +4,4% em bens de consumo duráveis e +1,6% em bens de capital, já corrigidos os efeitos sazonais.
Para estes mesmos macrossetores, os resultados já conhecidos também apontam para um ganho de vigor expressivo na segunda metade do ano em comparação à situação de um ano atrás: +2,6% no 1º sem/24 e +4,4% em jul-out/24.
Esta aceleração se apresenta também no dado mais recente. A produção do agregado da indústria, que havia crescido +3,9% no 3º trim/24 registrou +5,8% em out/24 ante out/23. E todos os macrossetores progrediram na mesma direção, sobretudo bens intermediários (de +2,9% para +5,0%) e bens de consumo semi e não duráveis (de +2,7% para +4,2%). Bens de capital e bens de consumo duráveis, entretanto, seguiram na frente.
Tanto bens de capital (+12,8%) como bens de consumo duráveis (+17,2%) estão crescendo a taxas de dois dígitos no acumulado jul-out/24, condicionando a aceleração que a indústria geral registrou no período. Em out/24, ganharam mais velocidade: +15,3% e +19,6% ante out/23, respectivamente.
No primeiro caso, chamam atenção os segmentos de bens de capital para a indústria, com expansão de +11,0%, de uso misto, com +27%, e para transporte, cuja produção acumula alta de +29,6% em jul-out/24 ante jul-out/23.
No segundo caso, a produção de automóveis é que se destaca, não por apresentar o maior ritmo de crescimento, mas por ter tido a maior reviravolta recente, saindo de uma queda de -3,6% no 1º sem/24 para uma alta de +15,6% em jul-out/24. Outros avanços expressivos marcam a produção de eletrodomésticos (+21,4%) e mobiliário (+15,8%).
Bens intermediários, que representam o núcleo duro do sistema industrial, vêm igualmente apresentando melhora de resultados, acumulando +3,5% em jul-out/24 ante +2,0% no 1º sem/24. Intermediários para a automobilística, produtos siderúrgicos e insumos para a construção civil estão entre os itens que mais progrediram até o momento nesta segunda metade do ano.
Bens de consumo semi e não duráveis, que vêm crescendo há mais tempo, não ganharam vigor, mas também não apresentaram muita desaceleração. Sua produção registrou +3,1% em jul-out/24 ante +3,6% na primeira metade de 2024. Os segmentos de combustíveis, laticínios e abate de reses estão entre os que cresceram menos no acumulado do segundo semestre até out/24.
Para nov/24, há alguns sinais de curto prazo na direção de uma acomodação. É o caso da evolução recente dos estoques, que cresceram em out/24 chegando a ser considerados acima do planejado para uma parcela maior de ramos, ainda que minoritária. Quanto à avaliação dos empresários industriais em nov/24, o indicador da CNI permaneceu na região de pessimismo e o da FGV declinou, assim como o PMI Manufacturing.
Resultados da Indústria
Na passagem entre set/24 e out/24, a produção industrial brasileira decresceu -0,2% na série com ajuste sazonal, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo IBGE. Este resultado ocorreu após uma sequência de dois meses de expansão (+0,2% em ago/24 e +1,0% em set/24). Entretanto, cabe destacar que, além de pequena, a variação negativa foi localizada em poucos ramos.
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria cresceu +5,8% em out/24, assinalando o quinto resultado positivo consecutivo. Cabe citar que out/24 (23 dias) teve 2 dias úteis a mais do que igual mês do ano anterior (21).
Com isso, o setor industrial apontou crescimento de +3,4% no período jan-out/24 em relação ao mesmo período de 2023. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, ao avançar +3,0% em out/24, permaneceu mostrando taxa positiva e intensificou o ritmo de expansão frente aos resultados dos meses anteriores.
Com esses resultados, a produção industrial se encontra 2,6% acima do patamar pré-pandemia (fev/20); porém -14,4% aquém do nível recorde alcançado em mai/11.
O recuo de -0,2% da atividade industrial como um todo na passagem de set/24 para out/24, na série com ajuste sazonal, decorreu de quedas pontuais, sendo condicionado apenas pelo macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção registrou -0,7%.
O segmento produtor de bens de consumo duráveis (+4,4%) assinalou a taxa positiva mais elevada na comparação entre out/24 e set/24, interrompendo dois meses consecutivos de queda na produção (período em que acumulou perda de -4,8%).
Os macrossetores produtores de bens de capital (+1,6%) e de bens intermediários (+0,4%) também mostraram resultados positivos, com o primeiro avançando +6,0% em dois meses consecutivos de crescimento na produção; e o segundo marcando o terceiro mês seguido de alta, período em que acumulou ganho de +1,9%.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +5,8% da indústria total em out/24 foi puxado por todos os quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+19,6%) e bens de capital (+15,3%) assinalaram expansão de dois dígitos, enquanto bens intermediários (+5,0%) e bens de consumo semi e não duráveis (+4,2%) também mostraram resultados positivos nesse mês, mas ambos com avanços de menor magnitude que a média da indústria (+5,8%).
O setor produtor de bens de consumo duráveis avançou +19,6% em out/24 frente a out/23, marcando a quinta taxa positiva consecutiva. O setor foi impulsionado pelas expansões na fabricação de automóveis (+23,2%), eletrodomésticos da “linha branca” (+32,8%), motocicletas (+15,2%), outros eletrodomésticos (+34,8%) e móveis (+14,7%). Por outro lado, o principal impacto negativo foi assinalado por eletrodomésticos da “linha marrom” (-13,4%).
O macrossetor de bens de capital teve expansão de +15,3% na comparação interanual, marcando o sétimo mês consecutivo de crescimento na produção. A categoria foi influenciada pelo avanço observado nos grupamentos de bens de capital para equipamentos de transporte (+37,0%), bens de capital para fins industriais (+13,6%), de uso misto (+40,8%), para energia elétrica (+5,1%) e para construção (+6,4%). Por outro lado, o subsetor de bens de capital agrícolas (-13,5%) mostrou a única taxa negativa no índice mensal.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção dos bens intermediários avançou +5,0%, quinta taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação e a mais elevada desde fev/24 (+5,9%). O resultado desse mês deveu-se ao desempenho dos produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+33,0%), produtos químicos (+8,7%), metalurgia (+8,5%), produtos de minerais não metálicos (+9,4%) e produtos alimentícios (+5,2%), entre outros.
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, expandiu +4,2% em out/24 frente a out/23. Esse resultado foi explicado principalmente pelos avanços semiduráveis (+13,7%), não duráveis (+5,3%), de carburantes (+3,9%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+0,9%). Por outro lado, o grupamento de alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (-16,9%) assinalou o único impacto negativo nesse mês, pressionado pela menor produção de filés e outras carnes de peixes frescos, refrigerados ou congelados e de peixes congelados.
No índice acumulado de jan-out/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,4%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores. O perfil dos resultados para os primeiros dez meses de 2024 mostrou maior dinamismo na produção de consumo duráveis (+9,8%) e de bens de capital (+8,3%), impulsionados por eletrodomésticos (+21,8%) e automóveis (+4,5%), no primeiro caso; e de bens de capital para equipamentos de transporte (+18,4%), para fins industriais (+7,0%) e de uso misto (+19,8%), no segundo caso. Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+3,4%) e de bens intermediários (+2,6%) também apontaram resultados positivos no índice acumulado do ano.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou variação negativa (-0,2%) em out/24 frente a set/24, na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em out/24 a indústria extrativa foi a responsável por esse resultado negativo ao recuar -0,2% nesta comparação, enquanto a indústria de transformação variou +0,1%.
Na comparação com out/23, a expansão de +5,8% da indústria geral foi puxada pela indústria de transformação, que cresceu +7,2% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo apontou queda de -2,0% na mesma comparação.
Na passagem de set/24 para out/24, verificou-se predomínio de taxas positivas, uma vez que 19 das 25 atividades industriais pesquisadas apontaram expansão na produção. As influências positivas mais importantes na indústria de transformação foram assinaladas pelos setores produtores de veículos automotores, reboques e carrocerias (+7,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (+14,1%), produtos químicos (+2,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+5,4%), celulose, papel e produtos de papel (+3,4%), entre outros.
Por outro lado, entre as atividades que apontaram queda na produção, a influência negativa mais importante foi assinalada por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que recuou -2,0% na comparação out/24 e set/24, seguida pela produção de bebidas (-1,1%).
Na comparação com out/23, quando o setor industrial assinalou acréscimo de +5,8% em out/24, resultados positivos marcaram 21 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE, 66 dos 80 grupos e 67,7% dos 789 produtos pesquisados.
As principais influências positivas no total da indústria de transformação foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+29,9%), produtos químicos (+7,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+20,2%), metalurgia (+8,5%), produtos alimentícios (+2,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (+17,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+19,3%), e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,9%), entre outros.
Por outro lado, ainda na comparação com out/24, entre as atividades que apontaram redução na produção, bebidas (-4,0%), impressão e reprodução de gravações (-0,4%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria de transformação, segundo o IBGE.
No índice acumulado para jan-out/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,4%, com resultados positivos em 21 dos 25 ramos, 59 dos 80 grupos e 62,5% dos 789 produtos pesquisados.
Na indústria de transformação, as principais influências positivas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+12,1%), produtos alimentícios (+2,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+12,1%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+12,2%).
Por outro lado, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,6%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor produção de medicamentos.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou negativamente -0,8 ponto percentual na passagem de set/24 (83,4%) para out/24, quando registrou valor de 82,6%.
Dessa forma, em out/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 6,4 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 3,0 pontos acima da média histórica (79,6%). Em nov/24, a utilização da capacidade instalada recuou novamente, atingindo 81,6%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação também recuou na passagem de set/24 e out/24, indo de 79,7% para 79,4% na série com ajuste sazonal. Na comparação com out/23, por sua vez, esse indicador ficou praticamente estável, crescendo apenas +0,1 p.p..
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,6 pontos em out/24, avançando 1,4 ponto frente a set/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 49,4 pontos em set/24 para 50,5 pontos em out/24. A indústria extrativa assinalou avanço mais expressivo nos níveis dos estoques, visto que foi de 45,0 pontos em set/24 para 54,3 pontos em out/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 49,0 pontos em out/24, sinalizando que os estoques estão abaixo do esperado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 56,5 pontos e 48,8 pontos, respectivamente.
Em out/24, 24% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 20% do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em out/24 destacaram-se: couros (56,9 pontos), manutenção e reparação (56,3 pontos), farmacêuticos (55,4 pontos), celulose e papel (53,3 pontos), máquinas e equipamentos (51,4 pontos) e têxteis (50,5 pontos). Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: borracha (37,5 pontos), limpeza e perfumaria (41,3 pontos), madeira (42,7 pontos), e produtos diversos (44,0 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 52,9 pontos em nov/24, ficando estável frente a out/24. Na passagem de out/24 para nov/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 55,2 para 55,0 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios, por sua vez, cresceu +0,6 p.p., porém manteve-se na região pessimista (48,8 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, recuou 1,3 p.p na passagem de out/24 para nov/24, registrando 98,6 pontos, ficando na região de pessimismo pela segunda vez consecutiva, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de nov/24 foi influenciado tanto pela queda do seu componente referente às avaliações da situação atual, que passou de 102,9 pontos em out/24 para 101,7 pontos em nov/24, quanto pelo índice de expectativas, que foi de 96,8 pontos em out/24 para 95,4 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em out/24 ficou em 52,9 pontos, recuando para 52,3 pontos em nov/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)