Carta IEDI
Começo de semestre fraco para a indústria
O segundo semestre, para a indústria, começou reproduzindo o mesmo padrão que vínhamos observando tanto na produção física como em seu PIB: desaceleração e predominância de variações negativas. Na origem disso, estão sobretudo as altas consecutivas das taxas de juros.
Em jul/25, a produção da indústria geral registrou -0,2%, depois de ter variado apenas +0,2% no 1º trim/25 e ficado estável no 2º trim/25 (0%), sempre em relação ao período anterior, já descontados os efeitos sazonais. Dos sete meses com dados oficiais do IBGE houve expansão somente em mar/25 (+1,7%) todos os demais meses oscilaram em torno de zero.
No segmento da indústria de transformação, a situação é ainda mais anêmica: 0% no 1º trim/25, -0,9% no 2º trim/25 e -0,1% em jul/25, ainda na série com ajuste sazonal. Vale lembrar que os dados do PIB mostraram recuo de -1,0% e -0,5% nos dois primeiros trimestres do ano para o valor adicionado desta parcela da indústria, onde estão incluídos muitos ramos produtores de bens cujos mercados dependem das condições de juros e crédito para se dinamizarem.
Em contraste, a indústria extrativa tem se expandido em 2025 e evitado uma desaceleração ainda mais acentuada da indústria como um todo. Sua produção física cresceu +1,3% no 1º trim/25 e +5,0% no 2º trim/25 e então +0,8% agora em jul/25, já descontados os efeitos sazonais. Nos dados do PIB, também foi a atividade econômica que mais cresceu no 2º trim/25: +5,4% ante o trimestre anterior. Este impulso tem vindo da extração de petróleo, gás e ferro.
Em jul/25 apenas, o IBGE mostra que o declínio da produção geral da indústria foi acompanhado por cerca de metade do setor na série com ajuste sazonal. Os dois macrossetores no vermelho são justamente aqueles mais sensíveis ao nível de juros: -0,5% em bens de consumo duráveis e -0,2% em bens de capital.
Entre os 25 ramos identificados na pesquisa, 13 perderam produção em jul/25, ou seja, 52% do total. Algumas das quedas mais intensas compreendem outros equipamentos de transporte (-5,3%), material de reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,7%) e metalurgia (-3,5%).
Na comparação com o ano passado, praticamente não houve crescimento. Para a indústria geral, a variação foi de +0,2% e três dos seus quatro macrossetores caíram: -0,1% em bens de capital, -3,4% em bens de consumo duráveis e -4,1% em bens de consumo semi e não duráveis.
A comparação dos resultados para o acumulado jan-jul do presente ano com o do ano passado ilustra bem a perda de dinamismo industrial. A alta de +3,2% dos primeiros sete meses de 2024 caiu para 1/3: +1,1% em jan-jul/25. Para a indústria de transformação, a involução foi ainda mais acentuada, passando de +3,4% para +0,7%, respectivamente.
Nos macrossetores, a produção de bens de capital foi quem mais perdeu ímpeto, saindo de +6,9% em jan-jul/24 para apenas +0,9% em jan-jul/25. Bens de consumo semi e não duráveis foram os únicos a ficarem no vermelho no acumulado dos sete meses do presente ano: -2,6% ante +3,9% em jan-jul/24.
Bens de consumo duráveis também desaceleraram, mas bem menos do que os demais, ao passar de +8,0% para +6,4% no período em tela, e bens intermediários foram os que asseguraram alguma resiliência para a indústria geral, ao praticamente repetirem seu resultado: +2,3% em jan-jul/24 e +2,2% em jan-jul/25.
Resultados da Indústria
A produção industrial brasileira apresentou variação negativa de -0,2% no mês de jul/25, frente ao resultado de jun/25 na série com ajuste sazonal, de acordo com a última divulgação do IBGE. Dessa forma, a indústria permanece com comportamento predominantemente negativo desde abr/25, acumulando perda de -1,5% neste período.
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com jul/24, o total da indústria cresceu +0,2%, após recuar -1,3% em jun/25. Cabe destacar que não houve influência de efeito calendário, já que jul/25 teve o mesmo número de dias úteis de jul/24 (23).
No acumulado dos primeiros sete meses de 2025, o índice da produção da indústria apontou crescimento de +1,1% em relação a jan-jul/24. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, avançou +1,9% em jul/25, assinalando perda de ritmo frente ao resultado do mês anterior (+2,4%).
A variação de -0,2% da atividade industrial na passagem de jun/25 para jul/25 na série com ajuste sazonal foi impulsionado pelos resultados negativos em dois dos quatro macrossetores: bens de consumo duráveis (-0,5%) e bens de capital (-0,2%), com ambos voltando a recuar após avanço de +0,2% no mês anterior. Por outro lado, os setores produtores de bens intermediários (+0,5%) e de bens de consumo semi e não duráveis (+0,1%) foram os resultados positivos neste mês.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +0,2% da indústria total em jul/25 foi puxado por apenas um dos quatro macrossetores: bens intermediários (+2,5%). Por outro lado, os macrossetores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (-4,1%), bens de consumo duráveis (-3,4%) e bens de capital (-0,1%) assinalaram as taxas negativas nesse mês.
Os bens intermediários tiveram expansão de +2,5%, quinta taxa positiva consecutiva. O resultado foi explicado, principalmente, pelos avanços nos produtos associados às atividades de indústrias extrativas (+6,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+6,0%), produtos têxteis (+13,3%), produtos alimentícios (+2,7%), produtos químicos (+2,8%), celulose, papel e produtos de papel (+5,0%), produtos de borracha e de material plástico (+2,0%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,6%), enquanto as pressões negativas foram registradas por produtos de metal (-5,8%), produtos de minerais não metálicos (-3,0%) e metalurgia (-1,1%).
O macrossetor produtor de bens de consumo semi e não duráveis recuou -4,1% em jul/25 frente a jul/24, quarto mês consecutivo de queda na produção. O desempenho foi explicado pelo recuo observado no grupamento de carburantes (-18,5%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-0,6%) e de semiduráveis (-1,4%). Por outro lado, os impactos positivos foram assinalados pelos subsetores de não duráveis (+2,5%) e de alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+9,3%).
O setor de bens de consumo duráveis decresceu -3,4% em jul/25 frente a igual período do ano anterior e interrompeu treze meses consecutivos de taxas positivas e marcou a perda mais elevada desde mai/24 (-10,5%). O macrossetor foi pressionado pela menor fabricação de eletrodomésticos da “linha marrom” (-12,0%), da “linha branca” (-12,4%), automóveis (-1,0%), motocicletas (-3,9%) e pelos grupamentos de outros eletrodomésticos (-0,5%) e de móveis (-0,8%).
Ainda na comparação com jul/24, os bens de capital recuaram -0,1%, influenciados pelos recuos observados nos grupamentos de bens de capital de uso misto (-9,2%) e para equipamentos de transporte (-1,7%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital agrícolas (+9,7%), para fins industriais (+2,8%), para construção (+9,3%) e para energia elétrica (+2,9%) assinalaram os impactos positivos do mês.
Dessa forma, a indústria avança +1,1% no acumulado dos primeiros sete meses de 2025, com resultados positivos em três das quatro grandes categorias econômicas. Os bens de consumo duráveis (+6,4%) mostraram maior dinamismo impulsionado pela maior produção de automóveis (+7,4%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+5,3%). Os setores produtores de bens intermediários (+2,2%) e de bens de capital (+0,9%) também assinalaram taxas positivas enquanto os bens de consumo semi e não duráveis recuaram -2,6%.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou variação negativa (-0,2%) em jul/25 frente a jun/25 na série livre dos efeitos sazonais. Neste mês, a indústria de transformação puxou o resultado para baixo, recuando -0,1% nesta comparação, enquanto a produção da indústria extrativa avançou +0,8%.
Na comparação com jul/24, o avanço de +0,2% da indústria geral foi puxada pela indústria extrativa, que cresceu +6,3%, enquanto a indústria de transformação apontou queda de -0,9%. No acumulado de 2025 até julho, o resultado de +1,1% na indústria geral, deveu-se tanto pelo desempenho da indústria de transformação (+0,7%), quanto pelo ramo extrativo (+3,7%).
No resultado frente a jun/25, com ajuste sazonal, 13 dos 25 ramos industriais pesquisados apresentaram queda. Entre as atividades, a influência negativa mais importante foi assinalada por metalurgia (-2,3%), seguida por outros equipamentos de transporte (-5,3%), impressão e reprodução de gravações (-11,3%), bebidas (-2,2%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,0%), produtos diversos (-3,5%) e produtos de borracha e de material plástico (-1,0%).
Por outro lado, entre as atividades que mostraram avanço na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+7,9%), produtos alimentícios (+1,1%) e produtos químicos (+1,8%).
Na comparação com mesmo mês de 2024, o setor industrial assinalou variação positiva de +0,2% em jul/25, com resultados positivos em 12 dos 25 ramos, 39 dos 80 grupos e 47,8% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências positivas na indústria de transformação foram registradas pelos setores produtores de produtos alimentícios (+2,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+12,0%), máquinas e equipamentos (+5,2%), produtos químicos (+1,9%), produtos têxteis (+9,9%), celulose, papel e produtos de papel (+3,8%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+8,7%).
Por outro lado, entre as atividades que tiveram redução na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,7%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, seguida por bebidas (-8,8%), impressão e reprodução de gravações (-29,1%), produtos de metal (-5,0%), produtos diversos (-12,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,6%) e produtos de minerais não metálicos (-3,0%).
No acumulado de jan-jul/25, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +1,1%, com aumento de produção em 16 dos 25 ramos, 46 dos 80 grupos e 53,5% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas na indústria de transformação foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,7%), máquinas e equipamentos (+7,9%), produtos químicos (+3,5%), metalurgia (+3,8%), produtos têxteis (+11,2%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+9,6%).
Por outro lado, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,8%) exerceu a maior influência, seguida pelos setores de impressão e reprodução de gravações (-12,6%), de bebidas (-2,6%) e de produtos alimentícios (-0,4%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou negativamente -1,4 ponto percentual na passagem de jun/25 (83,9%) para jul/25, quando registrou valor de 82,5%. Em ago/25, a capacidade instalada cresceu apenas +0,1 p.p., chegando a 82,6%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada recuou -0,4 p.p. entre junho e julho de 2025 (%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação entre jul/24 e jul/25, essa variável registrou decréscimo de -1,6 pontos percentuais.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,1 pontos em jul/25, crescendo +0,5 ponto frente a jun/25.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 49,7 pontos em jun/25 para 50,1 pontos em jul/25. A indústria extrativa assinalou nova alta nos níveis dos estoques, visto que foi de 48,3 pontos em jun/25 para 49,9 pontos em jul/25.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques cresceu de 49,7 pontos em jun/25 para 49,9 pontos em jul/25, sinalizando que os estoques estão menores que o desejado. Cabe lembrar que o nível de equilíbrio é de 50,0 pontos, visto que acima desse valor há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 55,9 pontos e 49,6 pontos, respectivamente.
Em jul/25, 40% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), enquanto no mês anterior foi de 28%. Entre os ramos acima de 50 pontos em jul/25 destacaram-se: Têxteis (56,6 pontos), calçados (55,3 pontos), couros (53,9 pontos), produtos de metal (52,0 pontos), impressão e reprodução (51,7 pontos) e celulose e papel (51,5 pontos).
Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: Máquinas e materiais elétricos e Manutenção e reparação (ambos com 41,7 pontos), Produtos diversos (42,0 pontos), Limpeza e Perfumaria (44,0 pontos) e Minerais não metálicos (45,8 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 46,6 pontos em ago/25, recuando 1,5 p.p. frente a jul/25. Na passagem de jul/25 para ago/25, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 50,3 para 48,2 pontos, e dessa forma, passou para a zona de pessimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios, por sua vez, decresceu -0,1 p.p., mantendo-se na região pessimista (42,2 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV caiu -4,4 p.p na passagem de jul/25 para ago/25, registrando 90,4 pontos, ficando ainda na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de ago/25 foi influenciado tanto pela queda do seu componente referente às avaliações do futuro, que passou de 92,5 pontos para 87,6 pontos em ago/25, quanto do índice da situação atual foi de 97,3 pontos para 93,4 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jul/25, ficou em 48,2 pontos, recuando para 47,7 pontos em ago/25, o quarto resultado consecutivo abaixo da marca de 50 pontos, indicando piora do quadro de negócios do setor.