Carta IEDI
A Posição Brasileira no Comércio Mundial de Manufaturas em 2012
Segundo a OMC em 2012 o Brasil manteve-se na mesma posição do ano passado (22o) no ranking dos maiores exportadores de mercadorias do mundo e caiu uma posição no ranking dos importadores, ficando também em 22o. Contudo, no ranking de exportações de bens manufaturados, o Brasil vem perdendo posições ano a ano e hoje é o 30o. Ao contrário, em termos de importações de manufaturados, o Brasil vem ascendendo no ranking e em 2012 ficou na 20a posição.
É claro o descompasso entre o tamanho da economia brasileira (é a 6ª. economia do mundo), o volume de investimento estrangeiro direto (IED) (4o no ranking internacional em 2012, segundo UNCTAD) e o resultado das exportações e das importações em comparação com os outros países. Além das questões da falta de competitividade externa e do país estar afastado das cadeias de valor globais, o que significa que o IED atraído é voltado para o mercado interno, ano a ano agrava-se o problema da competitividade da produção doméstica.
De acordo com a OMC, o ano de 2012 foi um dos piores para o comércio internacional nos últimos anos, com crescimento de apenas 2% em termos de volume e nulo em termos de valor. Nesse cenário adverso, tem sido cada vez mais importante atuar de forma estratégica para garantir ou abrir mercados e atuar nos segmentos com maior dinamismo. Na contramão dessa orientação, no pós-crise o Brasil tem tido um papel passivo do ponto de vista do comércio externo, enquanto exerce paralelamente o papel de mercado dinâmico para as exportações de outros países que souberam preservar condições de agressividade como exportadores.
Em termos de exportações, o Brasil vem ocupando praticamente a mesma posição desde 2005. Embora a parcela brasileira nas exportações mundiais tenha se elevado de 1,13% em 2005 para 1,4% em 2011, em 2012 caiu novamente para 1,3%. Isso porque teve uma considerável retração de 5% nas exportações em termos de valor.
Em termos de importações a importância do Brasil vinha crescendo cada vez mais, porém caiu um pouco em 2012, para 22º lugar. Em 2005 o Brasil ocupava o 28º lugar no ranking, passando para 21º em 2011. Se for desconsiderado o comércio entre os membros da União Europeia, a posição no ranking se eleva de 19º para 15º em 2011 e depois 16o em 2012. Assim, sua participação nas importações mundiais evoluiu de 0,7% para 1,3%.
Em termos do comércio internacional de manufaturas, desde 2008 o Brasil ocupa a posição de 30o maior exportador (se considerada a União Europeia), ou seja, oito posições abaixo de seu ranking total. Vale notar que já teve posições melhores do que esta. A redução da participação das manufaturas nas exportações brasileiras significou também uma queda na parcela do país nas exportações mundiais de 0,85% em 2005 para 0,71% em 2012.
Já a parcela do Brasil nas importações de manufaturas mundiais mais do que dobrou: de 0,61% para 1,36% de 2005 a 2012. E o país ano a ano continua ganhando posições no ranking dos maiores importadores mundiais desse setor, de 32º em 2005 para 20º (incluindo União Europeia).
Cenário do Comércio Internacional de Mercadorias. Após o ritmo de crescimento do comércio internacional diminuir para 5% em 2011 em virtude da crise financeira, de desastres naturais e conflitos civis, em 2012 caiu mais uma vez, para 2% (em volume), de acordo com o mais novo relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC). Desta vez a explicação fundamental é a lenta recuperação das economias desenvolvidas, especialmente a cautela dos empresários em relação à Zona do Euro. Ou seja, o ritmo de crescimento em volume das exportações diminuiu em 2011 e 2012, em contraposição aos 13,8% de 2010 referentes à recuperação dos níveis anteriores à crise (sendo de 6% a média dos tempos pré-crise, de 1990 a 2008). A variação das exportações em 2012 acompanhou a do PIB em valor (2,1%).
Em valor, as exportações cresceram apenas 0,2%, principalmente por causa da deterioração dos preços de alguns bens, notadamente commodities, dentre as quais o relatório da OMC sobre comércio internacional de 2013 destaca o café (-22%), algodão (-42%), minério de ferro (-23%) e carvão (-21%). Já o comércio de serviços em valor expandiu 2%.
O crescimento lento das exportações reflete uma deterioração no último trimestre de 2012, pois até então, as exportações das economias centrais se mostravam crescentes. Em termos de exportações, nesse grupo apenas o Japão registrava revezes ao longo do ano. Por sua vez, a variação das importações das economias centrais Europa e EUA já vinham com tendência negativa ao longo de 2012, as do Japão somente no último trimestre, e as da Ásia em desenvolvimento mantiveram trajetória ascendente do pós-crise de 2009.
Comparando as exportações em volume de países desenvolvidos e em desenvolvimento em 2012, as do primeiro grupo expandiram 1%, abaixo, portanto, da média mundial. Já o segundo grupo cresceu 3,3%. A África teve crescimento forte, 6,1%; América do Norte, 4,5% (sendo EUA 4,1%); Ásia, 2,8% (por causa do lento resultado de Japão, 1,0% e Índia 0,5%, enquanto a China cresceu 6,2%); América do Sul e Central, 1,4% e Europa, 0,6% (sendo que a União Europeia registrou aumento de apenas 0,3%).
Por sua vez, as variações das importações em volume tiveram um comportamento claro de maior magnitude do que as exportações nos países em desenvolvimento e menor nos desenvolvidos. Assim, na África as importações se elevaram 11,3%; Ásia, 3,7%; América do Norte, 3,1% (EUA 2,8%); América Central e do Sul, 1,8% e a Europa retraiu 1,9%.
Exportações e importações em valor tiveram crescimento na América do Sul e Central de, respectivamente, nulo e 3%. As exportações da Europa caíram 4% e as importações 6%. Na América do Norte, exportações se elevaram 4% e as importações 3%. Na África, 5% de crescimento das exportações e 8% importações, e na Ásia 2% e 4%, respectivamente.
Em termos de setores de mercadorias, o gráfico abaixo evidencia que todos eles apresentam tendência negativa de crescimento, alguns desde o início de 2010 sem interrupção, como automóveis e equipamentos de telecomunicações, outros mais claramente desde 2011 como máquinas e equipamentos. O maior declínio ocorreu no segmento de aço e ferro, de comportamento pró-cíclico, apesar de ter tido uma recuperação no primeiro trimestre de 2011. Vale observar que no último trimestre de 2012 todos os setores esboçaram uma pequena recuperação.
Houve poucas mudanças no ranking dos maiores exportadores e importadores de mercadorias (incluindo comércio intra-europeu). Os maiores exportadores permaneceram sendo China, EUA, Alemanha, Japão e Holanda. E os maiores importadores, EUA, China, Alemanha, Japão e Reino Unido (que tomou a posição da França, em 2011). O Brasil permaneceu na posição de 22o maior exportador de mercadorias, e caiu uma posição no ranking de importação, ficando também em 22o em 2012. Entre as modificações mais importantes de 2011 para 2012, a ascensão da Rússia e de Hong Kong no ranking das exportações e da Índia e México no das importações. Em ambos, as quedas mais importantes foram de Bélgica e Espanha.
De acordo com os dados do FMI, que fornece informações sobre o comércio internacional até junho de 2013, no primeiro semestre deste ano as exportações em dólares aumentaram 1% em relação ao mesmo período do ano passado. Por um lado, as exportações das economias avançadas se reduziram 0,5% e dos países emergentes e em desenvolvimento cresceram 4,6%, puxadas pela Ásia. Os países do Hemisfério oeste em conjunto, o que inclui Américas, tiveram aumento de apenas 0,8% das exportações de mercadorias.
Em termos de importações de mercadorias em valor, no primeiro semestre de 2013 houve uma queda de 0,3% em relação a janeiro-junho de 2012, puxada pela significativa redução nas importações das economias avançadas, de 2,4%. As importações dos países em desenvolvimento e emergentes crescem a 3%.
A Inserção do Brasil no Comércio Internacional. Como já foi observado, em 2012 o Brasil ficou em 22º lugar no ranking dos maiores exportadores e importadores internacionais. Quando desconsiderado o comércio dentro da União Europeia, o Brasil sobe para 16º em ambos os rankings. Em termos de exportações, o Brasil vem ocupando praticamente a mesma posição desde 2005. Embora a parcela brasileira nas exportações mundiais tenha se elevado de 1,13% em 2005 para 1,4% em 2011 por causa do menor ritmo de expansão mundiais, em 2012 caiu novamente para 1,3%. Isso porque teve uma considerável retração de 5% nas exportações em termos de valor - da ordem da redução de países desenvolvidos como Alemanha, Espanha e Austrália.
Dentre os países em desenvolvimento que estão incluídos no grupo dos 30 maiores exportadores do mundo, os crescimentos das exportações mais expressivos em 2012 em relação ao ano anterior foram China, México, Arábia Saudita e Tailândia. Outros que, como o Brasil, assinalaram redução no valor das exportações no ano foram Indonésia, Índia e Polônia.
Em termos de importações a importância do Brasil vinha crescendo cada vez mais, porém caiu um pouco em 2012. Em 2005 o Brasil ocupava o 28º lugar no ranking, passou para 21º em 2011 e daí para 22º em 2013. Se desconsiderado o comércio entre os membros da União Europeia, a posição no ranking se eleva de 19º para 15º em 2011 e depois 16o em 2012. Assim, sua participação nas importações mundiais evoluiu de 0,7% para 1,3% no período. Isso por conta da redução de 2% do valor das importações. Vale observar que dentre os maiores 30 países importadores do mundo, aqueles que tiveram variação negativa das exportações foram em sua maioria europeus, exceto Brasil, Turquia e Taipei.
O ritmo de crescimento das importações brasileiras em geral acompanhou a mesma tendência das exportações, ambos variando positivamente a taxas de dois dígitos desde 2004, exceto em 2009 e 2012. Os resultados de 2012 mostram a gravidade do desempenho do setor externo do Brasil no último ano, sobretudo considerando que ambos ficaram abaixo da média mundial. Aliás, a evolução das exportações brasileiras acompanha e potencializa a tendência das exportações mundiais desde 2004.
Entre 2005 e 2011 o valor per capita das trocas comerciais brasileiras (considerando a média dos últimos três anos de exportações + importações/ população) mais do que dobrou de US$ 1018 para US$ 2422. Mas a queda do comércio internacional em relação ao PIB tem sido muito expressiva: enquanto em 2005 era quase 30%, em 2011 foi de cerca de 23%.
Comparando com o México e com a Tailândia – economias de renda média de porte similar ao do Brasil -, respectivamente 16º e 23º no ranking mundial das exportações, e 14º e 20º no das importações, os índices de corrente de comércio brasileiros ainda são baixos. O índice mexicano de comércio internacional per capita em 2011 foi US$ 5325 foi mais do que o dobro brasileiro e o de comércio internacional/ PIB também: 61%. Os índices tailandeses, por sua vez, foram respectivamente, US$ 6183 e 138% (OMC). Esses valores evidenciam a estratégia de industrialização através de exportações perseguida desde os anos oitenta.
Nota-se que os outros países dos BRICS tiveram ascensão em ambos os rankings, de exportação e importação. Em 2005, a China era o 3ª maior exportador e importador mundial, passando a ser o maior exportador e o 2º maior importador dentre todos os países em 2011, posições mantidas em 2012. A Índia era o 29º maior exportador e 17º importador, em 2005, passando para 19º e 10º, respectivamente, em 2012. A Rússia detinha a posição 13ª nas exportações e 20ª em importações em 2005, evoluindo para 8º e 16º em 2012.
O fato do desempenho das exportações brasileiras terem tido declínio maior do que a média mundial no ano passado está relacionado à maior dependência de combustíveis, mineração e produtos agrícolas, produtos cujos preços tiveram tendência negativa em 2012. O peso das manufaturas nas exportações mundiais desde 2005 mantêm-se muito elevado em torno de 70% e assim permaneceu até 2011. Já no Brasil, o peso delas vem se contraindo significativamente de 53% em 2005 para 35% em 2012.
Examinando mais em detalhes o comércio internacional de manufaturas, tem-se que desde 2008 o Brasil ocupa a posição de 30o maior exportador (se considerada a União Europeia), ou seja, oito posições abaixo de seu ranking total. Vale notar que já teve posições melhores do que esta. E em termos de importações, o Brasil ano a ano vem se tornando mais importante, atingindo em 2012 a 20a posição. A redução da participação das manufaturas nas exportações brasileiras significou também uma queda na parcela do país nas exportações mundiais desse produto de 0,85% para 0,71%.
Os maiores exportadores de manufaturas em 2012 foram os mesmo de 2011: nessa ordem, União Europeia, China, Alemanha, Estados Unidos e Japão – sendo que em 2003 a China era a 5ª colocada. Em comparação com 2011, os movimentos mais importantes foram a ascensão no ranking da Inglaterra (11a colocada), México (14o), Canadá (16a) e Malásia (22o).
Do lado das importações, a tendência vem sendo de maior participação do Brasil no total mundial, tanto por causa da desaceleração do comércio internacional, mas também pelo aumento da demanda interna - o que em 2012 não foi tão expressivo. Os ganhos de posição do Brasil nas importações mundiais podem ser explicados de duas maneiras. Por um lado, reflete o crescente consumo interno na segunda metade da década de 2000, o que exigiu a importação de bens muitas vezes não fabricados domesticamente. Por outro lado, a falta de condições competitivas concedeu à oferta externa o atendimento da demanda interna crescente.
O perfil da pauta brasileira de importações em valor se manteve relativamente estável desde 2005, com tendência de alta da parcela de manufaturas (73,2% em 2012). Os segmentos mais relevantes foram máquinas e equipamentos de transporte (38,4%) e Químicos (18,9%).
A parcela do Brasil nas importações de manufaturas mundiais mais do que dobrou: de 0,61% para 1,36% de 2005 a 2012. E o país ano a ano continua ganhando posições no ranking dos maiores importadores mundiais desse setor, de 32º em 2005 para 20º (incluindo União Europeia). Os maiores importadores mundiais em 2012 foram exatamente os mesmos de 2012: União Europeia, Estados Unidos, China, Alemanha e França.