Carta IEDI
Indústria 4.0: a Política Industrial no Japão face à Quarta Revolução Industrial
A Carta IEDI de hoje faz uma síntese das iniciativas recentes de política industrial no Japão. Desde 2015, o governo vem adotando medidas proativas voltadas à aceleração da Quarta Revolução Industrial no país, com vistas a fortalecer a competitividade de sua economia e criar novos mercados à indústria manufatureira e em áreas como medicina, agricultura, distribuição, etc.
Este estudo se insere no conjunto de trabalhos que o IEDI tem divulgado a respeito da Indústria 4.0, que inclui, entre outros, as Cartas IEDI n. 797 “Indústria 4.0: Desafios e Oportunidades para o Brasil” de 21/07/17, n. 803 “Indústria 4.0: O Futuro da Indústria” de 01/09/17, n. 807 “Indústria 4.0: A Política Industrial da Alemanha para o Futuro” de 29/9/17, n. 820 “Indústria 4.0: O Plano Estratégico da Manufatura Avançada nos EUA” de 11/12/17 e n. 823 “Indústria 4.0: Políticas e estratégias nacionais face à nova revolução produtiva” de 29/12/17, n. 827 “Indústria 4.0: A iniciativa Made in China 2025” de 26/01/18 e n. 831 “A Coreia do Sul e a Indústria do Futuro” de 16/02/2018.
O Japão – nação industrial das mais sofisticadas do mundo, com empresas mundialmente líderes em uma variedade de setores da indústria – é um caso de sucesso na utilização da política industrial com objetivo de crescimento e desenvolvimento socioeconômico. Um dos aspectos de sua política industrial é o estabelecimento de conselhos de deliberação para a formulação de medidas, dos quais participam funcionários do governo, representantes da indústria, acadêmicos e pesquisadores. Esses conselhos tornam a política industrial mais efetiva, melhorando os fluxos de informação entre o governo e o setor privado, por um lado, e entre as próprias empresas, por outro lado.
Iniciada nos anos 1950, essa prática segue ativa no Japão nos dias atuais e desempenha um papel central na elaboração e execução das estratégias para o desenvolvimento das inovações associadas à Quarta Revolução Industrial. Nesse contexto, à semelhança do que ocorre em outros países industrializados, a política industrial japonesa tem se focado cada vez mais em inovação, que é fonte de elevado potencial de crescimento econômico e de soluções para desafios sociais.
A agenda do governo japonês em resposta à Quarta Revolução Industrial é um roteiro de médio e longo prazo, firmemente baseado na cooperação e na parceria com o setor privado, que combina estratégias focadas no desenvolvimento de domínios tecnológicos específicos (robótica, tecnologia de informação, inteligência artificial, entre outros) com estratégias de disseminação dos seus resultados nas diferentes atividades econômicas e sociais.
Em fevereiro de 2015, por exemplo, uma nova estratégia de desenvolvimento de robôs foi adotada pelo governo japonês para assegurar a posição do país como Superpotência em Robótica, desafiada pelas iniciativas recentes dos Estados Unidos. Em particular, os Estados Unidos e os países da Europa estão aproveitando as mudanças tecnológicas em curso para conquistar a liderança no desenvolvimento e utilização de novos robôs avançados.
A estratégia japonesa visa, assim, não só à produção, mas também à difusão da utilização sistemática de robôs nos diversos setores da indústria de transformação (atualmente, bastante concentrada nos setores automotivo e eletrônica), nos serviços, na infraestrutura e na agricultura, englobando principalmente empresas de pequeno a médio porte, que dependem principalmente da força de trabalho humana.
Nesse sentido, foi criada a Iniciativa Revolução Robótica (RRI), que trabalha em interação estreita, não apenas com organizações público-privadas japonesas, tais como o Conselho de Competitividade Industrial, o Conselho de Ciência e Inovação Tecnológica e o Conselho de Reforma Regulatória e associações industriais domésticas, mas também com organizações estrangeiras como a Iniciativa Internet Industrial (IIT) nos Estados Unidos e a Indústria 4.0 na Alemanha.
Outra parceira importante entre governo, indústria e academia se traduziu, também em 2015, na formação do Comitê Nova Estrutura da Indústria. As discussões nesse Comitê foram consolidadas no relatório Visão do Futuro em 2030. Este relatório é uma resposta do governo japonês à Quarta Revolução Industrial com vistas à construção de uma sociedade superinteligente (“Sociedade 5.0”), que, a partir da plena utilização das inovações tecnológicas, combine o espaço físico (mundo real) e o ciberespaço (mundo virtual), de modo a fornecer os bens e serviços necessários para fazer frente a uma ampla variedade de necessidades sociais.
O documento apresenta as diretrizes de política e as estratégias específicas voltadas para o redesenho do sistema socioeconômico, tendo como horizonte o ano de 2030. Igualmente, indica a direção para as transformações em certos setores, como indústria de transformação, mobilidade e condução autônoma, saúde e cuidados médicos, agricultura, educação e turismo, entre outros.
Para acelerar o desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial (IA), essencial para a Quarta Revolução Industrial, e promover sua fusão com tecnologias conexas, o governo do Japão criou, em abril de 2016, o Conselho Estratégico de Tecnologia de Inteligência Artificial, presidido pelo primeiro-ministro Shinz? Abe. Esse Conselho, que coordena as políticas elaboradas por distintos ministérios, divulgou, em março de 2017, a estratégia do Japão para a tecnologia de IA. A partir do conceito de IA como serviço, foi definido um roteiro estratégico de médio e longo prazo para o desenvolvimento e a industrialização dos resultados do P&D em IA para três áreas prioritárias (produtividade; saúde, assistência médica e bem-estar e mobilidade) até 2030.
Em março de 2017, primeiro-ministro Shinz? Abe anunciou o conceito de “Indústrias Conectadas”. A formulação da política ficou a cargo do Ministério de Economia, Comércio e Indústria (METI), que vem realizando diversas reuniões com representantes do mundo industrial e especialistas. O governo japonês espera que esse conceito se torne no futuro uma grande competência das indústrias japonesas, tal como ocorreu com as políticas de Made in Japan, Robôs Industriais e Kaizen (melhoria contínua).
O papel da política industrial no desenvolvimento do Japão
Este estudo faz uma síntese sobre as iniciativas recentes de política industrial no Japão. Desde 2015, o governo vem adotando medidas proativas voltadas à aceleração no país da Quarta Revolução Industrial, ocasionada pelo desenvolvimento da internet das coisas (Iot, na sigla em inglês), Big Data, robótica e inteligência artificial (AI, na sigla em inglês), com vistas a fortalecer a competitividade da economia japonesa e criar novos mercados, em setores como a indústria de transformação, a medicina, a agricultura, a distribuição, etc.
Para tanto, foram utilizados documentos do governo do Japão e comunicados de imprensa divulgados pelo METI. As informações oficiais foram complementadas com as análises produzidas pelos professores e pesquisadores da Universidade de Cambridge - BEECHER, Paul e outros (2014), Country Overview of Manufacturing Policy – Japan. CSTI Policy Briefing Note, Cambridge: Institute for Manufacturing, October 2014; CHANG, Ha-Joon e outros (2013), Future of Manufacturing Project: Evidence Paper 4, October 2013; SULLIVAN, Eoin e outros (2013). What is new in the new industrial policy? A manufacturing systems perspective. Oxf Rev Econ Policy 29 (2): 432-462 -, e pelo pesquisador do Instituto Coreano de Economia Industrial e Comércio (KIET), MOK Sakong (2017) The Progress of the Fourth Industrial Revolution in Japan and its Implications. KIET Industrial Economic Review, Mar. / Apr. Vol 22 No 2, pg 37-49.
O Japão é uma das nações industriais mais sofisticadas do mundo, com empresas líderes mundiais em uma variedade de indústrias, que se especializam em componentes e produtos de alta qualidade e se destacam no gerenciamento de redes industriais globais complexas e engenharia de integração sofisticada. Ademais, o Japão tem uma forte associação cultural com a sua indústria de transformação, cujo termo em japonês, Monozukuri, expressa admiração pelas capacidades de destreza artesanal de alta qualidade e habilidades de produção, e outras atividades criadoras de valor associadas à produção de bens, como design de produtos e desenvolvimento.
Os dois grandes pilares da indústria de transformação japonesa são as indústrias automotiva e eletrônica. As empresas japonesas respondem por cerca de 30% de participação no mercado global de produção de carros e mais de 60% de mercado em câmeras digitais e também se destacam nas atividades de processamento de material e produção mecânica, que muitas vezes são realizadas por empresas menores. Igualmente, são líderes globais em uma variedade de áreas, como componentes de aeronaves (principalmente em componentes de sistemas de aeronáutica e aviônica), robôs e produtos químicos finos.
As empresas industriais japonesas se conformaram tradicionalmente com keiretsu, estruturas de integração vertical em pirâmide, nas quais empresas menores - produtores de componentes e equipamentos de fabricação e indústrias relacionadas - são nutridas e protegidas por fabricantes maiores de produtos montados, aos quais fornecem componentes e processos altamente específicos. Com o surgimento de um modelo de produção por encomenda, as PMEs, em algumas indústrias, se tornaram dependentes de grandes corporações no topo da pirâmide.
O Japão é um exemplo de país que fez uso com sucesso da política industrial para tornar-se uma potência econômica na segunda metade do século XX. Como destacam Chang e outros (2013), o governo japonês foi extremamente ativo, a partir da década de 1950, no emprego da política industrial forte para desenvolver indústrias de maior valor agregado, como aço, automóvel, eletrônica e máquinas.
Embora não tenha feito amplo uso de mecanismos de incentivo fiscal, o Japão forneceu financiamentos de longo prazo através do Banco de Desenvolvimento do Japão (JDB) e de outras instituições financeiras públicas, como os Bancos de Crédito de Longo Prazo e o Banco Industrial do Japão. Medidas protecionistas (tarifas e restrições quantitativas) foram também ativamente utilizadas, enquanto o país discutiu as regras mais duras do mundo sobre FDI e sobre as importações de tecnologia (para garantir que as tecnologias importadas não fossem excessivamente desatualizadas e os royalties pagos fossem razoáveis). As indústrias prioritárias receberam subsídios para exportação, investimento, P&D e contas de serviços públicos, ao mesmo tempo em que recebem incentivos fiscais preferenciais, ainda que não em nível exagerado.
Segundo Chang, o Japão introduziu leis na década de 1950 para impedir que as grandes empresas abusassem de suas posições monopsônica ou oligopsônica para pressionar seus fornecedores, privando-os dos recursos para investir no aprimoramento de capacidade. Em consequência, as grandes empresas investiram no aprimoramento das capacidades de seus fornecedores, seja mediante a participação no capital, seja no destacamento de técnicos qualificados para transferência de conhecimento.
Chang e outros pesquisadores também destacam duas inovações notáveis da política industrial japonesa no pós-guerra. A primeira delas é o estabelecimento de conselhos de deliberação para a formulação de políticas em indústrias-chave, dos quais participam funcionários do governo, representantes da indústria e observadores mais “objetivos” (por exemplo, acadêmicos e pesquisadores). Esses conselhos tornam a política industrial mais efetiva, melhorando os fluxos de informação entre o governo e o setor privado, por um lado, e entre as próprias empresas do setor privado, por outro lado. Como será visto mais adiante nessa resenha, a prática de criação de conselhos deliberativos segue ativa no Japão nos dias atuais e desempenha um papel-chave na elaboração e execução das estratégias japonesas para a promoção da Quarta Revolução Industrial.
Outra inovação japonesa é a técnica melhorada de gerenciamento de cartéis em relação às práticas em outros países e práticas próprias pregressas. Ao invés de considerar todos os cartéis como negativos, como os Estados Unidos fizeram, o governo japonês reconheceu que os cartéis poderiam ajudar o desenvolvimento industrial, reduzindo a "concorrência dissipadora" que destrói o lucro e prejudica as capacidades para investir e inovar no longo prazo. Ciente de que os cartéis também podem se tornar forças conservadoras que impedem o progresso, governo japonês tentou minimizar esse problema ao permitir que os cartéis fossem estabelecidos apenas em condições claras em termos de seus objetivos e duração. Essa política evitou investimentos duplicados e guerras de preços no mercado de exportação bem como garantiu a atualização de tecnologia e a eliminação ordenada de indústrias declinantes.
De acordo com esses autores, as estruturas de governança corporativa e de financiamento, que possibilitaram investimentos orientados ao longo prazo, contribuíram para o sucesso da política industrial japonesa. Entre meados da década de 1960 e o final da década de 1990, as empresas japonesas se isolaram das pressões de curto prazo por meio de participação cruzada entre empresas amigáveis, que representaram 35-50% de todas as ações japonesas durante esse período (depois de duas décadas de recessão econômica, esse percentual é atualmente 20%). Os trabalhadores do núcleo industrial - cerca de 2/3 nas grandes empresas e 1/3 nas empresas menores - foram integrados na estrutura de governança corporativa mediante a concessão de emprego vitalício e oportunidades de consulta. Ao mesmo tempo, os bancos estavam intimamente envolvidos com as empresas e forneceram não apenas “capital paciente”, como também consultoria de gestão de fato para empresas menores, que não podiam pagar o preço no mercado aberto.
O colapso do mercado de ações de 1990, seguido da chamada “década perdida”, provocou mudanças profundas na abordagem governamental das políticas industriais no Japão. Como salienta Chang e seus co-autores, em meados da década de 1990, a agenda da política industrial tornou-se cada vez mais dominada pela agenda de desregulamentação, enfraquecendo o quadro tradicional da política industrial. Em 2000, esta mudança na abordagem da política industrial culminou com a transformação institucional do MITI (Ministério do Comércio Internacional e Indústria) no METI (Ministério da Economia, Comércio e Indústria) e, mais tarde, com uma emenda à Lei Japonesa das Sociedades por Ações que permitiu fusões e aquisições (M&A na sigla em inglês) de subsidiárias estrangeiras de empresas japonesas mediante a troca de ações. Apesar destas mudanças, a política industrial continuou bastante ativa em duas novas áreas-chave: promoção das PME e promoção de inovação.
Paul Beecher e seus colegas da Universidade de Cambridge consideram que, desde a virada do século XXI, a política industrial japonesa evoluiu para uma maior ênfase nas políticas transversais em relação a abordagens setoriais específicas. A intenção do governo do Japão é apoiar uma mudança de uma estrutura industrial centrada nos setores automotivo e eletrônico, para uma estrutura “multipolar” sustentável, habilitada pelo desenvolvimento de cinco "campos industriais estratégicos": indústrias relacionadas à infraestrutura (por exemplo, nuclear, água e ferrovia); soluções de energia de próxima geração (por exemplo, cidades inteligentes e automóveis de próxima geração); indústrias criativas; indústrias relacionadas à saúde; e campos de fronteira (por exemplo, robôs e espacial).
Esta mudança de ênfase foi acompanhada do crescente reconhecimento da necessidade de um papel mais ativo do Estado no fortalecimento da competitividade industrial diante dos crescentes desafios enfrentados pelas empresas japonesas. Outros fatores importantes na influência da política industrial no Japão incluem, de acordo com os autores, as pressões econômicas que foram um legado da crise financeira no final da década de 1990, o declínio da população ativa e a conscientização sobre os apelos a políticas de inovação mais sólidas relacionadas à produção industrial provenientes de concorrentes econômicos, como os Estados Unidos, China e Coréia do Sul.
Na avaliação do governo japonês, as estruturas keiretsu conduziram a uma orientação excessiva das empresas japonesas ao mercado doméstico. O resultado tem sido: menor nível de rentabilidade e de investimento das empresas industriais japonesas em relação aos concorrentes internacionais. O governo também associou essas estruturas industriais com a incapacidade das empresas japonesas, principalmente as PME, de capturar oportunidades de negócios em mercados em crescimento, apesar do "domínio" do Japão em uma variedade de tecnologias, levando a uma “conquista de tecnologia, mas a perder situação em negócios”.
O governo japonês também manifestava preocupações com “dependência extrema” da economia em relação à indústria automotiva, que, segundo Sullivan e outros (2013), foi responsável por quase metade do crescimento nominal do PIB de 2,5% registrado no Japão de 2000 a 2007. Ao mesmo tempo, ocorreu um rápido declínio da participação japonesa em diversos produtos, como memória DRAM, painéis LC, leitores de DVD, painéis solares e sistemas de navegação para automóveis.
De acordo com Paul Beecher e seus co-autores (2014), desde 2008, houve várias iniciativas de políticas relevantes para a indústria no Japão:
• Estratégias de crescimento. Essas estratégias são impulsionadas pelo primeiro-ministro e oferecem diretrizes para a dotação orçamentária em todo o governo.
• Programa Eco-Point e Subsídio Eco-carro. Lançado em 2009, este programa tem como objetivo impulsionar o consumo de produtos eficientes em termos de energia e a transição para uma sociedade de baixa emissão de carbono. Cerca de 1,6 trilhão de ienes (equivalente a US$ 14 bilhões), foram gastos, beneficiando a indústria eletrônica e automobilística.
• Criação de novos “centros de P&D avançado de classe mundial”, com a participação da indústria, da academia e do governo, para promover a aglomeração industrial e a comercialização de pesquisas conjuntas. Espera-se que esses centros contribuam para novos investimentos em P&D no setor privado e contribuam para alcançar o objetivo nacional de investimento em P&D de 4% do PIB até 2020.
Desde a crise econômica global de 2008, o ambiente competitivo para as empresas industriais japonesas tornou-se bastante desafiador. Embora o Japão ocupe a terceira posição, atrás apenas da China e dos EUA, em termos do valor agregado industrial, sua participação no valor agregado da indústria mundial, declinou de 10,3 % em 2010 para 8,7% em 2016, de acordo com os dados da UNIDO, em dólares constantes de 2010. Em termos de competitividade industrial, o Japão que ocupava a primeira posição do ranking mundial do Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (CIP na sigla em inglês), em 2010, perdeu a liderança para Alemanha em 2013, mas ainda se mantém à frente dos Estados Unidos, Coreia do Sul e China.
O fortalecimento dos vínculos entre ciência, tecnologia e indústria para ampliar a produtividade e competitividade ganhou importância crescente nos planos quinquenais de ciência e tecnologia. Entre 2001 a 2010, a C&T teve um orçamento de quase 50 trilhões de ienes (cerca de US$ 441 bilhões), que foram investidos em quatro áreas prioritárias principais: ciências da vida, tecnologia de comunicação e informação (ICT), meio ambiente e nanotecnologia / materiais. Além disso, várias indústrias foram identificadas como a chave para satisfazer futuras necessidades sociais, tais como: robôs, células de combustível, conteúdo digital, e eletrônicos digitais de consumo de massa. Entre as medidas, foi dada especial ênfase ao estabelecimento de "clusters regionais de consórcios" (definidos como redes de indústrias regionais, por um lado, universidades e centros de pesquisa situados no mesmo local, por outro), vinculados entre eles por relações cooperativas e competitivas.
Em 2010, iniciou-se uma nova agenda política do governo do Japão, que busca facilitar a reorganização da estrutura industrial doméstica e promover uma participação mais ativa das empresas japonesas nos mercados mundiais. O governo anunciou uma estratégia de crescimento econômico, denominada "Renascimento do Japão", estabelecendo objetivos econômicos para 2020. Essa estratégia foi atualizada em março 2012 para responder aos desafios gerados pelo grande terremoto em março de 2011 e subsequente desastre na usina nuclear de Fukushima, que afetou seriamente não só as cadeias de fornecimento japonesas, mas também para as cadeias de suprimentos globais.
Essa estratégia inclui um Plano de Revitalização da Indústria, com objetivo de corrigir três distorções da economia japonesa, isto é, subinvestimento, excesso de regulamentação e concorrência excessiva, e promover a exploração de novas fronteiras ao mesmo tempo em que se esforçam para superar os problemas sociais do Japão, com o objetivo de cultivar os crescentes mercados mundiais e atrair pessoas, bens e fundos de todo o mundo. Com base nos pontos fortes do Japão na indústria e na tecnologia, a estratégia visa o desenvolvimento de novas indústrias e novos mercados em respostas às mudanças ambientais (valor estimado em 50 trilhões ou US$ 441,6 bilhões) e a criação de 4,7 milhões de empregos até 2020, juntamente com diversos outros objetivos, entre os quais, elevar a 50% a participação dos automóveis de nova geração no total da venda de carros novos e elevar a 50% a participação das empresas japonesas no mercado mundial de baterias de armazenamento de energia.
De acordo com o METI (2013), nos últimos anos, as indústrias manufatureiras japonesas com vantagem competitiva estão enfrentando dificuldades em competir com países emergentes. O Japão “se destaca na tecnologia, mas perde nos negócios” e, em alguns casos, o Japão “perde a tecnologia”. Por essa razão, além da alocação intensiva de recursos políticos pelo governo na atividade de P&D estratégica, o METI procurará incentivar o setor privado a investir ativamente em programas de P&D, a acelerar o desenvolvimento e criar um ciclo virtuoso de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) que leve a aplicações e comercialização rápidas. Além disso, será incentivada uma estratégia "aberta e fechada" para que as empresas possam criar inovações, adquirir direitos de propriedade intelectual e usá-los efetivamente, de modo a tornar o Japão “um país competitivo em tecnologia e em negócios”. De igual modo, o METI irá se esforçar para conseguir a padronização internacional das tecnologias e produtos líderes no mundo, através da promoção estratégica do desenvolvimento de sistemas de certificação internacionalmente reconhecidos e da exportação de sistemas para outros países.
A transferência de produção e outras atividades de alto valor agregado (incluindo pesquisa, design e desenvolvimento) para o exterior também suscitaram preocupações de um “vazamento industrial irreversível”, ou seja, a perda permanente de capacidades industriais-chave no Japão. Ao longo dos últimos anos, os investimentos em P&D por empresas japonesas estão crescendo mais rápido no exterior do que no mercado interno, e algumas grandes corporações (japonesas ou estrangeiras) decidiram mudar a atividade principal para fora do Japão (por exemplo, a Fujitsu, a Nokia, a P&G e a Medtronic se mudaram ou estabeleceram novas operações em Cingapura, enquanto Sharp e a Novartis fizeram o mesmo na China). De acordo com Sullivan e outros (2013), em pesquisa realizada pelo METI junto a mais de onze mil empresas, a valorização do iene, os altos custos trabalhistas e os problemas relacionados ao fornecimento de eletricidade e outros tipos de energia foram os principais fatores citados como os motores da saída das empresas industriais japonesas.
Essa nova agenda de política industrial foi impulsionada pela adoção de uma série de medidas, em sua maioria de caráter horizontal. Todavia, a política prevê suporte específico para setores em “domínios estratégicos”. Também têm sido apoiadas atividades de P&D transversais nas chamadas “indústrias de apoio”, como tecnologia de processos de materiais, tecnologia de informação, mecatrônica e tecnologia robótica.
Para melhorar a competitividade global do Japão como centro de produção, as medidas incluíram: uma reforma tributária que busca levar os impostos corporativos do Japão mais perto dos níveis internacionais; novos incentivos para atrair funções corporativas de alto valor agregado para o Japão (com ênfase nas sedes e nas bases de P&D de empresas japonesas localizadas na Ásia); e aumento do investimento em infraestrutura logística. Novos fundos de longo prazo também foram disponibilizados para apoiar a reestruturação de negócios, com ênfase no apoio às start-ups e aos esforços de diversificação das empresas.
Com objetivo de acelerar a reestruturação organizacional da indústria de transformação japonesa considerada essencial para o fortalecimento do setor, foram adotadas medidas de incentivos fiscais e assistência financeira para a promoção de spin-offs e carve-outs, medidas fiscais voltadas à promoção de investimento corporativo de risco, cujo alvo são as empresas que investirem em sociedades de capital de risco por meio de fundos de risco, medidas de apoio financeiro e técnico às empresas de base tecnológica em fase de arranque. A Corporação Financeira do Japão (JFC) prestará apoio à reconstrução de empresas e à sucessão de empresas, de modo a aliviar o ônus financeiro decorrente da reestruturação organizacional. Mediante a cooperação com instituições financeiras do setor privado que estão dispostas a fornecer exceções à exigência de garantidor, serão feitos esforços para promover financiamento que não dependa de garantias pessoais, de modo a facilitar a sucessão comercial.
Uma série de medidas também foi introduzida para encorajar as pequenas e médias empresas (PME) a inovar e a competir nos mercados mundiais, ganhando maior participação de mercado em produtos ou serviços em uma gama maior de setores. Como destaca Sullivan e seus co-autores, talvez essa seja a mudança mais significativa no papel da política industrial recente do governo japonês, dado que irá catalisar mudanças na estrutura industrial piramidal que prevalece no país. Como mencionado, as PME industriais japonesas tradicionalmente integram as cadeias de valor em forma de "pirâmides", encabeçadas por grandes empresas (dominantes no setor automotivo e no de ICT).
Exemplos das medidas adotadas incluem o incentivo às atividades de P&D das PMEs e microempresas, a ampliação do programa de apoio à expansão no exterior das PMEs (Plataformas de Expansão Ultramarinas PME), seguros de garantia estendida para expansão no exterior, bem como novos serviços de consultoria técnica e suporte apropriado para cada fase de desenvolvimento dos novos negócios. Além de redução da taxa de juros para o financiamento de equipamentos, serão concedidos incentivos fiscais para os investimentos das PME e as microempresas em software e equipamentos com software interno, a fim de promover a melhoria da produtividade por meio da utilização de tecnologia de informação. Com essas medidas, o governo espera que as PMEs possam se integrar de forma mais eficaz nas cadeias de valor mundiais.
O Plano de Revitalização da Indústria também incluiu a promoção do desenvolvimento de novos clusters industriais, centrados em empresas regionais chave, que possam desencadear novas indústrias e novos negócios nas regiões do Japão. Nesse sentido, o METI incentivará as redes lideradas por empresas principais regionais que reúnem indústria, academia e governo, e eventos para disseminação de ideias e necessidades com vista ao desenvolvimento de novos produtos. Também irá adotar iniciativas para promover o desenvolvimento de tecnologias e materiais de impressão 3D de próxima geração e sua utilização entre as empresas industriais regionais.
Igualmente foram adotadas medidas para melhorar a "qualidade e quantidade" da mão-de-obra japonesa, em particular nas áreas de engenharia e tecnologia, dada a preocupação crescente com escassez de competências em engenharia em razão da mudança demográfica associada ao envelhecimento da população que se dedica à engenharia industrial. Essas medidas incluem: a criação de qualificações profissionais nacionais; a promoção de oportunidades de carreira de “segunda vida” para trabalhadores mais velhos; programas de treinamento destinados a transmitir as habilidades dos trabalhadores experientes às gerações mais jovens; bem como novas medidas para aumentar o emprego feminino e atrair recursos humanos de alto nível do exterior.
A fim de apoiar a implantação das tecnologias e produtos do Japão no mercado mundial, o governo adotou iniciativas de promoção de venda, que incluem desde produtos individuais com funções avançadas até o fornecimento de soluções integradas, combinando componentes de produção e serviços em áreas onde o Japão é percebido como tendo uma vantagem competitiva. A ênfase foi colocada na venda e implantação de tecnologias de geração e distribuição de energia com baixas emissões de carbono em economias de alto crescimento, principalmente as asiáticas. As medidas específicas relacionadas a esta estratégia incluem: projetos de demonstração em países em desenvolvimento, uma estratégia internacional de padronização, bem como a promoção de acordos de investimento e exportações através da diplomacia de alto nível e do trabalho da Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA).
Além disso, uma vez que o Japão depende das importações para satisfazer mais de 90% de sua demanda de energia, um objetivo orientador é assegurar um abastecimento de energia estável do exterior. Os acordos colaborativos bilaterais com países ricos em recursos foram expandidos – geralmente envolvendo projetos de desenvolvimento de infraestrutura com a participação de empresas japonesas – e os mecanismos de fornecimento de dinheiro de risco para projetos de exploração e desenvolvimento de recursos foram aprimorados.
O Plano de Revitalização da Indústria também contempla iniciativas voltadas para a construção de uma sociedade baseada em tecnologias de informação (IT, na sigla em inglês). Para promover a criação de novos negócios a partir da utilização de Big Data, o governo japonês adotou medidas para apoiar atividades de pesquisa e demonstração e para promover a criação de infraestrutura adequada para o processamento de grandes quantidades de dados mediante o desenvolvimento de centros de dados de maior eficiência, incentivando o uso da computação em nuvem pelas empresas.
De acordo com o pesquisador do Instituto Coreano de Economia Industrial e Comércio (KIET), Sakong Mok (2017), até 2015, os documentos de política do governo japonês não faziam menção à Quarta Revolução Industrial. Na nova versão modernizada da estratégia de crescimento de 2012, rebatizada Estratégia de Revitalização, lançada em junho de 2015, o governo incluiu um conjunto de medidas proativas voltadas à aceleração no país da Quarta Revolução Industrial, ocasionada pelo desenvolvimento da internet das coisas (Iot, na sigla em inglês), Big Data, robótica e inteligência artificial (AI, na sigla em inglês), para fortalecer a competitividade da economia japonesa e criar novos mercados, em setores como a indústria de transformação, a medicina, a agricultura, a distribuição, etc.
O reconhecimento dessa transformação crucial em curso pela política oficial japonesa aconteceu quatro a cinco anos depois do verificado na Alemanha, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Desde então, está sendo executado um amplo conjunto de estratégias delineadas para promover o desenvolvimento das inovações avançadas associadas à Quarta Revolução Industrial, que ainda está em seu estágio inicial, e a disseminação dos resultados nos diferentes setores de atividades e entre as empresas de pequeno e médio porte, de modo a assegurar a competividade e o crescimento sustentado futuro. Nesse contexto, à semelhança do que ocorre em outros países industrializados, a política industrial no Japão tem se tornado cada vez mais uma política centrada em inovação, fonte de elevado potencial de crescimento econômico e de solução para desafios sociais, domésticos e mundiais.
Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) como Resposta aos Desafios
Desde a promulgação da Lei Básica de Ciência e Tecnologia, em 1995, o Japão vem desenvolvendo planos básicos quinquenais de ciência e tecnologia (C&T), com intuito de, ao invés de seguir a liderança das nações ocidentais, desafiar por si mesmo os campos de ciência e tecnologia inexplorados, abrindo o próprio caminho para o futuro como líder mundial. Nesse sentido, ao longo dos últimos vinte anos, a ênfase foi dada ao fortalecimento das ações políticas em áreas tais como a garantia de investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvimento (P&D), a reforma do sistema de P&D (melhorando os programas de pós-doutorado, desenvolvendo ambientes competitivos, etc.), focalizando estrategicamente a atividade de P&D, consolidando instalações e equipamentos de P&D e promovendo intercâmbio e colaboração internacional.
Com montantes crescentes de investimento governamentais em P&D por 10 anos, bem como um número cada vez mais de pesquisadores e artigos publicados, o Japão tornou-se progressivamente mais competitivo em nível internacional. Isso aconteceu mesmo quando as economias emergentes e outros países fortaleceram em seus esforços em ciência e tecnologia, cujas atividades aumentavam em escala e complexidade. O avanço científico e tecnológico do Japão foi viabilizado por diferentes tipos de iniciativas, incluindo investimento focado em áreas de pesquisa de grande importância, desenvolvimento de centros de pesquisa de classe mundial e equipamentos de pesquisa em larga escala, e a introdução e promoção de sistemas altamente competitivos de gerenciamento de recursos humanos.
Desde a virada do século XXI, a colaboração e a interação entre a indústria e a academia passaram a ser também priorizadas nos planos básicos, como resposta às mudanças no ambiente de concorrência internacional e à forte demanda pela utilização dos resultados de P&D para tornar o país mais competitivo e para contribuir mais para a reforma social. Na evolução dos planos básicos, a ênfase em inovação foi crescente, e assumiu a liderança no Quarto Plano Básico de 2011, quando o foco em P&D passou de uma abordagem baseada em domínios de ciência e tecnologia para uma abordagem de resolução de problemas. Nesse contexto, o estabelecimento de relações cooperativas efetivas entre o governo, as empresas e as universidades se intensificou.
Contudo, o crescimento do investimento em P&D do governo estagnou nos últimos dez anos em comparação com os principais países do mundo. Na verdade, desde o segundo Plano Básico de C&T (2001-2005), os objetivos de investimento governamental em P&D não foram alcançados.
Tendo em vista a utilização de C,T&I para enfrentar vários desafios econômicos e sociais, novas iniciativas foram avançadas pela indústria, academia, governo e ministérios relevantes para trabalhar em conjunto em matéria de P&D e implementações sociais, como o Programa Interministerial de Promoção Estratégica de Inovação (SIP, na sigla em inglês). Além disso, em 2014, o Conselho para Política de Ciência e Tecnologia (CSTP), responsável pela supervisão a política científica e tecnológica foi reorganizado para se tornar o Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação (CSTI, na sigla em inglês).
Apesar do esforço concertado no avanço da política científica e tecnológica e de contribuições importantes que provocaram mudanças econômicas e no estilo de vida no Japão e no mundo, tais como a invenção dos diodos emissores de luz azuis (LEDs) e a criação de células de tronco pluripotente induzidas pelo humano (iPS), a atividade japonesa de C,T&I está começando a ficar para trás em relação aos líderes mundiais. Além da queda dos trabalhos de pesquisa no ranking internacional, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos nos últimos anos, houve atrasos na construção de uma rede internacional de pesquisa.
Outra deficiência importante do sistema nacional de inovação do Japão reside na colaboração indústria-academia, que ainda não atingiu a plena maturidade, o que resulta em deficiências na capacidade do país em inovar por meio da ciência e tecnologia. Grande parte da atual colaboração indústria-academia se dá em pequena escala, e ainda há pouca mobilidade para os pesquisadores em organizações e setores. Empresas de base tecnológica em fase de arranque e similares ainda não chegaram ao ponto de transformar estruturalmente a indústria japonesa.
Com o diagnóstico de que a ciência e a tecnologia recentes, especialmente o desenvolvimento das tecnologias da informação e das comunicações (TIC), estão mudando rapidamente as regras econômicas e sociais, ao mesmo tempo em que afetam estilos de vida e a própria existência da sociedade e da humanidade, o Japão lançou o seu quinto Plano Básico de C&T em janeiro de 2016. Aspecto distintivo desse plano em relação aos precedentes é o fato de que a política de CT&I é integrada como uma política principal para a economia, a sociedade e o público na estratégia de revitalização do país.
O Quinto Plano tem quatro objetivos políticos: i) crescimento sustentável e desenvolvimento regional autossustentável, com criação de emprego; ii) segurança e a proteção da nação e dos seus cidadãos e garantia de uma forma de vida próspera e de alta qualidade; iii) enfrentar os desafios mundiais e contribuir para o desenvolvimento global mediante a aplicação de forma proativa da capacidade de CT&I; iv) criação sustentável de ativos intelectuais.
Um dos pilares centrais do Quinto Plano é a criação futura de uma “sociedade superinteligente” (Sociedade 5.0), que combinando o espaço físico (mundo real) e o ciberespaço, seja capaz de fornecer os bens e serviços necessários às pessoas que precisam delas no horário exigido e na justa proporção; seja capaz de responder precisamente a uma ampla variedade de necessidades sociais. Nessa forma ideal de sociedade futura, todos os tipos de pessoas poderão obter facilmente serviços de alta qualidade, superar diferenças de idade, gênero, região e idioma, e viver vidas vigorosas e confortáveis. Espera-se que essa sociedade, por exemplo, desenvolva e realize um ambiente em que humanos e robôs e / ou inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) coexistem e trabalhem para melhorar a qualidade da vida humana, oferecendo serviços personalizados finamente diferenciados que atendam às diversas necessidades (inclusive as potenciais) dos usuários.
Na avaliação das autoridades japonesas, para manter e fortalecer sua competitividade em uma sociedade superinteligente, o país terá que liderar o mundo na concretização de tais iniciativas, a fim de acumular os conhecimentos e know-how necessários para promover a propriedade intelectual e a padronização internacional. Paralelamente ao aprimoramento contínuo da funcionalidade da futura plataforma para estimular a criação de novos negócios que respondam adequadamente às diversas necessidades, também será importante fornecer características japonesas únicas e distintivas para a plataforma e seus sistemas individuais de modo a estabelecer sua vantagem.
Com isso, o Plano Básico enfatiza dois conjuntos de tecnologias fundamentais para a construção de uma sociedade superinteligente líder mundial. O primeiro deles refere-se às tecnologias constituem pontos fortes do Japão e o núcleo da criação de novos valores a partir de sistemas individuais:
• Robótica: tecnologia que se espera que seja usada em vários campos, como comunicação, assistência social / trabalho e produção industrial;
• Tecnologia de sensores: tecnologia que coleta informações de humanos e de todo tipo de "coisas";
• Tecnologia de atuadores: tecnologia relacionada ao mecanismo de ativação, unidade e dispositivos de controle no mundo real, bem como os resultados do processamento e análise de informações obtidas no ciberespaço;
• Biotecnologia: tecnologias de sensor e atuador de tecnologia;
• Tecnologia de interface humana: tecnologia que usa realidade aumentada, engenharia afetiva, neurociência, etc.;
• Material / nanotecnologia: tecnologia que leva a sistemas diferenciados mediante funcionalidades aprimoradas de vários componentes, como materiais estruturais inovadores e novos materiais funcionais;
• Tecnologia de luz / quantum: tecnologia que leva a sistemas diferenciados através de funcionalidades aprimoradas de vários componentes, como técnicas de medição inovadoras, tecnologia de transferência de informações / energia e tecnologia de processamento.
O segundo conjunto inclui as tecnologias necessárias para construir a plataforma de serviços da sociedade superinteligente, ou seja, as tecnologias relacionadas com a distribuição, processamento e acumulação de informações no ciberespaço que são essenciais para criar valor agregado a partir dos grandes dados. Como o Japão registra relativo atraso nesses domínios, será preciso acelerar a consolidação das seguintes tecnologias fundamentais, em particular:
• Tecnologia de segurança cibernética: tecnologia que favorece informações e comunicação seguras, considerando as características do IoT, como ciclos de vida longos desde o design até a eliminação.
• Tecnologia de arquitetura de sistema IoT: tecnologia que permite a modelagem de hardware e software como componentes e a construção e operação de sistemas de grande escala
• Análise dos grandes de dados: tecnologia que deriva conhecimento e valor de grandes quantidades de uma grande variedade de dados, incluindo dados não estruturados.
• Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês): tecnologia que suporta IoT, grande análise de dados e comunicação avançada.
• Tecnologia do dispositivo: tecnologia que permite o processamento em alta velocidade em tempo real de grandes quantidades de dados com baixo consumo de energia.
• Tecnologia de rede: tecnologia que distribui quantidades crescentes de dados em alta capacidade e alta velocidade.
• Computação de borda: tecnologia que permite deslocar a capacidade computacional dos centros de dados para os extremos da rede, aumentar a velocidade e a diversificação do processamento em tempo real na localização real do sistema, o que é necessário para aumentar a funcionalidade da IoT.
Além disso, uma vez que as ciências matemáticas são uma tecnologia científica interdisciplinar básica para todas essas tecnologias fundamentais, o governo japonês irá promover, em conjunto, o fortalecimento da colaboração em P&D de cada tecnologia e o fomento do desenvolvimento profissional.
As respostas aos desafios econômicos e sociais por meio das contribuições da C,T&I constituem outro pilar central do Quinto Plano Básico de C&T. Como prioridades são destacadas, entre outras, as tecnologias relacionadas à eficiência energética e à competitividade da indústria de transformação japonesa.
No que se refere à eficiência energética e oferta estável de energia, o governo japonês dará continuidade a promoção do desenvolvimento e da difusão de tecnologias de eficiência energética nos setores industrial, consumidor (residencial, comercial) e de transporte (veículos rodoviários, navios, aeronaves), de tecnologia de sistemas mais avançados de rede elétrica, de tecnologias de armazenamento de energia. Igualmente, dará continuidade à promoção das atividades de P&D para a utilização mais eficaz da energia nuclear mediante o desenvolvimento de reatores mais avançados e de tecnologia de segurança nuclear. Além disso, promoverá o P&D em tecnologias energéticas inovadoras, com o objetivo de estabelecer tecnologias importantes para o futuro, como tecnologias de fusão nuclear e ciclo nuclear.
Quanto à competitividade da indústria de transformação japonesa, cuja vantagem está sendo ameaçada pelos baixos custos de produção das economias emergentes e pelas estratégias globais das principais nações ocidentais, que estão usando o rápido avanço de suas tecnologias de informação e comunicação (TIC) para prosseguir agressivas iniciativas nacionais, as tecnologias priorizadas pelo Plano Básico são as TIC e as tecnologias de inteligência artificial (AI). Na avaliação do governo, o Japão precisa forjar tecnologias de produção industrial que sejam capazes de responder de forma flexível às necessidades de mercado cada vez mais diversas, combinando novas tecnologias de produção com as TIC, bem como desenvolvendo novos modelos de negócios (criação de valor) capazes de impressionar e satisfazer os consumidores.
Para isso, será preciso incentivar a conexão de redes em todas as cadeias de suprimentos e aplicar análises de Big data e tecnologias de AI para analisar e utilizar uma ampla gama de dados, desde as necessidades dos clientes até o planejamento, concepção, produção, distribuição, vendas e manutenção. Mais especificamente, o governo irá promover o avanço nas tecnologias de produção, que constituem uma das principais vantagens de Japão, assim como no desenvolvimento de planejamento de produtos que combinam bens e serviços, novos métodos de design que antecipam necessidades latentes, tecnologias de produção que permitem novos métodos de processamento e montagem para atender às necessidades de forma mais flexível e o desenvolvimento de plataformas de ligação das atividades acima mencionadas em conjunto.
Além disso, as pequenas e médias empresas que sustentam a produção industrial do Japão serão capacitadas para uso das tecnologias avançadas. Com esse propósito, o governo japonês promoverá a utilização de vários dados da cadeia de suprimentos, o emprego de engenheiros altamente qualificados e o uso de robôs e máquinas-ferramentas mais “inteligentes”.
Nas iniciativas voltadas à solução de desafios nacionais e globais, a indústria, o meio acadêmico e o governo (incluindo agências governamentais relevantes) colaborarão em um enfoque simplificado para tudo, desde as atividades de P&D até a comercialização. Além de fazer o melhor uso possível do Programa de Promoção de Inovação Estratégica Interministerial (SIP) e cooperar nestes esforços com uma diversidade de entes comunitários, esses atores deverão fazer uso estratégico da propriedade intelectual e da padronização internacional para converter rapidamente os frutos da pesquisa em comercialização e implantação internacional e para melhorar a competitividade.
O governo japonês pretende utilizar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio, que serão realizados em 2020, o último ano do Quinto Plano Básico, para divulgar e mostrar os frutos da CT&I do Japão dentro e fora do país, bem como estimular a atividade internacional da indústria japonesa e do investimento estrangeiro no Japão. Serão priorizados projetos que contribuam para a C,T&I japonesa e que podem acelerar os esforços voltados para as Olimpíadas, como as tecnologias de tradução multilíngues, que podem eliminar o estresse relacionado à comunicação e à mobilidade dos turistas que visitam o Japão.
O reforço dos fundamentos da C,T&I mediante a promoção dos recursos humanos e o estabelecimento de um ciclo sistêmico virtuoso de recursos humanos, conhecimento e capital para inovação mediante a promoção de mecanismos de inovação aberta constituem, respectivamente, o terceiro e o quarto pilar central do Quinto Plano Básico de C&T. Na avaliação da autoridades japonesas, embora os agentes-líderes da inovação sejam principalmente as empresas, muitos dos novos conhecimentos e valores necessários são gerados, em todo o mundo, por universidades, institutos nacionais de pesquisa, empresas e consumidores. No entanto, no Japão, os elementos necessários para a inovação, como recursos humanos, conhecimento, tecnologia e capital, são distribuídos de forma desigual entre grandes empresas, pequenas e médias empresas, empresas iniciantes, universidades e institutos nacionais de pesquisa.
Nesse sentido, o governo do Japão pretende estimular a competitividade e a fluidez de recursos humanos e conhecimento entre as empresas, universidades e institutos públicos de pesquisa, de tal forma que a pessoa certa possa, de forma rápida e flexível, utilizar os recursos apropriados no lugar certo. Isso também facilitará e promoverá colaborações indústria-academia-governo. O objetivo é aumentar a mobilidade de pesquisadores entre empresas do Japão, universidades e institutos públicos de pesquisa em 20% ao longo do Quinto Plano Básico.
Além disso, o governo irá estimular a criação e expansão de empresas iniciantes de base tecnológica, as quais têm um senso de urgência potencial para enfrentar a comercialização com agilidade e vontade de assumir riscos. Também serão incentivadas as start-ups acadêmicas, ou seja, empresas iniciantes que surgem nas universidades, transformando os resultados da pesquisa universitária em novos produtos ou serviços. O governo promoverá iniciativas para disponibilizar suporte às atividades de P&D e assistência apropriada em áreas como treinamento de empresários, criação de negócios e comercialização de produtos e serviços, e apoio contínuo até que as novas empresas atinjam sua fase de crescimento. Igualmente, o governo pretende fortalecer as parcerias entre empresas iniciantes provenientes de universidades ou institutos públicos de pesquisa e grandes corporações mediante a criação de espaços nos quais as universidades e as empresas possam cultivar conjuntamente as possibilidades de risco e criar acelerar o processo de criação de empresas acadêmicas. Ademais, irá promover parcerias entre empresas para estimular a criação de subsidiárias (spin-off e carved-out) baseadas em tecnologias e ideias que ainda não foram comercializadas.
O Japão e a Quarta Revolução Industrial
Como já mencionado, o Japão arrancou com relativo atraso na corrida pela liderança industrial e tecnológica da Quarta Revolução Industrial. Porém, na comparação com Alemanha e Estados Unidos, o Japão possuiu vantagens, bem como debilidades, que são resumidas no quadro a seguir.
De acordo com MOK (2017), a indústria de transformação japonesa possui vários pontos fortes, como: as habilidades técnicas, disciplina e capacidade de resposta rápida dos trabalhadores, a vasta e competitiva indústria de apoio e o elevado nível de utilização de robôs industriais.
Além de ser forte na inovação em processos, o Japão tem uma alta tendência de coexistência e harmonização entre tecnologias avançadas / funções tradicionais, levando à harmonização de ambientes de trabalho entre humanos e robôs sem resistência uns aos outros. A coordenação e a convergência entre humanos e máquinas são chave para o avanço da automação das fábricas japonesas. Além disso, segundo o autor, os limites ambíguos de deveres dos funcionários no trabalho e as boas relações entre trabalhadores e empresas estão servindo como fatores positivos para introdução de AI ou de fábricas inteligentes em alguns setores.
Na comparação com Estados Unidos e Alemanha, o Japão está, de acordo com Mok (2017) mais avançado em termos comunicação Máquina para Máquina (M2M). O M2M permite que as máquinas, operando separadamente, sejam conectadas por meio de redes para que os dados, criados em cada máquina, possam ser integrados, controlados e utilizados em tempo real.
No que diz respeito aos ciclos de dados reais, coleta, análise e aplicação prática e industrialização, o Japão também registra vantagem. O país possui robôs e sensores de ponta, bem como dados reais bastante ricos, por exemplo, em termos das atividades do chão de fábrica, seguro médico e tráfego, etc. O Japão conta ainda com altos níveis de tecnologias de telecomunicações, bem como tecnologias de ponta para processar e analisar dados. O país possui redes de comunicação avançadas de alta velocidade, se classificando em segundo lugar mundial, atrás apenas da Coreia do Sul.
No que se refere às debilidades, Mok destaca que o Japão tem relativamente poucos dados virtuais e o tamanho do processamento de Big Data é pequeno. Em comparação com os Estados Unidos, o país tem uma limitação para incorporar grandes dados e habilidades limitadas para analisar os dados por meio de AI.
A área de software do país é relativamente pouco desenvolvida, em particular no que se refere ao desenvolvimento de produtos, como sistemas que habilitam conexão de hardware e software de conexão. Ademais, o Japão registra escassez relativa de mão de obra no campo do software em comparação com o hardware. Mok destaca que, entre os especialistas japoneses, predomina a visão de que não há no país uma conexão orgânica de pesquisadores e indústrias nos domínios de sistemas de software e de AI.
Outra debilidade identificada reside na rígida estrutura de governança corporativa que dificultam os investimentos ativos de risco por parte das grandes empresas japonesas. Por essa razão, não há no Japão, segundo Mok, nenhum caso de uma empresa de capital de risco que tenha crescido e se transformado em uma grande empresa. Nos Estados Unidos, em contraste, foi fácil para a General Eletric (GE) se lançar em um novo negócio, vendendo suas operações no setor financeiro para injetar US$ 1 bilhão no desenvolvimento do PREDICS, plataforma industrial de computação nas nuvens.
Mencionando as conclusões de um fórum sobre as transformações da indústria japonesa e suas respostas à IoT, esse autor aponta que as estruturas verticalmente integradas da indústria japonesa, as culturas e a gestão das empresas não são adequadas ao modelo de inovação aberta, que nos anos recentes tornou-se o modelo predominante no desenvolvimento de produtos. Em um modelo de inovação aberta, um consórcio de empresas conduz atividades pré-competitivas, tais como articulação de demanda para uma nova indústria, modularização de componentes, padronização de interfaces entre os módulos, compartilhamento de patentes e direitos de propriedade, etc.
Na avaliação de Mok, o Japão tem também pouca importância nas plataformas globais. Embora as empresas japonesas estejam se esforçando para participar do Consórcio de Internet Industrial (IIC) dos Estados Unidos e da plataforma Indústria 4.0 da Alemanha, a presença do Japão ainda não é competitiva.
Para superar essas debilidades, além da formulação de várias estratégias de política, o governo japonês tem trabalhado em cooperação estreita com o setor privado mediante o estabelecimento de Conselhos público-privado e iniciativas conjuntas. Em maio de 2015, por exemplo, foi criada a Iniciativa Revolução Robótica (RRI), com o propósito de ajudar o Japão a liderar o mundo através de robôs e realizar a inovação robótica na era da IoT.
Dessa iniciativa participam grandes empresas e várias associações industriais, como do setor automotivo, agricultura, saúde, infraestrutura; universidades; institutos e laboratórios de pesquisa; e organizações parceiras regionais, etc. Organizado em três grupos de trabalho – inovação empresarial por meio de IoT, promoção da utilização de robôs, inovação em robótica – a RRI surgiu a partir da nova estratégia de desenvolvimento de robôs que foi adotada pelo governo japonês como política oficial em fevereiro de 2015, como será visto detalhado mais adiante nesse estudo.
A RRI tem uma interação estreita, não apenas com organizações público-privadas japonesas, tais como o Conselho de Competitividade Industrial, o Conselho de Ciência e Inovação Tecnológica e o Conselho de Reforma Regulatória e associações industriais domésticas, mas também com organizações estrangeiras como a Iniciativa Internet Industrial (IIT) nos Estados Unidos e a Indústria 4.0 na Alemanha. Atualmente, a RRI possui mais de 500 membros, mais do que dobro do número original de aderentes.
Outro exemplo de cooperação público-privada foi a criação em 2015 do Consórcio para Aceleração da IoT, que reúne representantes do governo, da indústria e da academia, com o objetivo de construir uma estrutura para desenvolver e demonstrar tecnologias relacionadas à promoção da IoT, bem como criar e facilitar novos modelos de negócios. Apoiado pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) e pelo Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações (MIC), esse consórcio promove o desenvolvimento, demonstração e padronização para tecnologias relacionadas com IoT, mediante suporte financeiro e regulatório para projetos temáticos de médio e longo prazo de múltiplas empresas e para projetos individuais de curto prazo, bem como a criação de vários projetos e recomendações relacionadas à IoT, como a reforma regulatória necessária para executar esses projetos. Organizado sob a forma de grupos de trabalho, subordinado a um comitê coordenador, esse consórcio conta atualmente com mais de três mil participantes.
Outra parceira importante entre o governo, indústria e academia se traduziu, também em 2015, na formação do Comitê Nova Estrutura da Indústria no âmbito do Conselho da Estrutura Industrial. Em trabalho conjunto com os ministérios e agências governamentais relevantes, esse Comitê, presidido pelo professor Motoshige Ito da Universidade de Tóquio, divulgou, em abril de 2016, um relatório preliminar, denominado Visão Futura da Estrutura Industrial Inovadora, que descreve claramente a resposta estratégica do governo japonês à Quarta Revolução Industrial, como será visto mais adiante nessa resenha.
Em abril de 2016, foi igualmente lançado o Conselho Estratégico de Tecnologia de Inteligência Artificial, presidido pelo primeiro-ministro Abe para promover o desenvolvimento da inteligência artificial (AI). Esse Conselho promove a cooperação entre o governo japonês, a academia e as indústrias e também coordena as políticas de AI, elaboradas por distintos ministérios, como o METI, o MIC, e o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia. Também integram o Conselho, institutos de pesquisa afiliados, por exemplo, o Instituto de Pesquisa em Física e Química (RIKEN), que realiza pesquisa básica, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada (AIST), que se ocupa de comercialização e testes, e o Instituto Nacional de Tecnologia de Comunicação e Informação (NICT), entre outros. Esses institutos, em particular, o RIKEN, que realiza, sobretudo, pesquisa básica, e o AIST, que se ocupa, principalmente, de comercialização e testes são duas organizações-chave nos esforços do Japão para o desenvolvimento da tecnologia de AI.
Em março de 2017, esse Conselho divulgou um relatório com a estratégia do Japão para a tecnologia de AI, incluindo o roteiro estratégico de longo prazo para o desenvolvimento e a industrialização dos resultados do P&D em AI. Esse roteiro define três áreas prioritárias para aplicação das tecnologias de AI (produtividade; saúde, cuidados médicos e bem-estar; mobilidade) e três fases: momento atual, 2020 e aproximadamente 2025-2030, como será visto mais adiante.
Orientação de Política para a Quarta Revolução Industrial no Japão
A agenda de política do governo japonês em resposta à Quarta Revolução Industrial é um roteiro de médio e longo prazo, firmemente baseado na cooperação e na parceria com o setor privado, que combina estratégias focadas no desenvolvimento de domínios tecnológicos específicos com estratégia de transformação da economia e da sociedade a partir da disseminação dos resultados dos avanços nos diferentes setores.
Nova Estratégia de Robótica. A excelência do Japão no campo da robótica tem sido particularmente notável na área de robôs industriais, na qual o país foi pioneiro. Em 2012, o Japão obteve de cerca de US$ 340 bilhões com exportação de robôs, que representava aproximadamente 50% do mercado mundial, enquanto o número de unidades em operação (com base no estoque) era de aproximadamente 300 mil unidades (23% da participação global). Além disso, no campo de elementos-chave do robô, como redutores de precisão para robôs, servo-motor e sensor de força, o Japão ocupa uma posição dominante: mais de 90% do mercado mundial.
Embora o Japão ainda mantenha o seu status de “Superpotência de Robótica” até o presente, como o primeiro fornecedor mundial de robôs industriais em valor, com base em seu renome mundial em diversas áreas de produção de robôs, utilização, fornecimento de peças-chave, pesquisa e desenvolvimento, essa posição começou a ser desafiada pelas iniciativas dos Estados Unidos (Iniciativa Nacional de Robótica em 2011), da União Europeia (projeto de parceria público- privada SPARC, lançado em 2014) e também da China e Coreia do Sul, que veem no desenvolvimento da robótica, uma chave para o crescimento. Os Estados Unidos e os países da Europa estão aproveitando as mudanças em curso associadas ao desenvolvimento da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), viabilizada pelo rápido progresso da digitalização e do avanço das tecnologias de rede e nuvem, para conquistar a liderança no desenvolvimento e utilização de novos robôs avançados, enquanto na China, o número anual de unidades de robôs (fluxo) empregadas subiu de 4.000 em 2005 para 37.000 em 2013, deslocando o Japão da posição de líder mundial. Pelo indicador do estoque de robôs industriais em termos do valor adicionado pela indústria da OCDE, o Japão perdeu a primeira posição para a Coreia do Sul como a economia mais intensiva do mundo em 2015.
Nesse ambiente mais competitivo, juntamente com a inovação tecnológica e as mudanças nos modelos de negócios, está em curso uma transformação drástica dos robôs. Os robôs não se limitam a executar tarefas rotineiras e estão se tornando “autônomos” equipados com habilidades de autoaprendizagem e iniciativas de ação. Há muita expectativa para um maior enriquecimento das capacidades do robô, de acordo com um grande salto no avanço da tecnologia de AI (imagem, reconhecimento de voz, aprendizado automático), incluindo a utilização do aprendizado profundo, além do progresso de tecnologias separadas, como tecnologia de sensores e maior desempenho de software e capacidade de processamento de informações, o que permitirá um processamento mais qualificado.
Por meio de acumulação e uso de vários dados por conta própria, os robôs tendem a se transformar um dispositivo de terminal de informações, substituindo dispositivos existentes como computadores pessoais e telefones celulares. Esses robôs podem ser utilizados em todas as esferas da vida diária. Por exemplo, os robôs devem avançar na área de ferramentas rotineiras de comunicação e contribuir para oferecer suporte vital, como assistência em tarefas domésticas, bem como segurança e conforto.
Com o avanço da IoT, os robôs se tornam interligados para a cooperação mútua como uma ferramenta "em rede", desempenhando tarefas além do alcance de suas tarefas individuais. Por meio das conexões em rede, os robôs funcionarão não apenas como um único robô, mas também como parte de vários sistemas.
No Japão, a forma principal de utilização dos robôs continua sendo o uso individual com especificações personalizadas para apenas algumas áreas do setor manufatureiro, como as indústrias automobilística, elétrica e eletrônica, equipadas com excelente tecnologia de produção em massa. Em contraste, nos Estados Unidos e na Europa, surgem novos modelos de negócio (e de geração de valor) à medida que os robôs se transformam em "dispositivo terminal de informação" autônomo e em rede, como comprovam as iniciativas do Consórcio de Internet Industrial nos EUA, da Indústria 4.0 na Alemanha e os novos empreendimentos do Google na área de tecnologia robótica.
Para evitar que o Japão fique defasado em termos de ideias sobre desenvolvimento de robôs ou perspectivas de modelos de negócios, o governo lançou em 2015, a nova Estratégia de Robótica com vistas ao avanço em domínios como tecnologias robóticas, criação e programação de sistema em áreas de alto valor agregado, integrador de sistema (SIer, na sigla em inglês) de software e hardware. E particular, os progressos no campo do integrador de sistemas é chave para a difusão da utilização sistemática de robôs nos diversos setores da indústria de transformação, incluindo as três principais indústrias de “suprimentos” (suprimentos alimentares, suprimentos cosméticos e suprimentos médicos e farmacêuticos), e de serviços, na infraestrutura, agricultura e principalmente entre empresas de pequeno a médio porte, que dependem principalmente da força de trabalho humana.
A estratégia japonesa de revolução robótica visa converter em robô, por meio do avanço de tecnologias de sensores e de AI, o que anteriormente não servia como robô em modos convencionais. Por exemplo, automóveis, aparelhos domésticos, telefones celulares ou habitação serão considerados tipos de robôs. A utilização de robôs multitarefas no local real da produção bem como nas várias cenas da vida diária conduzirá a formar uma sociedade, onde novos valores agregados, conveniência e riqueza serão criados mediante o reforço da competitividade global no campo da indústria de transformação e do serviço, bem como a resolução de problemas sociais. Com essa nova estratégia, o Japão pretende desencadear uma revolução em robótica e se posicionar como centro mundial de inovação em robótica e local de demonstração de utilização da tecnologia de robô de última geração (exibição da utilização dos robôs em atividades do cotidiano) por uma miríade de usuários sofisticados em mercados de negócios (B2B) e consumidor (B2C).
Na avaliação do governo japonês, a parceria pública e privada é central para a concretização do objetivo de tornar o país o líder mundial em inovação robótica e promover e manter integralmente a estrutura e o ambiente para desenvolver continuamente robôs que levam a uma revolução social. Por essa razão, como mencionado, surgiu a “Iniciativa de Revolução de Robô (RRI)”, que serve como centro para os principais atores (governo, empresas e academia) compartilhar o progresso tanto na execução da política governamental como das ações específicas das empresas e de importantes interessados envolvidos, discutir as melhorias necessárias e trabalhar em conjunto na promoção da nova Estratégia de Robô.
O recrutamento e o desenvolvimento de recursos humanos altamente capacitados são também considerados essenciais para o sucesso da iniciativa de revolução robótica. Em 2015, havia escassez no país de profissionais especializados em SIer para montagem de sistema de robô e especialistas em TI para operar software de núcleo no sistema de robôs. Por essa razão, a Estratégia prevê adoção de um conjunto de medidas para atrair e formar especialistas na criação e emprego de robôs, para incentivar a capacitação de empregados com experiência acumulada nos locais reais de trabalhos como integrador de sistema, mediante formação profissional pública, a certificação e sistemas de qualificação, educação e desenvolvimento de recursos relevantes em institutos de pesquisa e universidades e para apoiar o pessoal que busca novos desenvolvimentos ou inicia negócios. Igualmente, o governo japonês pretende efetuar uma ampla divulgação de conhecimentos em robôs na sociedade, tanto como parte das educações primárias e secundárias, quanto mediante o uso pleno de instalações educacionais sociais, como museu de ciências, para que as pessoas se familiarizem com os robôs e seu uso efetivo em uma base diária e ao mesmo tempo entendam como é a estrutura de operação dos robôs.
A Nova Estratégia estabelece visão ideal a partir de 2020 para os diferentes setores de atividade econômica no Japão. Para o setor da indústria de transformação, espera-se que o tamanho do mercado de robôs industriais utilizados seja duplicado de 60 bilhões de ienes para 120 bilhões de ienes em 2020 e que a produtividade do trabalho industrial aumente em 2% ao ano. Também foi fixada uma meta para o aumento na taxa de robotização no processo de montagem dos atuais 10% para até 25% em 2020 para empresas de grande porte e até 10% para pequenas e médias empresas.
Cerca de trinta casos de utilização inédita de robôs serão coletados anualmente e publicados como melhores práticas avançadas ao longo do quinquênio 2016-2020, a fim de disseminar os casos de utilização de robôs avançados em todo o Japão. Tais casos incluirão a criação de linhas de interação humano-robô, projetadas racionalmente com a utilização de robôs multitarefas de braço duplo, e a formação de linhas de produção com base na utilização de sistemas de coordenação entre vários dispositivos e robôs de rede.
Além disso, no que diz respeito ao SIer que será a chave para garantir uma resposta flexível às futuras necessidades dos usuários, o mercado SIer será expandido de forma a superar o aumento do tamanho do mercado de robôs. Em conexão com o hardware modular padrão e software de base comum, como pré-requisito para o design flexível do sistema, serão feitos arranjos para desenvolver mais de 1.000 diferentes tipos de produtos de hardware interoperáveis equipados com o sistema operacional comum do robô e trazê-los para o mercado.
Estratégia para a tecnologia de AI. Lançada em março de 2017, essa estratégia, elaborada pelo Conselho Estratégico de Tecnologia de AI, presidido pelo primeiro-ministro japonês, adota o conceito de tecnologia de informação como serviço (AIaaS, na sigla em inglês). A ideia é que tecnologia AI que atualmente está progredindo é aquela voltada para a realização de tarefas especializadas, usada apenas para complementar as capacidades humanas. Ao utilizar e aplicar a tecnologia AI como um serviço baseado em dados, é possível extrair ao máximo as capacidades dos seres humanos, a sociedade humana torna-se abundante e sustentável, e benefícios econômicos e industriais são produzidos. A combinação de tecnologias de AI, como reconhecimento de imagem, processamento de linguagem natural, reconhecimento e síntese de voz e predição, com dados coletados das pessoas (conversas, histórico de ações e pesquisa na internet, dados vitais), do ambiente de trabalho (produção, vendas) e do espaço urbano (tráfego, mapas) e da natureza (tempo e condições climáticas etc.) irá se traduzir em serviços de aplicação complexa, com nova criação de valor em círculo virtuoso.
No Japão, dados de alta qualidade vêm sendo utilizados há vários anos para melhorar a produtividade nos locais de produção na indústria de transformação. O documento aponta que é necessário integrar os pontos fortes do Japão com a tecnologia AI e associar isso ao fortalecimento da competitividade industrial. Para isso é preciso enfrentar desafios, como a insuficiência de investimentos público e privado em P&D na área de tecnologia de AI, a escassez de pesquisadores em AI, entre outros. Embora o país seja líder mundial em patentes de tecnologia de AI, o número de artigos publicados na área de AI é bastante inferior ao número dos Estados Unidos e da China.
A estratégia inclui um roteiro de industrialização para fusão da tecnologia de AI e outras tecnologias conexas, que prevê três fases para sua execução até 2025-30. Na fase 1, o roteiro projeta a utilização e aplicação da AI baseada nos dados desenvolvidos em diferentes domínios. A utilização da AI e dos dados crescerá em conjunto com as novas sementes em indústrias de serviços relacionados. Na fase 2, aproximadamente 2020, o uso público de AI e dados entre vários domínios já estará desenvolvidos e as novas atividades, como as indústrias de serviço, irão expandir. Na fase 3, prevista para 2025-30, prevê que já esteja construído um ecossistema, conectando e fundindo domínios multiplicadores.
O roteiro incorpora três áreas prioritárias: produtividade; saúde, assistência médica e bem-estar; mobilidade. Estas áreas foram determinadas como resultado: (1) necessidade de soluções urgentes para desafios sociais, (2) contribuição aos efeitos econômicos multiplicadores e (3) expectativas de contribuições baseadas na tecnologia AI.
Para a execução desse roteiro, o governo japonês promoverá: o P&D em tecnologias de AI, o fortalecimento de recursos humanos, a melhoria do ambiente para os dados e instrumentos e o suporte às empresas iniciantes de base tecnológica. Os objetivos do P&D em AI estão estritamente vinculados às áreas prioritárias do roteiro:
• Produtividade: pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de produção avançada que permite a produção de lotes pequenos personalizados de muitos produtos em cronogramas adequados;
• Saúde, assistência médica e bem-estar: descoberta precoce de doenças, incluindo demência, seleção de melhores métodos de cura, pesquisa e desenvolvimento de sistemas que permitem o manuseio no intuito de realizar cuidados de saúde em que as doenças são evitadas mediante o avanço da medicina preventiva;
• Mobilidade: pesquisa e desenvolvimento de mobilidade inteligente, que realiza altos valores agregados do espaço de viagem, com base na tecnologia de comunicação universal e na importância dos dados cartográficos, enquanto se coordena com os sistemas de deslocamento automático.
Ainda no que se refere às atividades de P&D nas tecnologias de AI, o documento da estratégia atribui papel-chave a três importantes institutos de pesquisa do Japão: NICT, RIKEN e o AIST. Esses três institutos de pesquisa serão os responsáveis pela coordenação dos objetivos de P&D em AI. A execução do P&D se dará em forma de inovação aberta com colaboração com indústria, universidade e governo.
No Centro para Informações e Redes Neurais (CiNet) e no Instituto de Pesquisa em Comunicação Universal (UCRI) vinculados ao NICT, a pesquisa centra-se no processamento de linguagem natural, na tradução de fala multilíngue e na comunicação de informações do cérebro. No Centro para Projetos de Inteligência Avançada (AIP) do RIKEN, as pesquisas se concentram principalmente em pesquisa básica e tecnologia de infraestrutura, notadamente para os novos algoritmos que possibilitam a aprendizagem de alta precisão a partir de pequenas quantidades de dado. No Centro de Pesquisa em Inteligência Artificial (AIRC) do AIST, os resultados das pesquisas são vinculados à aplicação em setores industriais que realizam movimento mais favorável de robôs.
Estratégia de crescimento em uma sociedade superinteligente (Sociedade 5.0). Como mencionado, em abril de 2016, o Comitê Nova Estrutura Industrial divulgou um relatório preliminar, denominado Visão da Nova Estrutura Industrial, que detalha a visão comum do governo, do setor privado e dos institutos de pesquisa sobre os esforços estratégicos do Japão para assumir a liderança da Quarta Revolução Industrial. De acordo com o documento preliminar, com o rápido avanço das inovações tecnológicas, como IoT, grandes dados, robôs e AI, cujos impactos são cada vez maiores em domínios variados, é possível afirmar que a Quarta Revolução Industrial já é uma realidade.
Os avanços tecnológicos utilizados na revolução são base fundamental para a inovação em todas as indústrias e permitem abordar novas necessidades. Por exemplo, a tecnologia de edição do genoma combinado com dados biológicos pode conduzir tanto à descoberta de novos medicamentos como de um novo tipo de produto agrícola e nova fonte de bioenergia, etc. De igual modo, o progresso na tecnologia de condução automática guiada (drone) está dando origem a novos serviços e produtos, como veículos de condução autônoma, afetando uma variedade de setores e indústrias. Capturar as tendências exatas das inovações tecnológicas e da mudança, em plena evolução, dos sistemas econômicos e sociais é a chave para o Japão assumir, de forma ousada, a liderança e atingir para uma nova fase de crescimento.
O documento apresenta sete diretrizes de política e as estratégias específicas voltadas para o redesenho do sistema socioeconômico, tendo como horizonte o ano de 2030. Igualmente, indica a direção para as reformas em setores, como indústria de transformação, mobilidade e condução autônoma, saúde e cuidados médicos, agricultura, educação e turismo, entre outros.
Na indústria de transformação, as prioridades são: inovação industrial, segurança industrial, cadeia de suprimentos e varejo. As orientações para mudança incluem:
• Habilitar a capacidade de resposta instantânea, com produção personalizada por encomenda em fábrica de produção em massa.
• Alcançar o zero desperdício e minimizar o tempo de entrega por meio da conexão de dados da produção, logística e vendas.
• Utilização em grande escala de drones para logística.
• Monitorar constantemente o equipamento da fábrica para detectar precocemente sinais de falha e emitir os avisos adequadamente.
O documento contrapõe dois cenários básicos: um cenário em que a estrutura industrial e de emprego permanece inalterada e o cenário de reforma, com mudança e mobilidade na estrutura industrial e de emprego. No primeiro cenário, as empresas japonesas se tornariam subcontratantes e players inferiores nas plataformas tecnológicas do exterior, cujos provedores capturariam o valor agregado pelas novas tecnologias. O país ficaria sujeito à inovação gradual com foco apenas em hardware. Ao mesmo tempo, ocorreria uma crescente bipolarização dos trabalhadores de classe média, em razão da perda de oportunidades de emprego devido à automação e/ou digitalização e à diminuição do salário.
O segundo cenário, de reforma, prevê a construção de plataformas de dados, que abolirá as fronteiras entre empresas e keiratsu, e mercado de trabalho flexível, com incorporação de trabalhadores estrangeiros qualificados. Nesse cenário será possível: simultaneamente reorganizar a indústria e mobilizar emprego; criar produtos e serviços inovadores, tirando proveito das tecnologias de AI e dos dados; realizar inovação disruptiva em software; resolver problemas sociais criando novos serviços/produtos e adquirindo mercados globais e valor agregado; obter aumento de produtividade e salário para compensar o declínio da população; disseminar os resultados da nova revolução industrial entre as pequenas empresas e economias locais, etc.
No final de maio de 2017, foi divulgada a versão final do relatório do Comitê Nova Estrutura Industrial, renomeado como Visão do Futuro em 2030. Todavia, até a conclusão do presente estudo, a versão em inglês ainda não havia sido disponibilizada. De acordo com o comunicado de imprensa do METI, a Visão do Futuro 2030 tem como objetivo identificar e superar todos e quaisquer desafios sistêmicos para a sociedade, aproveitando as inovações tecnológicas, incluindo IoT, Big Data, AI e robôs, e orientar tais conquistas em direção ao crescimento econômico do Japão e construção de uma sociedade mais próspera que cada pessoa possa desfrutar.
A Visão reconsidera as vantagens e as desvantagens do Japão, desenha as estratégias futuras de médio e longo prazo para conquistar mercados globais, estipula os contornos de um método retroativo de cálculo para a determinação de estratégias e abordagens concretas que resultem no sucesso de metas específicas, e apresenta uma compilação de projetos inovadores, prevendo reformas específicas de sistemas relacionados. Foram delineadas estratégias especificas para: i) mobilidade (pessoas e produtos); ii) cadeia de suprimento (cadeias de fornecimento inteligentes, sofisticação aprimorada e eficiência na indústria de transformação); iii) cuidados com saúde (saúde, cuidados médicos, cuidados de enfermagem); iv) modos de vida (desenvolvimento de novas cidades, economia compartilha economia, FinTech).
Também foram definidas estratégias intersetoriais para os desafios relacionados às mudanças estruturais industriais e de emprego:
• Maior sofisticação das regras (dados, propriedade intelectual padronização, regulamentos / sistemas);
• Ecossistemas de inovação (bases para centros de excelência, colaboração entre indústria e academia/universidades, P&D de empresa, plano de desenvolvimento de AI, empreendimento de risco);
• Sistema de rejuvenescimento econômico (investimento em capital de risco/ativos intangíveis, reestruturação de negócios/mudanças nas estruturas industriais, governança/diálogos);
• Sistemas de desenvolvimento/utilização de recursos humanos;
• Sistemas de segurança social
• Sistemas regionais / PMEs
• Desenvolvimento de negócios no exterior
Política de Indústrias Conectadas
Como já mencionado, o Japão pretende alcançar a “Sociedade 5.0” no futuro mediante a plena utilização da inovação tecnológica, incluindo internet das coisas (IoT), inteligência artificial (AI) e Big Data, derivados da quarta revolução industrial. Nesse processo, as indústrias deverão desempenhar um papel fundamental, razão pela qual o governo japonês anunciou, em março de 2017, o conceito de “Indústrias Conectadas” (CI, na sigla em inglês) que deverá se tornar no futuro uma grande competência das indústrias japonesas, tal como ocorreu com as políticas de Made in Japan, Robôs Industriais e Kaizen (melhoria contínua).
Os pontos fortes do Japão em tecnologias, mão de obra qualificada e compreensão do chão de fábrica combinados com os avanços digitais irão resultar em uma nova sociedade, centrada no ser humano. Os pilares dessa nova sociedade serão: o trabalho conjunto de pessoas, robôs e sistemas, com ampla utilização das ferramentas de inteligência artificial na maximização das habilidades humanas; a cooperação em vários níveis entre indivíduos, empresas, indústrias e países para soluções efetivas dos desafios sociais, o desenvolvimento de recursos humanos com aquisição de conhecimentos e habilidades para a era digital.
De acordo com o METI, nesse novo quadro conceitual, as indústrias criarão valor agregado e soluções para vários desafios da sociedade por meio da conexão de uma variedade de coisas, incluindo máquinas, dados, tecnologias, pessoas, sistemas, empresas, infraestrutura e organizações, bem como de indústrias existentes com as tecnologias digitais. Com o avanço das tecnologias de informação, e em particular da IoT, os vários dispositivos e sistemas conectados à rede, através das fronteiras e das gerações, permitem a obtenção dos dados do espaço real, cuja utilização eficiente incentivará a inovação, a melhoria da produtividade e uma série de novas tecnologias e gerará novos valores continuamente.
Como primeiro passo na concretização dessa iniciativa, o METI realizou, em meados de 2017, mesas redondas com importantes representantes do mundo industrial e especialistas para liderar as empresas industriais japonesas nas discussões sobre esforços públicos e privados necessários a concretização do conceito de política. Também realizou um simpósio com mais de seiscentos participantes, incluindo representantes do governo e especialistas da indústria e da academia.
Nas discussões da primeira reunião da mesa redonda, realizada em maio, os participantes mencionaram exemplos de casos específicos de esforços industriais envolvendo o conceito de política, como os avanços nas tecnologias de ponta no âmbito da política de Manufatura Inteligente, as abordagens para integrar biotecnologia e tecnologia digital, a utilização de inteligência artificial (AI) e outras iniciativas. Com base nestes exemplos de casos, explicitaram divergências, identificaram áreas que exigem iniciativas competitivas e cooperativas, explicaram a necessidade de mudar os modelos de negócios e de melhorar o desenvolvimento de recursos humanos, temas que foram abordados na segunda reunião realizada no mês de julho.
Dando continuidade a execução da política de CI, em outubro de 2017, o METI lançou a Iniciativa "Indústrias Conectadas - Tóquio 2017", como uma visão futurista das indústrias japonesas. No contexto dessa iniciativa, para a qual ainda não há informação detalhada em inglês além daquelas contidas no comunicado de imprensa, o Japão identificou cinco campos prioritários, nos quais investirá intensivamente recursos políticos. Esses campos prioritários são: condução autônoma e serviço de mobilidade; indústria de transformação e robótica; biotecnologia e materiais; gerenciamento de segurança de instalações industriais e infraestrutura; e vida inteligente. Para cada um deles foi definido um conjunto de medidas de política.
No âmbito da iniciativa, o governo japonês também promoverá medidas de suporte intersetoriais no que se refere ao compartilhamento e utilização de “dados reais”, melhoria do ambiente para a utilização de dados e iniciativas de expansão adicional de empresas globais, de risco, empresas locais e PMEs. Essas medidas têm como propósito viabilizar a instalação das indústrias japonesas nos competitivos mercados mundiais de “dados reais”. Esses dados são aqueles que não podem ser extraídos do mundo “virtual”, mas somente dos locais onde efetivamente são produzidos, como as fábricas, os locais de tratamento médico, os locais de teste da condução autônoma, etc.
Dado que o software de código aberto (OSS) já foi amplamente aceito, o METI pretende, ainda, incentivar a construção de plataforma aberta baseada em tecnologia padronizada como uma nova OSS (Open Standard Strategy) com o objetivo de expansão da inovação e de mercado por livre circulação de informações e dados. A ideia é que as empresas cooperem na realização de P&D em tecnologias avançadas em campos harmonizados a partir dos desafios industriais identificados, selecionado tecnologias e talentos de acordo com sua própria estratégia concorrencial.