Carta IEDI
O Retrocesso Exportador da Indústria
A indústria brasileira tem um longo caminho pela frente para reparar os danos que sofreu na última década, em que a crise de 2014-2016 foi apenas o pior momento. Embora tenha havido oscilações não desprezíveis, o fato é que desde a forte turbulência que atingiu a economia global em 2008, nossa indústria não conseguiu sustentar um desempenho favorável sob inúmeros critérios.
A Carta IEDI de hoje analisa o desempenho industrial a partir de um destes critérios, qual seja, a evolução de seu comércio exterior, agregando os diferentes ramos do setor por níveis de intensidade tecnológica, segundo metodologia da OCDE.
Desde 2008, a balança comercial da indústria de transformação brasileira tornou-se sistematicamente deficitária. Assim, em 2019 completamos 12 anos de resultados comerciais negativos. O agravante em 2019 é que o déficit se ampliou em 32% frente a 2018, atingindo US$ 34,1 bilhões. Embora longe das piores marcas do período (US$ 63 bi, em 2014), é um patamar de déficit cinco vezes maior do que o de 2008.
A deterioração do saldo em 2019 chama atenção por vários aspectos, mas o primeiro deles a ser destacado é que ocorre em um contexto de baixo dinamismo econômico. Se o PIB vier a se acelerar em 2020, como se espera (de 1,1% para 2,3%, segundo o Boletim Focus/BCB), a consequente ampliação das importações deve fazer com que o déficit da indústria de transformação continue se ampliando.
Por ora, as importações não voltaram a contribuir para a piora do saldo. Ao contrário, em 2019, houve declínio de -1,6% nas compras externas de produtos da indústria de transformação, sob influência dos ramos de menor intensidade tecnológica. A importação da indústria de baixa tecnologia recuou -3% e a de média baixa, -8%, mas neste último caso devido ao segmento de construção naval, que foi afetado pelas mudanças das regras do Repetro.
Assim, o que explica o déficit de 2019 foi a contração das exportações da indústria. Com embarques e desembarques no negativo, outro aspecto a ser destacado no desempenho do ano passado é o enfraquecimento da corrente de comércio do setor (-4,5%). Isso significa que, a despeito de medidas de facilitação de comércio e da retomada de negociações em acordos internacionais, a indústria brasileira esteve menos integrada no comércio internacional.
A forte desaceleração do comércio internacional, em função das tensões entre EUA, China e Europa, e a crise econômica argentina, contribuíram muito para o mau desempenho exportador da indústria brasileira em 2019, que registrou variação de -7,9% ante 2018. Foi a primeira queda desde 2016.
É como se tivéssemos regredido dez anos, já que o valor exportado de US$ 126,9 bilhões em produtos da indústria de transformação em 2019 é equivalente ao de 2010 (US$ 124,5 bilhões). Este patamar também é 7,3% inferior à exportação de 2008, o último ano de um movimento consistente de aumento das vendas externas de nossa indústria, que passou de US$ 47,2 bilhões, em 2002, para US$ 136,9 bilhões. Deste então, oscilamos sem avançar e o saldo da balança comercial do setor tornou-se recorrentemente negativo.
Com isso, em 2019 os produtos industriais exportados registraram a menor participação nas exportações totais da série histórica iniciada em 1989, equivalente a 56,7%. Isso depois de ter oscilado em torno de 77% entre 2000 e 2008 e de ter ficado acima de 80% na maior parte dos anos 1990.
Esta involução do ímpeto exportador tem sido muito concentrada em ramos de maior intensidade tecnológica. A participação dos grupos de alta e média-alta tecnologia em nossas exportações industriais regrediu de 43% em 2000 para apenas 32% em 2019, o menor patamar desde 1995.
No ano passado, todos os grupos por intensidade tecnológica acusaram declínio das vendas externas. A alta e a média-alta tecnologia foram as que mais caíram: -15,7% e -14,2%, respectivamente. No primeiro caso, condicionado pelos ramos aeronáutico (-21,9%) e farmacêutico (-2,5%). No segundo caso, principalmente por veículos (-24,7%), mas também produtos químicos (-9,6%) e máquinas e equipamentos mecânicos (-7,7%).
Embora de modo menos acentuado, a indústria de baixa tecnologia, único grupo com saldo superavitário, também reduziu suas exportações pelo segundo ano consecutivo: -4,0% em 2018 e -3,7% em 2019. Têxteis, couros e calçados foi quem pior se saiu, registrando -10,9%, sendo seguido por madeira, papel e celulose (-8,2%) e por alimentos (-1,5%).
A indústria de média-baixa, por sua vez, apresentou queda de -5,6% em suas exportações, tendo sido bastante influenciada por três de seus ramos: produtos metálicos (-2,4%), borracha e plástico (-6,0%) e minerais não metálicos (-8,8%). A grande oscilação do ramo de construção naval, que inclui as plataformas de petróleo, continua sendo decisiva para o desempenho deste grupo. Sem este componente, as exportações da média-baixa teriam crescido +2,5%.
Desempenho dos Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
O ano de 2019 fechou com superávit comercial de US$ 46,7 bilhões, aquém dos resultados dos três anos anteriores. Em dólares correntes, foi o quarto maior saldo. A menor grandeza frente a 2018 decorreu do recuo de 6,4% nas exportações, caindo de US$ 239,3 bilhões para US$ 224,0 bilhões. Logo, ficou mais distante também dos montantes exportados em 2011, 2012, 2013, 2014. As importações experimentaram decréscimo de 2,1%, ficando em US$ 177,3 bilhões.
Esse superávit foi obtido principalmente pelo saldo positivo de US$ 80,8 bilhões dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais, sendo o segundo melhor resultado em toda a série, atrás apenas do ano anterior. Suas exportações ficaram em US$ 97,1 bilhões, abaixo do já logrado em 2011, 2012 e 2018, caindo 4,3% frente a este último.
No caso dos produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação, o déficit aumentou, saindo de US$ 25,8 bilhões para US$ 34,2 bilhões. Apesar desse aumento, ainda está menor do que o registrado nos anos de 2010 a 2014. As exportações declinaram 7,9%, para US$ 126,9 bilhões, abaixo do já obtido nos anos de 2011 a 2014 e de 2017 a 2018. Com isso, 2019 se configurou no ano de menor participação dos bens típicos da indústria de transformação nas exportações totais do Brasil considerando a série iniciada em 1989. Quanto às importações dos produtos da indústria de transformação, decresceram 1,6%, ficando em US$ 161,1 bilhões. Ainda assim, as importações dos bens em questão atingiram sua maior participação na série com começo em 1989, 90,8%.
Atendo-se ao quarto trimestre do ano, o saldo de US$ 11,7 bilhões representou recuo frente ao superávit de igual período de 2018, R$ 16,3 bilhões. As exportações retrocederam de US$ 62,2 bilhões para US$ 55,4 bilhões, queda de 10,9% em relação a outubro-dezembro de 2018. As importações caíram menos, 4,7%, ficando em US$ 43,8 bilhões. No quarto trimestre de 2019, o superávit também se deveu aos demais produtos – bens agropecuários e minerais: saldo de US$ 20,1 bilhões. Para esse período do ano, o superávit em dólares correntes só ficou aquém ao desse período de 2018. Quanto às exportações, o Brasil vendeu US$ 24,0 bilhões dos mesmos, um declínio de 7,7% frente ao mesmo período de 2019.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações caíram 13,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficando em US$ 31,4 bilhões. Desse modo, o déficit, de US$ 8,4 bilhões, cresceu bastante frente ao registrado em igual período do ano anterior. As importações até caíram, 3,7%.
A desaceleração do intercâmbio mundial associada à disputa comercial entre China e Estados Unidos, numa perspectiva mais ampla, e a crise argentina, no plano sul-americano, impactaram as exportações brasileiras. Todavia não se pode apenas imputar a tais pontos esse decréscimo exportador: os históricos problemas de custosa complexidade tributária e de infraestrutura física insuficiente continuam pesando. Soma-se a tanto o descolamento do Brasil em relação às questões ambientais podendo representar óbices adicionais à inserção externa brasileira.
A Balança Comercial da Indústria por Intensidade Tecnológica
Tomando a classificação adotada pela OCDE para a indústria de transformação por intensidade tecnológica, pode-se esmiuçar o comércio externo do País. São quatro faixas da indústria de transformação: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica. A tabela seguinte explicita tal classificação.
Considerando primeiramente os desempenhos no ano, o intercâmbio externo de bens produzidos por atividades tidas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica, experimentou déficit de US$ 21,6 bilhões, superando os três anos anteriores. Apesar de tanto, ainda se encontra abaixo dos registrados de 2010 a 2015. Suas exportações, após quatro anos de crescimento, sofreram declínio de 15,7%, caindo para US$ 9,0 bilhões. A participação dos bens dessa faixa nas exportações totais do país caiu de 4,5% para 4,0%. Só em 1995 e em 2011, teve parcela menor na série iniciada em 1989. A queda no montante exportado decorreu da menor venda de aeronaves, principal item de exportação dessa faixa, levando a uma redução quase equivalente no superávit. A indústria farmacêutica experimentou déficit maior, enquanto o complexo eletrônico como um todo observou déficit bastante próximo ao de 2018, embora seus diferentes ramos tenham tido comportamentos distintos entre si.
A faixa de média-alta intensidade encerrou 2019 com déficit de US$ 44,3 bilhões, o maior dentre as quatro faixas e maior também do que os déficits dos anos de 2015 a 2018. Ainda assim, sua magnitude ficou menor do que a registrada nos anos de 2011 a 2014. Suas exportações recuaram 14,2%, ficando em US$ 31,2 bilhões. Com isso, essa faixa registrou sua menor participação nas exportações totais, 13,9% na série iniciada em 1989. A balança dos produtos o ramo automotivo (veículos automotores, reboques e semi-reboques) observou aumento do déficit, com queda de dois dígitos das exportações. Os demais ramos também registraram déficits maiores, sendo que a maioria também observou declínio exportador.
Quanto aos produtos tipicamente originários da indústria de média-baixa intensidade tecnológica, seu intercâmbio registrou déficit de US$ 4,3 bilhões, menor que o déficit observado no mesmo período de 2018, de R$ 5,6 bilhões, mas contrastando com o superávit de 2016 e de 2017. O déficit ocorreu com as exportações caindo 5,6%, ficando em US$ 35,4 bilhões. Apesar desse recuo, sua parcela no total das exportações do país ficou em 15,8%, ligeiramente acima do ano anterior. Quanto às importações, estas declinaram 8,0%. O déficit menor refletiu principalmente a redução na magnitude do déficit em produtos derivados do petróleo refinado, álcool e outros combustíveis, bem como da construção naval frente a 2018. Infelizmente o superávit dos bens metálicos diminui por conta das exportações menores.
Quanto ao grupamento dos bens típicos das atividades de baixa intensidade tecnológica, seu saldo foi de US$ 36,0 bilhões em 2019, o único superavitário dentre as quatro faixas. O resultado se deveu às exportações de US$ 51,3 bilhões. Mas tanto as vendas externas quanto a balança caíram frente a 2018, configurando dois anos seguidos de recuo quer no superávit, quer nas exportações. A redução de 3,7% nas suas exportações refletiu a queda das vendas para o exterior dos produtos da indústria de alimentos, bebidas e fumo. As exportações de produtos madeireiros, seus derivados, papel e celulose também caíram, assim como o saldo, mas mantendo superávit de monta, enquanto o déficit de produtos têxteis, de vestuário, calçados e artigos de couros cresceu com vendas menores para o exterior. Em pese o montante exportado menor dessa faixa frente a 2018, sua participação nas exportações totais brasileiras aumentou para 22,9%.
Passando para a comparação entre outubro-dezembro de 2019 e igual trimestre de 2018, o déficit no mais recente para os itens da faixa de alta intensidade, de US$ 5,4 bilhões, representou um acréscimo de US$ 850 milhões. Suas exportações retrocederam 12,8%, com queda de dois dígitos em todos os ramos, com destaque para o declínio nas vendas externas dos produtos de transporte aeronáuticos, devido a sua importância exportadora, e de material de informática e escritório, por conta da redução de quase 50%.
No comparativo entre quartos trimestres de 2019 e de 2018 para a faixa de média-alta, o déficit também aumentou, atingindo US$ 11,4 bilhões. O aumento no déficit foi registrado em quase todos os ramos. As exportações desse segmento declinaram 17,8%, queda puxada, sobretudo, pelas menores vendas externas de veículos automotores, reboques e afins e de produtos químicos. Os demais ramos dessa faixa também apresentaram exportações cadentes. As importações de mercadorias dessa faixa declinaram 0,6%.
Outubro-dezembro de 2019 para o segmento de média-baixa intensidade foi deficitário, de US$ 1,2 bilhão, maior do que o déficit do mesmo trimestre de 2018. O déficit de produtos derivados de petróleo refinado, álcool e outros combustíveis recuou sobremaneira, mesmo com as exportações tendo ficado praticamente estáveis. Já o superávit de produtos metálicos caiu pela metade, com as exportações tendo recuado 15,0%. O déficit maior do segmento de média-baixa também decorreu do déficit maior dos produtos plásticos e borracha.
No tocante aos fluxos comerciais da faixa de baixa intensidade tecnológica no quarto trimestre de 2019, suas exportações, US$ 13,4 bilhões, e o superávit, de US$ 9,6 bilhões, ficaram praticamente estáveis frente a 2018, com ligeira melhora em ambos. O saldo comercial dos gêneros típicos da indústria de alimentos, bebidas e fumo cresceu US$ 1,0 bilhão, puxado pelas exportações. Por outro lado, produtos madeireiros, derivados, papel e celulose registraram queda no superávit e nas exportações. Os produtos têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados tiveram déficit maior com queda nas exportações.
Indústria de alta intensidade tecnológica
Em 2019, o déficit da faixa de alta intensidade tecnológica aumentou frente a 2018, déficit de US$ 21,6 bilhões, configurando o segundo ano seguido de deterioração no saldo. Apesar de maior ficou abaixo dos déficits para janeiro-setembro registrados nos anos de 2008 e de 2010 a 2015. Tal ampliação no déficit tem como agravante a retração de 15,7% das exportações em dólares correntes, caindo para US$ 9,0 bilhões. As importações cresceram 1,7%. Os produtos típicos da indústria aeronáutica permanecem como os únicos superavitários dessa faixa, saldo de US$ 3,9 bilhões, com vendas externas de US$ 5,8 bilhões. Mas essas cifras significaram expressiva redução em relação aos resultados de 2018, quando o superávit e as exportações de aeronaves atingiram patamares recordes. Os três ramos do complexo eletrônicos exportaram, em conjunto, US$ 1,9 bilhão, declinando 2,0% no ano com diferenças de desempenho entre os ramos. O déficit desse complexo ficou em US$ 18,2 bilhões, ficou praticamente estável frente a 2018. No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas declinaram 2,5%, ficando em US$ 1,4 bilhão, concorrendo para o saldo negativo de US$ 7,3 bilhões, déficit recorde em dólares correntes.
Outubro-dezembro concorreram para que o País exportasse menos bens da faixa de alta intensidade, bem como tivesse déficit maior. O saldo comercial no último trimestre de 2019 ficou deficitário em US$ 5,4 bilhões, superando em quase US$ 849 milhões a grandeza do déficit do mesmo período de 2018. Suas exportações retrocederam 12,8%, caindo para US$ 2,4 bilhões. As importações, por sua vez, aumentaram 6,8%, chegando a US$ 7,8 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais conformaram o único grupo desse segmento a lograr superávit no trimestre em questão, de US$ 1,0 bilhão. Apesar de positivo, ficou aquém do saldo de outubro-dezembro de 2018. Nesse sentido, suas exportações diminuíram 11,5%, ficando em US$ 1,6 bilhão. Quanto às importações, estas cresceram 45,0%
Os três ramos de bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para o déficit dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, com déficit conjunto de US$ 4,7 bilhões. Esse déficit superou o do mesmo trimestre de 2018, o que se deveu à queda de 17,4% nas exportações do complexo. O ramo de equipamentos de áudio, vídeo e telecomunicações (inclusive componentes eletrônicos) é o que registra normalmente o maior déficit dentre todos não só do complexo eletrônico, mas de toda a faixa. No trimestre em pauta, o déficit foi de US$ 2,2 bilhões, acima do déficit do mesmo trimestre de 2018. Suas exportações caíram 14,3% nessa comparação, ficando em somente US$ 121 milhões no período. Já suas importações cresceram 15,5%. Quanto aos equipamentos de informática e material de escritório, foram exportados apenas US$ 48 milhões em outubro-dezembro, com queda de 46,3% no montante vendido para o exterior. Suas importações aumentaram 3,9%, contribuindo para o déficit de US$ 1,2 bilhão. Quanto ao ramo de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares, ótico e de precisão, suas exportações declinaram 10,3%, ficando em U$S 254 milhões. Suas importações caíram menos, recuo de 2,4%, mas, dadas as magnitudes desses fluxos, foi o único ramo desse complexo cujo déficit não cresceu em 2019, apresentando saldo negativo de US$ 1,3 bilhão.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 1,7 bilhão, déficit ligeiramente acima do observado no mesmo trimestre do ano anterior. Suas exportações declinaram 12,9%, ficando em US$ 344 milhões. As importações desses bens, por sua vez, retrocederam bem menos, 0,9%.
Indústria de média-alta intensidade tecnológica
A faixa de média-alta intensidade apresentou déficit de US$ 44,3 bilhões em 2019, o maior dentre as quatro faixas de intensidade e superior aos déficits experimentados nos anos de 2015 a 2018. Apesar de tanto, foi de menor magnitude que o registrado nos anos de 2011 a 2014. Suas exportações retrocederam 14,2%, ficando em US$ 31,2 bilhões no ano passado. Já as importações cresceram 1,1%, atingindo US$ 75,5 bilhões. Todos os ramos concorreram para a deterioração do resultado comercial. Os produtos da indústria automobilística experimentaram déficit de US$ 2,1 bilhões, ante déficit de US$ 796 milhões em 2018, sendo que tinham logrado superávit em 2016 e 2017. Suas exportações declinaram 24,7%, ficando em US$ 10,7 bilhões, com as importações também diminuindo, queda de 14,4%. As exportações de equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) também se retraíram, queda de 5,4%, ficando em meros US$ 229 milhões. Seu déficit aumentou para US$ 673 milhões em 2019.
Os dois grupamentos ligados a bens de capital viram seus déficits crescerem. O de equipamentos não especificados noutras atividades teve déficit de US$ 9,4 bilhões, com o agravante de suas exportações terem retrocedido 7,7% em relação a 2018, ficando em US$ 9,1 bilhões. Suas importações cresceram 13,5% pela mesma base comparativa. Já os materiais e equipamentos elétricos, tiveram saldo negativo de US$ 5,5 bilhões, com exportações de US$ 2,7 bilhões, variação de 0,2% frente a 2018, sendo o único ramo dessa faixa cujas vendas externas não caíram. Suas importações cresceram 2,7%.
Quando aos produtos químicos, exclusive farmacêuticos, experimentou déficit de US$ 26,6 bilhões, o maior dentre todos os ramos de todas as faixas da classificação da OCDE. O Brasil exportou US$ 8,5 bilhões, 9,6% a menos do que em 2018, sendo que as importações cresceram 1,4%.
O aumento do déficit no ano dos bens típicos da indústria de média-alta intensidade foi puxado pelo saldo negativo de US$ 11,4 bilhões no quarto trimestre, quando as exportações diminuíram 17,8% frente a 2018, ficando em US$ 7,4 bilhões. Quanto às importações, declinaram 0,6%.
As exportações de produtos químicos (exclusive farmacêuticos) caíram 22,6%, para US$ 2,0 bilhões. As importações também recuaram, porém com menos força, queda de 8,6% no comparativo entre quartos trimestres. Assim o déficit atingiu US$ 6,7 bilhões
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 869 milhões. Os produtos automobilísticos registraram déficit de US$ 659 milhões no trimestre final de 2019, maior do que o apresentado no mesmo trimestre de 2018, por conta da retração de 16,4% nas exportações, que ficaram em US$ 2,5 bilhões. Suas importações caíram 5,9%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações caíram 42,8%, com suas importações crescendo 25,5%, culminando no saldo negativo de US$ 210 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 2,5 bilhões e de US$ 1,3 bilhão, respectivamente. No primeiro ramo, suas exportações recuaram 17,2%, ficando em US$ 2,1 bilhões, enquanto as importações cresceram 17,4%. Já as exportações de máquinas e equipamentos elétricos diminuíram 6,6%, ficando em US$ 674 milhões, enquanto as aquisições do exterior cresceram 8,8%. Nestas atividades, as importações maiores podem decorrer de aumento no investimento, conformando um dado positivo, apesar das exportações cadentes.
Indústria de média-baixa intensidade tecnológica
As exportações em dólares correntes de bens provenientes tipicamente de indústrias de média-baixa intensidade tecnológica diminuíram 5,6% em 2019, ficando em US$ 35,4 bilhões. Apesar dessa retração, foi o terceiro melhor saldo na série, ficando atrás também do montante exportado em 2013. Ademais, apesar do resultado negativo, o déficit diminuiu, ficando em US$ 4,3 bilhões. Embora menor, tal déficit contrasta com os superávits de 2016 e de 2017. Já as importações, recuaram 8,0%.
Com comportamento ditado sobretudo pelos fluxos comerciais de derivados do petróleo refinado, outros combustíveis etc. e dos produtos metálicos, mormente da siderurgia, ironicamente coube ao primeiro a melhoria no saldo, uma vez que, embora deficitário, a magnitude do déficit declinou de US$ 10,9 bilhões para US$ 8,4 bilhões. As exportações de derivados de petróleo e outros combustíveis cresceram 39,3% no ano, atingindo US$ 6,0 bilhões, patamar recorde. Suas importações declinaram 4,9%. Quanto aos produtos metálicos, seu superávit caiu de US$ 11,3 bilhões em 2018 para US$ 8,3 bilhões em 2019, com decréscimo de 2,4% nas exportações, ficando estas em US$ 22,2 bilhões.
Passando para os demais ramos, um dos responsáveis pelo resultado deficitário da faixa como um todo em 2019, o ramo de borracha e produtos plásticos, teve déficit de US$ 2,7 bilhões, acima do observado no ano anterior, com recuo de 6,0% nas exportações e incremento de 3,5% nas importações. O segmento naval teve déficit elevado, de US$ 1,7 bilhão. Apesar desse resultado ter concorrido para o saldo negativo da faixa como um todo, representou melhora expressiva vis-à-vis 2018, quando o déficit atingiu US$ 4,1 bilhões. Tanto suas exportações quanto as importações retrocederam sensivelmente. Os produtos de minerais não-metálicos, embora logrando superávit de US$ 277 milhões, tiveram uma piora frente a 2018, devido à queda de 8,8% nas exportações, acompanhada de discreto recuo, de 0,3%, nas importações.
Atendo-se a outubro-dezembro de 2019, as exportações de gêneros típicos da indústria de média-baixa intensidade tecnológica retrocederam 25,6% frente a 2018, ficando em US$ 8,2 bilhões. As importações também declinaram, 16,3%. Desse modo, houve aumento no déficit de US$ 217 milhões no último trimestre de 2018 para US$ 1,2 bilhão no mesmo período de 2019.
As vendas externas de produtos de petróleo refinado e afins sofreram discreto recuo, de 0,4%, no quarto trimestre, ficando em US$ 1,6 bilhão. Suas importações caíram 13,8%. O déficit desses bens teve redução de US$ 614 milhões no contraste entre o quarto trimestre de 2018 e o de 2019, registrando déficit de US$ 2,2 bilhões em outubro-dezembro de 2019.
Os produtos metálicos, de balança superavitária, obtiveram superávit de US$ 1,8 bilhão, bem aquém dos US$ 3,7 bilhões logrados em igual período de 2018. Suas exportações retrocederam 15,0%, ficando em US$ 5,5 bilhões. Já as importações aumentaram 34,0%, sem fazer frente ao montante exportado, mas reduzindo o superávit.
Passando para os outros ramos dessa faixa, os produtos de minerais não-metálicos lograram superávit de US$ 42 milhões, menor do que no quarto trimestre de 2018. Suas exportações declinaram 22,6%, ficando em US$ 413 milhões no período em pauta. Já as importações recuaram 9,6%. O intercâmbio de embarcações, navios etc. registrou déficit de US$ 55 milhões em outubro-dezembro, com exportações 97,5% menor do que em igual período de 2018. Já o déficit de US$ 732 milhões dos produtos plásticos e de borracha, representou deterioração no saldo desses itens frente ao último trimestre do ano anterior, com suas exportações caindo 15,1% e as importações crescendo 13,5%.
Indústria de baixa intensidade tecnológica
As exportações de mercadorias produzidas por atividades de baixa intensidade tecnológica retrocederam 3,7% em 2019, ficando em US$ 51,3 bilhões. Assim, o superávit de US$ 36,0 bilhões, ficou aquém dos resultados positivos apresentados nos três anos anteriores. As importações também recuaram, 3,0%, ficando em US$ 15,2 bilhões. Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, registrou queda de 1,5% nas exportações, que ficou em US$ 34,7 bilhões, com as importações declinando 4,0%. Desse modo, o superávit caiu para US$ 28,0 bilhões, mas ainda assim o mais expressivo dentre todos os ramos. Já o intercâmbio de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit expressivo, de US$ 10,9 bilhões, com exportações de US$ 12,3 bilhões. Apesar da expressão, ambos ficaram abaixo do registrado em 2018, com as exportações caindo 8,2%. Suas importações retrocederam 2,5%.
Passando para os dois ramos dessa faixa caracterizados por serem mais intensivos em trabalho, seus saldos continuaram deficitários, mas com comportamentos distintos no contraponto entre 2019 e 2018. O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados registraram déficit de US$ 2,2 bilhões, maior do que em 2018, devido à queda de 10,9% nas exportações, que ficaram em US$ 3,1 bilhões. Já os produtos manufaturados não especificados noutras atividades e reciclados tiveram saldo negativo de US$ 722 milhões, menor do que em 2018, com vendas externas de US$ 1,2 bilhão, incremento de 4,3%.
No quarto trimestre de 2019, as exportações dos bens tipicamente oriundos dos ramos dessa faixa de intensidade tecnológica ficaram estáveis em contraste com igual período de 2018, variação de 0,2%, chegando a US$ 13,4 bilhões. Quanto às importações, declinaram 1,9%, ficando em US$ 3,8 bilhões. Daí o superávit de US$ 9,6 bilhões em outubro-dezembro, maior do que o logrado no período equivalente de 2018, mas insuficiente para elevar o superávit de 2019 frente ao do ano anterior.
O saldo positivo do grupamento de bens em questão tem decorrido sobretudo da balança dos produtos industriais de alimentação, bebidas e fumo, cujo superávit atingiu US$ 8,1 bilhões, maior do que no mesmo trimestre de 2018. Suas vendas externas cresceram 11,1% pela mesma base comparativa, alcançando US$ 9,8 bilhões. Já as importações retrocederam 4,6%, ficando em US$ 1,7 bilhão.
O intercâmbio de produtos do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins teve superávit de US$ 2,3 bilhões no quarto trimestre, abaixo do resultado para igual período de 2018. Suas exportações recuaram 23,6%, ficando em US$ 2,6 bilhões. Quanto às importações, diminuíram 2,7%.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de bens diversos ou reciclados caíram 3,3%, ficando em US$ 288 milhões. Suas importações aumentaram 8,0%. Esse ramo ficou com saldo negativo de US$ 190 milhões, déficit de magnitude maior do que o do mesmo período de 2018. Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, suas exportações diminuíram 16,3% no contraponto entre quartos trimestres, com o Brasil exportando US$ 757 milhões. Suas importações aumentaram 1,3%. Com isso, registrou déficit de US$ 545 milhões. Notar que, desde o terceiro trimestre de 2017, esse conjunto de mercadorias vem registrando exportações menores na comparação com igual trimestre do ano anterior.