Carta IEDI
Um novo horizonte para a indústria
Embora o quadro econômico do ainda não esteja normalizado, já que o surto de Covid-19 ainda não foi extinto, nossa indústria encontra-se pronta para uma nova etapa de dinamismo, pois nos últimos meses conseguiu retomar os patamares de produção anteriores ao choque negativo de mar-abr/20, quando a pandemia atingiu o país.
Como as bases de comparação já foram restauradas, as elevadas taxas de crescimento que marcaram os meses de maio a julho deram lugar a um desempenho mais modesto, mas ainda assim positivo. Em nov/20, como mostram os dados mais recentes do IBGE, a produção industrial aumentou +1,2%, em linha com o resultado de out/20. Desta forma, estancou-se a trajetória de desaceleração que vinha apresentando.
Além de positivo em seu agregado, o resultado de nov/20, descontados os efeitos sazonais, também sinalizou expansão para a maioria dos ramos industriais. Dos 26 acompanhados pelo IBGE, 17 ficaram no azul, isto é, 65,4% do total. Entre os macrossetores, todos evitaram perdas. Quem mais cresceu foram bens de capital, com +7,4%, e bens de consumo duráveis, com +6,2%.
Neste final de ano, a evolução tem sido satisfatória mesmo em comparação com 2019. Frente ao mesmo período do ano anterior, já são três meses consecutivos de crescimento (+2,8% em nov/20). Muito disso, porém, deve-se a bases de comparação deprimidas, pois no final de 2019 a crise econômica argentina e as tensões comerciais entre EUA e China prejudicaram os resultados. Apesar disso, não terá como escapar das perdas no acumulado de 2020 (-5,5% em jan-nov).
Com estes sinais de recuperação, a confiança dos empresários do setor têm registrado melhora, seja pelo indicador da CNI, seja pelo da FGV. E mais, o otimismo com a situação presente tem avançado mais do que as expectativas em relação ao futuro próximo, o que ajuda a ir validando as projeções de dias melhores.
Apesar disso, existem aspectos que deixam a desejar e certos obstáculos ainda precisam ser superados neste início de 2021. Nos dados de nov/20, chama atenção o fato de bens intermediários, que formam o núcleo do sistema industrial, estar a dois meses virtualmente estagnados. Registrou mero +0,1% ante out/20, com ajuste. E isso a despeito das notícias de escassez de muitos insumos que este macrossetor produz.
Além disso, cabe observar que os reduzidos níveis de estoques na grande maioria dos ramos industriais (92,6% do total segundo a CNI) expõem o crescimento industrial a riscos de ruptura nas cadeias de fornecimento, podendo restringir o dinamismo e provocar pressão de custos.
Outro dado que expressa as limitações da fase atual é que o nível da produção industrial está 14% abaixo do pico anterior à crise de 2014-2016 e cerca de 1/3 dos ramos industriais permanecem abaixo do patamar pré-pandemia (fev/20).
Estão são informações importantes porque mostram claramente a magnitude do desafio para se virar a página destes últimos anos em que o setor sofreu dois períodos de severa adversidade (2014-2016 e agora em 2020). Tanto é que a utilização da capacidade instalada da indústria está 4% abaixo daquela do 1º trim/2014, a despeito dos avanços recentes.
Em relação aos próximos meses, como o IEDI vem insistindo há algum tempo, o fim das medidas emergenciais de combate aos efeitos econômicos da pandemia, a evolução do desemprego e as dúvidas a respeito da celeridade da vacinação contra Covid-19 são fatores que podem levar a uma importante acomodação no dinamismo da indústria e do PIB em geral. Evitar isso exigirá coordenação e algumas escolhas difíceis das autoridades competentes.
Outro ponto a ser enfrentado é o imprescindível resgate da agenda de reformas estruturais, notadamente da reforma tributária, já amplamente discutida nestes últimos anos, sem as quais a competitividade e as condições de crescimento de longo prazo da indústria ficam comprometidas. Com um sistema tributário de melhor qualidade, estaremos dando à indústria, em 2021, o início de um novo horizonte.
Resultados da Indústria
Em novembro de 2020, a produção industrial cresceu +1,2% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, dando continuidade à trajetória positiva iniciada no mês de maio e interrompendo a desaceleração que vinha apresentando. Já superado do choque da pandemia em mar-abr/20 e com bases de comparação menos deprimidas, a indústria entra em uma nova fase de dinamismo, cujas taxas tendem a melhor refletir suas efetivas condições de crescimento.
O setor como um todo conseguiu superar em 2,6% o nível de produção de fev/20, sobrepujando, assim, o impacto negativo da Covid-19 nos meses de mar-abr/20. Vale mencionar, porém, que a indústria permanece 14% abaixo do pico de produção anterior à crise de 2014-2016. Esta defasagem nos lembra que a indústria sobrepôs dois períodos de graves adversidades nos últimos anos e ainda está longe de superá-las.
A indústria também evitou o terreno negativo na comparação com o mesmo período do ano anterior, ao registrar variação de +2,8% em nov/20. Cabe observar que em 2020 novembro (20 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que em 2019. Esta foi a terceira vez seguida que a produção industrial não caiu nesta comparação no contexto na pandemia, mas cabe observar a existência de bases baixas de comparação já que no final de 2019 o desempenho do setor foi prejudicado pelas tensões comerciais entre EUA e China, que desaceleraram o comércio mundial, e o agravamento da crise econômica na Argentina.
O saldo geral no acumulado de janeiro a novembro de 2020, contudo, permaneceu no vermelho, em -5,5%, embora o nível de queda venha se reduzindo. A maior parte desta retração está concentrada no segundo trimestre do ano, com resultado de -19,4% frente ao mesmo período do ano passado.
Já no acumulado dos últimos doze meses findos em nov/20, a indústria registrou -5,2%, em uma trajetória desfavorável em que não apresenta uma variação positiva desde mar/19. Este indicador tem oscilado em torno deste patamar desde mai/20.
Em relação aos macrossetores, na comparação de novembro com outubro de 2020, descontados os efeitos sazonais, houve crescimento em todos os quatro macrossetores acompanhados pelo IBGE. A reação mais intensa coube a bens de capital, com +7,4%, sendo seguidos por bens de consumo duráveis, com +6,2%. Registraram variações mais modestas os bens de consumo semi e não duráveis, de +1,5%, enquanto bens intermediários ficaram virtualmente estagnados (+0,1%) pelo segundo mês consecutivo (-0,2% em out/20).
Na comparação de novembro de 2020 com novembro de 2019, por sua vez, variações positivas marcaram o desempenho de três dos quatro macrossetores industriais. Enquanto o total da indústria cresceu +2,8% nesta comparação, bens de capital e bens intermediários conseguiram apresentar dinamismo superior: +12,8% e +3,6%, respectivamente. Bens de consumo duráveis registraram +2,7% e bens de consumo semi e não duráveis recuaram -0,9%.
O macrossetor de bens de capital foi quem melhor se saiu na comparação com nov/19, registrando alta de +12,8%, devido principalmente à produção de bens de capital para fins industriais (+11,2%), agrícolas (+30,9%) e para equipamentos de transporte (+5,1%). As demais taxas positivas foram registradas pelos grupamentos de bens de capital para construção (+22,1%), para energia elétrica (+5,5%) e de uso misto (+1,5%).
O aumento interanual de +3,6% na produção de bens intermediários derivou, sobretudo, do crescimento da fabricação de produtos associados às atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+8,6%), de outros produtos químicos (+8,9%), de produtos de minerais não-metálicos (+10,9%), de produtos de metal (+11,6%) e de metalurgia (+5,4%), entre outros. Pressões negativas foram registradas por indústrias extrativas (-7,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-12,3%).
Quanto a bens de consumo duráveis, sua produção aumentou +2,7% em nov/20, em grande parte, devido a avanços observados na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (+22,1%) e da “linha marrom” (+9,3%), de motocicletas (+14,9%) e dos grupamentos de móveis (+7,1%) e de outros eletrodomésticos (+7,1%). Em contraste, o macrossetor foi influenciado negativamente pela queda na fabricação de automóveis (-4,7%).
Já bens de consumo semi e não duráveis, cujo resultado foi de -0,9%, receberam contribuição negativa dos grupamentos de não-duráveis (-6,0%) e de carburantes (-5,2%). Por outro lado, registraram taxas positivas os subsetores de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+1,3%) e de semiduráveis (+2,0%).
No acumulado de janeiro-novembro de 2020, frente a igual período do ano anterior, os bens de consumo duráveis continuam sendo os que pior se saíram: -22,0%. Bens de capital apresentaram a segunda maior queda, com -13,1%, seguidos por bens de consumo semi e não duráveis (-6,5%) e bens intermediários (-1,8%). Todos tiveram perdas muito concentradas no 2º trim/20, que esteve integralmente sob efeito da pandemia de Covid-19.
Por dentro da Indústria de Transformação
O aumento de +1,2% da produção industrial geral em novembro de 2020 ante out/20, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhado de variação de +1,7% na indústria de transformação e de -2,4% do ramo extrativo.
Em relação a novembro de 2019, tal como a indústria geral (+2,8%), o desempenho da indústria de transformação não só voltou a ficar positivo, tal como ocorrera em set/20 e out/20, como foi novamente mais robusto: registrou alta de +4,2%. No caso do ramo extrativo, porém, houve contração de -7,5%, sendo a segunda vez consecutiva que apresentou agravamento das quedas na comparação interanual.
Frente a out/20, na série com ajuste sazonal, o acréscimo de +1,2% da indústria geral foi acompanhado por 17 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências positivas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+11,1%), seguidos por outros produtos químicos (+5,9%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (+11,3%), máquinas e equipamentos (+4,1%), impressão e reprodução de gravações (+42,9%) e couro, artigos para viagem e calçados (+7,9%), entre outros. Em direção oposta, ficaram no vermelho os segmentos de produtos alimentícios (-3,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,8%), além do ramo extrativo.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou variação de +2,8% na produção em nov/20, variações positivas marcaram o desempenho de 16 dos 26 ramos, 57 dos 79 grupos e 63,0% dos 805 produtos pesquisados. Vale lembrar que nov/20 teve o mesmo número de dias úteis que nov/19 (20 dias).
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram de: máquinas e equipamentos (+15,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,9%), outros produtos químicos (+8,4%), bebidas (+11,2%), produtos de metal (+13,6%), minerais não-metálicos (+10,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+13,6%) e metalurgia (+5,4%), entre outros.
Por outro lado, entre as dez atividades que apontaram redução na produção, além do ramo extrativo, estão: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,7%), impressão e reprodução de gravações (-26,3%), outros equipamentos de transporte (-18,3%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-10,8%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-1,0%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de novembro de 2020 declinou -6,5%. Desde a segunda metade do ano passado, os resultados têm sido majoritariamente negativos, mas a pandemia trouxe um aprofundamento das perdas. Em outubro e novembro, porém, houve amenização deste quadro recente. No acumulado dos dez meses de 2020 há queda de -16,5%.
Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +19,4% na comparação com nov/19. Foi a primeira alta depois de sete meses de recuos sucessivos. Apesar disso, as importações acumuladas em 2020, que deixaram o terreno positivo no mês de maio, registraram recuo de -6,5% em janeiro-novembro.
Utilização de Capacidade
Depois de o nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, ter despencado com a paralisação de muitas unidades produtivas, para 57,3% em abril de 2020, o desenho de protocolos de segurança sanitária nas empresas, o recurso a programas emergenciais do governo e, mais recentemente, a progressiva flexibilização do isolamento social vêm possibilitando a retomada de atividade, elevando a utilização da capacidade instalada para 79,7% em nov/20. Com esta melhora e sua manutenção no mês de dezembro (79,3%), o nível de utilização atingiu a média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%, embora esteja abaixo do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016. No 1º trim/14, a utilização da capacidade estava em 82,6%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em novembro de 2020 subiu 0,3 ponto em relação a outubro, para 45,8 pontos, permanecendo abaixo do patamar de agosto. Por ainda aquém da marca de 50 pontos, o indicador continua sugerindo estoques em queda. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador também registrou 45,8 pontos (+0,3 ponto frente a out/20) e na indústria extrativa ficou em 46,5 pontos (+2,8 pontos).
Ou seja, frente à paralisação de unidades e à forte redução da produção em meses anteriores com uma reativação não integral das atividades, parte da demanda das empresas foi suprida por seus estoques sem que fossem restaurados totalmente. A necessidade de fazer caixa também concorreu para a redução de estoques. Este quadro aumentou a vulnerabilidade das cadeias a repiques inesperados de comandas, gerando gargalos em diversos elos e, consequentemente, aumento de preços em alguns insumos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral ficaram, mais uma vez, abaixo do nível planejado (50 pontos), com um indicador de satisfação em 44,1 pontos em nov/20, isto é, patamar pouco melhor do que em out/20 (+0,8 ponto) e redução de -5,5 pontos em relação ao patamar pré-crise (fev/20). No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 47,6 pontos e 44,1 pontos, respectivamente, isto é, ambos abaixo do nível de equilíbrio (50 pontos), mas de modo mais intenso no segundo caso.
No grupo da indústria de transformação, 25 dos 27 ramos acompanhados pela CNI, isto é, 92,6% do total, tiveram estoques menores do que o planejado (50 pontos) em nov/20, mesma fração verificada nos meses de set-out/20. É a proporção mais elevada do ano e os dois ramos restantes ficaram muito próximos da linha de equilíbrio. Isso indica um forte espalhamento do processo de redução de estoques. Como dito anteriormente, este quadro faz com que eventuais aumentos de demanda, se não antecipados, não encontrem a oferta necessária, provocando pressão nos preços de atacado.
Dentre os ramos mais distantes da marca dos 50 pontos, estão: outros equipamentos de transporte (33,3 pontos), máquinas e aparelhos elétricos (34,5 pontos), metalurgia (39,4 pontos), produtos de metal (39,8 pontos) e móveis (40 pontos), entre outros. Os únicos que ficaram com estoques acima do nível planejado foram: impressão e reprodução (53,3 pontos) e manutenção e reparação (56,3 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI), depois de recuar intensamente em abril, para 34,3 pontos, vem dando sinais de melhora desde junho. Em agosto ultrapassou a marca dos 50 pontos, entrando na zona de otimismo ao registrar 57,5 pontos. Em dez/20 atingiu 63,3 pontos, abrindo perspectivas favoráveis para o início de 2021.
A melhora do estado da confiança em dez/20 resultou menos de seu componente de expectativas em relação ao futuro, que de 64,8 pontos em novembro subiu para 64,9 pontos. Há três meses este componente varia muito pouco, apontando otimismo dos empresários, mas de forma menos pronunciada do que no mês de set/20 (66,1 pontos).
A percepção da realidade presente, porém, registrou progresso no indicador da CNI, passando de 59,5 pontos em nov/20 para 60,2 pontos em dez/20. Também neste caso, o quadro é de otimismo, ao permanecer acima a marca dos 50 pontos. A evolução favorável deste componente é importante para validar as expectativas positivas em relação ao futuro mais de médio prazo.
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, que havia recuado para apenas 58,2 pontos em abr/20, passou a apresentar recomposição a partir de maio. Em dez/20 atingiu 114,9 pontos. Para este indicador é a marca de 100 pontos que indica neutralidade, sendo que abaixo dela temos a região de pessimismo e acima dela, de otimismo. Assim, os empresários industriais não só mantiveram o estado de otimismo reconquistado em set/20, como vêm reforçando-o nos últimos meses.
Tal resultado em dez/20, foi influenciado tanto pelas avaliações da situação atual como pelas expectativas em relação ao futuro. A avaliação presente viu progresso neste último mês ao passar de 118,2 pontos em nov/20 para 119,9 pontos em dez/20. Já as expectativas sobre o futuro avançaram de 107,9 pontos para 109,6 pontos no mesmo período, dando sinalização favorável para a evolução da produção industrial na entrada de 2021.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador, que declinou para um nível inferior a 40 pontos em abr-mai/20, voltou a ficar acima dos 50 pontos desde então, indicando melhora das condições de negócio nestes últimos meses. Em dez/20, registrou 61,5 pontos. Apesar de ter se mantido na região de melhora, foi o segundo mês que apontou declínio.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)