Carta IEDI
A indústria e a recuperação econômica no início de 2021
Na passagem de 2020 para 2021, ampliaram os desafios a serem superados para que a recuperação da economia continue ganhando robustez e maior consistência. O avanço do contágio pela Covid-19, o fim dos programas emergenciais e o desemprego em patamares recordes minam as condições de crescimento do país.
Poucas atividades foram poupadas de sinais de acomodação e outras ainda estão longe de superar as perdas do início da pandemia. Apesar disso, a indústria vem dando mostra de resiliência e sustentando a expansão econômica neste início de 2021. Registrou alta de +0,4% em jan/21, com ajuste sazonal, e atingiu nível de produção 3,7% acima de fev/20.
O varejo, que vinha se saindo melhor, entrou em nova fase de perdas e o setor de serviços voltou a crescer, mas sua reação permanece obstruída pela Covid-19. Com o endurecimento das medidas restritivas, sobretudo, a partir de março as perspectivas para estes dois setores não são favoráveis nos próximos meses.
As vendas reais do varejo, pela terceira vez consecutiva, ficaram no vermelho, variando -0,2% em jan/21, já corrigidos os efeitos sazonais. Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção, a queda chegou a -2,1%. Deste modo, o setor perdeu tudo o que vinha ganhando: em jan/21 voltou a ficar abaixo do nível de fev/20: -2,1% no caso do varejo ampliado e -0,4% no caso do varejo restrito.
Já o setor de serviços, que ficou estagnado em dez/20 (0%) conseguiu crescer +0,6% em jan/21, também livre de sazonalidade. Foram esta melhora nos serviços e a manutenção do crescimento da indústria que levaram o IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, a registrar +1% na passagem de dez/20 para jan/21. Ainda assim, o nível de faturamento real dos serviços ficou 3% abaixo de fev/20, isto é, do pré-choque da Covid-19.
Neste início de ano, o avanço da produção industrial foi acompanhado de resultados favoráveis em 42% de seus ramos e em 47% de seus parques regionais. Entre os macrossetores, dois registraram retrocesso e dois avançaram. O melhor desempenho coube a bens de capital (+4,5% ante dez/20), seguido por bens de consumo semi e não duráveis (+2%).
Em termos regionais, das quinze localidades acompanhadas pelo IBGE, houve crescimento em sete delas na série com ajuste sazonal. Apesar do placar ter ficado dividido, as que conseguiram avançar registraram taxas de crescimento mais robustas que o total Brasil. E mais, entre elas se encontram indústrias regionais de peso, como São Paulo (+1,1%), Rio Grande do Sul (+1,9%) e Rio de Janeiro (+2,9%), entre outras.
No varejo, além de reincidente, o recuo em jan/21 foi disseminado entre seus diferentes ramos. Atingiu 60% deles, com destaque para móveis e eletrodomésticos (-5,9%, com ajuste) e supermercados e alimentos (-1,6%), pela longa sequência de variações negativas, e para livros, jornais e papelaria (-26,5%) e também vestuário e calçados (-8,2%), pela intensidade das suas perdas. Estes dois últimos ramos nunca chegaram a compensar as perdas de mar-abr/20 e nos últimos meses voltaram a se distanciar dos níveis de vendas pré-crise.
Já nos serviços, o desempenho positivo de jan/21 foi impulsionado por apenas dois dos cinco ramos identificados pelo IBGE: serviços profissionais, administrativos e complementares (+3,4% ante dez/20) e serviços de transporte, seus auxiliares e correios (+3,1%). Em ambos os casos, ainda há bases de comparação deprimidas, já que permanecem abaixo dos níveis de faturamento do pré-crise (-4,7% e -2,7%, respectivamente).
Ainda freiam a reação dos serviços os serviços prestados às famílias, que em jan/21 (-1,5%) recuou pela segunda vez consecutiva, ficando 29,9% abaixo do nível de fev/20, e o segmento de outros serviços, que agrega um conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, imobiliários, rurais etc, cujo faturamento caiu -9,2% em jan/21, fazendo com que este ramo ficasse 3,2% abaixo de fev/20.
Indústria
Em janeiro de 2021, a indústria brasileira deu continuidade à sua expansão, muito embora em ritmo mais modesto. A variação de +0,4% frente a dez/20, já com ajuste sazonal, foi acompanhada de resultados favoráveis em 42% e seus ramos e em apenas metade dos parques regionais da indústria.
Entre os macrossetores, dois registraram retrocesso e dois avançaram. O melhor desempenho coube a bens de capital, com +4,5% ante dez/20. Também no positivo ficaram os bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção subiu +2% ante dez/20, com ajuste. Apesar disso, vale observar que este macrossetor vem alternando meses de altas e quedas desde o último trimestre do ano passado. Este período coincide com a redução do auxílio emergencial pago às famílias e sua posterior extinção em 2021.
Entre aqueles que recuaram neste início de ano, bens intermediários registraram a maior queda: -1,3% ante o mês anterior. Com isso, eliminou a alta de dez/20 e indicou estar parado desde a entrada do último trimestre do ano passado, já que variou -0,2% tanto em out/20 como nov/20. Bens de consumo duráveis, por sua vez, registraram seu primeiro recuo desde abr/20: sua produção caiu -0,7% em jan/21 na série com ajuste sazonal.
Do ponto de vista regional, das quinze localidades acompanhadas pelo IBGE, houve crescimento em sete delas na série com ajuste sazonal, ou seja, em 47% do parque industrial. Apesar do placar ter ficado dividido, os que conseguiram avançar registraram taxas de crescimento mais robustas que o total Brasil. E mais, entre eles se encontram indústrias regionais de peso, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, entre outras.
As localidades que seguraram o resultado da indústria brasileira, evitando que voltasse ao terreno negativo podem ser agrupadas em duas situações. No primeiro grupo, estão os parques que, em jan/21, lograram recobrar sua trajetória de reação, depois de meses de perda de produção ou de mera estabilidade.
Foram os casos de Pernambuco, cuja produção industrial encolheu em nov-dez/20 na série com ajuste, do Rio de Janeiro, que ficou no vermelho em set-out/20 e virtualmente estagnado em nov-dez/20, e do Pará, que deu seguimento à reação de dez/20, depois de declinar em set-nov/20. Com bases mais modestas de comparação, estes estados foram os que registraram os melhores desempenhos na série com ajuste sazonal neste início de ano.
No segundo grupo, por sua vez, encontram-se as localidades com trajetórias mais consistentes de crescimento, isto é, com uma sequência maior de altas recentes. Foram os casos de São Paulo (+1,1% ante dez/20, com ajuste) e Rio Grande do Sul (+1,9%), que, ao contrário do total Brasil, que assinalou desaceleração em jan/21, obtiveram algum reforço de resultado neste início de ano. Também pertencem a este grupo Paraná e Santa Catarina.
Ou seja, o dinamismo industrial na região Sul e em São Paulo, por ora, dá sinais de maior resiliência face à deterioração do quadro sanitário e do fim dos programas emergenciais. A questão é saber se resistirão às medidas mais restritivas que muitos estados e municípios foram obrigados a adotar nos meses seguintes. As demais localidades, desde o final de 2020, já parecem enfrentar maior dificuldade. Em jan/21, os parques que voltaram a ficar no vermelho correspondem por 53% do total.
O Nordeste como um todo, cuja indústria já vinha perdendo velocidade, caiu -2,1% na passagem de dez/20 para jan/21, com ajuste sazonal. A região tende a ser a mais afetada, primeiro, pela redução do valor do auxílio emergencial pago às famílias no final do ano passado e, depois, por sua extinção na entrada de 2021. Este é um fator a impactar sua evolução industrial desfavorável. Cabe lembrar, que a indústria nordestina continua 2,1% abaixo de fev/20, isto é, do patamar anterior ao choque da covid-19.
Por sua vez, o Amazonas, Espírito Santo e Mato Grosso têm apresentado alternância de altas e baixas nos últimos meses e, agora em jan/21, registraram os piores resultados. Também estão abaixo do nível de produção de fev/20, especialmente Espírito Santo (-17,8%) e Mato Grosso (-13,8%), que possuem as maiores defasagens. Já o Amazonas está 4,9% aquém do pré-crise.
Comércio
Pela terceira vez consecutiva, as vendas reais do comércio varejista ficaram no vermelho segundo o IBGE, registrando -0,2% na passagem de dez/20 para jan/21, já corrigidos os efeitos sazonais. Em seu conceito ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção, a queda chegou a -2,1%. Ao que tudo indica, no varejo a deterioração do quadro sanitário, o alto desemprego e o fim dos programas emergenciais já estão cobrando seu preço.
O resultado negativo neste início de ano vem, no varejo restrito, depois do maior tombo já registrado em um mês dezembro na série com ajuste sazonal, de -6,2% em dez/20, e, no seu conceito ampliado, depois da primeira queda desde o choque da Covid-19 em mar-abr/20. Isso sugere que este momento adverso pode não ser um mero acidente de percurso.
Como resultado, o varejo, que liderava a retomada da economia, perdeu tudo o que conquistou a partir de maio último. O nível de vendas de jan/21 voltou a ficar abaixo do nível de fev/20: -2,1% no caso do varejo ampliado e -0,4% no caso do varejo restrito. Dado que, a partir de mar/21 houve endurecimento das medidas restritivas, o varejo pode estar diante de um novo momento de crise.
Além de reincidente, o recuo em jan/21 também foi disseminado entre os diferentes ramos do varejo. Atingiu 60% deles, com destaque para móveis e eletrodomésticos e supermercados e alimentos, pela longa sequência de variações negativas, e para livros, jornais e papelaria e também vestuário e calçados, pela intensidade das suas perdas.
Responsável por 1/3 do varejo ampliado total, o ramo de supermercados, alimentos, bebidas e fumo caiu em sete dos oito meses desde jun/20. Assim, suas vendas, que chegaram a superar em 7,8% o nível anterior ao choque da Covid-19 em meados do ano passado, perderam este ganho e voltaram ao patamar de fev/20 (+0,1%). Além da redução e posterior extinção do auxílio emergencial pago às famílias, a evolução deste ramo também reflete a elevação dos preços de muitos de seus itens, sobretudo alimentos.
Móveis e eletrodomésticos, por sua vez, acumulam cinco meses consecutivos de resultados negativos na série com ajuste sazonal. Com isso, seu nível de vendas que estava, em ago/20, 18,5% acima do pré-crise, agora está 3% abaixo deste patamar. Seu desempenho em jan/21, de -5,9%, foi a terceira maior queda entre os ramos do varejo.
Os recuos mais intensos neste início de ano ficaram por conta de livros, jornais, revistas e papelaria (-26,5%), que além das dificuldades impostas pela pandemia também lidam com transformações importantes de seu mercado com o avanço da digitalização, e do ramo de vestuário e calçados (-8,2%), cujo mercado é influenciado pela sociabilidade e sua experiência de compra ainda demanda muito presença física.
Estes dois ramos nunca chegaram a compensar as perdas de mar-abr/20 e nos últimos meses voltaram a se distanciar dos níveis de vendas pré-crise. Em jan/21, o ramo de livros, jornais e papelaria estava 51,6% abaixo de fev/20 e o de vestuário e calçado, 20,8% abaixo. Também nesta situação encontra-se o ramo de veículos e autopeças: 10,6% aquém do nível de vendas de fev/20 e queda de -3,6% na passagem de dez/20 para jan/21, com ajuste sazonal.
Em contrapartida, os ramos que conseguiram crescer nesta entrada de ano valeram-se de bases deprimidas de comparação. Foram os casos de outros artigos de uso pessoal e doméstico, cujas vendas encolheram -13,4% em dez/20 e agora subiram +8,2% em jan/21, e de material de construção, que após três meses seguidos de declínio, registrou +0,3% em jan/21.
Ambos os casos permanecem acima do patamar de vendas de fev/20: +7,9% para outros artigos de uso pessoal e doméstico e +17,7% para material de construção. O único outro caso com um diferencial positivo nesta comparação cabe ao ramo de artigos farmacêuticos, médicos e perfumaria: 14% acima de fev/20 e +2,6% em jan/21, sob estímulo do caráter sanitário da crise.
Serviços
O faturamento real do setor de serviços, depois de ter ficado estável em dez/20, voltou ao azul em janeiro do presente ano, segundo os dados do IBGE. O resultado, porém, foi fraco e as altas estiveram concentradas em poucos ramos. Frente ao mês anterior, já com ajuste sazonal, registrou aumento de apenas +0,6%.
Com a acomodação na virada do ano, a trajetória recente de reação dos serviços continuou insuficiente para restabelecer os níveis de faturamento anteriores ao choque da Covid-19 em mar-abr/20. Em jan/21 o setor encontrava-se 3% abaixo de fev/20 e as perspectivas para os próximos meses não são favoráveis, já que o número de casos de Covid-19 seguiu em alta neste início de ano, a ponto de muitos prefeitos e governadores voltarem a impor medidas mais restritivas em março.
O desempenho de jan/21 foi impulsionado por apenas dois dos cinco ramos identificados pelo IBGE. Foram eles: serviços profissionais, administrativos e complementares e serviços de transporte, seus auxiliares e correios.
O resultado de +3,1% em jan/21 para o ramo de transportes foi o mais forte desde ago/20 (+3,6%) e interrompeu a tendência de desaceleração que vinha apresentando desde então. Ainda assim, seu faturamento permaneceu 2,7% abaixo de fev/20, em grande medida devido ao transporte aéreo (-27,4%), cuja reação permanece bloqueada, mas também ao transporte terrestre, que está 5,7% aquém do pré-choque da Covid-19.
Para o ramo de serviços profissionais, administrativos e complementares, que reúne atividades geralmente terceirizadas pelas empresas, o avanço de +3,4% em jan/21 foi o mais forte de sua retomada, iniciada em jun/20, e compensou a virtual estagnação de dezembro último (+0,1%). Também neste caso, continua abaixo do nível de faturamento de fev/20 (-4,7%), devido ao seu componente de serviços administrativos e complementares (-7,9%).
Entre os que ficaram no vermelho neste início de ano, o pior resultado foi em outros serviços, que agrega um conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, imobiliários, rurais etc. Seu faturamento caiu -9,2% ante dez/20. Foi uma queda tão intensa quanto o momento mais grave da pandemia (-9,8% em abr/20), fazendo com que este ramo ficasse 3,2% abaixo de fev/20.
Serviços prestados às famílias recuou pela segunda vez consecutiva, o que pode estar representando uma reversão do seu processo de recuperação. Livre de efeitos sazonais, caiu -4,0% em dez/20 e -1,5% agora em jan/21, devido, sobretudo, a alojamento e alimentação. Este ramo de serviços reúne atividades entre as mais atingidas pela pandemia e permanece muito abaixo do patamar pré-crise: -29,9%.
Já os serviços de informação e comunicação resvalaram para o terreno negativo em jan/21 devido aos seus componentes de serviços de edição e agências de notícias e de tecnologia da informação. Estratégico em tempos de home office e de isolamento social, este ramo já superou o pré-crise e encontrava-se 2,6% acima do patamar de faturamento de fev/20.