Carta IEDI
Crescimento com disparidades setoriais
O nível de atividade econômica de abr/21 evoluiu positivamente, com o início do relaxamento das medidas restritivas de combate à segunda onda de Covid-19. Apesar disso, a composição deste dinamismo foi heterogênea e nem todos os setores conseguiram avançar em sua recuperação. Por esta razão, acabou sendo um mês mais fraco do que muitos esperavam.
Para a indústria, não houve crescimento: -1,3% ante mar/21, com ajuste sazonal. Por se tratar do terceiro mês consecutivo de perdas, pode-se dizer que a retomada industrial foi interrompida, ao menos por ora. Este é um fator de atenção, pois a indústria estabelece muitas relações intra e intersetoriais, tendo maior capacidade de difundir seu dinamismo, seja ele positivo ou negativo, para o restante da economia.
Os serviços, por sua vez, tiveram aumento de faturamento (+0,7%), mas foi fraco sobretudo se levarmos em conta que registrou queda importante em mar/21 (-3,1%). Voltou, então, a ficar não muito distante da estabilidade, tal como havia registrado na virada do ano. Sem ampla vacinação e controle efetivo da pandemia a reação deste setor, que tem muitas atividades que exigem contato pessoal e mobilidade, tende a ficar restringida. Com isso, a recuperação do emprego também continuará prejudicada, dado que os serviços são grandes empregadores.
Quem conseguiu um nível superior de crescimento foi o comércio varejista, cujas vendas em seu conceito ampliado registraram +3,8% ante mar/21, descontados os efeitos sazonais. Neste caso, porém, não se pode afirmar com certeza que este resultado será o início de uma nova fase de expansão, já que sua trajetória recente tem oscilado muito de sinal nos últimos meses.
Como resultante destas evoluções setoriais, o índice IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, acusou variação de +0,44% na passagem de mar/21 para abr/21, já corrigidos os efeitos sazonais. Embora positivo, cabe observar que é a taxa mais fraca desde o início da retomada dos primeiros impactos da Covid-19 de mar-abr/20, e compensou muito parcialmente o recuo de -1,61% do mês anterior. Teria sido um mês melhor se a indústria estivesse em rota ascendente.
A heterogeneidade também tem contribuído para bloquear o dinamismo da indústria. A maior parte dos seus ramos (70%) e parques regionais (60%) acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho. Entre os quatro macrossetores, bens intermediários (-0,8%, com ajuste) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,9%) tiveram perdas, enquanto bens de capital (+2,9%) e bens de consumo duráveis (1,6%) ampliaram produção.
Regionalmente, o padrão de abr/21 seguiu o mesmo apresentado em meses anteriores: enfraquecimento dos parques industriais do Sul e de São Paulo, que vinham liderando a recuperação, e declínio no Nordeste. O que mudou frente a resultados passados foi a intensidade com que muitos pisaram no freio. A indústria paulista, que tem alternado altas e baixas, registrou -3,3%, e a da região Nordeste como um todo, no vermelho desde dez/20, recuou -7,8%.
Nos serviços, forte disparidade de resultados também marcou a evolução de seus diferentes segmentos. Em abr/21, 3 de seus 5 segmentos não avançaram, mas vale lembrar que desde dez/20 nem todos seus ramos conseguem crescer. Assim, sua expansão foi concentrada apenas em serviços prestados às famílias (+9,3% depois de -28% em mar/21), que responderam intensamente ao relaxamento das medidas restritivas, e serviços de informação e comunicação (+2,5%), favorecidos pela situação de pandemia.
Já o comércio varejista foi a exceção em abr/21, não apenas pela maior intensidade de seu crescimento, mas também por a grande maioria de seus ramos terem ficado no azul. O único no negativo foi o de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, com -1,7% já descontados os efeitos sazonais, mais diretamente impacto pela inflação, desemprego e redução do auxílio emergencial.
Ainda que abr/21 não tenha sido um mês de crescimento robusto, por ter deixado muitas atividades para trás, contribuiu para uma revisão favorável das projeções da economia em 2021. O Boletim Focus do BCB, por exemplo, apontou, agora em 11/06/21, crescimento do PIB brasileiro de +4,89% em 2021 contra +3,08% na avaliação de um mês atrás (09/06/2021).
Em boa medida, isso se dá porque o lockdown desta segunda onda foi menos efetivo do que se esperava, mas também porque, bem ou mal, existe um processo de vacinação em curso e porque conta-se com protocolos de segurança sanitária já estabelecidos. Além disso, foi reeditado o auxílio emergencial pago às famílias, mesmo que com valor menor. São fatores muito diferentes da primeira onda.
Indústria
A indústria, por ora, encontra dificuldades para crescer em 2021. Ainda que a melhora da economia internacional contribua para sua dinamização, sobretudo, do ramo extrativo, o mercado interno ainda permanece muito restringido, como mostraram os dados do PIB no 1º trim/21 para o consumo das famílias. Já são três meses seguidos de queda da produção industrial.
A retração de -1,3% da produção industrial do país de março para abril de 2021, já descontados os efeitos sazonais, foi a terceira consecutiva neste início de ano, sendo produzida por perdas disseminadas em seus ramos e na maioria dos parques regionais do setor.
Dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, 18 ficaram no vermelho, ou seja 70% do total, assim como metade dos macrossetores. Regionalmente, 9 dos 15 parques industriais também perderam produção nesta comparação, o que corresponde a 60% do total. Com isso, ficaram abaixo do pré-pandemia, isto é, do nível de produção de fev/20, 12 ramos industriais ou 46% do total, metade dos macrossetores e 10 parques regionais ou 67% do total.
Na passagem de mar/21 para abr/21, quedas foram registradas por bens de consumo semi e não duráveis (-0,9%, com ajuste), devido sobretudo à produção de alimentos, e bens intermediários (-0,8%). Já o que conseguiram aumentar produção foram bens de capital (+2,9%) e bens de consumo duráveis (+1,6%), ambos compensando somente parcialmente resultados ruins nos meses anteriores.
Regionalmente, o padrão de abr/21 seguiu o mesmo apresentado em meses anteriores: enfraquecimento dos parques industriais do Sul e de São Paulo e declínio no Nordeste. O que mudou frente a resultados passados foi a intensidade com que muitos pisaram no freio.
Merece destaque o caso da indústria paulista, não só por se tratar da mais completa e diversificada do país, mas porque a fase desfavorável de meses anteriores aprofundou-se para uma queda de -3,3% na passagem de mar/21 para abr/21, com ajuste sazonal. Foi o pior resultado desde o choque da Covid-19 em abr/20 (-22,4%).
Outro caso de destaque é o Nordeste, cuja sequência de recuos já é longa e agora em abr/21 se intensificou fortemente: -7,8%, com ajuste sazonal. Seu ritmo de queda mais do que dobrou em comparação com o 1º trim/21.
Muito desta evolução negativa da indústria nordestina está associado à interrupção e depois à redução do valor do auxílio emergencial pago às famílias, mas também ao elevado desemprego em vários estados da região, prejudicando seu mercado consumidor. Vale lembrar que, enquanto a taxa de desocupação do Brasil foi de 14,7% no 1º trim/21, o que já é muito elevado, na Bahia e em Pernambuco chegou a 21,3% e foi também bastante expressiva em Sergipe, Alagoas, Maranhão e Paraíba.
No Sul do país, o quadro também não tem sido animador. Depois de dois meses com perda de produção, a indústria tanto no Rio Grande do Sul como no Paraná ficou praticamente estagnada, registrando variação de somente +0,3% e +0,2%, respectivamente. Santa Catarina, por sua vez, ao cair -2,0% em abr/21, ficou no vermelho pela terceira vez consecutiva na série com ajuste sazonal.
Este desempenho do Sul bem como o de São Paulo são dignos de nota pois eram parques industriais que vinham apresentando certa resiliência até a entrada de 2021, diante da piora da pandemia e redução das medidas emergenciais, mas que agora dão sinais de enfraquecimento.
Pelo lado positivo, os destaques vão para o Rio de Janeiro, que cresceu +1,5% em abr/21, mas com isso compensou apenas parcialmente o forte recuo do mês anterior (-5,0%, com ajuste), e também para o Amazonas, cuja produção industrial variou +1,9%, contribuindo para aplacar suas perdas dos meses iniciais de 2021.
Comércio
As vendas do comércio varejista cresceram +1,8% entre mar/21 e abr/21, já descontados os efeitos sazonais. Considerado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção, a alta foi de +3,8%.
Foi um resultado bastante favorável. Na série com ajuste sazonal, desde 2000 não havia um mês de abril tão positivo, sendo uma variação excepcional também no conceito ampliado do varejo. Além disso, este crescimento teve grande amplitude setorial: 9 dos 10 segmentos identificados pelo IBGE ficaram no azul.
A reabertura das lojas em grandes centros urbanos, como São Paulo, na segunda metade do mês, depois de algumas semanas com restrições para combater o novo surto de Covid-19, contribuiu para isso. É um fator que, associado à liberação do novo auxílio emergencial, pode vir a continuar favorecendo as vendas.
Por outro lado, dada a volatilidade dos últimos resultados, há o risco desta alta de abr/21 não ser o início de uma retomada mais consistente do setor. Depois de uma sequência de meses muito próximos da estabilidade entre set/20 e nov/20, a vendas passaram a alternar altas e baixas de dez/20 até agora em abr/21. No caso do varejo ampliado, o nível de vendas não está muito longe do final do ano passado (-0,4% ante dez/20).
Feita esta ressalva, vamos ao desempenho dos diferentes ramos do varejo na passagem de mar/21 para abr/21. O único no negativo foi o de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, com -1,7% já descontados os efeitos sazonais. Como responde por cerca de 1/3 do varejo ampliado, freou o resultado geral.
Os ramos de móveis e eletrodomésticos (+24,8%); veículos e autopeças (+20,3%); tecidos, vestuário e calçados (+13,8%) e material de escritório, informática e comunicação (+10,2%) foram os que apresentaram maiores taxas de crescimento em abr/21, na série com ajuste sazonal. Para todos estes, entretanto, a alta recente vem apenas compensar o tempo perdido.
É o que sugere a comparação dos níveis de venda de abr/21 com dez/20. Móveis e eletrodomésticos não saíram do lugar em 2021, isto é, 0% nesta comparação. Material de escritório, informática e comunicação e veículos e autopeças ficaram somente 0,3% acima de dez/20. Já tecidos, vestuário e calçados retrocederam: -9,1% ante dez/20.
Por ora, 2021 é tempo perdido porque para a maioria deles o nível de vendas permanece aquém do pré-pandemia, isto é, abaixo de fev/20. Tecidos, vestuário e calçados é quem está mais longe: -19,4%, seguido por material de escritório, informática e comunicação (-8,7%) e veículos e autopeças (-5,4%). Móveis e eletrodomésticos, devido à reação de mai-ago/20, está 1,4% acima do pré-pandemia.
Outros ramo merece destaque: material de construção, cujo avanço de mar/21 a abr/21 também foi intenso (+10,4%). Este resultado compensou perdas de meses anteriores, mas o ramo vem se sai melhor do que acima mencionados. Na comparação de abr/21 com dez/20 registra alta de +1,2% e com relação a fev/20, de +19,9%.
Serviços
O faturamento do setor de serviços voltou a se expandir em abr/21, depois de acentuado recuo no mês anterior. Segundo os dados do IBGE, a variação foi de +0,7% frente a mar/21, já descontados os efeitos sazonais.
Assim, passado o solavanco de fev-mar/21 o setor voltou a um padrão de taxas positivas, mas não muito distante da estabilidade, tal como havia registrado na virada do ano. Muito disso deve-se a resultados heterogêneos, pois desde dez/20 nem todos seus ramos conseguem crescer. Agora em abr/21, 3 dos 5 ramos identificados pelo IBGE não avançaram.
Como resultado, o nível de faturamento real de abr/21 para o setor como um todo ficou 1,9% acima de dez/20, mas não foi suficiente para recolocá-lo no patamar pré-pandemia: -1,5% ante fev/20. Entre seus ramos, 2 também estão abaixo de fev/20, 1 está praticamente no mesmo nível e 2 apenas superam esta marca.
A alta dos serviços em abr/21 foi concentrada em dois de seus ramos: serviços prestados às famílias (+9,3%, ante mar/21 com ajuste), que responderam intensamente ao relaxamento das medidas restritivas, e serviços de informação e comunicação (+2,5%), favorecidos pela situação de pandemia.
Em serviços prestados às famílias, que é o ramo mais distante do pré-pandemia (40,1% abaixo de fev/20) o maior impulso em abr/21 veio de serviços de alojamento e alimentação, cujo faturamento real avançou +9,8% frente a mar/21, já com ajuste sazonal. Os outros serviços pessoais variaram +0,9%.
Em relação aos serviços de informação e comunicação, que já superaram em 7,4% o patamar de fev/20, a alta de abr/21 foi produzida principalmente pelos serviços de tecnologia da informação: +5,3% ante mar/21. Serviços audiovisuais registraram +1,0% e telecomunicações, +0,8%.
Serviços de transporte, armazenagem e correios conseguiram evitar a região negativa, mas não cresceram em abr/21. Como estão muito associados ao nível de atividade econômica, sua estagnação é um sinal da fraqueza dos negócios neste mês, sobretudo, porque os transportes terrestres, que já tinham caído -2,6% em mar/21, registrou -0,9% em abr/21. Quem também está de volta a uma fase negativa é o transporte aéreo: -11,8% em fev/21; -7,8% em mar/21 e -15,5% agora em abr/21.
Entre os ramos com desempenho desfavorável, destacam-se os serviços profissionais, administrativos e complementares, cujo faturamento recuou -0,6% em abr/21, depois de queda de -1,4% em mar/21. Trata-se do segundo ramos mais distante do pré-pandemia (4,5% abaixo), perdendo apenas para os serviços prestados às famílias.
O maior freio para este ramo tem sido os serviços administrativos e complementares, que envolvem atividades de menor qualificação, geralmente terceirizadas pelas empresas, que apresentaram perda de -1,3% na passagem de mar/21 para abr/21 e continua 6,5% abaixo do pré-pandemia. Já os serviços técnicos profissionais, componente com serviços mais especializados, ficaram praticamente estável em abr/21 (-0,1%).
Por fim, o ramo de outros serviços, que incluem atividades variadas, como serviços financeiros, imobiliários, agrícolas etc., teve queda de -0,9% de faturamento, mas tem tido resultados majoritariamente positivos, estando 3,4% acima do pré-pandemia.