Carta IEDI
O ímpeto exportador da indústria por intensidade tecnológica
O desempenho da indústria brasileira na primeira metade de 2021 veio acompanhado de maior ímpeto exportador, apoiado sobre bases de comparação muito deprimidas, devido ao choque da Covid-19 no início de 2020, e por níveis recordes de vendas externas de seus ramos de menor intensidade tecnológica, favorecidos pela retomada do comércio mundial e pela elevação dos preços de commodities, assim como as atividades primárias.
Em jan-jun/21, as exportações da indústria de transformação avançaram +22,1% frente ao mesmo período do ano anterior, com grande contribuição do 2º trim/21, que registrou +39,7% na mesma comparação. Com isso, o setor atingiu o valor US$ 65,4 bilhões, maior nível desde janeiro-junho de 2013, respondendo por cerca de metade de tudo que o país vendeu ao restante do mundo.
Esta Carta IEDI analisa os resultados de comércio exterior da indústria de transformação no 1º sem/21 agrupando seus diferentes ramos em quatro faixas de intensidade tecnológica, segundo metodologia empregada pela OCDE: alta, média-alta, média e média-baixa. Não há ramos manufatureiros no segmento de baixa intensidade, composto por produtos da agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura.
A faixa de média-baixa intensidade tecnológica, embora tenha sido a que apresentou menor variação percentual (+16,9%) na comparação entre o 1º sem/21 e o 1º sem/20, já que foi menos afetada pela pandemia no ano passado, apresentou exportações recordes para a série iniciada em 1997. Ao todo foram US$ 33,66 bilhões em jan-jun/21, devido a avanços em alimentos, derivados de petróleo e madeira, papel e celulose. Já são três trimestres seguintes em alta, com destaque para o 2º trim/21 (+31,0%).
A indústria de média intensidade tecnológica, por sua vez, também acumulou exportações recordes para a série no 1º sem/21, de US$ 13,6 bilhões, equivalente a um crescimento de +23,0% em relação a igual período do ano passado. Muito disso coube ao avanço de +21,5% da metalurgia, que responde por 81% desta faixa, mas outros ramos também ampliaram bastante seus embarques, como minerais não metálicos e borracha e plástico.
Enquanto taxa de crescimento, foram os ramos de maior intensidade quem, por ora, melhor se saem em 2021. Nestes casos, porém, é preciso levar em consideração as fortes perdas registradas em períodos anteriores, ocasionadas não apenas pela Covid-19. A alta tecnologia aumentou suas vendas externas em +24,5% em jan-jun/21 ante o mesmo período do ano anterior, mas isso veio após quedas intensas de -19,7% no 1º sem/19 e -50,2% no 1º sem/20. Saímos de US$ 5,3 bilhões na primeira metade de 2018 para apenas US$ 2,7 bilhões agora em 2021.
A reação no caso das exportações da alta tecnologia ainda é muito recente. Após onze trimestres seguidos de queda, acusou sua primeira alta no 2º trim/21: +57,9%, puxada sobretudo por aeronaves (+101,5% ante 2º trim/20), mas também pelo complexo eletrônico (+32,8%) e em menor medida pela indústria farmacêutica (+13,1%).
A faixa de média-alta foi a de maior crescimento na primeira metade do ano: +33,9%, sob efeito-base importante, já que também registrou declínios dignos de nota no 1º sem/19 (-13,9%) e no 1º sem/20 (-28,7%). Como respondeu por 1/3 do total de US$ 15,5 bilhões de exportações desta faixa, a indústria automobilística foi a principal responsável por este desempenho, crescendo +51,5% ante jan-jun/20, com destaque para o 2º trim/21 (+132%). Outras altas importantes vieram de produtos químicos (+22,7%) e máquinas e equipamentos (+32,2%).
Embora o dinamismo exportador da indústria de transformação tenha sido forte e muito difundindo entre seus diferentes ramos, não foi capaz de sobrepujar a recomposição das importações do setor, que avançaram +25,7%, para US$ 89,8 bilhões, deteriorando seu saldo comercial. O déficit da balança comercial da indústria foi de US$ 24,4 bilhões, o mais elevado desde o primeiro semestre de 2014.
O ritmo de ampliação das importações nas quatro faixas de intensidade no 1º sem/21 foi mais homogêneo do que nas exportações. Os maiores avanços couberam às faixas intermediárias: +28,4% na indústria de média tecnologia, devido principalmente a metalurgia (+98%) e borracha e plástico (+43,9%), e +28,2% na indústria de média-alta, devido sobretudo a químicos (+28,9%) e veículos (+51,6%).
Além de ramos com reação mais recente, como veículos, a presença de produtos intermediários entre as altas mais fortes, como metalurgia, borracha e plástico e produtos químicos, está relacionada às dificuldades de obtenção de insumos que se tem visto já há alguns meses.
Na média-baixa tecnologia, a alta foi de +26,6% ante jan-jun/20, sob influência de todos os seus ramos, mas com destaque para derivados de petróleo (+40,1%). Na alta tecnologia, o resultado foi um pouco menor, de +18,3%, devido à redução na importação de aeronaves. O complexo eletrônico, que respondeu por 61% das importações da faixa registrou +28,7%.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
A bastante atípica primeira metade de 2021 fechou com superávit comercial de US$ 36,7 bilhões, recorde em dólares correntes para primeiro semestre. Esse maior saldo ocorreu com exportações crescendo 35,0%, de US$ 100,7 bilhões para US$ 135,9 bilhões, o maior montante exportado para primeiro semestre em toda a série. As importações também cresceram bastante, 26,5%, chegando a US$ 99,2 bilhões, o maior volume importado para os primeiros seis meses desde igual acumulado de 2014.
Esse superávit foi obtido sobretudo pelo recordista saldo positivo de US$ 61,1 bilhões, dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais. Suas exportações atingiram em US$ 70,5 bilhões, patamar também recorde em dólares correntes para acumulado até o sexto mês, ultrapassando em mais de US$ 20 bilhões o maior montante exportado desses bens até então, obtido em 2020.
No caso dos produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação, o déficit aumentou frente à metade inicial do ano anterior, saindo de US$ 17,9 bilhões para US$ 24,4 bilhões. Desde 2014, o déficit não era tão elevado para esses itens no primeiro semestre. As exportações aumentaram 22,1%, para US$ 65,4 bilhões, seu maior montante exportado desde o primeiro semestre de 2013. As importações cresceram 25,7%, alcançando US$ 89,8 bilhões.
Em suma, enquanto o saldo dos bens típicos da indústria de transformação se deteriorou no semestre em relação ao mesmo período de 2020, por conta do segundo trimestre, os superávits dos demais bens foram bem maiores tanto no primeiro quanto no segundo trimestre. Obviamente que tais variações refletiram em muito a paralisação econômica do segundo trimestre de 2020 devido às incertezas acerca da pandemia da covid-19, embora a segunda onda da doença que o país ainda atravessa tenha sido bem mais dura em janeiro-junho de 2021.
Atendo-se ao segundo trimestre do ano, o saldo positivo de US$ 28,7 bilhões foi o maior da história em dólares correntes. As exportações avançaram 52,7% frente a abril-junho de 2020, atingindo a US$ 80,3 bilhões, recorde para resultado trimestral. As importações aumentaram ainda mais, 55,9%, alcançando US$ 51,6 bilhões. No segundo trimestre de 2021, o superávit também se deveu aos demais produtos (bens agropecuários e minerais em destaque): saldo de US$ 38,9 bilhões. Tal resultado decorreu do fato do Brasil ter exportado 65,6% a mais desses produtos em relação a abril-junho de 2020, chegando a US$ 43,7 bilhões, enquanto as importações cresceram 42,4%.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações aumentaram 39,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, chegando a US$ 36,6 bilhões. Suas importações avançaram 57,4%, parando em US$ 46,8 bilhões. Desse modo, o déficit chegou a US$ 10,2 bilhões, acima do registrado em abril-junho do ano passado, déficit de US$ 3,5 bilhões.
A balança por intensidade tecnológica
Conforme exposto em carta anterior, a nova classificação por intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não só as da indústria de transformação do esforço anterior. Ademais, no lugar de quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não houve transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial. No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial. Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Com base em tanto, a balança comercial brasileira pode ser esmiuçada a partir da versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de P&D.
Tomando o desempenho no acumulado do ano, a balança comercial de bens produzidos por atividades classificadas como de alta intensidade tecnológica experimentou déficit de US$ 16,4 bilhões em janeiro-junho, o maior da série em dólares correntes para primeiro semestre. Tal saldo negativo é integralmente relativo a bens da indústria de transformação. As exportações desses bens tiveram expansão de 18,3%, chegando a US$ 15,5 bilhões. Esse aumento, esperado em face do semestre inicial de 2020, ocorreu nos três ramos, destacando-se a venda de aeronaves, principal item de exportação dessa faixa. Todavia tal recuperação não possibilitou exportações no patamar de igual acumulado de 2019, seja para o segmento como um todo seja para seus ramos. Os itens aeronáuticos persistem como os únicos superavitários, com incremento exportador. O complexo eletrônico e os produtos farmacêuticos também tiveram exportações maiores, mas com as importações crescendo ainda mais, produzindo déficits de US$ 11,1 bilhões e US$ 4,4 bilhões, respectivamente.
A faixa de média-alta intensidade encerrou o período com déficit de US$ 28,6 bilhões, o maior dentre as cinco faixas. Sua magnitude só ficou abaixo das registradas em igual acumulado de 2013 e 2014. Suas exportações se recuperaram, 33,9% no contraponto entre semestres iniciais de 2021 e de 2021, chegando a US$ 11,7 bilhões. Ainda assim, não retornou ao nível do primeiro semestre de 2019.
A recuperação exportadora foi puxada pelas vendas externas de veículos automotores, reboques e s, 51,5%, respondendo por quase um terço das exportações dessa faixa, mas registrando déficit de US$ 2,8 bilhões, o de maior magnitude para esses produtos desde igual período de 2014. O maior incremento exportador coube ao pouco representativo ramo de material de transporte ferroviário e outros de transporte. Também tiveram expansão de monta os dois ramos associados à produção de bens de capital: máquinas e equipamentos não especificados noutros ramos e máquinas e materiais elétricos. Aliás, todos os ramos exportaram mais, mas com aumento no déficit em quase todos. Os produtos químicos continuam com o maior déficit, enquanto o ramo de equipamento bélico, armas e munições foi o único superavitário, com ligeiro aumento.
Quanto aos produtos tipicamente originários de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, seu intercâmbio registrou superávit de US$ 2,7 bilhões no primeiro semestre, superando o saldo positivo do mesmo período do ano anterior. Suas exportações avançaram 23,0%, atingindo US$ 13,6 bilhões. As importações, por sua vez, cresceram 28,4%. O saldo maior decorreu principalmente da redução no déficit em embarcações e outros produtos da construção naval, devido ao aumento de 71,1% de suas vendas externas, sem contar com a manutenção do expressivo superávit na metalurgia, embora tenha diminuído. As exportações de produtos metalúrgicos cresceram 21,5%, chegando a US$ 11,1 bilhões. As exportações de outros bens até cresceram mais, só que sem a representatividade da metalurgia. No sentido contrário, o déficit de produtos plásticos e de borracha aumentou, mesmo com a expansão exportadora.
Quanto ao grupamento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 51,0 bilhões em janeiro-junho de 2021, recorde para primeiro semestre da série em dólares correntes. Suas exportações cresceram 46,0%, atingindo US$ 72, bilhões, também recorde. As exportações de minérios cresceram 77,9% atingindo US$ 38,3 bilhões, propiciando superávit de US$ 33,2 bilhões. Os bens da indústria de transformação dessa faixa cresceram 16,9%, chegando a US$ 33,7 bilhões e contribuindo para o superávit de US$ 17,8 bilhões. Para esses patamares recordes dos bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica concorreu bastante o avanço dos produtos alimentícios industriais, bebidas e tabaco, com exportações e superávits recordes. No sentido contrário, coque, produtos de petróleo refinado e biocombustíveis experimentaram aumento no déficit frente a janeiro-junho de 2020, mesmo com exportações no maior nível histórico. Apesar do déficit maior, não atingiu o déficit já registrado noutros anos para esse acumulado.
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados observou superávit recorde de US$ 27,8 bilhões, com aumento de 25,1% das exportações, chegando a US$ 31,5 bilhões. Esse incremento é quase equivalente ao das vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 25,0%, dados o pouco peso dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens da indústria de transformação.
Passando para a comparação entre abril-junho de 2021 e período equivalente de 2020, no segundo trimestre de 2021, o déficit da faixa de alta intensidade aumentou para US$ 8,4 bilhões, mesmo com as exportações crescendo 57,9%, reagindo à queda de 59,7% registrada na comparação entre segundos trimestres de 2020 e 2019. As exportações dos três ramos cresceram mais de dois dígitos, com as de produtos aeronáuticos mais que dobrando e as do complexo eletrônico avançando na casa dos 30%. As importações cresceram bastante, porém em ritmo menor que as exportações, mas dada sua magnitude, possibilitaram o citado aumento no déficit, devido principalmente aos produtos eletrônicos.
Passando para o segmento de média-alta, este experimentou déficit de US$ 14,6 bilhões, mais de US$ 4,0 bilhões a mais que o do mesmo trimestre do ano passado e também maior que o de janeiro-março último. As exportações subiram 66,6%, atingindo US$ 8,5 bilhões, com aumento generalizado nas vendas externas, com expressão maior no caso dos automóveis, mais que dobrando, quase equiparando às exportações de produtos químicos. As importações de mercadorias dessa faixa, por sua vez, cresceram 51,8%.
Abril-junho de 2021 para a faixa de média intensidade foi de superávit, de US$ 1,6 bilhão, expressivo, mas aquém do saldo de US$ 2,7 bilhões no mesmo trimestre de 2020. Suas exportações cresceram 34,8%, chegando a US$ 7,2 bilhões. As importações de bens da indústria de transformação dessa faixa, a seu turno, mais que dobraram, 116,4%, com todos os ramos ampliando o montante importado. Os produtos da metalurgia, com superávit de US$ 2,6 bilhões, responderam em boa medida pela redução do saldo, por conta do incremento nas importações, mesmo sendo o principal responsável pelo superávit. Os produtos plásticos e de borracha tiveram déficit ampliado pela forte expansão das importações.
Quanto aos fluxos comerciais faixa de média-baixa intensidade tecnológica no segundo trimestre de 2020, suas exportações, US$ 41,3 bilhões, representaram avanço de 65,4% frente a abril-junho de 2020. As exportações de minérios cresceram 116,0%, atingindo históricos US$ 21,8 bilhões, enquanto as de produtos da indústria de transformação dessa faixa aumentaram 31,0%, chegando também a impressionantes US$ 19,5 bilhões. Assim, o superávit de todos os produtos do segmento de média-baixa intensidade foi de US$ 30,2 bilhões, recorde mesmo com a expansão de 66,4% em suas importações. A força do agronegócio brasileiro se mostra nessa faixa por conta da indústria de alimentos e bebidas, cujas exportações cresceram nessa base de comparação.
A faixa de baixa intensidade apresentou aumento no superávit no segundo trimestre, chegando a US$ 19,8 bilhões, devido ao de incremento de 33,6% nas exportações, atingindo US$ 21,5 bilhões, com as importações crescendo 24,6%. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
No acumulado até junho de 2021, como visto, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade aumentou vis-à-vis o mesmo semestre de 2020, chegando a US$ 16,4 bilhões, o maior da série para primeiro semestre. Esse déficit maior ocorreu mesmo com ampliação de 24,5% nas exportações em dólares correntes, chegando a US$ 2,7 bilhões, mas trata-se de patamar bem aquém daquele de igual acumulado de 2019. As importações cresceram 18,3%. Os produtos típicos da indústria aeronáutica registraram déficit de US$ 933 milhões. Em que pese sua magnitude e de ser um ramo que, por vezes, consegue apresentar saldo positivo, tal déficit foi menor do que nos seis meses iniciais de 2020. Suas vendas externas cresceram 34,8%, chegando a US$ 1,5 bilhão.
As exportações de bens eletrônicos também cresceram dois dígitos, 22,9%, mas sobre um montante de pouca expressão. As importações de eletrônicos, por sua vez, cresceram 28,7%, consubstanciando um volume importado de US$ 11,7 bilhões e déficit de US$ 11,1 bilhões. No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas aumentaram 4,5%, US$ 552,0 milhões, enquanto as importações, 17,2%, contribuindo para o déficit de US$ 4,4 bilhões, já esperado pelo contexto da pandemia.
Em abril-junho, o saldo dos bens das indústrias de alta intensidade ficou deficitário em US$ 8,4 bilhões, superando em mais de US$ 2 bilhões o déficit do mesmo período de 2020. Suas exportações cresceram 57,9%, chegando a US$ 1,5 bilhão. As importações também avançaram, aumento de 37,9%, atingindo US$ 9,9 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais registraram déficit de US$ 468 milhões em abril-junho. Suas exportações cresceram 101,5%, significativo, mas devido à base de comparação, dado que chegaram a US$ 840 milhões. As importações cresceram 19,9%, mas sobre uma base bem maior.
Os bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para essa balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 5,6 bilhões. Desde o terceiro trimestre de 2014, não se tinha um saldo negativo dessa envergadura. As exportações cresceram 32,8%, mas sobre uma base baixa, chegando assim a US$ 332 milhões, enquanto as importações foram de US$ 5,9 bilhões, expansão de 47,7%.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 2,4 bilhões. Suas exportações aumentaram 13,1%, vendendo US$ 300 milhões para outros países. As importações desses bens, a seu turno, cresceram 28,6%, atingindo US$ 2,7 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta intensidade apresentou déficit de US$ 28,6 bilhões na primeira metade de 2021, o maior dentre as quatro faixas de intensidade e o maior desde 2015 para primeiro semestre. Suas exportações cresceram 33,9%, subindo para US$ 15,5 bilhões em janeiro-junho. As importações também cresceram, mas com um pouco menos de intensidade, 28,2%, chegando a US$ 44,1 bilhões.
Os produtos da indústria automobilística experimentaram saldo negativo de US$ 2,8 bilhões, o maior déficit para acumulado até junho desde 2015, a exemplo da faixa como um todo. Suas exportações aumentaram 51,5%, chegando a US$ 5,1 bilhões, com as importações crescendo em paralelo, 51,6%. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 417 milhões, maior do que no primeiro semestre do ano passado, mesmo tendo as exportações avançado 91,1%, representando, no entanto, só US$ 95 milhões.
Os dois grupamentos ligados a bens de capital presenciaram déficits maiores no primeiro semestre do que em igual acumulado de 2020, além de aumentos de dois dígitos quer nas exportações, quer nas importações. O de equipamentos não especificados noutras atividades teve déficit de US$ 6,0 bilhões, exportando 32,2% mais do que no primeiro semestre de 2020, alcançando US$ 3,7 bilhões. Suas importações cresceram 14,9% no mesmo período. Já os materiais e equipamentos elétricos, tiveram resultado negativo de US$ 3,5 bilhões, déficit maior do que nos seis primeiros meses do ano passado, com exportações de US$ 1,4 bilhão, 26,6% maior do que o montante exportado no mesmo acumulado de 2020. As importações também avançaram, taxa de 28,5%.
Quanto aos produtos químicos, experimentou déficit de US$ 14,9 bilhões, mais da metade do déficit de todo o segmento de média-alta intensidade. O Brasil exportou US$ 22,7 bilhões desses bens, incremento de 22,7%, sendo que as importações aumentaram 28,9%, atingindo US$ 19,8 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 1,0 bilhão, com ampliação de 9,0% nas exportações, que ficaram em US$ 174 milhões. Suas importações cresceram 7,5%.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 79 milhões, com aumento de 37,8% nas exportações, alcançando US$ 157 milhões, mas com acréscimo de 89,0% nas aquisições externas.
No segundo trimestre, o déficit dessa faixa foi de US$ 14,6 bilhões, com aumento de 66,6% nas exportações frente a abril-junho de 2020, chegando a US$ 8,5 bilhões. Pari passu, as importações cresceram 51,8%.
As exportações de produtos químicos (exclusive farmacêuticos) cresceram 35,9%, subindo para US$ 2,8 bilhões, enquanto as importações avançaram 36% no comparativo entre segundos trimestres, ficando em US$ 7,4 bilhões. Assim o déficit atingiu US$ 7,9 bilhões, respondendo por mais da metade do saldo negativo dessa faixa.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 1,7 bilhão em abril-junho de 2021. Os automóveis, reboques e semi-reboques responderam por US$ 1,5 bilhão deste montante. As exportações destes últimos foram de US$ 2,7 bilhões, incremento de 132% frente ao mesmo período de 2019. Suas importações 135,3%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações aumentaram 180%, enquanto as importações cresceram 60,2%, levando ao resultado negativo de US$ 208 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 2,9 bilhões e de US$ 1,6 bilhão, respectivamente, bem maiores que os déficits registrados no mesmo trimestre de 2020. As exportações de M&E subiram 61,7%, ficando em US$ 2,0 bilhões, enquanto as importações cresceram 54,9%. Já as exportações de aparelhos e materiais elétricos avançaram 59,4%, chegando a US$ 820 milhões, enquanto as aquisições externas aumentaram 48,5%.
Quanto aos I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos, o país exportou US$ 105 milhões no segundo trimestre do ano, 19,1% a mais do que em igual período de 2020. Suas importações recuaram 1,7%, parando em US$ 617 milhões, levando ao déficit de US$ 512 milhões.
Já o intercâmbio de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 38 milhões no segundo trimestre de 2021, com suas exportações crescendo 29,4%, alcançando US$ 87 milhões, enquanto suas importações cresceram 87,7%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As vendas externas em dólares correntes de bens oriundos de indústrias de média intensidade tecnológica avançaram 23,0% no primeiro semestre, chegando a US$ 13,6 bilhões. As importações cresceram ainda mais, 28,4%, porém, dado o montante exportado na base de comparação, o saldo da balança ainda melhorou, com superávit de US$ 2,7 bilhões.
As embarcações e demais produtos do setor naval-náutico registraram a maior alta na exportação, 71,1%, mas chegando a US$ 13 milhões apenas, além de terem sido o único ramo com queda nas importações, variação de -71,9%, no contraponto aos seis primeiros meses de 2020, parando em US$ 674 milhões. Desse modo, tem-se o déficit de US$ 661 milhões.
Os produtos da metalurgia lograram superávit de US$ 5,3 bilhões no primeiro semestre, imponente, mas aquém de seus equivalentes dos quatro anos anteriores. O Brasil exportou US$ 11,1 bilhões, 21,5% a mais do que em janeiro-junho de 2020. Já as importações desses itens tiveram expansão vultosa, de 98%, concorrendo para o superávit menos. O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos obteve saldo de US$ 101 milhões, maior do que no mesmo acumulado de 2020. Suas exportações aumentaram 45,0%, chegando a US$ 1,0 bilhão, expansão maior do que a das importações, de 36,7%.
Os dois grupos de bens restantes registraram resultado negativo no acumulado até junho. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 1,8 bilhão, cuja grandeza só foi superado nos semestres equivalentes de 2013 e 2013. Esse déficit maior decorreu do aumento em 42,9% das importações, contra uma expansão de 22,6% das vendas externas, que chegaram a US$ 1,2 bilhão. Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) tiveram déficit de US$ 216 milhões, com expansão de 17,2% nas exportações e de 29,2% nas importações.
Atendo-se ao segundo trimestre de 2021, as exportações de gêneros típicos da indústria de média intensidade tecnológica aumentaram 34,8% frente a igual período de 2020, subindo para US$ 7,2 bilhões. As importações, a seu turno, cresceram 116,4%. Embora as aquisições no exterior desses itens tenhas mais do que dobrado, esse segmento permaneceu superavitário, saldo de US$ 1,6 bilhão, resultado de monta, mas inferior ao observado no mesmo período de 2020.
As embarcações e demais produtos da construção naval apresentaram a menor expansão nas exportações dentre os ramos da presente faixa de intensidade tecnológica na comparação entre segundos trimestres, 9,9%. Já as importações desses itens foram as que mais cresceram dentro os ramos de média intensidade, 941,7%, mas devido à base muito baixa, tanto que só chegou a US$ 210 milhões, configurando déficit de US$ 206 milhões.
Os produtos metalúrgicos, de balança superavitária, lograram saldo de US$ 2,6 bilhões. Ainda que expressivo, considerando abril-junho, desde 2015 não se tinha um superávit tão baixo. Cabe realçar que suas exportações cresceram 30,9%, chegando a US$ 5,8 bilhões, patamar significativo. As importações avançaram ainda mais, 160,6%, o que explica o superávit menor. Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 95 milhões, com exportações aumentando 67,5%, chegando a US$ 552 milhões, enquanto as importações cresceram 57,5%.
Passando para os dois outros conjuntos de bens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 862 milhões, com aumento de 47,3% nas vendas para o exterior, exportando, assim, US$ 652 milhões, e crescimento de 64,1% nas importações. Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 206 milhões foi acompanhado de ampliação de 51,7% nas exportações, chegando a US$ 130 milhões, e expansão de 71,5% nas importações.
Bens da indústria de transformação de média-baixa baixa intensidade tecnológica
As exportações de mercadorias produzidas pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica avançaram 16,9% no primeiro semestre de 2021, chegando a US$ 33,7 bilhões. Com isso, o superávit atingiu US$ 17,9 bilhões, o maior da série para primeiro semestre, mesmo com o aumento de 26,6% nas importações desses produtos, US$ 16,0 bilhões. Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, logrou expansão de 17,2% nas exportações, que alcançou US$ 21,6 bilhões, enquanto suas importações aumentaram 29,5%, levando ao saldo de US$ 17,9 bilhões. Já o intercâmbio de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit de US$ 5,5 bilhões, exportando US$ 6,4 bilhões, 12,4% a mais do que na primeira metade de 2020.
A balança de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, por sua vez, registrou déficit de US$ 3,0 bilhões, bem acima do déficit observado no mesmo acumulado do ano passado, mas uma grandeza menor, para primeiro semestre, que em todos os anos de 2010 a 2019. Suas exportações aumentaram 16,2%, chegando a US$ 3,4 bilhões, enquanto as importações cresceram 40,1%. Desse modo, esse ramo contrabalançou os anteriores dessa faixa, que contribuíram para ampliar o superávit.
O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados registrou déficit de US$ 828 milhões, menor do que no mesmo período do ano anterior. Suas exportações aumentaram 33,7% pela mesma base comparativa, chegando a US$ 1,6 bilhão, mas apenas quase equiparando ao montante exportado em igual acumulado de 2019. As importações desses itens cresceram 5,6%. Já o saldo dos produtos metálicos agiu em sentido contrário, com o déficit subindo de US$ 1,5 bilhão no primeiro semestre de 2020 para US$ 1,7 bilhão. Suas exportações aumentaram 18,3%, chegando a US$ 735 milhões, enquanto as importações tiveram uma expansão de 17,4%.
Especificamente no segundo trimestre de 2021, o País exportou 31,0% a mais dos bens tipicamente oriundos dos ramos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica, alcançando US$ 19,5 bilhões. O País importou US$ 8,2 bilhões desses produtos, aumento de 72,6% em relação a abril-junho de 2020. Apesar dessa diferença nas taxas, como a base das importações era bem menor que a das vendas externas, o superávit atingiu US$ 11,2 bilhões no segundo trimestre, o maior da série.
O intercâmbio de alimentos da indústria, bebidas e tabaco teve saldo positivo de US$ 10,4 bilhões, praticamente US$ 3,0 bilhões acima do observado no mesmo trimestre de 2020. Esse saldo maior decorreu do aumento de 20,0% nas exportações, atingindo US$ 12,2 bilhões, mesmo com suas importações crescendo 43,5%. Os produtos madeireiros, de papel e celulose também obtiveram superávit de monta, US$ 3,2 bilhões, com exportações de 3,7 bilhões, incremento de 25,4%, e importações com variação positiva de 40,0%.
Já as vendas para o exterior de derivados de produtos de petróleo e afins foram as que mais cresceram no segundo trimestre dentre os ramos dessa faixa, 120,3%, em virtude da praticamente paralisação da economia em abril-junho de 2020 por conta da pandemia. As exportações foram de US$ 2,4 bilhões. Suas importações cresceram ainda mais, 149,1%, concorrendo para um déficit, de US$ 1,3 bilhão, bem acima do déficit registrado no segundo trimestre de 2020, mas de magnitude menor do que o do primeiro trimestre do ano.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de produtos de metal, de US$ 410 milhões, cresceram 35,6%. Suas importações cresceram ainda mais, 43,5%, culminando no resultado negativo de US$ 835 milhões. Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit diminuiu frente ao segundo trimestre de 2020, ficando em US$ 240 milhões. Suas exportações avançaram 99,4%, alcançando US$ 834 milhões, enquanto as importações cresceram 22,6%