Carta IEDI
Indústria de volta ao padrão 2021
O segundo semestre deste ano se iniciou com a indústria retomando o padrão de resultados negativos que tem marcado seu desempenho em 2021. Já descontados os eventuais efeitos sazonais, a produção industrial recuou -1,3% na passagem de jun/21 para jul/21.
Um conjunto de fatores interromperam a trajetória de recuperação do setor no presente ano, como a piora da pandemia e o atraso da vacinação, o fim ou redução das medidas emergenciais, gargalos nas cadeias produtivas e, do lado da demanda, desemprego em níveis recordes e pressões inflacionárias, que retiram poder de compra da população e elevam custos de produção, etc.
Alguns destes fatores já foram amenizados, a exemplo da aceleração da vacinação no país todo, outros obstáculos, porém, vêm surgindo, notadamente a elevação das tensões políticas, as dúvidas quanto à retomada da agenda de reformas estruturais e o risco de a crise hídrica ir além de mais uma fonte de aumento inflacionário e impor racionamento de energia.
Pelo recrudescimento da incerteza que este quadro traz, o desempenho da indústria, que produz muitos bens duráveis, para consumo e investimento, cuja demanda exige confiança e previsibilidade, tende a ser particularmente afetado.
A indústria, que havia superado o nível de produção do pré-pandemia, isto é, de fev/20, em 3% na virada do ano, em jul/21 voltou a ficar 2,1% abaixo deste patamar. Esta reviravolta foi amplamente verificada no setor. Em dez/20, 35% de seus ramos e 47% dos parques regionais estavam em níveis de produção inferiores a fev/20, mas estas frações avançaram para 58% e 80% respectivamente em jul/21.
Embora as bases de comparação deprimidas ajudem a performance atual em relação ao mesmo período do ano passado, este quadro de perda de dinamismo também começa a afetar este tipo de comparação. As projeções do Boletim Focus para o ano de 2021 como um todo, por exemplo, que apontavam para uma alta de +6,5% no início de ago/21, um mês depois foram reduzidas em meio ponto percentual, para um resultado de +6,0%.
Em jul/21, o declínio frente a jun/21 teve um perfil abrangente, sobretudo do ponto de vista setorial, atingindo 73% dos ramos e 47% dos parques industriais regionais acompanhados pelo IBGE. Entre os macrossetores, dois ficaram no vermelho e os outros dois que conseguiram obter uma variação positiva ficaram em uma situação mais de estabilidade do que de crescimento, dado o baixo resultado.
O melhor dos casos foi bens de capital, cuja produção variou +0,3% ante jun/21, com ajuste. Este macrossetor tem apresentado a trajetória de recuperação mais consistente e já superou o impacto da Covid-19 em 16,4%. A variação de jul/21, entretanto, foi a menor alta registrada desde mai/20, quando o macrossetor voltou ao azul.
Também no positivo ficaram os bens de consumo semi e não duráveis, mas com apenas +0,2% após uma retração no mês anterior. Neste caso, o aumento dos preços de alguns de seus bens, desemprego elevado e medidas restritivas em função da piora da pandemia nos primeiros meses de 2021 produziram uma série de resultados ou negativos ou muito próximos da estabilidade. Deste modo, sua produção em jul/21 ficou 7,1% abaixo de fev/20.
Bens intermediários, por sua vez, com um resultado de -0,3%, apresentou sua quarta taxa negativa consecutiva. Em 2021, nos poucos meses em que não caiu este macrossetor praticamente andou de lado. O melhor que conseguiu na série com ajuste sazonal foi uma variação de mero +0,3% em mai/21. Assim, vem perdendo toda a expansão pós-choque da Covid-19 e em jul/21 ficou apenas 0,7% acima do patamar de fev/20.
Por fim, o pior desempenho deste início de semestre coube à produção de bens de consumo duráveis, que recuou -2,7% ante jun/21. Este macrossetor não apresentou um mês sequer de crescimento em 2021 e seu nível de produção em jul/21 encontrava-se 18,2% abaixo do pré-pandemia.
Resultados da Indústria
Em julho de 2021, a produção industrial recuou -1,3% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Este resultado foi a quinta variação negativa nos sete meses já cobertos pela pesquisa do IBGE, período em que houve crescimento em apenas um mês (mai/21). Com isso, o setor voltou a ficar abaixo do nível de produção de fev/20: -2,1%, tendo perdido tudo aquilo que conquistou na segunda metade de 2020.
Os dados de jul/21 mostram que apesar do retorno do auxílio emergencial e reativação da economia mundial, a indústria brasileira ainda não conseguiu retomar uma trajetória consistente de crescimento. Escassez de partes, peças e demais componentes continuam prejudicando o desempenho do setor, assim como, cada vez mais, a aceleração inflacionária, a corroer o poder de compra da população e pressionar a estrutura de custos das empresas.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior a indústria continua a crescer, porém a um ritmo menor, devido a bases de comparação menos deprimidas. Ante jul/20, a variação de +1,2%. Deste modo, o desempenho no acumulado dos sete primeiros meses de 2021 foi de +11,0%. A maior parte desse avanço está concentrado no segundo trimestre do ano: +22,6% frente ao mesmo trimestre do ano anterior, ajudado pela menor base de comparação, visto que o choque provocado pela pandemia atingiu sobretudo o 2ºtri/20.
Já no acumulado dos últimos doze meses findos em jul/21, a indústria registrou +7,0%, sendo o quarto resultado positivo consecutivo nesta base de comparação e em aceleração, já que os piores meses do ano passado estão deixando de compor o período considerado.
Em relação macrossetores industriais, na comparação de jul/21 com jun/21, descontados os efeitos sazonais, houve variação positiva em bens de capital (+0,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%), embora ambos os casos tenham ficado muito próximo da estabilidade. Bens intermediários recuaram novamente -0,6%, perfazendo uma sequência de quatro meses no vermelho. Já o declínio de bens de consumo duráveis foi o mais intenso: -2,7%, sendo a oitava vez consecutiva em que este macrossetor ficou no negativo; ou seja, sem crescimento desde final do ano passado.
Na comparação de jul/21 com jul/20, diferentemente de meses anteriores, em que havia variação positiva em todos os quatro macrossetores industriais, apenas metade conseguiu crescer. Enquanto o total da indústria variou +1,2% nesta comparação, bens de capital foram os únicos que efetivamente ampliaram produção ao registrarem +33,1%. Bens intermediários não chegaram a cair, mas tampouco apresentaram aumento significativo: +0,2%. Os resultados negativos marcaram a evolução da produção de bens de consumo: -1,9% no caso de semi e não duráveis e -10,3% no caso de duráveis.
O macrossetor de bens de capital foi, mais uma vez, quem melhor se saiu na comparação com mesmo mês do ano passado, registrando alta de +33,1%, com expansão na maior parte dos grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (+56,5%) e para construção (+67,0%), seguidos por bens de capital para fins industriais (+15,0%), de uso misto (+15,2%) e agrícolas (+15,0%). O único impacto negativo coube a bens de capital para energia elétrica (-8,4%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens intermediários, que variou +0,2% em jul/21, teve seu resultado influenciado principalmente por avanços nos produtos associados às atividades de metalurgia (+24,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+10,6%), máquinas e equipamentos (+22,5%), produtos de minerais não-metálicos (+9,2%), e produtos têxteis (+4,5%), entre outros. Impediram um desempenho melhor os recuos assinalados por intermediários de produtos alimentícios (-14,0%), indústrias extrativas (-2,7%), coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,4%) e produtos de borracha e de material plástico (-1,6%), entre outros.
Já bens de consumo semi e não duráveis, cujo resultado foi de -1,9% ante jul/20, recebeu contribuições negativas de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-8,0%) e também de não-duráveis (-0,7%). Por outro lado, houve alta nos subsetores de semiduráveis (+8,1%) e de carburantes (+6,3%).
O recuo interanual de -10,3% na produção de bens de consumo duráveis, a seu turno, foi provocado sobretudo pela redução na fabricação de automóveis (-10,8%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (-26,6%) e da “linha branca” (-17,5%), mas também por móveis (-14,0%) e motocicletas (-0,3%). Já o principal impacto positivo veio de outros eletrodomésticos (+17,3%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A queda de -1,3% da produção industrial geral em jul/21 ante jun/21, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhado de variação de -1,2% na indústria de transformação e no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação se encontra 7% abaixo do nível de produção de dez/20 e 1,7% abaixo do pré-pandemia, isto é, de fev/20.
Em relação a jul/20, tal como a indústria geral (+1,2%), o desempenho da indústria de transformação também foi positivo, porém bem menos intenso que nos dois meses anteriores: +1,7%, com bases de comparação contribuindo menos para a obtenção de variações robustas. No caso do ramo extrativo, em contraste, houve declínio de -2,7%.
Frente a jun/21, na série com ajuste sazonal, o resultado de -1,3% da indústria geral teve influência negativa de 19 dos 26 ramos pesquisados. Dentre os destaques negativos estão: bebidas (-10,2%), produtos alimentícios (-1,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,8%), máquinas e equipamentos (-4,0%), outros equipamentos de transporte (-15,6%), entre outros, além de indústrias extrativas (-1,2%). Em direção oposta, entre as sete atividades com crescimento na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,8%) exerceu o principal impacto positivo.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de +1,2% na produção em jul/21, variações positivas marcaram o desempenho de 14 dos 26 ramos, 46 dos 79 grupos e 54,4% dos 805 produtos pesquisados. Vale mencionar que jul/21 (22 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês de 2020.
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+21,2%), metalurgia (+24,8%), máquinas e equipamentos (+26,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (+22,1%), produtos de minerais não-metálicos (+9,0%), couro, artigos para viagem e calçados (+15,3%), impressão e reprodução de gravações (+40,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,0%), entre outros.
Entre as doze atividades em queda, produtos alimentícios (-10,3%) exerceu a influência negativa mais intensa, seguidos por bebidas (-15,2%), indústrias extrativas (-2,7%), móveis (-14,4%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-9,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,1%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE juntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de jul/21 cresceu +25,4%, impulsionado pela baixa base de comparação e pela reativação da economia mundial. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +53% na comparação com jul/20. Foi a nona taxa positiva consecutiva; todas de dois dígitos.
Assim, no acumulado de 2021, as exportações industriais, que pararam de apresentar sinal negativo a partir de abr/21, registraram crescimento de +17,2% nos sete primeiros meses do ano frente a igual período do ano anterior. Esta foi a primeira taxa positiva de dois dígitos pós choque da Covid-19. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta expressiva de +28,8% em 2021, um quadro bem diferente de 2020 como um todo (-4,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, caiu seguidamente a partir de fev/21, chegando a 76,7% em abr/21, e a partir de mai/21 voltou a mostrar alguma reação. A tendência teve continuidade em jul/21, registrando 80,1%, mas voltou a declinar em ago/21, para 79,7%.
Cabe observar, porém, que o nível de utilização de jul/21, bem como o de ago/21, voltou a superar a média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%. Apesar disso, ficou abaixo do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016, mostrando que ainda há o que recuperar ao se considerar a recente sobreposição de crises. No 1º trim/14, a utilização da capacidade estava em 82,6%.
Já pesquisa da CNI, mostra que a utilização da capacidade instalada da indústria de jul/21 manteve-se muito próxima do nível de jun/21. Atingiu 82,3%, após ajuste sazonal, registrando decréscimo de -0,3 ponto percentual ante o mês anterior. Isso consolida um nível persistentemente superior ao observado antes da crise (78% em fev/20). Em relação a jul/20, o aumento foi de 6,1 pontos percentuais. Com esse resultado, a utilização da capacidade instalada também superou o nível pré-crises de 2014-2016 e Covid-19, visto que no 1º trim/14 o nível da utilização foi de 82%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em jul/21 ficou no mesmo patamar de jun/21, em 49,0 pontos. Por se encontrar muito próximo da marca de 50 pontos, o indicador sugere estoques em leve redução. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador registrou 49,1 pontos (-0,1 ponto frente a jun/21), e na indústria extrativa ficou em 44,3 pontos (+2,9 pontos), sinalizando ampliação de estoques.
Estoques mais equilibrados sugerem uma redução da vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, amenizando os gargalos em diversos elos que temos visto desde o ano passado.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral ficaram, mais uma vez, abaixo do nível planejado (50 pontos), com um indicador de satisfação em 48,7 pontos em jul/21, isto é, patamar melhor do que em dez/20 (+3,2 pontos), mas inferior ao de fev/20 (-0,9 ponto), isto é, antes do choque da Covid-19.
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 48,1 pontos e 48,7 pontos, respectivamente, isto é, abaixo do nível de equilíbrio (50 pontos) nos dois casos. A insuficiência de estoques na indústria de transformação, que tinha se amenizado, aproximando-se muito da linha de 50 pontos em abr-mai/21, voltou a lentamente se afastar dela a partir de jun/21, embora permaneça melhor que a situação do bimestre set-out/20 (43,1 pontos).
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena no início de 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais acompanhados pela CNI apresentarem estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em jul/21 essa tendência de redução dos estoques manteve-se em 18 dos 26 ramos acompanhados pela CNI, ou seja, em 69% do total.
Entre os 8 ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: papel e celulose (52,1 pontos), bebidas (52,1 pontos), têxteis (51,5 pontos) e material plástico (51,4 pontos), entre outros. Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: couro (41,1 pontos), outros equipamentos de transporte (41,7 pontos), madeira (41,9 pontos) e móveis (43,1 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que vinha evoluindo negativamente desde jan/21, voltou a subir a partir de abr/21 e atingiu 63,1 pontos em ago/21. Assim, não só está na região de otimismo (acima de 50 pontos), como atingiu sua melhor marca desde dez/20, trazendo perspectivas mais favoráveis para o setor nos próximos meses.
O componente do indicador de confiança referente às expectativas em relação ao futuro passou de 65,7 pontos em jul/21 para 66,1 pontos em ago/21, e a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também progrediu de 55,8 pontos em jul/21 para 57,2 pontos em ago/21, ficando na região de otimismo (acima de 50 pontos). Vale lembrar que este último componente do indicador de confiança havia registrado 60,2 pontos em dez/20.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV retomou um movimento descendente. Encontrava-se em 114,9 pontos em dez/20 e chegou a 103,5 pontos em abr/21, melhorando a partir de então. Em jul/21 ficou em 108,4 pontos e em ago/21 refluiu para 107 pontos, já descontados os efeitos sazonais. Como se manteve acima da linha dos 100 pontos durante todo este período, indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam no final do ano passado.
O resultado em ago/21, foi influenciado por seus dois componentes, mas sobretudo por aquele da situação atual. A avaliação em relação ao futuro passou de 104,9 pontos em jul/21 para 104,6 pontos em ago/21, permanecendo na região de otimismo. Já a avaliações da situação atual recuou de 111,8 pontos em jul/21 para 109,4 pontos em ago/21.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador está acima dos 50 pontos desde jun/20, apontando melhora das condições de negócio neste período. Em ago/21, depois da reação iniciada em mai/21, voltou a registrar deterioração, passando de 56,7 pontos em jul/21 para 53,6 pontos.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)