Carta IEDI
A insuficiente reação em 2021
A indústria em 2021 não cresceu o suficiente para compensar as perdas de 2020. A rigor, não fossem as bases deprimidas de comparação, o setor teria apresentado um desempenho bastante inferior, já que mês após mês, descontados os efeitos sazonais, a produção industrial teve um ano marcado majoritariamente por recuos.
Dos doze meses de 2021, nove ficaram no vermelho e apenas três registraram sinal positivo na série com ajuste. Dez/21 foi um destes meses de exceção, cuja alta de +2,9% ante a nov/21 foi a mais intensa do ano. A maioria dos ramos industriais (77%) conseguiu avançar no final do ano, mas as principais contribuições ficaram a cargo de apenas duas atividades, da produção de veículos e do setor de alimentos.
A despeito desta recente reação, o final de 2021 foi claramente pior do que o final de 2020. Houve queda de -5% em dez/21 frente a dez/20 e de -5,8% no 4º trim/21 ante o mesmo período do ano anterior. Além disso, a produção industrial seguiu abaixo do nível anterior ao choque inicial da pandemia: -0,9% em relação a fev/20.
Entre os quatro macrossetores industriais, três voltaram ao crescimento no acumulado de 2021 como um todo, embora apenas dois deles tenham compensado integralmente as perdas de 2020. Os maiores obstáculos apareceram nos bens de consumo, expressando o peso do elevado desemprego e da corrosão do poder de compra da população pela aceleração inflacionária para a retomada da indústria.
Bens de consumo semi e não duráveis foi a exceção em 2021 ao acumular queda de -0,5% no ano, isso depois da perda de -5,9% em 2020. A contar pelo último trimestre do ano passado, em que recuou -8,1%, seu quadro continua adverso na entrada de 2022, apesar da melhora recente no ramo de alimentos (+1,8% em dez/21 ante dez/20).
Bens de consumo duráveis, a seu turno, foi quem apresentou a menor taxa de expansão no ano passado, de apenas +1,9%, isto é, muito longe de compensar o tombo de -19,8% de 2020. Vale lembrar que muitos de seus ramos, por consumir um grande número de partes e componentes, vários deles importados, são particularmente afetados pelos gargalos nas cadeiras de fornecedores. O resultado do 4º trim/21 também não foi nada promissor: -22,3%.
Bens intermediários, mesmo recuando -4,4% no último trimestre do ano, logrou um crescimento de +3,3% no acumulado de 2021 como um todo, superando o declínio de 2020 (-1,0%). Entretanto, se considerarmos que, em 2019, este macrossetor já não tinha se saído bem (-2,1%), a alta de 2021 só conseguiu anular as perdas do biênio anterior.
Em bens de capital é onde a retomada de mostrou mais consistente no ano passado. Sua produção avançou +28,3%, mais do que recompondo a queda de 2020 (-9,6%) e foi o único macrossetor a se manter no positivo no último trimestre (+6,4%). Em sua origem está o impulso vindo da produção de bens de capital para a agricultura, para a construção e também para transporte.
A produção de bens de capital para a própria indústria, que havia se recuperado na segunda metade de 2020 e na primeira metade no ano passado, encolheu novamente no 2º sem/21: -1,2% na comparação interanual, devido ao desempenho de out-dez/21 (-8,9%).
Com expectativa de virtual estagnação do PIB brasileiro em 2022 (+0,3% segundo o Boletim Focus e o FMI), o cenário para a indústria neste ano não é dos mais favoráveis, a começar pelo novo surto no mundo de Covid-19 devido à variante ômicron, que deve prolongar o quadro de desorganização das cadeias produtivas em escala global. De acordo com o último Boletim Focus, o PIB da indústria em 2022 deve cair -0,2%.
Os efeitos disso já se mostram na confiança dos empresários do setor. O indicador da FGV, em jan/22, ficou abaixo da marca de 100 pontos pela primeira vez desde ago/20, sinalizando queda da confiança, e o indicador da CNI manteve rota descendente, ficando cerca de 10% abaixo do patamar da virada de 2020 para 2021.
Resultados da Indústria
Em dezembro de 2021, a produção industrial assinalou crescimento de +2,9% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Com a revisão do dado de nov/21 (0%), este foi o segundo mês que a indústria não caiu e a primeira taxa positiva no segundo semestre de 2021, nesta comparação. Apesar disso, frente ao nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20, o setor industrial manteve sua defasagem, de -0,9% agora em dez/21.
De acordo com o IBGE, os resultados ao longo de 2021 em comparação com 2020 foram em sua maioria positivos até o segundo semestre, devido à baixa base de comparação decorrente do impacto inicial da Covid-19, quando linhas de produção chegaram a ser interrompidas. Na segunda metade de 2021, entretanto, este efeito estatístico favorável não esteve mais em atuação, produzindo uma sequência de variações negativas. Dez/21 não foi diferente e ante dez/20 registrou queda de -5,0%, a despeito de contar com um dia útil a mais.
Ainda na comparação com o mesmo período do ano anterior, o recuo de dez/21 se somou ao de out/21 e nov/21, produzindo uma queda de -5,8% no último trimestre do ano, o que indica aprofundamento do desempenho já desfavorável registrado no 3º trim/21 (-1,1%).
Deste modo, o resultado no acumulado do ano passado, que chegou a +13% em jan-jun/21, refluiu para +3,9% em jan-dez/21 frente ao mesmo período de 2020. Ou seja, insuficiente para sequer anular as perdas de 2020, quando a produção industrial recuou -4,5%. Vale lembrar que 2019, em função da crise argentina e dos conflitos comerciais sino-americanos, a produção da indústria brasileira já havia declinado -1,1%.
Quanto às grandes categorias industriais, na comparação entre dez/21 com nov/21, na série com ajuste sazonal, houve variação positiva em todos os macrossetores industriais. Bens de consumo duráveis foi o que mais cresceu: +6,9%, reforçando o desempenho registrado no mês anterior (+1,1%) e, assim, interrompendo a longa série de dez meses de declínio em 2021.
Os bens de capital, por sua vez, deu continuidade à alternância de altas e quedas a marcar sua trajetória com ajuste sazonal e acusou, em dez/21, avanço de +4,4%, de modo a compensar o mau resultado de nov/21 (-2,4%).
Os segmentos de bens intermediários (+1,2%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (1,5%), tal como em nov/21 (0% e -0,1%), voltaram a performar de modo muito semelhante, mas agora conseguindo se manter no azul. Em ambos os casos, a série com ajuste na segunda metade de 2021 tem sido marcado por recuos ou por virtual estagnação. Dez/21 foi a primeira vez neste período a ter um resultado superior a este padrão.
Já frente o mesmo mês do ano anterior (dez/20), o macrossetor de bens de capital foi o único a apresentar expansão, com variação de +5,8%. Na mesma base de comparação, os demais macrossetores apresentaram variação negativa: -16,8% em bens de consumo duráveis, -7,4% em bens de consumo semiduráveis e não duráveis e -3,9% em bens intermediários.
O macrossetor de bens de capital, que registrou alta de +5,8% ante dez/20, foi positivamente influenciado pela maior parte de seus grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (+8,4%), bens de capital de uso misto (+13,2%), agrícolas (+13,0%) e para construção (+14,2%). Os impactos negativos vieram de bens de capital para fins industriais (-13,0%) e para energia elétrica (-0,4%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a queda mais intensa em dez/21 ficou por conta de bens de consumo duráveis (-16,8%), muito influenciada pela redução na fabricação de automóveis (-10,3%), de eletrodomésticos da “linha branca” (-28,0%) e da “linha marrom” (-25,8%), mas também de móveis (-30,7%). O principal impacto positivo ficou por conta da produção de motocicletas (+7,4%).
Por sua vez, o declínio de -7,4% da produção de bens de consumo semi e não duráveis frente a dez/20, foi explicado, principalmente, pela redução observada nos grupamentos de semiduráveis (-25,4%), em função de camisas, blusas e semelhantes de uso feminino, calçados de material sintético e de couro, entre outros, mas também de grupamentos de não-duráveis (-10,5%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-3,0%). Em direção oposta, o grupamento de carburantes cresceu +8,0%, devido a maior fabricação de gasolina automotiva.
Por fim, os bens intermediários registraram a menor queda na comparação com dez/20, de -3,9%, principalmente, sob influência de produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,7%), de metalurgia (-13,9%), de produtos de borracha e de material plástico (-19,6%), de produtos de metal (-19,0%), de produtos têxteis (-27,1%) e de máquinas e equipamentos (-4,4%), entre outros. Já as contribuições positivas ficaram a cargo de produtos alimentícios (+7,0%), indústrias extrativas (+2,0%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,2%) e celulose, papel e produtos de papel (+5,4%).
No acumulado dos doze meses de 2021, observa-se acentuado dinamismo em bens de capital, com +28,3%. Os segmentos de bens intermediários (+3,3%) e de bens de consumo duráveis (+1,9%) também assinalaram crescimento em jan-dez/21 frente a jan-dez/20, mas todos com avanços abaixo da média da indústria (+3,9%). A exceção foi o macrossetor de bens de consumo semi e não-duráveis, que encerrou 2021 com uma varação acumulada de -0,5%.
Por dentro da Indústria de Transformação
A alta de +2,9% da produção industrial geral em dez/21 ante nov/21, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +2% na indústria de transformação e de +1,6% no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação ainda se encontra 0,9% abaixo do nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20.
Em relação a dez/20, tal como a indústria geral (-5,0%), o desempenho da indústria de transformação também foi negativo, porém mais intenso: -5,9%. No caso do ramo extrativo houve avanço de +2,0%.
Frente a nov/21, na série com ajuste sazonal, o resultado de +2,9% da indústria geral teve influência positiva de 20 dos 26 ramos pesquisados. Dentre as principais contribuições ficaram os setores de reboques e carrocerias (+12,2%) e produtos alimentícios (+2,9%), além de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+12,0%), metalurgia (+3,8%), minerais não-metálicos (+2,0%) e máquinas e equipamentos (+1,3%), entre outros. Do lado negativo, o destaque ficou a cargo de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,9%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de -5,0% na produção em dez/21, variações negativas marcaram o desempenho de 20 dos 26 ramos, 57 dos 79 grupos e 64,8% dos 805 produtos pesquisados.
As maiores influências negativas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades: metalurgia (-13,9%), borracha e de material plástico (-19,9%) e produtos de metal (-19,1%), além de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-29,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,0%), produtos têxteis (-27,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-18,8%) e móveis (-25,8%), entre outros.
Por outro lado, entre as seis atividades em alta, a maior influência coube a coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,4%),mas também acusaram aumento de produção os ramos alimentício (+1,8%) e de celulose, papel e produtos de papel (+6,1%), além das indústrias extrativas (+2,0%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE juntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de dez/21 cresceu +4,8% ante dez/20. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +6,2% na comparação com dez/20. Esta foi a décima terceira taxa positiva consecutiva; porém a primeira de apenas um dígito.
Assim, no acumulado de 2021, as exportações industriais, que pararam de apresentar sinal negativo a partir de abr/21, registraram crescimento de +13,9% em jan-dez/21 frente a igual período do ano anterior. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta duas vezes maior do que as exportações industriais, de +27,2% em jan-dez/21, um quadro bem diferente de 2020 (-4,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, recuou de 81,3% em out/21 para 79,7% em dez/21. Ficou, assim, praticamente na média histórica anterior à Covid-19 (79,5%), mas ainda abaixo do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016, que era de 82,6% no 1º trim/14. Em jan/22 este indicador progrediu para 80,7%.
Já pesquisa da CNI, mostra que a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação de dez/21 deu continuidade à rota descendente que vinha apresentando. Atingiu 79,6%, após ajuste sazonal. Em relação ao final da primeira metade do ano, entretanto, registrou declínio de -2,7 pontos percentuais entre jun/21 e dez/21. De todo modo, continua se mostrando em nível persistentemente superior ao observado antes da crise da Covid-19 (78% em fev/20), embora o adicional venha se reduzindo. Em relação a dez/20, o declínio foi de -0,6 ponto percentual.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total em dez/21 voltou a ficar abaixo da linha de 50 pontos, em 49,1 pontos, indicando redução dos estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI registrou 49,3 pontos (-1,4 ponto frente a nov/21), apontando queda dos estoques, assim como na indústria extrativa, que ficou em 43,0 pontos (-4,5 pontos).
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,4 pontos, indicando relativo equilíbrio em dez/21. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação encerrou 2021 em 48,8 pontos e 50,5 pontos, respectivamente.
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena do que na passagem de 2020 para 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos.
Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos) em dez/20 (96% do total), em dez/21 a insatisfação quando ao nível dos estoques manteve-se presente em 15 dos 26 ramos acompanhados pela CNI, ou seja, em 58% do total. Esta parcela implica estabilidade em relação com o mês anterior, mas uma melhora frente a out/21, quando 62% dos ramos consideravam seus estoques abaixo do planejado.
Entre os poucos ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: móveis (55,8 pontos), têxteis (55,3 pontos), informática, eletrônicos e ópticos (53,4 pontos) e material plástico (51,6). Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: limpeza e perfumaria (40,2 pontos), outros equipamentos de transporte (41,7 pontos) e madeira (42,6 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, após ter atingido em nov/21 (56,1 pontos) o menor valor desde abr/21 (54,6 pontos), pouco variou desde então, progredindo para 56,9 pontos em dez/21, mas recuando para 56,4 pontos em jan/22. Ou seja, sem grande mudança de quadro na virada do ano. Por se ter ficado acima de 50 pontos neste período, o indicador aponta otimismo dos empresários do setor, mas bem menos do que indicava no final de 2020 (63,3 pontos em dez/20).
O pequeno declínio na passagem de dez/21 para jan/22 deveu-se ao componente referente às expectativas em relação ao futuro passou de 60,4 pontos para 59,6 pontos neste período. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios ficou praticamente estável: 49,9 pontos em dez/21 e 50 pontos em jan/22. Cabe enfatizar que este último componente não aponta otimismo, apenas um quadro de neutralidade, isto é, nem pessimismo, nem otimismo.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV aponta de forma mais nítida uma deterioração da confiança na entrada de 2022. Deu continuidade ao movimento descendente já verificado desde ago/21 e ficou em 98,4 pontos, o patamar mais baixo desde jul/20. Por ter ficado abaixo da marca dos 100 pontos, indica perda de confiança dos empresários.
O resultado em jan/22 foi influenciado por seus dois componentes. Aquele que capta a avaliação dos empresários em relação ao futuro passou de 99,1 pontos em dez/21 para 97,1 pontos em jan/22, mantendo-se fora da região de otimismo (acima de 100 pontos). Já a avaliação da situação atual recuou de 101,0 pontos em dez/21 para 99,8 pontos em jan/22, o nível mais baixo também desde meados de 2020.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Pelo terceiro mês consecutivo este indicador ficou abaixo dos 50 pontos em jan/22, passando de 49,8 pontos em dez/21 para 47,8 pontos.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)