Carta IEDI
Contrastes no desempenho econômico do 1º trim/23
A atividade econômica no 1º trim/23 foi marcada por uma importante assimetria. De um lado, enfraquecimento da demanda doméstica, com retração da indústria e acomodação dos serviços, e, de outro lado, forte expansão da agropecuária e contribuição positiva do setor externo. A alta do PIB de +1,9% frente ao 4º trim/22, já descontados os efeitos sazonais, e de +4,0% ante o 1º trim/22, deve muito a este eixo dinâmico.
Os dados divulgados recentemente pelo IBGE, mostram nova desaceleração do consumo das famílias, que na série com ajuste sazonal, ficou virtualmente estagnado (+0,2%) e queda do investimento: -3,4%, depois de já ter se contraído -1,3% no último trimestre do ano passado.
Do lado da oferta, setores mais associados ao mercado interno, como comércio (+0,3%, com ajuste), atividades imobiliárias (+0,3%) e outros serviços (-0,5%) não se saíram bem. A indústria de transformação (-0,6%) caiu pela terceira vez consecutiva e a construção (-0,8%), pela segunda vez.
Em expansão mesmo, só a agropecuária, que registrou +21,6% ante o 4º trim/22, com ajuste sazonal, em boa medida graças à safra da soja. Ainda assim, embora sejamos grandes exportadores destes produtos, as exportações totais do país não evitaram o terreno negativo (-0,4%). O setor externo só deu contribuição positiva graças ao recuo intenso das importações (-7,7%), influenciado pela desaceleração do mercado interno.
Este perfil de evolução já havia sido sinalizado pelas pesquisas divulgadas mensalmente pelo IBGE. No início de 2023, o desempenho da produção industrial em geral ficou aquém dos demais setores da economia.
Em mar/23, o dado mais recente disponível, a produção da indústria geral até cresceu +1,1% na série com ajuste, mas depois de ter ficado oscilando muito perto de zero desde nov/22. O varejo ampliado registrou +3,6%, em muito devido a veículos e autopeças, e o faturamento dos serviços, tal como nos dados do PIB, teve uma expansão moderada.
No acumulado do 1º trim/23 frente ao mesmo período do ano anterior, o PIB do Brasil avançou +4,0%, puxado exclusivamente pela agropecuária, que teve alta de +18,8%. Os outros setores cresceram menos que o total do PIB: +1,9% na indústria total e +2,9% nos serviços. O PIB da indústria de transformação (-0,9%) foi o único a ficar no vermelho.
A evolução da produção física do setor também apontava nesta direção: -1,0% no 1º trim/23 ante o 1º trim/22, levando a produção da indústria geral a se contrair -0,4%. Ao todo, 72% dos parques regionais da indústria brasileira não conseguiram crescer no período, inclusive São Paulo, cuja produção recuou -3,0%.
Na indústria geral, o retorno ao negativo no 1º trim/23 deveu-se a metade de seus macrossetores, com destaque para bens de capital (-6,3% ante o 1º trim/22), apontando para uma performance mais fraca do investimento, como os dados do PIB vieram confirmar.
Quanto ao comércio varejista, as vendas reais em sua totalidade voltaram a crescer, após três trimestres consecutivos no vermelho. A alta foi de +3,3%, com seis de seus onze ramos no positivo (54,5% do total).
Entre os ramos do varejo em alta no 1º trim/23, o destaque foi para veículos e autopeças, que, ao registrar +5,0%, interromperam uma sequência de três quedas trimestrais seguidas. Outro destaque positivo foi o ramo de supermercado, alimentos, bebidas e fumo (+2,6%), cujas vendas mantiveram o ritmo de crescimento do final do ano passado. Juntos, estes dois ramos mencionados representam quase metade do varejo ampliado.
Embora o resultado do faturamento real dos serviços continue sendo mais robusto do que nos demais setores, não deixou de apresentar certa acomodação. Do 3º trim/22 ao 1º trim/23, o ritmo de crescimento se reduziu em 1/3, de +8,1% para +5,8%, respectivamente.
A desaceleração recente foi liderada por serviços prestados às famílias, transportes, seus auxiliares e correios, além de serviços profissionais, administrativos e complementares e outros serviços, que reúnem um conjunto diversificado de atividades.
Indústria
Depois de quatro meses de virtual estagnação, a indústria voltou a se expandir em mar/23. A alta foi de +1,1% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Embora a base baixa de comparação tenha ajudado, este desempenho pode ser visto como uma melhora gradual em relação aos meses anteriores. Isso não apenas porque o agregado do setor ficou no positivo, mas também porque o crescimento foi mais difundido.
Em mar/23, houve avanço em três dos quatro macrossetores industriais na série com ajuste sazonal. Em jan/23 tinha sido apenas um e em fev/23 dois deles. Entre os 25 ramos acompanhados pelo IBGE, a parcela de com expansão progrediu de 52% em dez/22 para 64% em mar/23.
Além disso, a maioria dos parques regionais do setor também ficou no positivo, sob influência de resultados mais robustos no Norte e no Nordeste e da recuperação do Rio Grande do Sul. São Paulo continuou não se saindo bem.
Na passagem de fev/23 para mar/23, descontados os efeitos sazonais, 11 dos 15 parques industriais acompanhados pelo IBGE registraram expansão na produção, ou seja, uma fração de 73% do total.
Entre as altas mais intensas, ficaram a região Nordeste (+6,8%) e os estados do Norte do país, notadamente, o Amazonas (+8,7%), mas também o Pará (+4,3%). A indústria gaúcha, contando com uma base baixa de comparação, registrou +5,6%, o que apenas parcialmente compensou a retração de jan-fev/23.
Já São Paulo, que possui o maior e mais diversificado parque industrial do país, ficou virtualmente estagnado ao variar somente +0,2% frente a fev/23, com ajuste sazonal. A última vez que sua indústria cresceu nesta comparação foi em nov/22, assumindo uma trajetória negativa desde então.
Com isso, vale observar que a indústria paulista está 2,7% abaixo do pré-pandemia (fev/20), uma defasagem que é o dobro daquela registrada pelo setor no agregado Brasil (1,3% aquém de fev/20). Apenas 1/3 das indústrias regionais se apresenta acima deste patamar, com destaque para Amazonas (+16,4%), Minas Gerais (+11,5%) e Rio de Janeiro (+5,6%).
São Paulo também não aparece bem na comparação com o início do ano passado. No 1º trim/23, a indústria paulista pisou no freio mais fortemente do que o agregado Brasil, passando de uma alta de +5,8% no 4º trim/22 para uma retração de -3,0% no 1º trim/23.
Além de mais intensa, o declínio da indústria paulista no 1º trim/23 também foi mais difundido, atingindo 78% de seus ramos ante 64% no total Brasil. Os ramos com os piores resultados em São Paulo foram equipamentos de informática e eletrônicos (-33,4%), minerais não metálicos (-13,3%) e extrativa (-12,1%). Atenuaram a situação têxteis (+16,4%) e farmacêuticos e farmoquímicos (+16,3%).
Ao todo, 72% dos parques regionais da indústria brasileira não conseguiram crescer no 1º trim/23, o que sinaliza um processo bastante espalhado geograficamente. Quedas intensas marcaram o desempenho do Rio Grande do Sul (-9,2%), que já tinha ficado no vermelho no 4º trim/22 (-1,8%), Mato Grosso (-7,2%) e Rio de Janeiro (-5,2%), que amenizou suas perdas, mas que também não cresce desde o final do ano passado (-9,9% no 4º trim/22).
Entre as poucas localidades em expansão, Amazonas foi quem melhor se saiu: +14,8%, com contribuição importante de informática e eletrônicos (+25,5% ante o 1º trim/22), bebidas (+14,8%) e derivados de petróleo (+26,9%).
Maranhão, que passou a ser acompanhado na última atualização da pesquisa do IBGE, também ficou entre os melhores colocados, com uma alta de +8,3% no 1º trim/23, devido a alimentos (+18,5%) e papel e celulose (+38,3%), seguido por Minas Gerais (+8,0%) e Rio de Janeiro (+6,1%), ambos apoiados nos resultados do ramo extrativo e de derivados de petróleo.
Comércio
Quanto ao comércio varejista, a reação das vendas de veículos no mês de mar/23, levou o setor a crescer +3,6% em seu conceito ampliado, já descontados os efeitos sazonais. Os dados do IBGE também mostram que, em seu conceito restrito, o desempenho do varejo foi igualmente positivo, mas bem mais modesto: +0,8% ante fev/23, com ajuste.
A ocorrência de resultados muito próximos da estabilidade (0%) em ramos de peso na passagem de fev/23 para mar/23 foi fator importante para esta expansão mais fraca do varejo restrito. Foram os casos de supermercados, alimentos, bebidas e fumo (0%) e combustíveis e lubrificantes (-0,1%), além de móveis e eletrodomésticos (+0,3%).
No varejo ampliado, material de construção também mal saiu do lugar ao registrar +0,2% na série com ajuste sazonal. Ao todo, entre seus dez ramos, 4 ficaram virtualmente estagnados e outros 3 no vermelho, representando 70% do total. Por isso, o crescimento em mar/23 deveu-se sobretudo a veículos e autopeças, com +3,7% ante fev/23, e também a equipamentos de escritório, informática e comunicação (+7,7%).
Em comparação com o início do ano passado, o varejo em sua totalidade voltou a crescer, após três trimestres consecutivos no vermelho, também com a ajudas das vendas de veículos e autopeças. A alta foi de +3,3%, com seis de seus onze ramos no positivo (54,5% do total).
Entre aqueles em alta no 1º trim/23, o destaque foi para veículos e autopeças, que, ao registrar +5,0%, interromperam uma sequência de três quedas trimestrais seguidas. Outro destaque positivo foi o ramo de supermercado, alimentos, bebidas e fumo (+2,6%), cujas vendas mantiveram o ritmo de crescimento do final do ano passado. Juntos, estes dois ramos mencionados representam quase metade do varejo ampliado.
Mas o melhor resultado no período coube às vendas de combustíveis e lubrificantes, que até este início de ano contavam com bases baixas de comparação. O resultado foi de +20% agora em jan-mar/23. Outro ramo com nesta situação foi eletrodomésticos, cuja alta de +6,9% foi, todavia, amortecida pelo recuo de móveis (-6,2%), levando o ramo de móveis e eletrodomésticos a um resultado moderado de +2,1%.
Entre as perdas, as mais intensas ocorreram em outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,6%), seu quarto trimestre consecutivo no vermelho, tecidos, calçados e vestuário (-4,7%), em queda desde o 3º trim/22, e material de construção (-3,3%), cujas vendas não crescem desde o 2º trim/21. Estes três ramos representam cerca de 15% do varejo ampliado e têm sido um obstáculo para uma expansão mais forte do varejo total.
Serviços
Em mar/23, segundo os dados do IBGE, o faturamento real do setor de serviços se expandiu novamente, registrando +0,9% na série com ajuste sazonal. Três de seus cinco ramos foram responsáveis por este desempenho, notadamente transportes.
Como também houve crescimento em fev/23, o setor passou a maior parte do primeiro trimestre do ano no azul, mas os resultados de fev-mar/23 não foram fortes o suficiente para anular a retração de jan/23.
Por isso, este início de 2023 representa uma acomodação na trajetória dos serviços, que vinha puxando o nível de atividade econômica. Em mar/23, o faturamento real do setor como um todo encontrava-se 1,3% abaixo do nível de dez/22, bem como os ramos de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,0%), daqueles prestados às famílias (-2,4%) e de outros serviços (-9,1%).
Em comparação com o quadro do início do ano passado, o resultado é mais robusto, mas vem passando por um processo de lenta desaceleração. Do 3º trim/22 ao 1º trim/23, o ritmo de crescimento se reduziu em 1/3, de +8,1% para +5,8%.
A acomodação recente foi liderada por dois ramos, ainda que tenham mantido um resultado superior ao agregado do setor: serviços prestados às famílias, cujo faturamento saiu de uma alta de +20,8% no 3º trim/22 para +8,5% no 1º trim/23, e transportes, seus auxiliares e correios, passando de +14,4% para +6,5%, respectivamente.
No primeiro caso, vale lembrar, o patamar pré-pandemia ainda não foi recuperado. Os serviços prestados às famílias é o único ramo com defasagem: -6,8% ante fev/20, já descontada a sazonalidade. No segundo caso, como se sabe, sua evolução está muito relacionada com o dinamismo econômico em geral, que vem se mostrando mais modesto.
Em direção oposta, os serviços de informação e comunicação, que representam 23,5% do setor como um todo, foi o ramo que amorteceu a perda de dinamismo, ao passar de +3,7% no 3º trim/22 para +6,9% no 1º trim/23, graças ao crescimento mais intenso de seu segmento de tecnologia da informação (+10,9% em jan-mar/23).
Os outros dois ramos dos serviços contribuíram para uma expansão menor neste início de ano, mas no caso dos serviços profissionais, administrativos e complementares a perda de ritmo foi pequena e concentrada nos serviços de apoio às atividades empresariais (-0,1% em jan-mar/23). Ainda assim este ramo cresceu menos que o agregado dos serviços (+5,3% ante +5,8%, respectivamente).
Já em outros serviços, que reúnem um conjunto diversificado de atividades, a trajetória recente tem sido muito volátil e no 1º trim/23 ficou praticamente estável ao registrar +0,2% frente ao mesmo período do ano anterior, em boa medida devido às atividades auxiliares dos serviços financeiros (-4,1%).