Carta IEDI
Trimestre de aceleração industrial
A primeira metade do ano se encerrou com um avanço expressivo da produção industrial brasileira: +4,1% na passagem de mai/24 para jun/24, já descontados os efeitos sazonais. Foi o melhor resultado da série desde jul/20 e mais do que compensou o declínio acumulado dos dois meses anteriores.
Também foi um crescimento relativamente espalhado: 64% dos ramos acompanhados pelo IBGE e 53% dos parques regionais do setor tiveram avanços na produção. Mas apesar disso, muito da intensidade do resultado deve-se à retomada da produção no sul do país.
Após o choque inicial das enchentes no Rio Grande Sul, que levou a produção industrial gaúcha a encolher -26,3% em mai/24, o estado registrou alta de +34,9% em jun/24, já descontados os efeitos sazonais.
Reforça o peso deste fator para o resultado de jun/24 o fato de que ramos industriais com importante presença no Rio Grande do Sul lideraram a expansão do agregado nacional, a exemplo da produção de fumo (+19,8%), químicos (+6,5%) e metalurgia (+5,0%).
O IBGE destaca, contudo, que a produção de derivados de petróleo e biocombustíveis foram responsáveis pelas maiores contribuições positivas em jun/24. Neste sentido, cabe observar que, em meses anteriores, Petrobras havia noticiado paradas técnicas em algumas de suas refinarias, reduzindo as bases de comparação, e ajudando na obtenção de variação positiva agora em jun/24. A produção de etanol também se destacou.
A despeito das oscilações de curto prazo e da perspectiva de arrefecimento com a interrupção da fase de declínio da taxa básica de juros (Selic), o desempenho da indústria continuou favorável em comparação com o ano passado. No agregado do setor, a alta que já se apresentava no 4º trim/23 tem ganhado robustez em 2024, ao menos por ora.
Todos os macrossetores industriais apontaram aumento de produção no 2º trim/24 frente ao 2º trim/23. A liderança coube a bens de capital, cujas bases de comparação permanecem muito deprimidas. Sua alta foi de +11,7%, sendo o primeiro trimestre positivo desde abr-jun/22.
Três grupos de bens de capital cresceram no período: aqueles para a própria indústria, com +8,5%, algo que não ocorria desde o 3º trim/21, bens de capital de uso misto, com +18,2%, e para transporte, cuja expansão de +18,8% foi a mais forte.
Os bens de consumo também se saíram bem, refletindo a melhora do emprego e da renda da população, mas também bases mais modestas de comparação no caso de duráveis. A produção de semi e não duráveis aumentou +6,4%, o melhor resultado desde o 2º trim/21, e a de bens duráveis, +7,7% apoiada pelos ramos de eletrodomésticos (+27,3%) e móveis (+9,0%). A produção de veículos e autopeças recuou -1,4%.
Bens intermediários, a seu turno, foram o único macrossetor a perder dinamismo no 2º trim/24, registrando +1%, depois de ter avançado em torno de +2,5% nos dois trimestres anteriores. Dois ramos explicam esta perda de dinamismo: derivados de petróleo (-2,6% ante o 2º trim/23) e siderurgia (-1,8%), neste último caso sob influência não apenas das enchentes do RS, mas também da pesada pressão concorrencial do aço chinês a preços muito baixos no mercado global.
Para o início da segunda metade deste ano, são positivas sinalizações de curto prazo. A confiança dos empresários da indústria de transformação registraram, em jul/24, o maior patamar no indicador da FGV desde nov/21 e manteve-se na região otimista no indicador da CNI, a despeito de certa acomodação. O Purchasing Managers’ Index (PMI) Manufacturing para o Brasil também progrediu em jul/24, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Além disso, sondagens realizadas pela CNI mostram que o nível de estoques da indústria geral, mas também no ramo extrativo e na indústria de transformação, acusaram redução novamente em jun/24 abrindo espaço para maior produção com o objetivo de regularizá-los. Assim como seu agregado, 72% de seus ramos da indústria de transformação avaliaram seus estoques abaixo do planejado em jun/24.
Resultados da Indústria
A produção industrial brasileira avançou +4,1% na passagem entre mai/24 e jun/24 na série com ajuste sazona,l de acordo com os dados mais recentes divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE. Este foi o resultado positivo mais intenso desde jul/20 (quando cresceu +9,1%) e foi responsável por mais do que eliminar a perda de -1,8% acumulada em abr-mai/24.
No confronto com jun/23, a produção da indústria geral expandiu +3,2% em jun/24, após recuar -1,1% em mai/24 e crescer +8,4% em abr/24. Cabe observar que jun/24 (20 dias) teve 1 dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (21).
O desempenho do setor industrial também foi positivo no 2º tri/24: +3,3% ante +1,9% registrado no 1º trim/24 contra iguais períodos do ano anterior. Com isso, o resultado no acumulado de jan-jun/24 chegou a +2,6% ante jan-jun/23.
Já o indicador acumulado nos últimos doze meses, ao avançar +1,5% em jun/24, seguiu mostrando aceleração. O ritmo de crescimento deste indicador em mai/24 havia sido de +1,3% e de em jan/24, de +0,4%.
Vale destacar que, com esses resultados, a produção industrial ultrapassa o patamar pré-pandemia (+2,8% acima de fev/20); mas ainda se encontra -14,3% abaixo do nível recorde alcançado em mai/11.
A expansão de +4,1% da atividade industrial na passagem de maio para junho de 2024 na série com ajuste sazonal teve perfil disseminado de taxas positivas, com aumento de produção das quatro grandes categorias econômicas. Bens de consumo duráveis (+4,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%) assinalaram as variações positivas mais elevadas em jun/24, com a primeira eliminando parte do recuo de -5,6% de mai/24; e a segunda voltando a crescer após mostrar variação nula no mês imediatamente anterior (0,0%).
Os setores produtores de bens intermediários (+2,6%) e de bens de capital (+0,5%) também registraram crescimento na produção, com o primeiro interrompendo dois meses seguidos de queda (período em que acumulou perda de -2,0%) e o segundo eliminando parte do recuo de -2,2% de mai/24.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +3,2% da indústria total em jun/24 foi puxado por todos os quatro macrossetores. O macrossetor produtor de bens de consumo duráveis (+12,0%) assinalou a expansão mais acentuada, seguida por bens de capital (+9,0%), bens de consumo semi e não duráveis (+5,8%) e bens intermediários (+1,1%).
O macrossetor de bens de consumo duráveis cresceu +12,0% em jun/24 frente a igual mês de 2023, pressionado, principalmente, pela expansão na fabricação de automóveis (+9,9%), eletrodomésticos da “linha branca” (+31,6%) e outros eletrodomésticos (+43,8%), assim como motocicletas (+8,5%), eletrodomésticos da “linha marrom” (+4,3%) e móveis (+8,9%).
Bens de capital tiveram expansão de +9,0% na comparação interanual, marcando o terceiro mês consecutivo de crescimento na produção, mas com intensidade bem maior que a observada no mês anterior (+3,6%). A alta foi influenciada pelo avanço observado nos grupamentos de bens de capital de uso misto (+33,1%), para fins industriais (+7,5%) e para equipamentos de transporte (+4,7%). Por outro lado, os segmentos de bens de capital para construção (-20,9%), agrícolas (-9,5%) e para energia elétrica (-0,6%) apresentaram variações negativas.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção dos bens de consumo semi e não duráveis avançou +5,8% em jun/24, terceira taxa positiva consecutiva nessa comparação. O desempenho positivo nesse mês foi explicado pelo crescimento registrado em todos os grupamentos, com destaque para carburantes (+11,6%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+3,3%), não duráveis (+7,2%), semiduráveis (+2,4%) e alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+13,7%).
A produção de bens intermediários, por sua vez, expandiu +1,1% em jun/24 frente a jun/23, após recuar -2,2% em mai/24. Esse resultado foi explicado principalmente pelos avanços nos produtos associados às atividades de celulose, papel e produtos de papel (+10,4%), produtos químicos (+4,2%), produtos alimentícios (+3,2%), metalurgia (+2,0%), indústrias extrativas (+0,9%) e produtos de minerais não metálicos (+1,3%), dentre outros. As pressões negativas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-0,7%) e produtos de metal (-1,3%).
Na comparação do 2º trim/24 frente ao mesmo trimestre do ano anterior, nota-se uma melhora geral nos resultados: no período abr-jun/24 o índice de produção industrial assinalou expansão de +3,3%, intensificando o ritmo frente aos resultados do 1º trim/24 (+1,9%) e do último trimestre de 2023 (+1,1%).
Esse movimento de maior dinamismo foi verificado em três dos quatro macrossetores, com destaque para bens de capital (de -1,7% no 1º trim/24 para +11,7% no 2º trim/24), impulsionada, em grande parte, pela maior produção de bens de capital para equipamentos de transporte (de +1,9% para +18,8%) e para fins industriais (de -0,2% para +8,5%).
Os setores produtores de bens de consumo duráveis (de +0,8% no 1º trim/24 para +7,7% no 2º trim/24) e de bens de consumo semi e não duráveis (de +1,7% para +6,4%) também mostraram ganho entre esses dois períodos, enquanto o segmento de bens intermediários (de +2,7% para +1,0%) foi o único que apontou perda de ritmo, mas ainda permaneceu com resultado positivo.
No índice acumulado de jan-jun/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +2,6%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores. O perfil dos resultados para o primeiro semestre de 2024 mostrou maior dinamismo na produção de bens de capital (+5,0%), bens de consumo duráveis (+4,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (+4,1%). O setor produtor de bens intermediários (+1,8%) também apontou resultado positivo no índice acumulado do primeiro semestre do ano, mas registrou avanço menos intenso do que o verificado na média da indústria (+2,6%).
O movimento de expansão na produção ao longo de 2024 intensificou-se, também sendo observado em bases semestrais: no 1º sem/24 o crescimento de +2,6% foi superior ao resultado do 2º sem/23 (+0,5%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de ganho de dinamismo foi verificado nas quatro grandes categorias econômicas, com destaque para bens de capital (de -13,9% para +5,0%) e bens de consumo duráveis (de -2,6% para +4,3%). Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (de +2,4% para +4,1%) e de bens intermediários (de +1,3% para +1,8%) também assinalaram ganho de ritmo entre esses dois períodos.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção da indústria geral assinalou variação positiva (+4,1%) em jun/24 frente a mai/24, na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em jun/24 a indústria de transformação foi a maior responsável por esse resultado, crescendo +4,5% nesta comparação, enquanto o ramo extrativo avançou +2,5%.
Na comparação com jun/23, a expansão de +3,2% da indústria geral foi puxada novamente pela indústria de transformação, que cresceu +3,6% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo apontou variação de +0,9% na mesma comparação.
Na variação positiva de +4,1% do setor industrial na comparação entre jun/24 e mai/24, 16 dos 25 ramos industriais pesquisados assinalaram alta na produção. Entre as atividades, as influências positivas mais importantes da indústria de transformação foram: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,0%), produtos químicos (+6,5%), produtos alimentícios (+2,7%), metalurgia (+5,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+3,1%) e bebidas (+3,5%).
Por outro lado, entre as atividades que apontaram redução na produção, outros equipamentos de transporte (-5,5%) exerceu o principal impacto em jun/24 frente a mai/24, seguido por artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,1%), impressão e reprodução de gravações (-9,1%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,7%).
Na comparação com jun/23, o setor industrial assinalou acréscimo de +3,2% em jun/24, com resultados positivos em 18 dos 25 ramos, 44 dos 80 grupos e 52,0% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas no total da indústria foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+17,5%), produtos alimentícios (+2,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+5,9%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+18,4%).
Por outro lado, ainda na comparação com jun/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, impressão e reprodução de gravações (-22,8%) exerceu a maior influência, seguida por confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,0%) e produtos diversos (-6,9%).
No índice acumulado para jan-jun/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +2,6%, com resultados positivos em 16 dos 25 ramos, 47 dos 80 grupos e 54,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas na indústria de transformação foram registradas por produtos alimentícios (+4,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,3%), e veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,9%).
Por outro lado, entre as oito atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,9%), máquinas e equipamentos (-2,0%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-4,5%) e produtos diversos (-5,5%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, avançou +0,7 ponto percentual na passagem de mai/24 (81,8%) para jun/24, quando registrou valor de 82,5%. Dessa forma, em jun/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 6,3 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 2,9 pontos acima da média histórica (79,6%). Em jul/24, a utilização da capacidade instalada cresceu novamente, atingindo 83,4%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação ficou praticamente estável, indo de 79,0% para 78,9% na passagem entre mai/24 e jun/24 na série com ajuste sazonal. Na comparação com jun/23, por sua vez, esse indicador registrou alta de +0,9 p.p.. O patamar de jun/24, ficou, assim, abaixo da média histórica desta série (80,4%), mas 1,6 p.p. acima do nível pré-pandemia (fev/20).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 48,2 pontos em jun/24, recuando 0,7 ponto frente a mai/24. Vale lembrar que valores abaixo da marca de 50 pontos sinalizam redução de estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI recuou de 48,9 pontos em mai/24 para 48,4 pontos em jun/24. A indústria extrativa também assinalou queda nos níveis dos estoques, visto que foi de 47,3 pontos em mai/24 para 45,6 pontos em jun/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 48,6 pontos em jun/24, sinalizando que os estoques estão abaixo do esperado. A marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 48,9 pontos e 48,7 pontos, respectivamente.
Em jun/24, 16% dos ramos industriais apresentarem estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 32% do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em jun/24 destacaram-se: couros (55,0 pontos), vestuário (52,1 pontos), minerais não metálicos (51,1 pontos) e veículos automotores (50,9 pontos) e, entre outros. Dois ramos avaliaram seus estoques no nível de equilíbrio (calçados e químicos) e 72% do total de ramos indicaram estoques abaixo do planejado. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: madeira (41,3 pontos), borracha (42,9 pontos), metalurgia (43,5 pontos) e bebidas (44,3 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 50,4 pontos em jul/24, recuando 0,7 ponto frente a jun/24. Na passagem de jun/24 para jul/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 53,8 para 53,4 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios caiu -1,4 p.p., se mantendo na região pessimista (44,3 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, avançou por mais um mês, crescendo 3,3 p.p na passagem de jun/24 para jul/24, registrando 101,7 pontos, ficando na região de otimismo pela primeira vez desde ago/22, ou seja, acima de 100 pontos.
O resultado de jul/24 foi influenciado pelo avanço tanto do seu componente referente às avaliações da situação atual, que passou de 99,3 pontos em jun/24 para 103,7 pontos em jul/24, e pelo índice de expectativas, que foi de 97,6 pontos em jun/24 para 99,7 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jun/24 ficou em 52,5 pontos, avançando para 54,0 pontos em jul/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)