Carta IEDI
Indústria em 2024: mais produção, mais emprego
Em 2024, resultado de um crescimento da produção relativamente robusto e difundido entre os diferentes ramos da indústria, o emprego industrial se expandiu, superando o aumento do emprego do agregado do setor privado. Este quadro contrasta com aquele de 2023. O estudo sintetizado nesta Carta utilizou os microdados da Pnad/IBGE e faz parte do acompanhamento periódico feito pelo IEDI.
No setor privado como um todo, o número de ocupados cresceu +2,7% em 2024, praticamente do dobro da expansão do ano anterior (+1,3%). Já na indústria geral, o emprego avançou +3,1% ante uma variação de tão somente +0,7% em 2023. Tomada apenas a indústria de transformação, isto é, excluindo-se o ramo extrativo, a alta foi de +2,9% em 2024 ante +0,4% em 2023.
Alguns ramos industriais, contudo, se destacaram aumentando ainda mais seus ocupados. Foram os casos notadamente de: máquinas e aparelhos elétricos (+13,5%), equipamentos de informática e eletrônicos (+9,3%) e alimentos (+8,7%), seguidos de produtos de metal (+6,9%), móveis (+6,7%) e têxteis (+6,2%).
Agrupados por intensidade tecnológica, verifica-se que as faixas extremas, isto é, de alta e de média-baixa foram as que mais expandiram a ocupação. A indústria de alta tecnologia, depois de ter apresentado redução do número de ocupados de -5,7% em 2023, registrou crescimento de +5,4% em 2024. Já a média-baixa acelerou de +1,4% em 2023 para +5,0% em 2024.
As faixas intermediárias, por sua vez, apresentaram uma evolução mais contida da sua ocupação em 2024. A indústria de média-alta registrou redução de -1,6% e a indústria de média intensidade tecnológica praticamente manteve seu número de ocupados em relação a 2023 (+0,1%).
No último trimestre do ano, contudo, tal como ocorreu com a produção, houve desaceleração da expansão do emprego na indústria de transformação, muito embora seu desempenho tenha permanecido acima do agregado do setor privado, algo que marcou a segunda metade de 2024.
Na comparação com igual período do ano anterior, a alta de +5,3% do 3º trim/24 deu lugar a uma variação de +3,1% no caso da indústria de transformação, enquanto para o total do setor privado tenha desacelerado de +3,0% para +2,6%, respectivamente.
Outras atividades onde a criação do emprego privado também perdeu força no final do ano passado incluem o comércio e reparação de veículos, serviços e eletricidade e gás, como pode ser visto ao longo desta Carta.
Dados mais recentes do emprego total (e não apenas no setor privado) sugerem que este movimento de desaceleração teve continuidade no início de 2025, tanto no agregado como na indústria, embora de modo menos intenso para esta última.
Quanto à ocupação com carteira assinada, o aumento na indústria em 2024 também foi maior do que em 2023, ainda que o processo de formalização por meio deste tipo de posto de trabalho tenha sido mais intenso no restante do setor privado.
Na indústria geral, o emprego com carteira cresceu +2,9% em 2024 ante +2,4% em 2023 e na indústria de transformação, +2,8% ante +2,0%, respectivamente. No setor privado como um todo, o ritmo em 2024, de +3,9%, abriu vantagem em relação à ocupação total, que aumentou +2,7%, como dito anteriormente.
Cabe observar que o emprego na indústria é majoritariamente formal, bem à frente do agregado do setor privado, que assim tem maior espaço para formalização adicional. Se tomarmos a participação dos postos com carteira assinada em relação ao número total de ocupados como uma proxy da formalização, a indústria geral chegou a 67,3% e a indústria de transformação, a 66,5% em 2024 vis-à-vis uma participação de 43,1% no total do setor privado.
Vale ainda destacar que em relação ao período pré-pandemia, isto é, frente a 2019, a participação dos ocupados com carteira assinada na indústria avançou mais rapidamente do que no setor privado total.
Na indústria geral foi de 64,7% para os 67,3% anteriormente mencionados e na indústria de transformação, de 64,1% para 66,5%, isto é, +2,6 e +2,4 pontos percentuais. No caso do agregado do setor privado, foi de 41,6% para os 43,1% mencionados, ou seja, +1,5 ponto percentual. Comércio, saneamento e construção foram outros setores com aumento da relação do emprego com carteira no total de ocupados.
Alguns ramos industriais, porém, são ainda mais formalizados, como derivados de petróleo, farmoquímicos e farmacêuticos, metalurgia, máquinas e aparelhos elétricos, máquinas e equipamentos, veículos automotores; todos com uma proporção de empregos com carteira acima de 90%. Outros como têxteis e produtos de madeira, mas também borracha e plástico e móveis, se destacam pela acentuada elevação desta proporção entre 2019 e 2024.
O comentário final diz respeito à evolução do rendimento. Entre 2023 e 2024, o rendimento médio habitualmente recebido pelos ocupados na indústria aumentou mais do que no agregado do setor privado: +5,5% ante +4,2%, respectivamente.
Mas apesar disso, se compararmos 2024 com o pré-pandemia (2019), a remuneração do emprego industrial não acompanhou o restante do setor privado: +2,8% na indústria geral e +2,0% na indústria de transformação ante +7,6%.
Além do fato de só em 2024 a indústria ter tido um ano mais favorável, a remuneração dos ocupados do setor esbarra no baixo crescimento da sua produtividade, e, por outro lado, na pressão concorrencial externa pela natureza tradeble de seus bens, dificultando o repasse para seus preços finais.
Emprego e rendimento em alta no mercado de trabalho do setor privado em 2024
Esta Carta IEDI acompanha o desempenho do emprego e da renda no setor privado com ênfase na indústria de transformação e tem como base os microdados da PNAD Contínua do IBGE. Nesta edição, foram analisadas as informações anuais (média dos trimestres) e do 4º trim/24.
Segundo as contas nacionais do IBGE, o PIB avançou 3,4% em 2024 devido à expansão da demanda interna. Entre os setores, obtiveram crescimento acima da média do PIB com destaque para a construção civil (4,3%), o comércio (3,8%) e os serviços (3,7%). A indústria total cresceu um pouco menos (3,3%), devido ao baixo resultado da extrativa mineral (0,5%), mas a indústria de transformação logrou importante aceleração: 3,8%.
Neste contexto, após o esmorecimento da geração de postos de trabalho no setor privado entre 2022 e 2023, quando a alta passou de 7,8% para 1,3%, em relação ao ano anterior, o mercado de trabalho reagiu em 2024 com crescimento de 2,7% no estoque de empregos. Esta expansão equivaleu a quase 2,4 milhões de novas ocupações, mais que o dobro do registrado em 2023.
O setor que teve a maior variação interanual na geração de postos de trabalho foi a indústria extrativa (7,0%), mas que pesa pouco no total. Os principais setores econômicos que tiveram avanços relevantes e cresceram acima da média do total do setor privado foram: a construção civil (4,4%), o setor de serviços (3,8%) e a indústria de transformação (+2,9%). O comércio cresceu 2,2%, abaixo da média portanto, enquanto a agropecuária teve diminuição no número de trabalhadores (-3,7%).
Em números absolutos, em 2024, a indústria de transformação adicionou 334 mil pessoas no mercado de trabalho com alta relevante, em relação à criação de emprego em 2023, cujo aumento havia sido de apenas 42 mil postos de trabalho. O estoque de empregados da indústria de transformação atingiu 11,8 milhões de trabalhadores.
O setor de serviços contribuiu com o saldo positivo do setor privado com acréscimo de mais de 1,5 milhão de ocupados praticamente o mesmo volume observado em 2023. Na sequência, neste período, os setores da construção civil e do comércio adicionaram, respectivamente, 424 mil e 315 mil empregos no mercado de trabalho.
O emprego com carteira de trabalho assinada no setor privado registrou, em 2024, desempenho melhor na comparação com o total da ocupação, pelo terceiro ano consecutivo, ao crescer 3,9%. Nesta modalidade de trabalho, destacam-se a expansão de crescimento de 6,4% na construção civil e de 4,8% no setor de serviços.
Na indústria de transformação, o crescimento do emprego com carteira foi de 2,8%, praticamente o mesmo patamar do total da ocupação, visto anteriormente, que foi de 2,9%. Em números absolutos, o setor adicionou 211 mil novos empregos com carteira assinada.
De modo geral, entre 2021 e 2024, há indícios de que o mercado de trabalho vem se formalizando. Neste período, com exceção do setor de serviços e na extrativa mineral, que mantiveram as proporções de empregados com carteira assinada no total da ocupação, nos demais setores nota-se elevação da relação emprego com carteira sobre emprego total: na indústria de transformação, de 64,5% para 66,5%; no comércio, de 46,8% para 49,5%; na construção civil, de 20,2 para 22,3% e na agropecuária, de 17,0% para 20,0%.
No emprego da indústria de transformação por intensidade tecnológica dois grupos se destacaram com variações anuais acima da média do setor. Entre 2023 e 2024, os empregos nas indústrias de média-baixa tecnologia avançaram 5,0%, agregando 214 mil novos postos de trabalho. Três setores responderam por 85% deste acréscimo no emprego: alimentos (+112 mil); móveis (+35 mil) e têxteis (+33 mil).
As empresas de alta tecnologia adicionaram 19 mil ocupações em 2024, o que significou uma alta de 5,4%, em relação a 2023. Equipamentos de informáticas e produtos eletrônicos e o setor farmacêutico determinaram o avanço nesta categoria e adicionaram no mercado de trabalho, respectivamente, 13 mil e 7 mil empregos.
Já, nos grupos de média-alta e média intensidade tecnológica o emprego apresentou resultados inferiores. No primeiro caso, houve recuo de 1,6% com redução de 23 mil postos de trabalho. Em dois setores notam-se quedas: -37 mil em veículos automotores, reboques e carrocerias e -14 mil em máquinas e equipamentos.
No segundo, a ocupação nas indústrias de média intensidade tecnológica praticamente não cresceu neste período, sendo que no setor de borracha e plástico foram adicionados 27 mil postos de trabalho e nas empresas de manutenção e reparação de máquinas e equipamentos registrou-se redução de 23 mil empregos.
Do ponto de vista do rendimento médio real habitual do trabalho principal dos ocupados no setor privado o cenário foi positivo com crescimento interanual, de 4,2% em 2024, um pouco abaixo dos 5,5% de 2023.
Setorialmente, a indústria de transformação apresentou o melhor desempenho, com alta de 5,5% no rendimento médio de seus ocupados, uma aceleração em relação aos 4,6% de 2023. Em seguida, destaca-se o crescimento do rendimento médio no comércio e na extrativa mineral, de 4,4%, e de 3,8% no setor de serviços.
Resultados do 4º trimestre de 2024
A ocupação no setor privado cresceu em ritmo relevante no 3º e no 4º trimestres de 2024, na comparação interanual, mostrando um mercado de trabalho ainda aquecido no final do ano passado, mas em desaceleração. No 3º trim/24 houve aumento de 3,0% no número de ocupados, e no 4º trim/24 o crescimento diminuiu para 2,6%, equivalente a quase 2,3 milhões de trabalhadores em novas ocupações.
Neste período, apenas a agropecuária registrou redução da ocupação (-2,3%). Nos setores com variação positiva, a extrativa mineral e a construção civil aceleraram nos últimos dois trimestres de 2024, com altas de 6,1% e 5,5% no 4º trim/14. Nos demais setores, ocorreram menores ritmos de expansão, sendo que a indústria de transformação apresentou a maior variação interanual no 4º trim/24 (+3,1%), acima dos setores de serviços (+2,8%) e do comércio (+2,6%).
Cabe destacar que, apesar da desaceleração na indústria de transformação, na comparação interanual, o resultado positivo foi superior à variação do total do setor privado nos dois últimos trimestres de 2024. Isso representou uma reversão do desempenho de 2023, quando a ocupação no total do setor privado cresceu a um ritmo superior ao apresentado pela indústria de transformação.
O emprego com carteira assinada na indústria de transformação cresceu 3,3% no 4º trim/24, também desacelerando em relação ao trimestre anterior, sendo que essa variação foi a mesma do total do setor privado. Excetuando o 3º trim/24, o emprego com carteira na indústria de transformação tem crescido menos que o total do setor privado, mas com desempenho positivo ao longo do período.
Em termos de volume de empregos com carteira assinada no 4º trim/24, a indústria de transformação adicionou 252 mil empregos no mercado de trabalho, acima da construção civil (+117 mil), mas abaixo do comércio (+342 mil) e serviços (+577 mil).
Por dentro do emprego industrial no 4º trimestre de 2024
Dentre os segmentos da indústria analisados no 4º trim/24, em 15 deles a ocupação registrou elevação, e em oito houve redução, na comparação interanual. Esse resultado se assemelha ao observado no trimestre anterior, quando houve aumento da ocupação em 14 segmentos.
As maiores altas na ocupação, no 4º trim/24, foram as seguintes: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (25,6%); coque; produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis (23,9%); e produtos de madeira (10,2%). As maiores reduções foram em: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-19,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-10,6%) e fabricação de produtos diversos (-10,8%).
Com relação a classificação dos setores da indústria de transformação por intensidade tecnológica, o emprego com carteira assinada diminuiu no grupo de alta tecnologia (-4,2%) no 4º trim/24, na comparação interanual. Isso contrastou com o resultado positivo do trimestre anterior, quando havia crescido 7,8%.
A redução do emprego de alta intensidade deveu-se à queda de 23 mil da ocupação no setor de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, anulando a alta de 15 mil postos de trabalho observada no setor farmacêutico.
Nos demais grupos por intensidade tecnológica, houve queda do emprego de -2,3% na média e expansão na média-alta e na média baixa de, respectivamente, 5,3% e 5,2%.
No caso dos resultados no grupo de alta tecnologia, o número de empregados com carteira neste segmento no 4º trim/24 ainda é bem superior se comparado ao final de 2021. Tomando como referência o índice (4º trim/21 = 100), a ocupação no grupo de alta tecnologia cresceu quase 20% neste período. Os demais grupos avançaram menos nesta comparação: na média-alta elevou-se em 14,5%, na média-baixa em 9,4% e na média intensidade a variação foi de 7,5%.
Desempenho do rendimento médio real e da massa de rendimento no 4º trimestre de 2024
O rendimento médio real habitual dos ocupados no setor privado cresceu (4,2%) no 4º trim/24, na comparação interanual, em ritmo um pouco superior ao do trimestre anterior (3,7%). Já, na indústria de transformação, o rendimento cresceu 3,4%, um pouco abaixo dos 3,6% do trimestre anterior. De qualquer modo, o rendimento médio na indústria de transformação foi 2,3% maior em relação ao total do setor privado (R$ 3.037 e R$ 2.970, respectivamente)
Na indústria de transformação houve aumento do rendimento médio para os empregados com carteira assinada em 14 ramos e redução em outros 9. Destaques positivos foram observados nos ramos de bebidas (18,7%) e de produtos têxteis (12,2%), enquanto no campo negativo encontraram-se equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-14,1%) e metalurgia (-11,0%).