Carta IEDI
Desempenho modesto na indústria de menor intensidade tecnológica
O saldo comercial do Brasil de bens da indústria de transformação passou a ser deficitário após a crise global de 2008-2009, sob pressão concorrencial da China, que neste contexto buscou a diversificação dos mercados atendidos. No 1º trim/25, nosso desempenho deficitário se manteve e, agora, sob o risco de termos uma nova rodada de deslocamento do produto industrial brasileiro por concorrentes chineses tanto no mercado externo como no interno.
Um estudo anterior do IEDI mostrou que, no Brasil, o coeficiente de penetração das importações de bens da indústria de transformação aumentou de 15,8% em 2010 para 23,2% em 2023, de modo bastante difundido entre seus ramos, e que a China sozinha foi responsável por 42% deste aumento. Outro estudo, por sua vez, identificou que nos 10 principais mercados externos da indústria brasileira, a China ganhou terreno em 8 deles na última década e no agregado suas exportações passaram de 9 para 12 vezes o valor dos embarques do Brasil.
Acompanha este processo, além do déficit do balanço de bens industriais, uma forte concentração de produtos primários em nossa pauta exportadora, prejudicando a complexidade de nossa economia, como a Carta IEDI n. 1292 já discutiu, mas também a redução nas nossas vendas externas da participação de bens industriais mais intensivos em tecnologia.
As exportações de bens da indústria de alta e média-alta tecnologia, que respondiam por 33% de tudo o que o Brasil exportava em 2005, passaram a representar 22% do total em 2015 e apenas 14% em 2024. O saldo destes bens saiu de um déficit de US$ 7 bilhões em 2005 para um déficit de US$ 124 bilhões em 2024, em valores correntes.
A Carta IEDI de hoje analisa a evolução dos fluxos de comércio exterior de bens da indústria de transformação do Brasil por grupos de intensidade tecnológica no 1º trim/25. A classificação das atividades por intensidade tecnológica tem como base a metodologia difundida pela OCDE e quatro das cinco faixas de intensidade compreendem bens da indústria de transformação: alta, média-alta, média e média-baixa. A faixa de baixa intensidade encampa bens da agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura.
No acumulado de jan-mar/25, o déficit comercial de bens da indústria de transformação chegou a US$ 19,2 bilhões, mantendo o ritmo de forte elevação na comparação interanual (+48,6%) que vem ocorrendo desde o 2º trim/24.
Muito disso, entretanto, deve-se ao déficit de bens da indústria de média intensidade tecnológica (US$ -1,1 bilhão) devido ao efeito contábil da importação de plataforma de petróleo. Normalmente, esta faixa apresenta saldo superavitário.
Descontado este fator, o déficit total da indústria de transformação teria crescido +27,7% ante jan-mar/24, por certo um ritmo ainda expressivo, mas bem menos do que a velocidade dos trimestres anteriores (+51% no 3º trim/24 e +56% no 4º trim/24).
O déficit da alta tecnologia subiu +11,8% ante o 1º trim/24, chegando a US$ -12,4 bilhões, a despeito do terceiro trimestre seguido de forte aumento de suas exportações (+12,8% em jan-mar/25), devido a todos os seus componentes.
Na média-alta, o déficit chegou a US$ -18,8 bilhões no 1º trim/25, mas ainda que tenha mantido uma taxa de crescimento de dois dígitos (+16,9%), desacelerou bastante em comparação com a evolução dos trimestres anteriores, quando o déficit crescia a um ritmo superior a +20%.
Produtos da indústria automobilística foram os principais responsáveis por esta desaceleração da média-alta, já que seu déficit ficou 22% menor entre o 1º trim/24 e o 1º trim/25. Isso porque ampliamos nossas exportações destes bens em +24,1%, mas também porque nossas importações passaram a crescer muito menos nesta entrada de ano (+3,8%). Contribuiu para isso, a queda de nossas compras externas de veículos elétricos e híbridos, que passaram a ser progressivamente taxadas desde o ano passado.
Por fim, os bens da indústria de transformação de média-baixa tecnologia, que compreendem aqueles mais próximos do início da cadeia de processamento de commodities, apresentam saldo tradicionalmente positivo no Brasil, já que suas exportações se beneficiam da competitividade que possuímos na produção das matérias-primas.
No 1º trim/25 o superávit desta faixa foi de US$ +13,1 bilhões, mas ficou praticamente estagnado em comparação com o 1º trim/24, interrompendo uma sequência de trimestres de expansão. Nossas exportações cresceram apenas +1,1%, devido a recuos em produtos de metal (-2,2%) e alimentos, bebidas e fumo (-3,3%). Nossas importações destes bens, por sua vez, subiram +2,4%, depois do recuo do final do ano passado (-2,5%).
Cabe ainda mencionar que, no grupo de média-baixa, o ramo têxtil, de artigos de vestuário, de couro e calçados e o de produtos metálicos registrou pela primeira vez no acumulado jan-mar um déficit bilionário em dólares correntes: US$ -1,1 bilhão e 20,5% maior do que o déficit do 1º trim/24.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
O primeiro trimestre de 2025 registrou superávit comercial de US$ 10,0 bilhões, magnitude abaixo do saldo em dólares correntes para janeiro-março dos três anos anteriores. A redução do superávit decorreu de ligeira queda nas exportações, de 0,5%, ficando em US$ 77,7 bilhões, combinada com a elevação de 13,7% das importações, chegando a US$ 67,3bilhões, patamar sem igual para primeiro trimestre em dólares correntes.
O saldo do quarto inicial de 2025 foi obtido principalmente pelo superávit de US$ 29,2 bilhões nos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais, resultado inferior ao recorde obtido no mesmo período de 2024, mas acima dos superávits de seus correspondentes dos demais anos na série em dólares correntes. Suas exportações recuaram 7,2% frente a janeiro-março do ano anterior, caindo para US$ 34,3 bilhões, ainda assim, o terceiro maior montante exportado para primeiro trimestre. Suas importações recuaram 7,5%.
No caso dos produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação, o déficit aumentou bem frente a janeiro-março de 2024, saindo de US$ 12,9 bilhões para US$ 19,2 bilhões, mesmo com suas exportações crescendo 5,6%, para US$ 43,0 bilhões, recorde em dólares correntes para primeiro trimestre. Apesar de tanto, as importações cresceram 15,9%, para US$ 62,26 bilhões, também o maior da série para janeiro-março.
Resumindo, o saldo dos bens típicos da indústria de transformação em 2025 quebrou um período de redução paulatina no déficit dos quatro anos anteriores. A deterioração no déficit ocorreu com aumento na corrente de comércio, inclusive das exportações. O aumento na taxa de juros doméstica a partir de setembro tende a arrefecer as importações. Contudo o mais desafiador tem sido o quadro externo.
Além dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, o tarifaço implementado pelo poder executivo estadunidense impôs incertezas em âmbito mundial para o comércio internacional em geral e para as cadeias globais de produção em particular. Isso incluiu a questão para que destino irão as exportações de manufaturados asiáticas, principalmente as chinesas, que antes iriam para os EUA. Novo desafio para a Nova Indústria Brasil – NIB.
A balança por intensidade tecnológica
Como exposto em cartas anteriores, a nova classificação por intensidade de P&D ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não apenas as da indústria de transformação do esforço anterior. Ademais, se antes foram definidas quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D ou tecnológica. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não tem havido transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Considerando tanto, a balança comercial do Brasil pode ser esmiuçada partir da versão atualizada da classificação por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
No primeiro trimestre, o intercâmbio comercial de bens produzidos pelas indústrias de alta intensidade tecnológica apresentou saldo negativo de US$ 12,4 bilhões, déficit recorde para janeiro-março de toda a série em dólares correntes. As exportações desses bens até avançaram bem, 12,8%, contrapondo primeiros trimestres de 2025 e de 2024, chegando a US$ 1,5 bilhão. As vendas externas de seus três ramos cresceram, destacando-se as de produtos farmacêuticos e as de bens eletrônicos, com taxas de 18%.
As importações dos bens de alta intensidade tecnológica, a seu turno, cresceram 11,9%, com aumento também nos três ramos, com destaque para as de produtos aeronáuticos (36,1%) e as de farmacêuticos (10,5%). Os três ramos registraram déficit em janeiro-março, maiores do que em igual trimestre de 2024. Os bens do complexo eletrônico persistem como aquele de maior déficit da faixa de alta.
A faixa de média-alta intensidade encerrou janeiro-março com balança negativa de US$ 18,8 bilhões, o maior déficit dentre as cinco faixas em 2025 e o maior da série em dólares correntes para este segmento. O aumento do déficit ocorreu mesmo com o avanço exportador de 7,2%, para US$ 9,8 bilhões. Cinco dos sete ramos ampliaram suas exportações, sobressaindo as de automóveis e afins, aumento de 24,1%, respondendo por mais de um terço das exportações, e as de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, 15,5%.
As aquisições externas das mercadorias em questão cresceram ainda mais, 13,4%, chegando a US$ 28,5 bilhões, recorde em dólares correntes para janeiro-março. Seis de seus sete ramos observaram aumento de dois dígitos nas importações. Embora as maiores taxas tenham sido as de equipamentos bélicos, armas e munições e as de outros equipamentos de transporte, o destaque importador coube aos produtos químicos, 15,1%, devido a sua expressão, praticamente 40% das importações dessa faixa. As importações de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e as de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutras atividades (ME) também cresceram sobremaneira.
Assim todos os ramos da média-alta registraram déficit no primeiro trimestre do ano, com os produtos químicos representando 45,7% deste déficit. Na sequência, os maiores déficits foram observados em M&E e em máquinas, aparelhos e materiais elétricos.
Quanto aos bens típicos de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, apresentaram déficit de US$ 1,1 bilhão em janeiro-março de 2025, uma troca de sinal frente ao superavitário primeiro trimestre do ano anterior. Tal mudança ocorreu mesmo com as exportações avançando 17,9%, chegando a US$ 7,7 bilhões, com todos os seus ramos ampliando as vendas externas.
As importações, por sua vez, cresceram bem mais, 63,2%, também de modo disseminado. Tal incremento importador decorreu principalmente da aquisição de equipamentos do setor de construção de embarcações (indústria naval e náutica), saindo de US$ 61 milhões em janeiro-março de 2024 para US$ 2,7 bilhões no mesmo trimestre de 2025. Os produtos metalúrgicos, notáveis por seus expressivos superávits até logrou superávit acima do observado em igual período de 2024, mesmo com importações crescendo mais de 20%. O ramo de produtos de borracha e de plásticos e o de bens diversos mantiveram sua típica condição deficitária.
Já o superávit dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica foi de US$ 27,2 bilhões no primeiro trimestre 2025, aquém apenas do observado no recordista janeiro-março de 2024. Tal redução frente a igual período do ano anterior se deveu à queda de 7,1% nas exportações, ficando em US$ 41,0 bilhões, também só atrás do primeiro quarto de 2024.
As importações também recuaram, mas em menor ritmo, queda de 3,7%. Os produtos da indústria extrativa registraram expressivo superávit de US$ 14,0 bilhões, mas também abaixo de seu equivalente de 2024. Esse desempenho foi devido à redução de 16,7% nas exportações, mesmo com as importações caindo ainda mais em termos percentuais. As exportações de bens da indústria de transformação dessa faixa cresceram 1,1%, o suficiente para atingir novo recorde, US$ 24,0 bilhões. Suas importações cresceram 2,4%. Essa combinação propiciou o superávit de US$ 13,2 bilhões, o maior já registrado para janeiro-março em dólares correntes.
As exportações cresceram principalmente devido a dois ramos intensivos em recursos naturais: coque, produtos derivados de petróleo refinado e biocombustíveis, com notável redução de seu déficit; e dos produtos industriais madeireiros, móveis, papel, celulose e impressos, que atingiu recordista superávit em dólares correntes para janeiro-março. Notar que o mais superavitário dos ramos, de alimentos da indústria, bebidas e fumo, com saldo de US$ 12,7 bilhões, exportou menos do que em igual trimestre de 2024.
As importações cresceram em quase todos os ramos, com exceção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. O ramo têxtil, de artigos de vestuário, de couro e calçados e o de produtos metálicos registraram pela primeira vez para período de janeiro a março déficit em dólares correntes na casa do bilhão.
Passando para o segmento de baixa intensidade, no qual se destacam os produtos agropecuários e pescados, logrou saldo positivo de US$ 15,0 bilhões, acima do observado no mesmo trimestre de 2024. Suas exportações cresceram 4,4%, em linha com a retração nas vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 4,6%. Esses produtos tiveram superávit de US$ 15,2 bilhões. Os produtos oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e aqueles originados por serviços têm pouca participação nos fluxos comerciais dessa faixa. A presente faixa não inclui bens da indústria de transformação.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
Em janeiro-março último, como antes citado, os bens da indústria de transformação de alta intensidade experimentaram déficit de US$ 12,4 bilhões, o de maior magnitude de toda a série para primeiro trimestre em dólares correntes. Ainda no contraponto com o mesmo trimestre do ano anterior, suas exportações em dólares correntes cresceram até bem, 12,8%, chegando a US$ 1,5 bilhão, mas com as importações crescendo quase que em linha, 11,9%, atingindo US$ 14,0 bilhões, recorde para janeiro-março na série em dólares correntes.
Os produtos da indústria aeronáutica registraram déficit de US$ 2,6 bilhões, o maior da série iniciada em 1997 para primeiro trimestre. Esse déficit maior ocorreu mesmo com suas exportações tendo avançado 8,1%, subindo para US$ 773 milhões. Suas importações cresceram 33,3%, levando ao aumento da magnitude do saldo negativo.
Quanto aos produtos do complexo eletrônico, como tem sido a tônica, registraram o maior déficit desse segmento, de US$ 6,4 bilhões. Suas vendas externas aumentaram 18,1% no confronto entre primeiros trimestres, para US$ 399 milhões, montante de pouca expressão. As importações de eletrônicos, por sua vez, cresceram menos, 4,5%, mas chegando a US$ 6,8 bilhões.
No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas avançaram 18,2% no primeiro trimestre, para US$ 338 milhões. Suas importações também cresceram na casa dos dois dígitos, 10,5%, elevando-as para US$ 3,8 bilhões. Dessa maneira, esse ramo experimentou déficit de US$ 3,5 bilhões, o maior já registrado na série em dólares correntes para janeiro-março.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
A faixa de média-alta intensidade iniciou 2025 com saldo negativo de US$ 18,8 bilhões, o maior déficit dentre todas as faixas de intensidade nesse trimestre, além de ser recorde para janeiro-março na série em dólares correntes. Suas exportações cresceram 7,2% frente ao mesmo acumulado de 2024, alcançando US$ 9,8 bilhões. As importações cresceram ainda mais, 13,4%, e sobre uma base bem mais expressiva, concorrendo assim, para o sensível aumento no déficit.
Os produtos da indústria automobilística experimentaram saldo deficitário de US$ 1,7 bilhão, abaixo do expressivo déficit observado no mesmo trimestre de 2024. Suas exportações avançaram bem, 24,1%, para US$ 3,5 bilhões. Suas importações cresceram 3,8%, chegando a US$ 5,2 bilhões. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 438 milhões, o maior déficit em toda a série em dólares correntes para janeiro-março. Suas exportações até aumentaram 7,0%, para meros US$ 69 milhões, porém suas importações avançaram 41,3%, atingindo US$ 507 milhões, patamar sem igual.
Os dois grupamentos conhecidos por encamparem bens de capital experimentaram no acumulado do ano aumento de dois dígitos nas importações frente ao primeiro trimestre de 2024 e déficits recordes para janeiro-março na série em dólares correntes.
O ramo de máquinas e equipamentos não especificados noutras atividades (M&E) teve saldo negativo de US$ 5,0 bilhões, contando não só com ampliação de 12,2% nas importações, para o recorde de US$ 7,2 bilhões, como também com retração de 6,4% nas exportações, ficando em US$ 2,2 bilhões.
Já os materiais e equipamentos elétricos, experimentaram balança deficitária de US$ 2,5 bilhões, com exportações crescendo 15,5%, chegando a US$ 952 milhões. Suas importações avançaram ainda mais, 21,7%, para US$ 3,5 bilhões. Tanto suas importações quanto suas exportações atingiram seus maiores montantes em dólares correntes para primeiro trimestre.
Quanto aos produtos químicos, experimentaram déficit de US$ 8,6 bilhões, maior do que no primeiro trimestre de 2024, respondendo por mais de quarenta por cento do déficit de toda a faixa de média-alta intensidade. Em que pese tanto, o déficit foi menor do que seus equivalentes de 2023 e de 2022. O país exportou US$ 2,8 bilhões desses bens, variação de 0,8% em relação a igual período do ano passado. As importações cresceram dois dígitos, 15,5%, para US$ 11,4 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 546 milhões, maior do que em janeiro-março de 2024. Suas exportações cresceram 5,2%, chegando a US$ 128 milhões. Já suas importações cresceram 10,5% e sobre uma base comparativa bem maior do que a das exportações.
Por fim, os equipamentos bélicos, armas e munições registraram déficit de US$ 28 milhões, contrastando com o superávit logrado no primeiro trimestre do ano anterior. As exportações desses produtos caíram 29,1%, ficando em US$ 73 milhões, com as aquisições externas avançando 43,5% no primeiro quarto de 2025 frente a janeiro-março de 2024.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As exportações em dólares correntes de bens de atividades de média intensidade tecnológica avançaram 17,9% no primeiro trimestre de 20245 frente a janeiro-março de 2024, chegando a US$ 7,7 bilhões. Ainda assim ficaram aquém das vendas externas para o trimestre em questão de 2022 e de 2023. Já suas importações cresceram sobremaneira, 63,2%, para US$ 8,8 bilhões. Assim, apesar do aumento nas exportações, o segmento de média intensidade voltou a registrar déficit em janeiro-março, de US$ 1,1 bilhão, o que não ocorria desde 2020 e é o maior da série em dólares correntes para tal trimestre.
As transações internacionais de itens da construção de embarcações (indústria naval e náutica) ajudam a explicar em larga medida a mudança de sinal: seu déficit que fora de US$ 49 milhões no primeiro trimestre de 2024, saltou para US$ 2,7 bilhões no mesmo acumulado de 2025. Suas exportações cresceram 7,6%, para meros US$ 13 milhões, enquanto as importações saltaram para US$ 2,7 bilhões, avanço de 4.316,7% sobre janeiro-março de 2024.
Quanto aos produtos da metalurgia, obtiveram superávit de US$ 3,0 bilhões no quarto inicial de 2025, expressivo e superior ao de igual trimestre de 2024, mas aquém do que já foi logrado em outros anos. Foi o único ramo superavitário dessa faixa. Suas exportações cresceram bem, 19,7%, para US$ 6,3 bilhões. Quanto a suas importações, aumentaram até mais, 22,9%, chegando a US$ 3,3 bilhões.
O ramo de produtos minerais não-metálicos apresentou no período em pauta resultado deficitário de US$ 8 milhões, terceiro ano consecutivo no qual o primeiro trimestre registra saldo negativo, embora menor do que os déficits de janeiro-março de 2023 e de 2024. Suas exportações até cresceram, 13,7%, chegando a US$ 541 milhões, enquanto as importações tiveram incremento de 12,0%.
Os dois grupos de bens restantes também registraram déficit no trimestre em questão. Os produtos de borracha e material plástico observaram saldo negativo de US$ 1,1 bilhão, seu segundo maior déficit em dólares correntes para primeiro trimestre, atrás só de seu equivalente de 2024. As exportações desses itens aumentaram 6,0%, para US$ 704 milhões, enquanto as importações cresceram 1,3%.
Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) tiveram balança negativa de US$ 292 milhões, quinta alta seguida do déficit em primeiro trimestre. Suas exportações avançaram 22,5%, chegando a US$ 153 milhões, enquanto as importações desses itens aumentaram 20,9%.
Bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica
As exportações de bens produzidos pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica cresceram 1,1% em janeiro-março de 2025 frente a igual período de 2024, atingindo US$ 24,0 bilhões, montante exportado recorde para primeiro trimestre. Já as importações aumentaram 2,4%, para US$ 10,8 bilhões. Assim, a balança desses bens apresentou saldo positivo de US$ 13,2 bilhões, superávit sem igual para primeiro trimestre em dólares correntes.
Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, observou recuo de 3,3% em suas exportações no primeiro trimestre, ficando em US$ 15,3 bilhões. Suas importações cresceram 3,5%, chegando a US$ 2,5 bilhões. Assim seu superávit diminuiu para US$ 12,7 bilhões. Ainda assim ficou aquém apenas de seu equivalente do ano anterior.
Passando para balança de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos, apresentou superávit de US$ 3,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025, o maior superávit da série em dólares correntes para janeiro-março. O Brasil exportou US$ 4,4 bilhões desses bens, aumento de 14,1% frente ao primeiro trimestre de 2024, também atingindo patamar sem igual na série histórica. Já suas importações cresceram 13,7%.
O intercâmbio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, a seu turno, experimentou saldo negativo de US$ 1,1 bilhão, déficit menor do que o registrado no mesmo trimestre do ano anterior. As vendas externas desses bens aumentaram 8,1%, atingindo US$ 3,1 bilhões, recorde em dólares correntes para primeiro trimestre. Já suas importações recuaram 8,2%, contribuindo para o déficit menor, embora expressivo.
O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados experimentou déficit de US$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre de 2025, déficit recorde para janeiro-março na série em dólares correntes. Suas exportações cresceram 2,5%, chegando a US$ 790 milhões, enquanto as importações aumentaram 12,4%. A balança dos produtos metálicos ficou negativa em US$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre do ano, aliás déficit sem igual na série em dólares correntes para janeiro-março. Suas vendas externas foram de US$ 396 milhões, retração de 2,2% frente a igual acumulado do ano passado, enquanto as importações avançaram 19,5%.