Carta IEDI
Em baixa rotação
Os últimos dados oficiais da indústria, para o mês de mai/25, divulgados pelo IBGE, continuam apontando para um processo de esmorecimento do setor, para o qual o IEDI vem chamando atenção desde o último trimestre do ano passado.
Dos cinco meses de 2025 cobertos pelo IBGE houve expansão em apenas um deles, março. Desde então, ocorreram quedas, chegando a -0,5% em mai/25, já descontados os efeitos sazonais. É possível que esta tendência tenha continuidade, já que há indicadores apontando para estoques excedentes em mai/25 e para deterioração da avaliação dos negócios corrente dos empresários do setor no mês de jun/25.
Vale notar ainda que o recuo de mai/25 é o mais intenso desde nov/24 (-0,7%) nesta comparação com ajuste sazonal, que dá indicativo da evolução mais de curto prazo do setor. Além disso, há um perfil disseminado das quedas tanto do ponto de vista setorial, como do ponto de vista regional.
Dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE, 56% não conseguiram progredir em maio último. Entre os macrossetores, três recuaram e o único a evitar o sinal negativo, o de bens intermediários, ficou virtualmente estagnado ao registrar +0,1%.
Regionalmente, houve queda em 60% dos parques industriais. Os resultados mais fracos se concentraram no Nordeste, Centro-Oeste e Sul, além de São Paulo (-0,8%) e do Amazonas (-3,3%), cujas quedas foram mais intensas do que no agregado nacional.
A fração da indústria mais dependente das condições de crédito e juros e, por isso, mais impactada pelo atual ciclo de alta da taxa Selic pelo Banco Central, foi quem puxou pra baixo o desempenho agregado.
A produção de bens de consumo durável, sobretudo devido a veículos, encolheu -2,9% na passagem de abr/25 para mai/25, depois de ter se aproximado muito de uma situação de estabilidade no mês anterior (+0,3%). Já o macrossetor de bens de capital recuou -2,1% anulando a expansão de +1,4% de abr/25.
Como mencionado anteriormente, até bens intermediários que vinham se mantendo acima de zero nos últimos quatro meses ficaram mais próximos da marca da estabilidade em mai/25 ao registrarem somente +0,1%, também descontando os efeitos sazonais.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis repetiram o sinal negativo de abr/25 e caíram -1,0%, sob influência de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (-1,8%), bebidas (-1,8%), vestuário (-1,7%) e alimentos (-0,8%).
No contraste com o ano passado, a indústria ainda se expande, mas a um ritmo cada vez mais modesto, justamente como resultado do fraco desempenho descrito anteriormente. A sequência trimestral ilustra bem a situação: +3,9% no 3º trim/24, +3,1% no 4º trim/24, +2,1% no 1º trim/25 e +1,4% no bimestre abr-mai/25.
Metade dos parques regionais, contudo, já voltaram ao vermelho em abr-mai/25 e 44% dos ramos ou perderam produção ou ficaram virtualmente estagnados. Entre os quatro macrossetores, dois não conseguiram crescer nesta comparação frente ao ano anterior.
Bens de capital, cuja produção avançava +11,9% no 3º trim/24, registrou -1,4% em abr-mai/25, que dá o tom o segundo trimestre do corrente ano. Os segmentos de bens de capital para transporte (-8,2%), construção (-5,8%) e energia (-0,7%) são os maiores responsáveis por isso. No acumulado de jan-mai/25, o macrosseor cresce metade do que crescia em igual período de 2024.
Bens de consumo semi e não duráveis, que têm intercalado sinais positivos e negativos também perderam produção no último bimestre em tela: -0,3% no 4º trim/24, +1,3% no 1º trim/25 e -4,4% em abr-mai/25. A principal influência negativa veio de combustíveis (-17,1%), seguidos por têxteis (-5,8%) e farmacêutica (-5,5%). Fatores climáticos têm tido influência sobre a evolução desta parcela da indústria. No ano, acumula retração de -1,2%.
Bens de consumo duráveis mantiveram bom desempenho (+8,2% em abr-mai/25), graças ao ramo automobilístico, mas que, como mencionado anteriormente, na série com ajuste sazonal também já dá indícios de esmorecimento. Assim, o macrossetor como um todo não evitou certa desaceleração ante o desempenho dos trimestres anteriores (+17,1% no 4º trim/24 e +11,4% no 1º trim/25).
Bens intermediários, a seu turno, foram os únicos a apontar alguma melhora vis-à-vis o mesmo período do ano passado (+3,7% em abr-mai/25), devido principalmente a intermediários petrolíferos e à siderurgia.
Resultados da Indústria
A produção industrial brasileira, de acordo com os últimos dados divulgados pelo IBGE, recuou --0,5% em mai/25 frente ao mês anterior na série com ajuste sazonal, intensificando o resultado negativo registrado em abr/25 (-0,2%).
No confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria voltou a crescer (+3,3%), após interromper, em abr/25 (-0,5%), dez meses consecutivos de taxas positivas. Cabe destacar que não houve influência de efeito calendário, já que mai/25 teve o mesmo número de dias úteis de mai/24 (21).
No trimestre móvel findo em mai/25 frente ao mesmo período do ano passado, a produção industrial registrou alta de +2,1%, acima do resultado do trimestre móvel anterior, findo em fev/25, mas abaixo do patamar médio de expansão da segunda metade de 2024, acima de +3,5%.
No indicador acumulado para os cinco primeiros meses de 2025, por sua vez, o setor industrial apontou crescimento de +1,8%. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, avançou +2,8% em mai/25, assinalando ganho de ritmo frente ao resultado do mês anterior (+2,4%).
A queda de -0,5% da atividade industrial na passagem de abr/25 para mai/25 na série com ajuste sazonal teve perfil generalizado, com três dos quatro macrossetores assinalando menor produção. Somente a categoria de bens intermediários teve variação positiva (+0,1%), registrando o quarto mês consecutivo de crescimento na produção, período em que acumulou avanço de +2,4%. Por outro lado, bens de consumo duráveis (-2,9%), bens de capital (-2,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (-1,0%) assinalaram recuos.
De acordo com o IBGE, o resultado dos bens intermediários foi explicado pelo comportamento positivo do setor extrativo, por conta da maior extração de minérios de ferro. Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo duráveis, que assinalou a maior perda de mai/25, foi impactado pela menor produção de automóveis, eletrodomésticos da “linha marrom” e motocicletas”.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +3,3% da indústria total em mai/25 foi puxado por três dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+15,4%) assinalou a maior expansão entre os macrossetores, seguidos pelos setores produtores de bens intermediários (+5,4%) e bens de capital (+0,8%). Por outro lado, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis (-2,9%) assinalou o único resultado negativo do mês.
O setor de bens de consumo duráveis cresceu +15,4% em mai/25 frente a igual período do ano anterior e marcou a décima segunda taxa positiva consecutiva e a mais elevada desde fev/25 (+16,4%). O setor foi impulsionado pela maior fabricação de automóveis (+33,5%), motocicletas (+6,0%), outros eletrodomésticos (+29,4%) e móveis (+5,8%).
Por outro lado, os principais impactos negativos vieram dos setores produtores de eletrodomésticos da “linha branca” (-10,8%) e da “linha marrom” (-1,5%).
Os bens intermediários tiveram expansão de +5,4% na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, terceira taxa positiva consecutiva. O avanço do índice desse mês foi explicado pelo aumento da produção de produtos associados às atividades de indústrias extrativas (+8,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+15,8%), produtos químicos (+8,6%), metalurgia (+6,7%), e produtos têxteis (+15,4%), dentre outros, enquanto a única pressão negativa foi registrada pelo setor de celulose, papel e produtos de papel (-1,7%).
Ainda na comparação com mai/24, o macrossetor de bens de capital cresceu +0,8%, interrompendo dois meses consecutivos de taxas negativas: abr/25 (-3,6%) e mar/25 (-1,1%). As principais influências foram bens de capital agrícolas (+34,3%), bens de capital para fins industriais (+4,4%), bens de capital para energia elétrica (+4,5%) e para construção (+1,0%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital para equipamentos de transporte (-2,7%) e de uso misto (-0,7%) registraram as taxas negativas.
O macrossetor produtor de bens de consumo semi e não duráveis recuou -2,9% em mai/25 frente a mai/24, segundo mês consecutivo de queda na produção, porém com perda menos acentuada do que a observada no mês anterior (-6,1%). O desempenho foi explicado pelo recuo observado no grupamento de carburantes (-19,0%) e de não duráveis (-0,3%).
Por outro lado, os principais impactos positivos foram assinalados por alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+2,0%), semiduráveis (+3,0%) e alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+4,9%).
Dessa forma, a indústria avança +1,8% no acumulado dos primeiros 5 meses de 2025, permanecendo em trajetória de expansão e com ganho no ritmo de crescimento frente ao fechamento do primeiro quadrimestre de 2025 (+1,4%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior.
Esse movimento de maior dinamismo foi verificado em duas das quatro grandes categorias econômicas: bens de consumo duráveis (de +8,7% para +10,0%) e bens intermediários (de +1,5% para +2,3%). Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (de -0,7% para -1,2%) e de bens de capital (de +2,2% para +1,9%) assinalaram perda de ritmo entre esses dois períodos.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou variação negativa (-0,5%) em mai/25 frente a abr/25 na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em mai/25 a indústria de transformação puxou o resultado para baixo, recuando -0,4% nesta comparação, enquanto a produção da indústria extrativa avançou +0,8%.
Na comparação com mai/24, a indústria de transformação cresceu, mas foi menos do que a indústria geral: +2,3% ante +3,3%, respectivamente. Ou seja, o ramo extrativo, que apontou crescimento de +8,7%, foi quem deu maior contribuição à expansão agregada do setor.
No acumulado de 2025 até maio, o resultado de +1,8% na indústria geral, deveu-se pelo desempenho da indústria de transformação (+1,6%), que ficou um pouco aquém do resultado geral, e principalmente ao ramo extrativo (+3,2%).
No resultado frente a abr/25, com ajuste sazonal, observou-se um perfil disseminado de taxas negativas, alcançando 52% dos ramos industriais pesquisados. As influências negativas mais importantes, segundo o IBGE, foram assinaladas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%), produtos alimentícios (-0,8%), produtos de metal (-2,0%), bebidas (-1,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,7%) e móveis (-2,6%).
Por outro lado, entre as atividades que mostraram avanço na produção da indústria de transformação, os destaques foram produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+3,0%), produtos de borracha e de material plástico (+1,6%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (+3,2%) e produtos químicos (+0,6%).
Na comparação com mesmo mês de 2024, o setor industrial assinalou acréscimo de +3,3% em mai/25, com resultados positivos em 76% dos seus ramos (19 dos 25 acompanhados), 55 dos 80 grupos e 60,1% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências na indústria de transformação foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+12,2%), máquinas e equipamentos (+12,6%) e produtos químicos (+6,8%).
Outras contribuições positivas importantes foram assinaladas pelos ramos de metalurgia (+6,7%), produtos alimentícios (+1,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+13,0%), produtos têxteis (+11,9%), produtos do fumo (+28,4%), produtos de borracha e material plástico (+3,5%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (+7,2%) e bebidas (+3,4%).
Por outro lado, ainda na comparação com mai/24, entre as atividades que apontaram redução na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,2%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria.
No acumulado de jan-mai/25, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +1,8%, com aumento de produção em 68% dos ramos (17 dos 25 ramos), 55 dos 80 grupos e 56,4% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências positivas no total da indústria foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+6,3%), máquinas e equipamentos (+10,0%), produtos químicos (+4,7%) e metalurgia (+5,1%).
Outras contribuições positivas foram assinaladas pelos ramos de produtos têxteis (+11,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+9,0%), produtos de metal (+2,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+2,7%) e produtos de borracha e de material plástico (+1,5%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-mai/24, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,1%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria de transformação, seguida por impressão e reprodução de gravações (-12,0%), celulose, papel e produtos de papel (-1,7%) e produtos alimentícios (-0,3%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou positivamente +0,7 ponto percentual na passagem de abr/25 (83,0%) para mai/25, quando registrou valor de 83,7%. Em jun/25, a capacidade instalada cresceu mais uma vez, para 83,9%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada variou +0,3 p.p. entre abril e maio de 2025 (78,5%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação entre mai/24 e mai/25, essa variável ficou praticamente estável, ao variar somente +0,1 ponto percentual.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,4 pontos em mai/25, avançando +0,9 ponto frente a abr/25.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 49,3 pontos em abr/25 para 50,6 pontos em mai/25. A indústria extrativa assinalou significativa queda nos níveis dos estoques, visto que foi de 53,2 pontos em abr/25 para 44,2 pontos em mai/25.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques cresceu de 49,3 pontos em abr/25 para 50,5 pontos em mai/25, sinalizando que os estoques estão maiores que o desejado pela primeira vez desde nov/23 (50,6). Cabe lembrar que o nível de equilíbrio é de 50,0 pontos, visto que acima desse valor há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 53,9 pontos e 50,4 pontos, respectivamente.
Em mai/25, 32% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), enquanto no mês anterior foi de 24%. Entre os ramos acima de 50 pontos em mai/25 destacaram-se: têxteis (58,7 pontos), manutenção e reparação (58,3 pontos), farmacêuticos (55,8 pontos), calçados (55,6 pontos), informática, eletrônicos e ópticos (53,3 pontos) e celulose e papel (53,2 pontos).
Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: borracha (38,3 pontos), impressão e reprodução (43,8 pontos), limpeza e perfumaria (45,6 pontos), madeira (45,7 pontos) e metalurgia (45,8 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 48,9 pontos em jun/25, recuando 0,1 p.p. frente a mai/25. Na passagem de mai/25 para jun/25, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 51,8 para 51,4 pontos, e dessa forma, manteve-se na zona de otimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios, por sua vez, cresceu +0,4 p.p., porém manteve-se na região pessimista (43,9 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, caiu -2,1 p.p na passagem de mai/25 para jun/25, registrando 96,8 pontos, ficando ainda na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de jun/25 foi influenciado pela queda do seu componente referente às avaliações do futuro, que passou de 98,7 pontos em mai/25 para 96,5 pontos em jun/25, e pelo recuo do índice da situação atual, que foi de 99,1 pontos em mai/25 para 97,0 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em mai/25 ficou em 49,4 pontos, recuando para 48,3 pontos em jun/25, o segundo resultado consecutivo abaixo da marca de 50 pontos, indicando piora do quadro de negócios do setor.