Carta IEDI
O comércio Brasil-China e a perda de complexidade econômica brasileira
Em 2023, a corrente de comércio internacional entre o Brasil e a China atingiu valor recorde na série histórica do MDIC, de US$ 157,5 bilhões, muito em função de nossas exportações, que também superaram, pela primeira vez, a marca de US$ 100 bilhões. Em 2024, até o mês de novembro, a corrente de comércio de US$ 147,8 bilhões está sendo puxada por nossas importações de bens chineses que saltaram +20,4% ante jan-nov/23.
A China vem se firmando, assim, como o maior parceiro comercial do Brasil, respondendo sozinha por pouco mais de ¼ de nossas trocas internacionais.
Nas últimas duas décadas e meia, foi exponencial a progressão chinesa em nosso comércio exterior, sobretudo após a crise global de 2008/2009. Entre 1997 e 2000, representava, em média, tão somente 1,8% das exportações brasileiras e 1,9% de nossas importações. Em 2023, sua participação chegou a 30,7% e 22,1%, respectivamente.
Entre 2019 e 2023, o que exportamos para a China avançou +64,7%, em valores correntes, enquanto os desembarques chineses no Brasil aumentaram +47,6%. Embora o valor de nossas importações tenha crescido menos do que nossas exportações à China neste período, há que se destacar que em alguns ramos industriais a presença chinesa se fez sentir muito mais fortemente, como em metais básicos, veículos e autopeças, produtos químicos e máquinas e equipamentos.
O aprofundamento das relações comerciais Brasil-China foi acompanhado de alterações em nossas exportações, para o próprio mercado chinês, mas também para outros mercados, e em nossas importações, com implicações sobre a complexidade da economia brasileira e o desenvolvimento industrial do país.
Nesta Carta IEDI, exploramos as assimetrias nas pautas exportadoras do Brasil e da China e nas relações comerciais que nutrem entre si, com destaque para os produtos industriais e manufaturados. Identificamos também a evolução da complexidade econômica da nossa pauta exportadora em comparação com a da China entre 2014 e 2021. Para tanto, foi realizado cruzamento dos dados do Atlas da Complexidade e de comércio exterior do Trademap e Comtrade.
O corte temporal do estudo foi definido a partir da disponibilidade das bases utilizadas e o momento anterior à sequência de profundas crises pelas quais o Brasil passou, isto é, a crise de 2015/2016 e o choque da pandemia Covid-19.
O estudo será complementado por mais duas Cartas IEDI a serem divulgadas em breve. Uma delas analisará a evolução e a complexidade das exportações brasileiras e chinesas aos principais mercados demandantes de bens de nossa indústria, isto é, avaliará a concorrência externa que a China tem feito ao produto brasileiro. Outra analisará a entrada de produtos chineses em nosso mercado doméstico, a partir da evolução dos coeficientes de importação da indústria de transformação e de seus diferentes ramos.
A abordagem da complexidade econômica empregada na presente Carta IEDI foi desenvolvida pelos economistas Ricardo Hausmann (Universidade de Harvard) e César Hidalgo (MIT), que argumentam que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países. Assim, a complexidade produtiva dos países é medida a partir da estrutura exportadora dessas economias.
O que se observa é que o ganho de participação da China em nosso comércio exterior foi acompanhado por um expressivo declínio do Índice de Complexidade Econômica do Brasil, comprometendo, segundo a teoria de Hausmann e Hidalgo, nosso dinamismo econômico.
Países mais complexos são aqueles que apresentam uma estrutura produtiva e uma pauta exportadora mais diversificada e exportam produtos mais sofisticados. Essa sofisticação é medida pela baixa ubiquidade dos produtos exportados, o que significa que apenas poucos países são capazes de produzir e exportar estes produtos.
A ideia é que alguns grupos de produtos no núcleo do tecido produtivo, os mais complexos, que em geral são mais intensivos em tecnologia e com maior valor agregado, são essenciais para dinamizar outras atividades produtivas por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, sejam de oferta, porque reduzem custos produtivos e geram progresso técnico, sejam de demanda, porque criam e expandem mercados.
Já economias com uma pauta exportadora pouco diversificada, concentrada, por exemplo, em bens primários ou com baixa transformação industrial, e que exportam produtos com alta ubiquidade, isto é, que mais países conseguem produzir e exportar, são economias menos complexas.
A evolução do Índice de Complexidade Econômica (ICE) do Brasil entre 1995 e 2021 (último dado disponível) mostra uma piora significativa e persistente. Em 1995, ocupávamos a 25ª posição do ranking mundial de complexidade e em 2021 chegamos à 70ª posição. Argentina, Chile e Colômbia e Paraguai também perderam posições entre 1995 e 2021, mas de forma bem menos intensa do que o Brasil.
Já o México, que se integrou à economia por meio do NAFTA, subiu da 29ª posição para a 22ª posição entre 1995 e 2021. Embora as unidades industriais estrangeiras, chamadas de “maquilas”, não tenham assegurado ao México elos de maior agregação de valor e a endogenizarão de progressos tecnológicos, parecem ter contribuído para complexificar sua economia.
A China, em contrapartida, foi um dos países que mais ganhou posições no ranking de complexidade no período em tela. A despeito de ligeiras oscilações, avançou continuamente a partir de 1995, passando da 46ª posição para a 30ª em 2000 e então para a 24ª em 2010 e para a 18ª em 2014. Desde então, manteve sua 18ª posição em 2021. Vale observar que a resiliência chinesa não se observou apenas na sua posição relativa no ranking, mas também se verificou no valor do seu ICE, de 1,32 em 2014 e de 1,33 em 2021.
A diferença de trajetória entre Brasil e China no ranking da complexidade deve-se à reprimarização de nossa pauta exportadora, em boa medida devido à própria demanda chinesa, que também impulsionou os preços internacionais de commodities.
Outro fator de destaque é o descuido brasileiro com sua indústria ao não assegurar um ambiente macroeconômico (taxa de câmbio competitiva e estável e taxa de juros baixa) e condições propícias à sua modernização e à constituição de capacidades tecnológicas e inovativas. Isso nos tornou mais vulneráveis ao acirramento da concorrência chinesa no mercado internacional.
No período analisado, considerando a composição das exportações brasileiras de bens, a participação de produtos minerais e agrícolas, que já era muito alta em 2014 (54,3%), aumentou para 65,2% em 2021.
Os recuos mais significativos ocorreram predominantemente em produtos de maior intensidade tecnológica, mais elaborados. Foram os casos das participações de veículos (de 5,9% para 3,6%), de máquinas (de 4,6% para 3,6%) e de produtos químicos (de 6,4% para 5%).
Para o mercado chinês, nossas exportações se concentram em apenas três produtos: minérios de ferro, soja e petróleo cru, tanto em 2014 como em 2021, representando juntos quase 80% do total exportado a este país.
Em contraste, a pauta de exportação de bens da China é mais diversificada e os produtos manufaturados mais elaborados têm uma presença maior do que no Brasil e isso já desde 2014. Desde então até 2021, houve aumento desta presença, sendo que o conjunto dos dois principais produtos, eletrônicos e máquinas, progrediu de 44% em 2014 para 47,2% em 2021 da pauta exportadora chinesa.
Vale lembrar aqui o esforço chinês nos últimos anos para galgar posição na produção mundial de produtos tecnologicamente mais avançados. Divulgações anteriores do IEDI, como a Carta n. 827, de mar/18, e a Carta n. 1094, de jul/21, analisaram a estratégia de desenvolvimento industrial da China com ênfase na inovação e na constituição de competências tecnológicas da chamada indústria 4.0.
Por apresentar uma pauta exportadora mais diversificada e, além disso, mais intensiva em produtos manufaturados, a China possui “espaços de produtos” maiores e mais densos, aumentando a possibilidade de produzir novos bens e de ampliar sua complexidade.
Em 2021, a China apresentava 391 produtos com vantagens comparativas reveladas, mais do que o triplo do Brasil, que somava 124 produtos.
Um espaço do produto altamente conectado sugere, segundo a abordagem de Hausmann e Hidalgo, que é mais fácil para essa economia aumentar sua complexidade econômica, ampliando o número de produtos produzidos e exportados. Ao contrário, quando as conexões são dispersas, é mais difícil avançar na complexidade econômica do país.
Assim, a probabilidade de a China aumentar ainda mais sua complexidade econômica é maior do que a do Brasil. A China apresenta mais pontos de conexão entre os bens que já produz e o conjunto de produtos próximos que pode vir a produzir por já ter competências industriais semelhantes às necessárias para produzi-los. O Brasil apresenta uma rede bem mais dispersa e com menos pontos, dificultando a complexificação de sua economia. E vale lembrar que menos complexidade significa menos condições de crescer.
Este alerta é convergente com estudos que empregam outras abordagens. A Carta IEDI n. 1101 analisa estudo em que a UNCTAD afirma que a experiência internacional indica que os países em desenvolvimento dependentes de commodities, que é cada vez mais o caso do Brasil, permanecem presos por longos períodos em uma situação de baixo crescimento do PIB e fraco desenvolvimento socioeconômico, instabilidade macroeconômica, alta exposição a choques e à volatilidade dos preços internacionais das commodities, entre outros problemas.
Outro exemplo é o estudo do Banco Mundial tratado na Carta IEDI n. 1221 que mostra, para o caso brasileiro, impacto positivo e significativo da entrada de uma empresa no mercado internacional sobre a adoção de tecnologias mais sofisticadas para a maioria das funções de negócios, com coeficientes particularmente elevados para administração de empresas, planejamento de produção, gerenciamento da cadeia de suprimentos e controle de qualidade. É um fator que favorece o aumento da produtividade.
Introdução
Nas últimas décadas, a China tornou-se o maior parque industrial do mundo, o que contribuiu muito para que o país também viesse a ocupar a posição de grande consumidor mundial de produtos básicos e insumos. Com isso, as relações comerciais entre Brasil e China se intensificaram e se alteraram ao longo do tempo.
Em síntese, a China se firmou como o principal mercado de destino das exportações brasileiras, notadamente de commodities, como veremos em detalhes mais à frente. Entretanto, sua consolidação como produtora e exportadora de produtos manufaturados tem pressionado competitivamente a indústria brasileira, seja em nosso mercado interno, seja em mercados externos importantes para nossas exportações de manufaturados.
Nesta Carta, o IEDI analisa a evolução das relações comerciais Brasil-China e seu impacto sobre a complexidade econômica da nossa pauta exportadora em comparação com a da China. O estudo será complementado por duas outras Cartas.
Uma delas analisará a evolução e a complexidade das exportações brasileiras e chinesas aos principais mercados demandantes de bens de nossa indústria. A outra, dará ênfase às características do que importamos da China e sua contribuição ao aumento da penetração de importados sobretudo na indústria de transformação brasileira.
As fontes de dados aqui utilizadas foram o MDIC, para os fluxos comerciais mais recentes do Brasil, e o TradeMap e Comtrade, cujas informações do comércio internacional são mais detalhadas e permitem melhor comparação com os dados chineses. Para a análise da complexidade das exportações, as informações vieram do Atlas da Complexidade Econômica, que foram cruzadas com os dados de comércio por produto do Trademap e da Comtrade.
Os índices de complexidade econômica e dos produtos exportados por Brasil e China mais atualizados se referem ao ano de 2021, que nesta Carta será comparado com 2014, isto é, ano anterior ao recente período de crises no Brasil (recessão de 2015-2016 e o choque da pandemia Covid-19 de 2020), o que permite identificar tendências em um quadro ajustamento da indústria nacional à realidade de adversidades do mercado interno.
Cabe lembrar, que o Atlas da Complexidade é resultado do trabalho dos economistas Ricardo Hausmann e César Hidalgo (respectivamente da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts-MIT dos Estados Unidos), que argumentam que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países.
Isto porque alguns grupos de produtos no núcleo do tecido produtivo (os mais complexos) são essenciais para dinamizar outras atividades produtivas por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, sejam de oferta (porque reduzem custos produtivos e geram progresso técnico), sejam de demanda (porque criam e expandem mercados).
Em outras palavras, alguns setores produtivos estabelecem mais conexões com o restante das atividades econômicas. Neste grupo estão, por exemplo, produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde.
Já petróleo cru, algodão, arroz e soja tendem a ter menor conectividade e complexidade. Petróleo refinado, em contrapartida, é um dos produtos mais complexos, o que sinaliza que exportar recursos naturais não significa necessariamente uma baixa capacidade tecnológica. Sua transformação industrial pode, na verdade, gerar bens de alto valor agregado.
As relações comerciais Brasil-China
As relações comerciais entre Brasil e China intensificaram-se continuamente nas últimas décadas. Segundo dados do MDIC, nossa corrente de comércio com a economia chinesa aumentou cerca de 70 vezes entre 1997 e 2023, em valores correntes, e sua participação no total do nosso comércio exterior saltou de 2% para 27% no período.
Em 2023, a corrente de comércio internacional entre o Brasil e a China atingiu valor recorde na série histórica do MDIC, de US$ 157,5 bilhões, muito em função de nossas exportações, que também superaram pela primeira vez a marca de US$ 100 bilhões.
De fato, nossos embarques para a China é quem mais nutriu o comércio entre os dois países. Entre 1997 e 2023, ainda em valores correntes, nossas exportações foram multiplicadas por 96, enquanto nossas importações de produtos chineses, por 46. De tudo que exportamos em 2023, 31% foi para a China ante somente 2% em 1997. Estas participações quando se tratam de nossas importações foram de 22% e 2%, respectivamente.
Assim, a ênfase desta Carta IEDI recairá sobre nossa pauta de exportação em seu agregado e para a China, com particular atenção para os produtos manufaturados. Por ora, a despeito dos avanços dos embarques e desembarques da China, vale destacar algumas assimetrias.
Em primeiro lugar, cabe mencionar que em 1997 os pesos da China em ambos os fluxos comerciais do Brasil para produtos da indústria de transformação eram equivalentes, próximos a 2%, tal como para o total de produtos, como visto anteriormente. Mais especificamente, a China representava 1,9% das exportações da nossa indústria de transformação e 2,3% de suas importações.
Em 2023, o quadro foi radicalmente distinto, resultado da estratégia chinesa de se tornar a “fabrica do mundo” e de nossa perda de competitividade relativa, já que nos descuidados muito de assegurar condições favoráveis à nossa expansão industrial.
A China passou a representar 10,5% das exportações da indústria de transformação brasileira, ou seja, algo como 5 vezes mais do que representava em 1997, e 24,2% do total de nossas importações de produtos industriais, ampliando sua participação em quase 10 vezes o que era em 1997.
Resultado disso, só para tomar o período de aceleração da corrente de comércio com a China (pós crise de 2008/2009), enquanto o superávit do total de nosso comércio com a China foi multiplicado por 10 entre 2010 (US$ 5,1 bilhões) e 2023 (US$ 51,1 bilhões), com base em produtos primários, o déficit em produtos da indústria de transformação dobrou, chegando a US$ 34,3 bilhões em 2023.
Em segundo lugar, há também assimetria no interior dos fluxos comerciais da indústria de transformação. Em 2023, 74% das importações brasileiras de produtos industriais da China eram de alta e média-alta intensidade tecnológica e somente 5% de nossas exportações para o mercado chinês correspondiam a estes produtos.
Ademais, este tipo de assimetria vem se aprofundando rapidamente, já em 2010, 18,5% do que a indústria de transformação exportou para a China consistiam em produtos de alta e média-alta intensidade tecnológica, ou seja, uma participação de cerca de 3,5 vezes maior do que em 2023. A seu turno, a alta e média-alta tecnologia respondia por 69,2% do que importávamos de produtos industriais da China.
Há ainda outras implicações para a indústria brasileira, como o acirramento da concorrência chinesa em mercados externos, mas que neste caso será tratada em outra Carta IEDI a ser divulgada em breve.
Muito da projeção chinesa sobre nossos fluxos de comércio se deu após a crise de 2008/2009, quando se estreitaram os mercados de países desenvolvidos, notadamente dos EUA. Nesta ocasião, como estudos anteriores do IEDI já discutiram, a exemplo da Carta n. 590 “O Dinamismo Exportador do Brasil e a Ameaça das Exportações Chinesas no Após Crise”, a China buscou reforçar laços comerciais com países em desenvolvimento, inclusive o Brasil.
No nosso caso, a retomada de alta de preços de commodities já a partir de 2009, atingindo principalmente as commodities metálicas, impulsionaram o valor de nossos embarques, explicando muito da sua liderança na ampliação da corrente de comércio com a economia chinesa.
Atualmente, é possível que estejamos vendo um novo capítulo deste processo, mas desta vez em resposta a outros fatores. Tensões geopolíticas e rupturas de cadeias produtivas durante a pandemia de Covid-19, em um contexto de desafios ambientais e sociais no mundo, estão acirrando a competição entre as principais potências globais, notadamente EUA e China, desencadeando um processo de fragmentação, “decoupling” ou “derisking”, para ficarmos nas nomenclaturas mais frequentes, em torno do comércio mundial, do investimento direto externo e do acesso a tecnologias estratégicas e inovadoras.
A elevação de tarifas de importação pelo governo Trump, a partir de 2018, não apenas foi mantida pelo governo Biden, como este também incluiu novos produtos, como agora em maio de 2024, incluindo veículos elétricos, semicondutores, baterias, células fotovoltaicas, aço, alumínio etc. Os EUA também mantêm paralisado, desde 2019, o órgão de apelação do Sistema de Solução de Controvérsias, por objeções a seu funcionamento, visto como incapaz de evitar práticas distorcivas adotadas pela China.
Embora os efeitos deste processo nas estatísticas econômicas nem sempre sejam nítidos, misturando-se a fatores conjunturais, as evidências têm se acumulado. Há sinais, por exemplo, de aumento do número de medidas de avaliação de investimentos diretos externos por razões de segurança nacional e endurecimento na sua aplicação, como discutido na Carta IEDI n. 1004 e mais recentemente pelo World Investment Report 2023 da UNCTAD. Ademais, como mostrou a Carta IEDI n. 1254, o FMI avalia que das 2.580 medidas de política industrial no mundo em 2023, 71% tinham possibilidade de impactar a dinâmica de comércio global. O FMI em seu World Economic Outlook de abr/23 também encontrou um interesse crescente das empresas multinacionais em reshoring, friendshoring e nearshoring a partir de 2018.
Do ponto de vista dos fluxos de comércio exterior, os dados do US Census mostram que, em 2023, as importações totais de bens chinesas pelos EUA atingiram, em valores correntes, o patamar mais baixo desde 2012 e sua participação no total das compras externas americanas, de 13,9%, foi a menor desde 2005, regredindo do pico de 21,6% registrado em 2017.
Ademais, em 2023, foi a primeira vez desde 2003 – isto é, pouco tempo após a entrada da China na OMC –, que produtos importados do México responderam por uma participação maior (15,4%) do que as importações da China.
A reação chinesa a isso passa por utilizar outros países como plataformas de exportação de seus produtos, com suas empresas realizando investimentos em outras economias da Ásia ou da América Latina, por exemplo, mas também inclui estratégias de diversificação do destino de suas vendas externas para além dos mercados norte-americano e europeu.
Dados da UNCTAD mostram este movimento da perspectiva do comércio exterior da China, em que os EUA, mas em menor medida também a União Europeia, perdem participação nas exportações do país em detrimento do “restante do mundo”. Isso se deu em dois momentos: na crise de 2008/2009 como mencionado anteriormente e novamente a partir de 2018, quando as tensões comerciais entre China e EUA se explicitam.
Os EUA representavam em média 21% do total das exportações da China entre 2000 e 2007, parcela que se reduziu em 3 pontos percentuais, isto é, para 18%, em 2008-2009. Desde então sua marca não voltou a superar os 20%. Em 2018, por sua vez, era de 19,3%, recuando para 16,2% em 2022, ou seja, recua de mais 3 pontos percentuais no período. No caso das exportações de manufaturas, o declínio de participação dos EUA nas exportações chinesas foi de 5,4 pontos percentuais, entre 2000-2007 (22,2%) e 2022 (16,2%).
Já a União Europeia, cuja crise da zona do euro se deu a partir do final de 2009, isto é, quando a crise das hipotecas de subprime nos EUA já tinha se desdobrado em uma crise financeira internacional, a perda de participação nas exportações chinesas foi um pouco depois, caindo de 18,2% em 2008 para 13,4% em 2013 e de 18,7% para 13,7% no caso das manufaturas. Desde 2020, estas porcentagens permanecer próximas de 15%.
As vendas externas da China para o restante do mundo, deste modo, avançaram de uma média de 62,6% em 2000-2007 para 64,1% em 2008 e então para 70% em 2013. No período mais recente, foi de 66,7% em 2018 para 68,6% em 2022. No caso da manufatura, foi ainda mais pronunciada esta evolução: de 60,8% em 2000-2007 para 69,1% em 2013 e de 65,5% em 2018 para 67,7% em 2022. A despeito das oscilações ao longo do período, em função da conjuntura econômica dos parceiros comerciais a tendência tem sido de elevação de participação de outros mercados além dos EUA e da União Europeia.
Dado que as exportações da China consistem basicamente em produtos industriais, as evoluções acima descritas significam para o Brasil:
• Primarização de sua pauta exportadora, seja porque a China nos demanda sobretudo commodities do Brasil, seja porque as exportações chinesas de manufaturados capturam market share anteriormente da indústria brasileira em outros mercados;
• Aumento da penetração de importados chineses no mercado brasileiro, notadamente em produtos manufaturados e cada vez mais naqueles mais intensivos em tecnologia.
Brasil e China: disparidade na pauta exportadora
Nesta seção, a composição das pautas exportadoras brasileira e chinesa é analisada no nível do produto e não dos setores, o que permite uma visão mais precisa da evolução recente. Por razão da disponibilidade de dados quanto à complexidade, a comparação será feita entre 2014 e 2021, como mencionado na Introdução.
No caso do Brasil, a participação de produtos minerais e agrícolas, que já era muito alta em 2014 (54,3%), aumentou para 65,2% em 2021, como mostra a figura abaixo, onde cada setor é representado por uma cor diferente. Houve avanço de 2,4 pontos percentuais (p.p.) da participação de bens da agricultura e de 8,5 p.p. de produtos minerais.
Consequentemente, outros produtos perderam participação na nossa pauta. Os recuos mais significativos foram predominantemente em setores de maior intensidade tecnológica, em produtos mais elaborados. Foram os casos das participações de veículos, que passaram de 5,9% em 2014 para 3,6% em 2021; de máquinas, que foram de 4,6% para 3,6%, e de produtos químicos, de 6,4% para 5%, respectivamente.
Embora as exportações brasileiras de bens industriais (indústria extrativa e indústria manufatureira) tenham destinos mais diversificados, nota-se no período em tela um aumento significativo da participação das exportações desses produtos para a China, em grande medida em função do ramo extrativo.
Em nossa pauta exportadora de bens industriais a China assume a posição de principal destino em 2021, absorvendo 25,8% dos embarques (ante 14,3% em 2014), em detrimento dos Estados Unidos (13,8%), que desceram para a segunda posição. A Argentina tornou-se o terceiro mercado mais importante para as exportações de bens industriais brasileiros, reduzindo participação de 8,8% em 2014 para 5,5% em 2021.
Quando analisamos o destino das exportações brasileiras apenas de bens manufaturados – isto é, excluindo os produtos da indústria extrativa –, notamos uma maior estabilidade na participação dos países, com um pequeno aumento da participação dos Estados Unidos (17,8% em 2014 e 19,6% em 2021) e Alemanha (2% em 2014 e 2,8% em 2021), em detrimento de uma redução na participação da Argentina (11,3% em 2014 e 8,4% em 2021) e Holanda (6,3% em 2014 e 3,8% em 2021).
Mesmo com uma participação inferior à de outros destinos, a China ampliou sua presença nas exportações de manufaturados brasileiras, superando a Holanda, e aproximando-se da Argentina. Em 2014, a China representava 5,8% de nossos embarques destes bens e, em 2021, 7,6%, passando a figurar como o 3º maior destino.
Assim, entre os principais países de destino das exportações de bens manufaturados destacaram-se, em 2021, Estados Unidos em 1º lugar e Argentina em 2º lugar, e atrás da China (3º lugar): Holanda, Canadá, Cingapura, México, Chile, Colômbia, Paraguai e Alemanha. Para este conjunto de países exceto China nossa pauta exportadora será analisada em uma próxima Carta IEDI.
Apesar de ser um país importante para as exportações de bens manufaturados brasileiros, a maior concentração das exportações brasileiras para a China está em produtos de menor elaboração, com índices de complexidade do produto (ICP) baixos ou negativos.
Valores mais altos do ICP representam produtos mais complexos. Para os formuladores do Atlas da Complexidade, um produto é complexo quando demanda um número elevado de capacidades produtivas. E isso pode mudar ao longo do tempo. Os produtos se tornam mais complexos quando sua produção passa a requerer maiores capacidades, que estariam associadas à complexidade econômica dos países que exportam o produto, bem como ao número de países que o produzem, sendo esta relação expressa pelo Índice de Complexidade do Produto (ICP).
Uma pauta liderada por produtos com baixos ICPs reflete as vantagens comparativas do Brasil em produtos primários, mas também o ambiente de negócios adverso para a produção industrial manufatureira, cujas cadeias produtivas são mais longas e complexas. A falta de competitividade nacional cobra um preço elevado da qualidade de nossa pauta exportadora para a China.
Os principais produtos exportados pelo Brasil para a China em 2021 foram: minérios de ferro com participação de 34% e ICP de -1,97; soja com peso de 30% e ICP de -1,7; e petróleo bruto, responsável por uma parcela de 15% de nossas exportações e um ICP de -2,4.
Quando verificamos nem nossa pauta exportadora para a China os produtos com maior elaboração aparecem manufaturados da indústria têxtil, como algodão, e alguns produtos do setor de metal, maquinaria e química, entretanto com uma participação relativa bastante inferior àqueles anteriormente citados.
Retirando do mapa os produtos agrícola e de minerais, que têm um peso muito elevado nas exportações brasileiras para a China, notamos que os principais produtos exportados seguem apresentando ICPs muito baixos ou então negativos. Ou seja, a baixa complexidade marca igualmente os produtos não primários mais exportados à China.
Em 2014, excluindo os agrícolas e minerais, os produtos mais exportados ao mercado chinês foram: ferroligas (ICP = -1,06), cobre refinado e ligas de cobre (ICP = -1,52), algodão cru (ICP = -2,23), óxido de alumínio (ICP = -0,871) e outras aeronaves (ICP = 0,397). Em 2021 aumenta de forma significativa o peso das ferroligas (ICP = -1,4) e do algodão cru (ICP = -2,43), e também aparece de forma importante ferro gusa (ICP = -1,04).
Em comparação com o Brasil, a pauta de exportação de bens da China está bem mais concentrada em produtos manufaturados mais elaborados e isso já desde 2014. Predominam, assim, produtos com ICPs positivos e elevados. Entre 2014 e 2021, ademais, houve aumento desta concentração. A participação dos dois principais produtos, eletrônicos e máquinas, progrediu de 44% em 2014 para 47,2% em 2021.
Vale lembrar aqui o esforço chinês nos últimos anos para galgar posição na produção mundial de produtos tecnologicamente mais avançados. Divulgações anteriores do IEDI, como a Carta n. 827, de mar/18, e a Carta n. 1094, de jul/21, analisaram a estratégia de desenvolvimento industrial da China com ênfase na inovação e na constituição de competências tecnológicas da chamada indústria 4.0.
O programa Made in China, de 2018, e o 14º Plano Quinquenal, para o período 2021-2025, são peças importantes desta estratégia e os dados apresentados nesta Carta IEDI refletem seus efeitos iniciais na pauta exportadora chinesa.
Já o setor têxtil, cujos produtos são o terceiro item mais importante nos embarques chineses, e considerados de menor complexidade, reduziu sua participação em 3,9 p.p., passando de 16,8% em 2014 para 12,9% em 2021.
Podemos ainda destacar a evolução das exportações de produtos químicos, o quarto item mais importante da pauta chinesa e de maior nível de complexidade, que ampliou sua participação em 2,6 p.p., de 7,7% em 2014 para 10,2% em 2021.
Já a composição das exportações chinesas de bens para o Brasil é semelhante à composição das exportações totais de bens da China, mas há algumas diferenças. A participação de eletrônicos, por exemplo, não só é maior como cresceu mais na pauta com o Brasil em comparação com a pauta total de exportação da China para o mundo.
As vendas de produtos químicos para o Brasil também têm uma participação mais expressiva, mais do que o dobro daquela na pauta geral da China para o mundo. Além disso, entre 2014 e 2021, estes produtos ampliaram sua participação em cerca de 60% das vendas chinesas ao Brasil.
Outra diferença é que produtos menos complexos, como os têxteis, agrícolas e minerais, apresentam participações menores na pauta com o Brasil do que na pauta total da China. No caso de têxteis, verifica-se ainda uma acentuada redução de participação entre 2014 e 2021, bem mais intensa na pauta com o Brasil.
Estes são sinais de que a melhoria da pauta chinesa em direção a produtos mais complexos tem sido mais intensa com relação ao Brasil do que em relação às suas exportações totais.
Os principais produtos exportados pela China ao Brasil nos dois anos analisados foram os seguintes:
• em 2014: telefonia (ICP = 1,04), dispositivos de cristal líquido (ICP = 1,59), ar-condicionado (ICP = 1,08), computadores (ICP = 0,822), partes de rádios e telefones (ICP = 0,57).
• em 2021: dispositivos semicondutores (ICP = 0,993), partes e acessórios para máquinas de escritório (ICP = 1,26), telefonia (ICP = 1,2), aparelhos de transmissão para televisão (ICP = 0,818), fertilizantes mistos (ICP = -0,94).
Cabe reforçar que, diferentemente da pauta dos principais produtos exportados pelo Brasil para a China, os embarques chineses ao Brasil compreendem produtos com índices de complexidade positivo e elevado.
Evolução da Complexidade Econômica de Brasil e China
Na seção anterior, mostramos a disparidade das pautas exportadoras do Brasil e da China, em que produtos de baixos índices de complexidade destacam-se como os principais itens de exportação brasileira em seu agregado e para o mercado chinês e ganharam participação entre 2014 e 2021.
A crescente concentração de nossas exportações totais à China, a partir de produtos primários ou pouco elaborados, associados índices de complexidade de produto baixos ou negativos, veio acompanhada de deterioração da Complexidade Econômica do Brasil, que voltou a se acelerar entre 2014 e 2021, após certa atenuação em 2010-2014.
O Índice de Complexidade Econômica (ICE), como mencionado anteriormente, fornece uma medida da sofisticação da estrutura produtiva dos países como um todo a partir da análise de sua pauta exportadora e está relacionado ao seu crescimento econômico de longo prazo.
Países mais complexos produzem e exportam bens com baixa ubiquidade (isto é, com poucos países ofertantes) e posicionados no núcleo do tecido produtivo, ou seja, com maiores efeitos de encadeamento e transbordamento, permitindo dinamizar mais outras atividades produtivas. Em geral, são produtos com maior intensidade tecnológica.
Já economias com uma pauta exportadora pouco diversificada e que exportam produtos com alta ubiquidade e pouca centralidade no sistema produtivo são menos complexas e apresentam maior dificuldade de disseminar o crescimento econômico ao conjunto de atividades produtivas.
De acordo com o ICE, o Brasil teve uma piora significativa em sua posição entre 2014 e 2021, enquanto a China manteve-se na mesma posição. O Brasil desceu vinte posições (da 50ª para a 70ª) e o ICE caiu de 0,23 para -0,16, ou seja, houve uma acentuada redução no grau de complexidade das exportações totais brasileiras entre 2014 e 2021.
Tomada a evolução em um prazo mais longo, a partir de 1995, o retrocesso brasileiro é ainda mais nítido, já que ocupávamos a 25a posição no ranking, passando para a 26ª em 2000. O primeiro momento de queda aguda deu-se na primeira década de 2000, período em que a demanda chinesa por commodities e os preços destes produtos subiram no mundo, fazendo com que sua participação aumentasse em nossa pauta exportadora, ao mesmo tempo em que a concorrência de manufaturados chineses no mercado internacional prejudicou nossas exportações de produtos mais complexos. Em 2010, ocupamos a 46ª posição.
O segundo momento em que o Brasil retroagiu intensamente neste ranking foi a partir de 2014, como ilustra o gráfico a seguir. Neste período o país sofreu duas graves crises, a de 2015-2016 e a da Covid-19, e a economia mundial perdeu dinamismo.
É também o período em que tensões comerciais e geopolíticas se revelaram, prejudicando a evolução do comércio internacional. Como mencionado anteriormente é também o período em que as exportações chinesas perderam espaço relativo no mercado e buscaram outros destinos, comprimindo market share de vendas externas da indústria brasileira.
A China, a seu turno, foi um dos países que mais ganhou posições no período em tela. Houve avanço contínuo a partir de 1995, passando da 46ª posição para a 30ª em 2000 e então para a 24ª em 2010 e para a 18ª em 2014.
Desde então, com as dificuldades enfrentadas pela economia global e a guerra comercial com os EUA, manteve sua 18ª posição em 2021. Vale observar que a resiliência chinesa não se referiu apenas à sua posição relativa no ranking, mas também se verificou no valor do seu ICE, de 1,32 em 2014 e de 1,33 em 2021.
Ou seja, enquanto em 1995 a China precisaria subir 21 posições para alcançar o Brasil, em 2014 e em 2021 o Brasil precisaria ascender, respectivamente, 32 e 52 posições para alcançar a China.
Também vale destacar a maior queda de posições do Brasil em comparação com os demais países de América do Sul. Argentina, Chile e Colômbia e Paraguai perderam posições entre 1995 e 2021, mas de forma bem menos intensa do que o Brasil. Já o México subiu da 29ª posição para a 22ª posição.
Chama igualmente atenção que, no período mais recente, entre 2014 e 2021, mesmo a Argentina, que tem enfrentado profundos desequilíbrios macroeconômicos, não regrediu tanto quanto o Brasil.
Entre estes anos, enquanto nós recuamos 20 posições no ranking, a Argentina caiu a metade disso, isto é, passou do 64º lugar para o 74º lugar. Embora tenha se mantido em uma posição superior, o Brasil tem convergido aceleradamente em direção a Argentina nas últimas décadas.
Espaço do Produto
Um maior número de produtos exportados indica maior competitividade do país, mas não necessariamente uma maior complexidade econômica, bem como o potencial de aumentar essa complexidade.
Para avaliar essas duas últimas características, o Atlas da Complexidade elabora o “espaço do produto”, que, ao lado do Índice de Complexidade do Produto, contribui para a análise da complexidade econômica de um país e das suas exportações.
De acordo com o Atlas, quanto mais capacidades produtivas possuir uma economia, maiores são as possibilidades de diversificação produtiva, pois novos produtos similares aos já produzidos podem também vir a ser produzidos a partir do uso das capacidades produtivas existentes. A similaridade é medida pelo conhecimento necessário para aquela produção.
Por exemplo, se o conhecimento para produzir camisetas for similar ao necessário para produzir camisas e diferente do necessário para produzir motores, então a probabilidade de um país que exporta camisetas também exportar camisas é maior do que a probabilidade de passar a produzir e exportar motores.
As possibilidades de diversificação das economias são apresentadas através do “espaço do produto”, em que são destacados os produtos em que um país tem vantagem comparativa revelada (VCR), ou seja, quando tal país tem a participação da exportação de um determinado produto em sua pauta maior do que a participação daquele produto na exportação global. Quanto maior o valor do índice de VCR, maior é a competitividade do país naquele produto.
Em 2021, a China apresentava 391 produtos com vantagens comparativas reveladas no Atlas, mais do que o triplo do Brasil, que somava 124 produtos.
O “espaço do produto” também inclui uma medida de densidade, que mede a proximidade entre os produtos produzidos em determinado país e os potenciais novos produtos que poderiam ser produzidos. Ao ampliar os tipos de bens produzidos, a estrutura produtiva do país se torna mais diversificada, com “espaços maiores de produto” e, consequentemente, torna-se mais complexa.
O conjunto de todas as proximidades forma a “rede de espaço de produto”, que conecta pares de produtos que são altamente prováveis de serem exportados.
A rede de cada país se diferencia em função dos produtos produzidos, indicados pelos pontos coloridos, enquanto os não-produzidos pelo país estão em cor cinza no gráfico a seguir. Cada cor corresponde a um setor (as mesmas utilizadas nos gráficos das exportações acima). Além disso, os produtos mais sofisticados e de maior valor agregado se localizam no centro da rede, enquanto produtos de menor sofisticação e agregação de valor na sua periferia.
A estrutura do espaço do produto é importante, pois indica a possibilidade de um país passar a produzir novos produtos, o que significa uma diversificação de sua pauta exportadora e de sua estrutura produtiva.
Um espaço do produto altamente conectado (com mais pontos coloridos e pontos da mesma cor, ou seja, mais setores e mais produtos do mesmo setor, respectivamente) sugere que é mais fácil para essa economia aumentar sua complexidade econômica, ampliando o número de produtos produzidos e exportados.
Ao contrário, quando as conexões são dispersas, é mais difícil avançar na complexidade econômica do país. Assim, a probabilidade de a China aumentar sua complexidade econômica é mais alta do que a do Brasil, já que a China apresenta mais pontos coloridos na rede com produtos próximos (da mesma cor) e o Brasil apresenta uma rede bem mais dispersa com menos pontos, como indicado no gráfico abaixo.
O tipo de bem produzido também importa. Como mencionado anteriormente, um produto é complexo quando demanda um número elevado de capacidades produtivas. E isso pode mudar ao longo do tempo. Os produtos se tornam mais complexos quando sua produção passa a requerer maiores capacidades, que estariam associadas à complexidade econômica dos países que exportam o produto, bem como ao número de países que o produzem, sendo esta relação expressa pelo Índice de Complexidade do Produto (ICP). Valores mais altos do ICP representam produtos mais complexos.
Como os produtos produzidos pelos diversos países se alteram ao longo do tempo, os ICPs também variam. Por exemplo, um produto passa a ser menos complexo quando mais países passaram a produzi-lo ou quando os países exportadores deste produto sofreram uma redução de sua complexidade econômica, indicando menos capacidades necessárias para produzi-lo. Por isso, é importante que os países sigam sistematicamente diversificando suas estruturas produtivas em direção a produtos mais complexos.