Carta IEDI
A complexidade das exportações brasileiras e a concorrência da China
A China vem se firmando como o maior parceiro comercial do Brasil, como discutido recentemente na Carta IEDI n. 1292 “O comércio Brasil-China e nossa perda de complexidade econômica”. Nas últimas duas décadas e meia, após sua entrada na OMC, foi exponencial a progressão chinesa em nosso comércio exterior.
Mas não é só com o Brasil que o gigante asiático intensificou suas relações comerciais. Para além dos EUA, em vários outros países a China se tornou, se não o primeiro, um dos principais parceiros comerciais. E isto tem implicações para o Brasil, notadamente, para sua indústria.
A consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados tem exercido grande pressão concorrencial sobre a indústria brasileira seja pela entrada de produtos chineses em nosso mercado interno, seja devido ao crescimento das exportações chinesas para mercados importantes para os nossos manufaturados.
Tais efeitos desafiadores para a produção nacional pouco foram mitigados pelo acesso do Brasil ao mercado chinês. Nossas exportações à China, como mostrou a Carta IEDI n. 1292, estão concentradas não em manufaturados, mas em produtos primários, o que prejudicou a complexidade de nossa pauta exportadora nas últimas décadas.
A situação foi agravada pois não reagimos adequadamente a esta ofensiva concorrencial. Como o Instituto vem há muito tempo alertando, o Brasil se descuidou de seu ambiente de negócios, permitindo a elevação do chamado “Custo Brasil” e abrindo mão de um firme compromisso com o apoio à inovação e à constante modernização de seu parque industrial. Além disso, ao ficarmos às margens de importantes acordos comerciais nas últimas décadas, perdemos a oportunidade de diversificar nossos mercados demandantes.
Cartas IEDI anteriores já tinham identificado o fenômeno da crescente pressão concorrencial chinesa em mercados tradicionais da indústria brasileira, em especial a partir da crise global de 2008/2009, a exemplo das de número 826, 900, 972, 1054 e 1188. A crise das hipotecas subprime nos EUA e posteriormente a crise do euro deprimiram os mercados de países desenvolvidos neste período e redirecionaram as exportações da China para países emergentes, como os da América Latina.
Atualmente, algo semelhante parece estar em curso. Neste caso, em resposta a barreiras comerciais impostas por EUA e Europa a produtos chineses, diante das suspeitas de práticas desleais de empresas chinesas e dos objetivos americanos e europeus de fortalecimento de seus sistemas industriais, após as fragilidades reveladas pela pandemia de Covid-19 e diante dos desafios climáticos à frente.
Na presente edição, analisamos a evolução das exportações totais e da complexidade econômica dos principais produtos da pauta exportadora do Brasil e da China para os 10 principais mercados das exportações brasileiras de manufaturados em 2021, excluída a própria China, que foi tema de anterior Carta IEDI.
O período em tela cobre os anos 2014 e 2021, isto é, entre o momento anterior à recente fase de adversidades da nossa economia, que incluiu a crise de 2015/2016 e a pandemia de Covid-19 em 2020, e o último ano disponível nas bases de dados aqui utilizadas (Atlas da Complexidade, Trademap e Comtrade).
Assim, os destinos selecionados foram: EUA, Argentina, Holanda, Canadá, Cingapura, México, Chile, Colômbia, Paraguai e Alemanha, que em seu agregado representaram 50% de nossas exportações de manufaturados em 2021 e 31% do total das vendas externas de bens do país.
Entre 2014 e 2021, os embarques totais de bens brasileiros para estes países cresceram +11,8%, em valores correntes. A despeito desta evolução positiva, as vendas chinesas avançaram muito mais no período (+51,2%), de modo que o valor dos bens que exportava a estes 10 destinos aumentou de 9 vezes o valor exportado pelo Brasil em 2014 para 12 vezes em 2021. Este é um indicador da ampliação da presença chinesa e do estreitamento do Brasil nestes mercados.
Em 6 dos 10 mercados selecionados, a China ampliou sua vantagem sobre o Brasil e em outros 2 reduziu sua desvantagem. No primeiro grupo, os destaques cabem aos países europeus: para a Alemanha, as exportações chinesas eram 11 vezes maiores do que as brasileiras em 2014, subindo para 23 vezes em 2021; para a Holanda, por sua vez, saiu de 6 para 11 vezes no período.
Cabe observar que a Holanda e Cingapura, devido a suas infraestruturas portuárias, funcionam como “portas de entrada” de produtos para suas respectivas regiões, Europa e Sudeste Asiático, não refletindo simplesmente seus mercados domésticos.
Outros dois casos de destaque estão na América do Norte. Para os EUA, as exportações chinesas eram 15 vezes maiores que as do Brasil em 2014, relação esta que subiu para 18 vezes em 2021. Para o México, o valor exportado pela China subiu de 9 vezes para 12 vezes o valor exportado pelo Brasil entre 2014 e 2021.
No grupo em que a China reduziu suas desvantagens estão Argentina e Paraguai. Em 2014, as exportações chinesas para estes mercados eram, respectivamente, 50% e 60% inferiores às do Brasil. Em 2021, contudo, estas diferenças caíram para 10% no caso da Argentina e 40% no caso do Paraguai.
Apenas dois destinos fugiram à regra: Cingapura e Canadá. Em 2014, o valor exportado pela China era 20 vezes maior em Cingapura e 13 vezes maior no Canadá do que as exportações brasileiras. Em 2021, esta vantagem foi reduzida para 9 vezes em Cingapura e 10 vezes no Canadá. Apesar disso, como esta Carta IEDI analisará em detalhes, houve queda da complexidade dos principais produtos da pauta exportadora do Brasil a estes dois mercados.
Em comparação com a China, é patente que em todos os mercados aqui analisados a pauta exportadora chinesa é composta por produtos de uma complexidade bastante superior à dos bens exportados pelo Brasil, tanto em 2014 como em 2021. Isso porque a China exporta majoritariamente bens manufaturados, enquanto nós exportamos muitas commodities.
Mas para além disso, também é preocupante a evolução no tempo de nossa pauta. Dos 10 mercados selecionados, há uma deterioração da complexidade da pauta dos principais produtos de exportação brasileira em 5 deles: Argentina, México e Holanda, além de Canadá e Cingapura. Em 2, o quadro ficou relativamente estável: nos Estados Unidos e na Alemanha.
Melhora na complexidade houve em apenas 3 destinos, todos eles na América do Sul, tradicional região de penetração de produtos brasileiros, inclusive de manufaturados: Chile, Colômbia e Paraguai. Nestes casos, ampliamos o total exportado somente para os 2 primeiros e foi justamente para os mercados chileno e colombiano que a vantagem das exportações chinesas avançou menos no período em análise.
Ou seja, dos 10 destinos selecionados nesta Carta IEDI, o Brasil apresentou uma performance positiva entre 2014 e 2021 em apenas 2 casos: Chile e Colômbia, para onde houve aumento das exportações, de +40,8% e +40,5%, respectivamente; onde a vantagem chinesa menos progrediu (de 3 para 4 vezes os embarques brasileiros) e onde a complexidade dos principais produtos que exportamos aumentou.
A complexidade de nossas exportações ao Chile melhorou, entre 2014 e 2021, sob influência do aumento do índice de complexidade do produto (ICP) de petróleo bruto e da maior participação de carros e tratores na pauta.
Já para a Colômbia, a melhora se deu em função das exportações de carros devido ao aumento de seu ICP, mas também porque seu peso na pauta triplicou no período em análise. Cabe observar que a indústria automobilística preserva um papel importante para impulsionar a complexidade de nossas vendas externas.
Com uma pauta exportadora ao mercado chinês baseada em commodities, com o aumento da presença de produtos chineses em mercados importantes para a indústria brasileira e com o declínio de produtos mais complexos entre os principais itens que exportamos a estes mercados, o Brasil testemunhou importante deterioração de seu Índice de Complexidade Econômica entre 2014-2021, aprofundando a trajetória cadente que apresenta desde meados dos anos 1990.
Cabe lembrar que a abordagem da complexidade econômica, empregada na presente Carta IEDI, foi desenvolvida pelos economistas Ricardo Hausmann (Universidade de Harvard) e César Hidalgo (MIT), que argumentam que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países. Assim, a complexidade produtiva dos países é medida a partir da estrutura exportadora dessas economias.
Países mais complexos são aqueles que apresentam uma estrutura produtiva e uma pauta exportadora mais diversificada e exportam produtos mais sofisticados. Essa sofisticação é medida pela baixa ubiquidade dos produtos exportados, o que significa que apenas poucos países são capazes de produzir e exportar estes produtos.
Introdução
A China, como discutido recentemente na Carta IEDI n. 1292, vem se firmando como o maior parceiro comercial do Brasil. Nas últimas duas décadas e meia, foi exponencial a progressão chinesa em nosso comércio exterior, sobretudo, após a crise global de 2008/2009. Entre 1997 e 2000, representava, em média, somente 1,8% das exportações brasileiras e 1,9% de nossas importações. Em 2023, sua participação chegou a 30,7% e 22,1%, respectivamente.
Mas não é só com o Brasil que o gigante asiático intensificou suas relações comerciais. Para além dos EUA, em vários outros países a China se tornou, se não o primeiro, um dos principais parceiros comerciais. E isto tem implicações indiretas para o Brasil, notadamente, para sua indústria.
A consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados tem exercido grande pressão concorrencial sobre a indústria brasileira por dois canais:
• a entrada de produtos importados chineses no nosso mercado interno, o que será analisado em uma próxima Carta IEDI; e
• o crescimento das exportações chinesas para mercados importantes para as vendas externas brasileiras de bens manufaturados.
Na presente Carta analisamos a evolução da complexidade econômica dos principais produtos da pauta total de exportação do Brasil e da China para os 10 principais mercados das exportações brasileiras de manufaturados, excluída a própria China, para o período entre 2014 e 2021, isto é, entre o momento anterior à recente fase de adversidades da nossa economia, que incluiu a crise de 2015/2016 e a pandemia de Covid-19 em 2020, e o último ano disponível nas bases de dados aqui utilizadas.
O estudo dá sequência ao acompanhamento que o IEDI vem fazendo há alguns anos, divulgado nas Cartas n. 826, 900, 972, 1054 e 1188. Desta vez, ao invés de regiões foram analisados os principais países de destino de nossas exportações de manufaturados. A análise da complexidade será feita para o total da pauta exportadora, mas os mercados selecionados tiveram como critério aqueles que mais importam para a indústria brasileira.
Os principais destinos das exportações de bens manufaturados brasileiros em 2021 foram: Estados Unidos (1º), Argentina (2º), Holanda (4º), Canadá (5º), Cingapura (6º), México (7º), Chile (8º), Colômbia (9º), Paraguai (10º) e Alemanha (11º), além da própria China (3º), com quem nossas relações comerciais foram analisadas na Carta IEDI n. 1292 e que, por isso, não será considerada neste estudo.
A fonte dos dados utilizados é o Atlas da Complexidade Econômica, em que foram obtidas as informações sobre o Índice de Complexidade Econômica (ICE) do Brasil e da China e os Índices de Complexidade do Produto (ICP) dos principais itens de suas pautas exportadoras.
As informações desse Atlas foram cruzadas com as informações de comércio por produto do Trademap, construído pelo Centro de Comércio Internacional (ITC) da UNCTAD/WTO, e da Comtrade, uma das bases de dados mais completas fornecida pelas Nações Unidas.
O Atlas da Complexidade é resultado do trabalho dos economistas Ricardo Hausmann (Universidade de Harvard) e César Hidalgo (MIT), que argumentam que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países.
Isto porque, alguns grupos de produtos no núcleo do tecido produtivo (os mais complexos) são essenciais para dinamizar outras atividades produtivas por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, sejam de oferta (porque reduzem custos produtivos e geram progresso técnico), sejam de demanda (porque criam e expandem mercados).
Países mais complexos são aqueles que apresentam uma estrutura produtiva e uma pauta exportadora mais diversificada e exportam produtos mais sofisticados. Esta sofisticação é medida pela baixa ubiquidade dos produtos exportados, o que significa que apenas poucos países produzem e exportam esses produtos. Já economias com uma pauta exportadora pouco diversificada e que exportam produtos com alta ubiquidade, são economias menos complexas.
De acordo com os autores, a diversificação produtiva de uma economia depende de suas capacidades. Quanto mais capacidades produtivas essa economia tiver, maiores são as possibilidades de diversificação, pois novos produtos, similares aos já produzidos, podem ser produzidos a partir do uso das capacidades existentes, sendo a similaridade medida pelo conhecimento necessário para aquela produção.
Por isso, o tipo de bem produzido importa. Quanto mais conhecimento necessário para sua produção, maiores as competências que podem ser alocadas na produção de outros bens. Assim, há uma complexidade do produto, que é medida a partir do número de capacidades produtivas que são necessárias para sua produção.
Os produtos se tornam mais complexos quando aquela produção passa a requerer maiores capacidades produtivas e quando o número de capacidades produtivas no mundo aumenta, sendo esta relação expressada pelo Índice de Complexidade do Produto (ICP). Valores mais altos do ICP representam produtos mais complexos.
Como os produtos produzidos pelos diversos países se alteram ao longo do tempo, os ICPs também variam. Por exemplo, quando um produto passa a ser menos complexo, significa que mais países passaram a produzir aquele produto ou que os países exportadores do produto sofreram uma redução de sua complexidade econômica
O comércio exterior brasileiro e chinês para os mercados selecionados
O agregado do comércio exterior brasileiro (bens e serviços) sofreu uma mudança significativa entre 2014 e 2021, passando de um déficit de US$ 76,9 bilhões para um superávit de US$ 34,2 bilhões. Essa melhora também reflete a redução do déficit na balança de serviços de US$ 57 bilhões para US$ 26,9 bilhões (um recuo de quase 53%).
Em 2021, o valor de nossas exportações atingiu US$ 280,6 bilhões, sob influência da recuperação do PIB global após o choque da Covid-19 em 2020 (+6% contra -3,3% em 2020) e do volume do comércio mundial (+10,1% contra -10,4%), bem como da alta dos preços das commodities agrícolas e metálicas exportadas pelo Brasil (+26,3%, segundo o índice composto do FMI para commodities não-energéticas).
Na comparação com 2014, considerando o desempenho por destino para a balança de bens, contribuíram para a melhora do saldo comercial brasileiro a ampliação do superávit com a China (de US$ 1,26 bilhões para US$ 40,3 bilhões) e a melhora do saldo com outros países do continente americano: aumento do superávit com a Aladi de US$ 2,9 bilhões para US$ 7,7 bilhões e redução do déficit com o Nafta de US$ -12,3 bilhões para US$ -5,0 bilhões, entre 2014 e 2021.
Juntos, os 10 destinos selecionados nesta Carta IEDI – o que não inclui a China, vale lembrar – representavam 50% de nossas exportações de manufaturados em 2021 e 31% do total das vendas externas de bens do país.
Entre 2014 e 2021, o valor total das exportações do Brasil a este conjunto de países cresceu de US$ 78 bilhões para US$ 87,3 bilhões, consistindo em uma alta de 11,8%, em valores correntes. Isso decorreu do aumento dos embarques para 6 dos 10 países: 15,5% para os Estados Unidos, 40,5% para a Colômbia, 40,8% para o Chile, 51,5% para o México, 112,7% para o Canadá e 134,6% para Cingapura.
Países do Mercosul e da União Europeia concentraram os casos de declínio de nossas exportações entre 2014 e 2021: -4,8% para o Paraguai, -15,2% para a Holanda, -16,8% para a Argentina e -23,9% para a Alemanha.
Já as exportações chinesas avançaram em todos os 10 países selecionados, sendo que as variações mais expressivas ocorreram em países latino-americanos: mais do que dobraram no México e no Chile e cresceram 78,5% na Colômbia.
Para os Estados Unidos, que individualmente foi o país para onde mais exportamos em 2021 dentre os selecionados, as exportações chinesas aumentaram 45,5%, enquanto nós ampliamos três vezes menos nossos embarques – 15,5% como mencionado anteriormente.
Em somente em 2 dos 10 países da amostra o Brasil conseguiu registrar uma performance superior à chinesa entre 2014 e 2021: Cingapura e Canadá, embora em ambos os casos seja importante notar que nossas exportações representavam algo como 10% das exportações da China a estes países.
E também em apenas 2 dos 10 países o valor exportado pelo Brasil superava o da China em 2021, todos eles na América do Sul: para a Argentina vendemos 11% a mais do que os chineses (US$ 11,9 bilhões ante US$ 10,7 bilhões) e para o Paraguai, 70% a mais (US$ 3 bilhões ante US$ 1,8 bilhão).
Ainda assim, a pressão concorrencial da China se fez sentir na grande maioria destes mercados entre 2014 e 2021, ampliando sua vantagem exportadora, quando suas vendas já eram superiores às do Brasil, ou então reduzindo sua desvantagem, nesses poucos casos em que nossas exportações superaram as chinesas.
Em 60% dos destinos analisados, a China ampliou vantagem sobre o Brasil. Isso ocorreu com maior intensidade nos dois países da Europa. No caso da Alemanha, em 2014, as exportações chinesas apresentavam um valor 11 vezes maior do que as exportações totais brasileiras, o que foi ampliado para um valor 23 vezes maior em 2021. No caso da Holanda, era 6 vezes maior em 2014 e 11 vezes maior em 2021.
Outros dois casos de destaque estão na América do Norte. Para os Estados Unidos, as exportações chinesas eram 15 vezes maiores que as do Brasil em 2014, relação esta que subiu para 18 vezes em 2021. Para o México, por sua vez, o valor exportado pela China, que era 9 vezes o valor exportado pelo Brasil em 2014, avançou para 12 vezes em 2021.
No Chile e na Colômbia, os chineses também passaram a exportar proporcionalmente mais do que o Brasil, em uma relação de 3:1 em 2014 para 4:1 em 2021. Ainda na América do Sul, cabe observar que mesmo nos dois países em que a China exportou menos do que o Brasil tanto em 2014 como em 2021, sua desvantagem foi reduzida, aproximando-se do valor exportado por nós.
Para a Argentina, a China exportava, em 2014, um valor 50% inferior ao exportado pelo Brasil, diferença que foi reduzida para apenas 10% em 2021. Ou seja, a despeito da crise econômica que a Argentina vem passando, sobretudo a partir de 2019, os produtos chineses conseguiram avançar e ganhar mercado. Já para o Paraguai, a China exportava 60% menos do que o Brasil em 2014 e, em 2021, exportou 40% menos do que nós.
Apenas em Cingapura e Canadá, onde as exportações brasileiras cresceram mais intensamente do que as chinesas no período em análise, como mencionado anteriormente, houve redução da vantagem da China vis-à-vis o Brasil.
Em 2014, o valor exportado pela China era 20 vezes maior em Cingapura e 13 vezes maior no Canadá do que as exportações brasileiras. Em 2021, esta vantagem foi reduzida para 9 vezes em Cingapura e 10 vezes no Canadá.
Apesar disso, como as seções desta Carta IEDI analisarão em detalhes, a seguir, houve deterioração da complexidade dos principais produtos da pauta exportadora do Brasil a estes dois mercados.
Ao todo, dos 10 mercados selecionados, há uma deterioração da complexidade da pauta dos principais produtos de exportação brasileira em 5 deles: Argentina, México e Holanda, além de Canadá e Cingapura. Em dois, o quadro ficou relativamente estável: nos Estados e na Alemanha. E melhora na complexidade houve em apenas 3 destinos: Chile, Colômbia e Paraguai. Nestes últimos casos, ampliamos o total exportado somente para os dois primeiros.
Complexidade das exportações brasileiras e chinesas
A seguir, organizamos os 10 países selecionados em três seções. Como a maioria deles estão no continente americano, analisamos em uma seção os 4 que fazem parte da América do Sul (Argentina, Chile, Colômbia e Paraguai) e em outra seção os 3 fazem parte da América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México). A seção final analisa os 3 destinos fora do continente americano: Holanda, Alemanha e Cingapura.
Qualificamos os cinco principais produtos exportados para cada um desses países a partir do Índice de Complexidade do Produto (ICP), que é calculado com base em quantos países podem produzir o produto exportado e a complexidade econômica desses países. Assim, o índice captura a diversidade e a sofisticação do know-how necessário para produzir o bem, fornecido pelo Atlas da Complexidade.
Os produtos mais complexos, que apenas poucos países de alta complexidade podem produzir, incluem, por exemplo, maquinários sofisticados, eletrônicos e químicos. Já os produtos menos sofisticados, que a maior parte dos países produz, inclusive aqueles países com menor complexidade econômica, incluem matérias-primas, produtos agrícolas simples e alguns setores de bens manufaturados, como ferro laminado e outros produtos manufaturados têxteis.
Cabe observar que a complexidade de um produto não tem natureza imutável, podendo se alterar ao longo do tempo. Consequentemente, os ICPs também variam. Por exemplo, quando um produto passa a ser produzido por mais países, ele se torna menos complexo, já que a definição de complexidade está relacionada à ubiquidade, como visto anteriormente.
Os dados foram obtidos a partir do cruzamento das informações de tipo de produto e ICP do Atlas da Complexidade com as informações de comércio por produto para diferentes países do Trademap.
América do Sul: Argentina, Chile, Colômbia e Paraguai
As exportações brasileiras para os 4 países da América do Sul que figuram entre os 10 principais destinos das vendas externas de nossa indústria aumentaram somente 1,8% entre 2014 e 2021. O principal responsável por esse desempenho medíocre foi a queda de 16,8% das exportações para a Argentina, cuja participação no total recuou de 57,5% em 2014 para 47% em 2021, como resultado da crise econômica argentina e da intensificação da concorrência da China.
O Chile foi o 2º principal destino das exportações brasileiras para a região nos dois anos analisados. Nossas exportações neste caso aumentaram 40,8% entre 2014 e 2021 – o maior avanço entre os países considerados.
As exportações brasileiras para a Colômbia, por sua vez, cresceram praticamente no mesmo ritmo registrado no caso do Chile (40,5%). Com isso, a Colômbia subiu da 4ª posição em 2014 para a 3ª posição em 2021, quando passou a responder por 13,2% do total exportado para este grupo de países da América do Sul contra 9,6% em 2014.
Por fim, as exportações brasileiras para Paraguai recuaram no período analisado e este país passou da 3ª posição em 2014 para a 4ª em 2021, mas sua participação no total deste grupo de países latino-americanos se manteve praticamente estável (12,9% e 12%, respectivamente)
Já as exportações chinesas para os 4 países selecionados avançaram 76,3% no período em tela, sendo que houve crescimento no caso dos 4 países considerados – que mantiveram as mesmas posições no ranking.
O Chile não só se manteve como principal destino dessas exportações chinesas, mas também aumentou seu peso no total de 43,2% para 49,5% já que as vendas externas da China para esse país registraram a maior taxa de crescimento (101,9%). A segunda maior taxa de crescimento foi registrada nas vendas externas para a Colômbia (78,5%), que seguiu no 2º lugar, mas sua participação no total se manteve no patamar de 27%.
Em contrapartida, na mesma base de comparação, a participação da Argentina no total exportado pela China para a América do Sul recuou de 25,5% para 21,1% e a do Paraguai de 4,6% para 3,4% como reflexo das menores taxas de crescimento das vendas externas chinesas para esses dois países (39,2% e 27,6%, respectivamente).
Com isso, a diferença entre as exportações brasileiras e chinesas para essa região, favorável à China passou de US$ 5.299 milhões em 2014 para US$ 27.834.
Argentina. A principal mudança na pauta brasileira para a Argentina no período em tela foi a perda de participação do setor de veículos que, todavia, continuou sendo o setor líder, com 3 produtos no ranking dos 5 principais produtos em 2014 e 2021.
Este ranking manteve praticamente o mesmo em termos de produto e posições. Houve troca somente de um produto entre 2014 e 2021 e as 3 primeiras posições seguiram ocupadas pelos mesmos produtos. Consideradas em seu conjunto, as mudanças sugerem uma piora em termos de complexidade de produtos que exportamos para a Argentina.
Embora o ICP do principal produto exportado (“carros”) tenha aumentado no período (de 0,61 para 1,07), sua participação no total recuou 18,5% em 2014 para 10,6% em 2021.
O 2º principal produto exportado foi “peças e acessórios par veículos”, mas sua participação no total também recou de 9,7% em 2014 para 8% em 2021 e seu ICP diminuiu de 1,38 para 1,12. A 3ª posição continuou sendo ocupada por “Minério de ferro”, com peso e ICP semelhantes nos dois anos (em torno de 6% e -1,95, respectivamente).
Já nas 4ª e 5ª posições houve mudanças. “Veículos para transporte de bens” passou da 4ª posição em 2014 para a 5ª em 2021, com participação no total de 5% e 3,7%, respectivamente, e ligeira melhora no ICP (0,51 para 0,57). “Produtos Semiacabados de ferro” – com uma participação de 3,1% do total em 2021 e ICP negativo – assumiu a 5ª posição
A pauta exportadora chinesa para a Argentina é bastante diferente da brasileira, sendo mais diversificada e com maior peso de produtos mais complexos dos setores químico, de máquinas e de eletrônicos. No período analisado, a evolução foi favorável à China em termos de complexidade.
O principal item exportado pelos chineses em 2014 à Argentina foi “vagões ferroviários” (ICP de 0,71), sendo substituído por “computadores” em 2021 (ICP de 1,05), que ocupada a 5ª posição em 2014. “Aparelhos transmissores de rádio, telefone e TVs” seguiu na 2ª posição, mas seu ICP aumentou de 0,74 para 0,82 entre os dois anos.
Nas quatro posições seguintes houve alterações, com piora em termos de complexidade em somente um caso: na 3ª posição, “ar condicionado” (ICP de 1,08) foi substituído por “fertilizantes minerais”, com ICP negativo (-0,94).
Chile. Em termos de complexidade de produto, a pauta exportadora brasileira para o Chile é menos complexa do que a pauta para a Argentina. Todavia, consideradas conjuntamente, as mudanças sugerem uma pequena melhora no período analisado.
Não houve mudança nas 3 primeiras posições, sendo que as 2 primeiras posições continuaram ocupadas por produtos pouco elaborados.
“Petróleo bruto” continuou sendo o principal produto que exportamos ao Chile, mas sua participação diminuiu de 43,6% em 2014 para 27,7% em 2021 e seu ICP, apesar de ter se mantido negativo, melhorou de -3,06 para -2,4.
“Carne bovina” manteve-se na 2ª posição, com um suave aumento de participação entre 2014 e 2021, de 5% para 6,4%, mas com ligeira piora do seu ICP: de -0,39 para -0,56.
Já nas 3 posições seguintes despontaram produtos mais elaborados e complexos, sendo que somente na 5ª posição houve uma pequena piora do ICP. Vale destacar a mudança na 4ª posição, com “carros” (ICP de 1,07) assumindo o lugar de “polímero de etileno” (ICP de 0,18).
Já a pauta exportadora chinesa para o Chile é mais diversificada e complexa do que a brasileira, com expressiva participação dos setores de vestuário, eletrônicos e de máquinas. Além disso, houve melhora em termos de complexidade entre 2014 e 2021.
Considerando os 5 principais produtos exportados em 2020, o ICP de 4 posições aumentou, se manteve estável ou se tornou positivo. Houve uma pequena deterioração somente na 5ª posição, na qual “jogos” (ICP de 0,51) substituíram “produtos laminados planos” (ICP de 1,79).
“Transmissores de TV e rádio” mantiveram-se na 1ª posição, com um pequeno aumento do peso no total (de 4,6% em 2014 para 5,5% em 2021) e aumento do ICP (de 0,74 para 0,82), seguido por “carros”, que deslocou “computadores” (ICP de 1,05 em 2021) para o 3º lugar (ocupado por "calçado com sola de borracha” em 2014 cujo ICP era negativo).
Na 4ª posição, “produtos laminados planos” (ICP de 0,33) substituiu “ferro laminado plano” (que também tinha ICP negativo em 2014).
Colômbia. A pauta exportadora brasileira para a Colômbia é mais diversificada do que nos casos da Argentina e do Chile. Em 2021, os setores automotivo, alimentício e químico foram os mais importantes, sendo que “máquinas” perdeu participação na comparação com 2014. Consideradas conjuntamente, houve uma melhora na pauta em termos de complexidade.
Houve uma expressiva melhora na 1ª posição, com “carros” (que ocupava a 2ª posição em 2014) assumindo a liderança, com um peso de 15% no total das exportações (contra somente 4,9% em 2014) e um ICP de 1,07 em 2021 (contra 0,61 em 2014).
Já nas demais posições, houve deterioração em termos de complexidade, mas conjuntamente seu peso (13,86% do total) é inferior ao de carros. Nas 2ª e 3ª posições, produtos alimentícios (respectivamente, “milho” e “café”, com ICPs negativos) substituíram produtos do setor automotivo, com ICPs baixos, mas positivos (“pneus novos de borracha” e “chassi veículos com motor”).
Na última posição, “poliacetais e outros poliéteres”, do setor químico (ICP de 1,04) substituiu “partes de veículos” (ICP 1,38).
Já a pauta exportadora chinesa para a Colômbia manteve praticamente o mesmo padrão entre 2014 e 2021, com uma alta presença dos setores de eletrônicos, de máquinas, químico e de vestuário. Considerando os produtos mais exportados pela China, pode-se afirmar que houve uma melhora em termos de complexidade entre 2014 e 2021.
Houve “dança das cadeiras" nas 2 primeiras posições – que responderam por 15,7% do total em 2021 contra 14,8% -, com efeito líquido positivo em termos de complexidade.
“Aparelhos transmissores de TV e rádio” assumiram a liderança em 2021, com ICP de 0,82, deslocando “computadores” para a 2ª posição. Contudo, o ICP de computadores tinha o mesmo valor em 2014. A única mudança foi o aumento da participação do principal produto exportado de 8,4% para 9,4% do total.
Todavia, na 2ª posição, “computadores” (cujo ICP aumentou para 1,02 em 2021) ocupou a posição de “aparelhos transmissores de TV e rádio”, que tinha um menor ICP em 2014 (0,74).
Na 4ª posição, houve igualmente melhora, com “vacinas” (ICP de 1,68) substituindo “carros” (ICP de 0,61). Já nas 2 posições seguintes, houve deterioração em termos de complexidade, mas seu peso no total é bem inferior, somente 3,4% em 2021.
Paraguai. Assim como no caso da Colômbia, as exportações brasileiras para o Paraguai são mais diversificadas que as destinadas à Argentina e ao Chile, mas concentradas em produtos com baixo ICP. As mudanças dos 5 principais produtos entre 2014 e 2021 sugerem uma pequena melhora em termos de ICP.
No 1º lugar no ranking, “fertilizantes diversos” substituíram “petróleo bruto”. Embora ambos sejam produtos pouco elaborados e complexos, com ICP semelhantes e negativos, o peso do principal produto exportado no total recuou de 11,2% em 2014 para 3,9% do total em 2021.
Na 2ª posição, “carros” substituiu “fertilizantes diversos”, o que significou a passagem de um ICP negativo (de -0,70) em 2014 para um ICP positivo (1,07) e mais elevado em 2021. Todavia, o peso desta posição no total diminuiu de 8,84% em 2014 para 3,67% em 2021.
Já na 3ª posição, que manteve um peso semelhante no total, houve piora, pois “carne bovina” (ICP de -0,39 em 2021) ocupou o lugar de “máquinas de colheita” (ICP de 0,84 em 2014).
Nas 4a e 5a, as mudanças foram positivas, com produtos com ICP negativo do setor de alimentos sendo substituídos por produtos com ICP positivo dos setores automotivo e de máquinas.
Assim como nos demais países da América do Sul, as vendas externas da China para o Paraguai são diversificadas e mais complexas do que as brasileiras. As mudanças observadas entre 2014 e 2021 sugerem uma melhora em termos de grau de complexidade dos produtos.
Considerando os 5 principais produtos exportados pela China ao Paraguai, houve mudança nas 3 primeiras posições, 2 positivas e uma negativa.
Na 1ª posição, “aparelhos transmissores de rádio, telefone e TVs” (ICP de 0,82 em 2021) substituíram “Pneus novos de borracha” (ICP de 0,30 em 2014), com participações no total de, respectivamente, 13,5% e 9,5%.
“Pneus novos de borracha” (ICP de 0,39) passou para a 2ª posição, respondendo por 8,1% do total, enquanto em 2014 essa posição era ocupada por “inseticidas, fungicidas, etc.” com um peso de 5,9% do total e ICP negativo de -0,39.
Já na 3ª posição, houve piora, pois, “inseticidas, fungicidas, etc.” (ICP de 0,10 em 2021) assumiram o lugar de “ar condicionado” (ICP de 1,08 em 2014).
As 4ª e 5ª posições continuaram sendo ocupadas pelos mesmos produtos (“computadores” e “motocicletas”, respectivamente), contudo nos dois casos houve aumento do ICP e, assim, do grau de complexidade.
Em suma, na América do Sul, a composição da pauta exportadora brasileira é diferente entre os 4 países selecionados e as mudanças no período em telas indicam uma pequena melhora em termos de complexidade na maioria deles.
Embora a pauta tenha se deteriorado no caso da Argentina, sobretudo em função da perda de participação de “carros” (cujo ICP aumentou no período), este país perdeu sua posição de principal destino das exportações na região em 2014 e passou a ser o 3º país mais importante em 2021. Neste ano, o Chile assumiu a liderança, sendo seguido pela Colômbia na 3ª posição. A pauta tornou mais complexa no caso desses países e do Paraguai (5ª posição em 2021), que respondiam por 53% do total das exportações a essa região em 2021.
Já pautas de exportação chinesa para os 4 países selecionados são bastante similares, com predomínio dos setores de eletrônicos, máquinas, químicos e automotivo. Estas pautas, que já tinham uma composição mais positiva em termos de complexidade de produto do que a brasileira, melhoraram ainda mais período analisado quando consideramos o ranking dos cinco produtos mais exportados.
América do Norte: Estados Unidos, México e Canadá
As exportações brasileiras para a América do Norte avançaram 26,3% entre 2014 e 2021 contra um avanço de somente 1,8% no caso da América do Sul, como destacado acima. As vendas externas do Brasil para os três países da região aumentaram no período analisado, mas não houve mudança no ranking.
Embora a taxa de crescimento tenha sido menor no caso dos Estados Unidos (15,5%), este país continuou absorvendo mais de 70% das vendas externas do Brasil para a região (75% em 2021 contra 82% em 2014).
O México desponta como o 2º principal destino, com um aumento na participação no total de 11,1% em 2014 para 13,3% em 2012 graças à taxa de crescimento de 51,5% das exportações brasileiras na mesma base de comparação.
O crescimento foi ainda mais alto no caso do Canadá: +112,7%, resultando num avanço do seu peso no total da região de 7% em 2014 para 11,8% em 2021, mas insuficiente para ultrapassar o México como 2º principal destino.
Já as exportações chinesas para a América do Norte cresceram 51,6%, quase o dobro do registrado no caso do Brasil. Nesse caso, também não houve mudança no ranking.
Os Estados Unidos seguiram como o principal destino das exportações chinesas, mas sua participação no total recuou de 86,4% para 82,9% devido à menor taxa de crescimento em comparação aos demais destinos: 45,4% contra 109,1% no caso do México e 71,7% no caso do Canadá. Consequentemente, o peso das exportações para o México no total aumentou de 7% para 9,7% e daquelas para o Canadá de 6,5% para 7,4%.
Estados Unidos. Na pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos, predominaram nos dois anos analisados os setores de alimentos, petróleo, metais e veículos, com ICPs baixos ou negativos. Considerando os cinco principais produtos, somente dois mantiveram-se os mesmos:
• “petróleo bruto” seguiu na 1ª posição, mas seu peso diminuiu (de 16,1% para 10,0%), o que significa uma mudança positiva já que seu ICP é negativo (embora tenha melhorado um pouco em 2021).
• “produtos semi-acabados de ferro” aumentou sua participação em 2021 e subiu da 4ª posição em 2014 para a 2ª posição em 2021 (ICP negativo de -0,65). Esta mudança, contudo, foi desfavorável à complexidade, pois em 2014 essa posição era ocupada por “Mercadorias não-especificadas” (ICP de 0,02).
Nas demais posições, com menor peso na pauta, houve piora na 3ª posição, mas melhora nas 4ª e 5ª posições. Consideradas conjuntamente, as mudanças sugerem estabilidade ou pequena melhora em termos de complexidade.
Já as exportações chinesas para os Estados Unidos têm uma maior sofisticação, com participação de produtos do setor de máquinas e de eletrônicos, mas também de têxteis, com menor ICPs. Na comparação de 2021 frente a 2014, dos 5 produtos mais exportados pela China, houve poucas mudanças em termos de produtos, mas a composição melhorou em termos de complexidade.
“Computadores” e “Aparelhos transmissores de TV e rádio” seguiram nas 1ª e 2ª posições (totalizando 21,4% em 2014 e 20,3% em 2021), mas o ICP aumentou nos dois casos. A única exceção, sugerindo deterioração da complexidade, foi a substituição de “peças e acessórios para máquinas” (ICP de 1,17 em 2014) por “brinquedos e jogos” (ICP de 0,51 em 2021) na 4ª posição.
Canadá. As exportações brasileiras para o Canadá, que já tinham uma participação bastante elevada de produtos com menor elaboração e ICPs negativos dos setores de metais e alimentos em 2014, manteve-se concentrada em produtos de baixa complexidade e ICPs negativos.
Contudo, houve mudanças no ranking dos 5 principais produtos, que sugerem uma piora em termos de complexidade:
• “Ouro” (com ICP negativo de -2,31 em 2014) passou a ocupar o 1º lugar no ranking em 2021 com um ICP ainda mais negativo (de -2,51) substituindo “óxido de alumínio”, que passou para a 2ª posição (cujo ICP diminuiu de -0,87 em 2014 para -1,08 em 2020)”.
• Nas 3ª e 4ª posições, “ouro” e “petróleo bruto” (ICPs negativos de -2,31 e -3,06) foram substituídos por “produtos semiacabados de ferro” e “cana-de-açúcar e sacarose”, com ICPs um pouco menos negativos (de -0,65 e -1,79, respectivamente).
• Café continuou ocupando a 5ª posição, mas sua participação diminuiu de 5,23% em 2014 para 2,24% do total em 2021.
Já nas exportações chinesas para o Canadá, os setores mais importantes em 2014 e 2021 foram: máquinas, eletrônicos e têxteis. Considerando os 2 primeiros lugares, os produtos seguiram os mesmos, mas trocaram de posição e o ICP aumentou nos dois casos.
Em 2021, “aparelhos transmissores de TV e rádio” assumiram a 1ª posição, enquanto “computadores” passou para a 2ª posição. As mudanças sugerem uma ligeira melhora em termos de complexidade no ranking dos 5 principais produtos, uma vez que houve melhora em 3 posições que respondem por mais de 16% do total contra 4,2% das demais posições que registraram piora ou estabilidade.
Em contrapartida, “peças de veículos”, com ICP superior à unidade em 2014, deixou de figurar no ranking dos principais produtos exportados pela China ao Canadá, sendo substituído por “assentos” na 4ª posição, com ICP bem inferior e que ocupava a 3ª posição em 2014. Em 2021, essa posição foi ocupada por “lâmpadas”, com ICP mais elevado. “Outros artigos inventados” mantiveram-se na 5ª posição.
México. A pauta exportadora brasileira para o México tinha uma maior participação de produtos mais complexidade do setor de máquinas e veículos em 2014, ao contrário do observado nos demais países da região, resultado associado ao acordo comercial entre os dois países envolvendo este último setor. Houve mudanças significativas em 2021 que resultaram numa piora expressiva em termos de complexidade.
Na 1ª posição, “carros”, que respondiam por 6% do total (ICP de 0,61) foram substituídos por “mercadorias não especificadas” em 2021 com um peso no total de 47,2% e ICP negativo de -0,16.
“Carros” passou para a 4ª posição, com uma participação de 4,3%, sendo o único produto dentre os 5 mais exportados com ICP positivo (1,07, mais elevado do que em 2014). Com isso, houve melhora em termos de complexidade somente nesta posição.
Nas 2ª, 3ª e 5ª posições houve deterioração, com destaque para as 2ª e 5ª, nas quais produtos com ICP não somente positivos, mas também superiores à unidade, foram substituídos por produtos com ICP negativos.
As exportações chinesas para o México têm um peso elevado de produtos de maior grau de complexidade dos setores de eletrônicos e de máquinas. Na passagem de 2014 para 2021, pode-se afirmar que houve uma pequena melhora em termos de complexidade, sendo que somente 1 produto (“aparelhos eletrônicos”) deixou de figurar no ranking dos 5 mais exportados.
A 1a posição continuou sendo ocupada por “dispositivos de cristais líquidos”. Embora seu peso no total tenha diminuído ligeiramente (de 8,3% para 7,2%), seu ICP aumentou de 0,95 para 1,22.
Na 2ª posição, houve substituição de produtos (“computadores” por "aparelhos transmissores de TV e rádio”), mas o ICP se manteve o mesmo (0,82) e seu peso no total também recuou um pouco (de 7,43% para 6,13%).
Na 3ª posição, houve a maior melhora em termos de complexidade, com “peças e acessórios para máquinas" (ICP 1,26) substituindo “aparelhos transmissores de TV e rádio” (0,74).
Nas duas posições seguintes houve troca de produtos, mas a composição manteve-se semelhante em termos de ICP.
Em suma, no caso da América do Norte, houve deterioração da pauta exportadora brasileira em termos de complexidade.
Por um lado, para os Estados Unidos e Canadá, ela seguiu concentrada em commodities com ICPs relativamente baixos, como “petróleo bruto”, “ouro”, “óxido de alumínio” e “cana de açúcar e sacarose” e “café. Por outro lado, a pauta para o México, que tinha maior complexidade em função da alta participação de produtos do setor de veículos em 2014, se deteriorou significativamente no período analisado.
Em contrapartida, nas vendas externas da China para os três países dessa região despontaram produtos com maior complexidade dos setores de eletrônicos e de máquinas, sendo que, considerando os três destinos, a pauta chinesa tornou-se mais complexa.
Holanda, Alemanha e Cingapura
As exportações brasileiras para os três principais destinos da Europa e Ásia – Holanda, Alemanha e Cingapura – mantiveram-se estagnadas entre 2014 e 2021. Todavia o desempenho foi heterogêneo entre destinos e houve mudança no ranking.
As vendas externas para a Holanda recuaram 15,2% entre 2014 e 2021, mas não se saíram pior do que as exportações para a Alemanha, que encolheram 23,9% neste período. Em contrapartida, os embarques para Cingapura, importante porta de entrada do sudeste asiático, avançaram 134,6%. No somatório dos três países, as vendas externas do Brasil ficaram virtualmente estagnadas, variando apenas 0,4% no período em tela.
Já as exportações chinesas para os três países tiveram um desempenho positivo, embora não tão expressivo quando na América do Sul e a América do Norte. Dente esses países, a Holanda seguiu como o principal destino, para quem os embarques chineses avançaram 57,8% entre 2014 e 2021. No caso da Alemanha a alta foi de 58,4% e no caso de Cingapura, de 12,9%.
Antes de analisar o perfil das exportações brasileiras e chinesas para os três destinos em questão, vale reforçar a especificidade de Holanda e Cingapura, onde se localizam os portos mais importante, respectivamente, da Europa (Rotterdam) e do Sudeste Asiático (Cingapura). Além disso, o porto de Cingapura é o segundo maior da Ásia e do mundo, perdendo somente para Shanghai na China, que ocupa o primeiro lugar.
Assim, os desembarques nestes dois países devem ser vistos como vendas para a Europa e o Sudeste Asiático como um todo, pois os produtos são reexportados para os demais países nas respectivas regiões. Assim, seu perfil não reflete a demanda externa específica de Holanda e Cingapura, mas sim de suas regiões.
Holanda. As exportações brasileiras para a Holanda, em que havia uma participação bastante elevada de produtos com menor elaboração e ICPs negativos dos setores de alimentos, metais e petróleo e minerais em 2014, passaram a se concentrar ainda mais nesses setores de baixa complexidade em 2021.
Contudo, houve uma pequena mudança no ranking dos 5 principais produtos, que resultou numa piora em termos de complexidade em todas as posições. Como mencionado acima, essa composição reflete o perfil das nossas exportações para a Europa.
Em 2021, o 1º lugar continuou sendo ocupado pelo complexo da soja, mas “resíduos sólidos de soja” (15,1% do total em 2014 e ICP negativo de -1,04) foi substituído por “soja” (3ª lugar em 2014), com uma participação ligeiramente menor 14,4%, mas com ICP ainda mais negativo (-1,70).
Na 2ª posição também houve piora em 2021 na comparação com 2014, com “petróleo bruto” (13,3% do total e ICP negativo de -2,40) ocupando o lugar de “minério de ferro” (peso de 8,5% e ICP negativo de -1,95 em 2014), que passou para o 3º lugar (9,6% do total e ICP negativo de -1,97).
“Resíduos sólidos de soja” substituíram “petróleo refinado” no 4º lugar, que tinha ICP negativo, mas mais favorável em 2014 (-0,97) e “sucos de fruta” substituiu “pasta de madeira química” (mesma participação no total, mas piora no ICP de 0,22 para -0,84).
Já as exportações chinesas concentraram-se em produtos mais complexos dos setores de máquinas e eletrônicos com ICPs positivos nos dois anos analisados. As mudanças sugerem uma melhora no perfil da pauta no período em tela, com aumento do ICP nas 1ª, 2ª e 4ª posições, que responderam por 26,4% do total em 2021, e piora em duas posições (3ª e 5ª), com peso de somente 7,2% no total.
Não houve mudanças nas duas primeiras posições. O 1º lugar continuou sendo ocupado por “computadores”, cuja participação recuou significativamente (de 28,1% do total para 12,9%), mas registrou aumento do ICP (0,82 para 1,05).
“Aparelhos transmissores de TV e rádio” seguiram no 2º lugar, com aumento de participação (6,7% para 11,5%) e do ICP (0,74 para 0,82). Contudo, a pauta tornou-se menos concentrada, pois a participação no total desses dois produtos recuou de 34,8% para 24,4% entre 2014 e 2021.
Já nas 3 posições seguintes, três novos produtos passaram a figurar no ranking dos 5 principais produtos. As 3ª e 4ª posições continuaram sendo ocupadas por produtos do setor eletrônico, enquanto na 5ª posição “lâmpadas”, do setor têxtil, substituiu “Impressoras”.
Alemanha. As exportações brasileiras para a Alemanha tiveram um perfil semelhante àquelas para a Holanda, com produtos com menor elaboração e ICPs negativos, mas com maior peso dos setores de alimentos e petróleo e minerais. Quatro produtos mantiveram-se no ranking dos cinco principais, contudo com mudanças de posições. Consideradas conjuntamente, as mudanças sugerem uma estabilidade em termos de complexidade.
“Minério de ferro” passou do 1º lugar em 2014 (16,7% do total) para o 3º lugar (9,7% do total) e “Café” subiu do 2º para o 1º lugar, com um aumento de participação de 13,5% para 15,4% do total. Nos dois casos, os ICPs mantiveram-se praticamente constantes (respectivamente, -1,76 e -1,97 em 2021).
“Cobre” subiu da última posição em 2014 (5,9% do total) para a 2ª posição em 2021 (11,5% do total), com ligeira melhora do ICP, que continuou negativo (-2,19). “Resíduos de soja” desceu da 3ª (8,7% do total) para a 4ª posição (7,1% do total) com piora do ICP (-1,35). Na 5ª posição, “pasta de madeira química” substituiu “cobre”.
Assim como no caso da Holanda, as exportações chinesas para a Alemanha concentraram-se em produtos mais complexos dos setores de máquinas, eletrônicos e têxtil. Três produtos seguiram no ranking dos 5 principais em 2021, todos com ICPs positivos, enquanto em 2014 figurava na 5ª posição um produto ICP negativo (suéteres).
Conjuntamente, as mudanças indicam uma melhora em termos de complexidade para as exportações da China, pois 3 produtos com peso de 18,4% na pauta registraram aumento do ICP, contra dois, com peso de somente 4,6%, que registraram piora.
Não houve mudanças nas duas primeiras posições, que foram ocupadas pelos mesmos produtos que na pauta da Holanda. “Computadores” continuou no 1º lugar, com redução de participação recuou (de 13,3 % do total para 10,5%), mas aumento do ICP (0,82 para 1,05). “Aparelhos transmissores de TV e rádio” seguiram no 2º lugar, com aumento de participação (3,7% do total para 6,1%) e do ICP (0,74 para 0,82). Contudo, ao contrário do observado no caso da Holanda, a participação no total dos dois principais produtos exportados continuou praticamente a mesma (na faixa de 18%)
Já nas 3 posições seguintes, três novos produtos passaram a figurar no ranking considerado e sua participação no total também se manteve estável (na faixa de 4%). As 3ª e 4ª posições continuaram sendo ocupadas por produtos do setor eletrônico e a 5ª por um produto do setor têxtil.
Cingapura. Nas exportações brasileiras para Cingapura também predominaram produtos com menor elaboração e ICPs negativos, mas houve uma importante mudança no período analisado. Enquanto em 2014 os setores de petróleo e embarcações leves tinham peso semelhante, em 2021 o setor de petróleo tornou-se responsável por mais de 80% do total das exportações.
Quatro produtos mantiveram-se no ranking dos cinco mais exportados, mas houve mudanças de posição em todos os casos. Pode-se afirmar que, consideradas conjuntamente, essas mudanças resultaram numa deterioração da pauta em termos de complexidade.
“Petróleo refinado”, que ocupava a 2ª posição em 2014 (24,7% do total), assumiu a 1ª posição em 2021, respondendo por 60,4% do total. Este aumento significativo do seu peso no total foi acompanhado por uma ligeira melhora no ICP, mas que seguiu negativo (-0,97 em 2014 e -0,76 em 2021).
“Petróleo bruto”, cujo grau de complexidade é ainda menor, subiu da 5ª posição em 2014 (5% do total em 2014) para a 2ª posição, passando a responder por 20,6% do total. Seu ICP também aumentou um pouco, mas continuou sendo o mais baixo no ranking considerado (-3,06 em 2014 e -2,4 em 2021).
Nas 3ª e 4 posições, houve “dança das cadeiras”, com “ferroligas” passando da 3ª para a 4ª posição e “aves” seguindo o caminho inverso. Contudo, nos dois casos o peso na pauta diminuiu significativamente. Os dois produtos respondiam por 14,6% do total em 2014 e 7,5% em 2021. Vale também mencionar a piora no ICP de “aves”, que se tornou negativo em 2021. Neste ano, somente a 5ª posição foi ocupada por um produto com ICP positivo (carne de porco).
As exportações chinesas para Cingapura têm uma alta concentração de produtos mais complexos dos setores de máquinas, eletrônicos e têxtil. Todavia, seu perfil em termos de complexidade é pior do que os observados nos casos da Holanda e Alemanha devido à maior participação do setor de petróleo. Apesar do aumento do peso deste setor na pauta, o grau de complexidade da pauta aumentou no período analisado.
Os cinco principais produtos exportados seguiram os mesmos, mas houve “dança das cadeiras” em quatro posições. Na 1ª, 3ª e 4ª posições – que respondiam por 24,4% do total em 2021 – houve aumento dos ICPs (com dois produtos passando a ter índices superiores à unidade), enquanto nas 2ª e 5ª (15,1% do total) houve piora.
“Circuitos eletrônicos integrados” seguiram na liderança, mas aumentaram seu peso no total (de 8,9% para 10,9%) e registraram alta do ICP, que superou a unidade. A maior piora ocorreu na 2ª posição, com “petróleo refinado” (ICP negativo de 0,76 em 2021) substituindo “computadores (ICP de -0,97 em 2014), passaram para a 4ª posição (6,7% do total) e se tornaram mais complexos (ICP de 1,05 em 2021 contra 0,82 em 2014).
“Aparelhos transmissores de TV e rádio” subiram da 5ª posição em 2014 para a 3ª em 2021, com um peso de 7,1% no total e aumento do ICP. “Cruzeiros”, por sua vez, foram deslocados para a 5ª posição, mas sua participação no total se manteve a mesma, enquanto seu ICP piorou.
Em suma, a pauta brasileira para os três países da Europa e da Ásia que figuram na lista dos principais destinos das exportações brasileiras, que já tinha um perfil desfavorável em termos de complexidade em 2014, deteriorou-se ainda mais no período analisado. Enquanto nos casos da Holanda e Cingapura, a pauta tornou-se ainda menos complexa, no caso da Alemanha houve estabilidade.
Em contrapartida, nas vendas externas da China para os três países despontaram produtos com maior complexidade dos setores de eletrônicos e de máquinas, sendo que no caso dos três destinos, a pauta chinesa tornou-se mais complexa.