Carta IEDI
A Complexidade das exportações brasileiras e a concorrência da China
A Carta IEDI de hoje analisa o nível de complexidade das exportações brasileiras, bem como a pressão concorrencial exercida pela China nos principais mercados de nossas vendas externas de bens produzidos pela indústria – a saber, os países do Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (Estados Unidos, Canadá e México).
Os dados mais recentes são referentes ao ano de 2018 e mostram que houve uma interrupção na trajetória contínua de perda de posição das exportações do Brasil no ranking de complexidade econômica que ocorreu entre 1995 e 2008. Depois de termos ocupado a 25ª posição deste ranking em 1995, recuamos à 48ª colocação em 2008 e para o 50º lugar em 2014. Deste então houve pouca mudança: passamos para a 49º posição em 2018.
Além desta virtual estabilização de nossa colocação no ranking entre 2014 e 2018, o índice de complexidade econômica (ICE) de nossas exportações também se manteve estável no período em questão, no patamar de 0,21. Esta performance está em linha com a evolução do país no ranking global de exportações de manufaturados no qual o Brasil continuou na mesma posição: 32ª em 2014 e 2018.
No período analisado nesta carta (2014 e 2018), esperava-se que o Brasil se saísse um pouco melhor devido a dois fatores. Por um lado, a gravidade da crise econômica de 2015-2016 e o baixo crescimento doméstico no biênio 2017-2018 exerceram pressão para que as empresas brasileiras a buscassem alguma amenização das perdas no mercado externo.
Por outro lado, houve razoável depreciação do real no período (18,5% em termos efetivos reais em 2018 frente a 2014), ampliando a competitividade do produto brasileiro no exterior. O maior ímpeto exportador foi, contudo, amortecido pela ausência de aceleração da demanda externa. Como mostrou a Carta IEDI n. 1040, a taxa de crescimento do volume do comércio internacional foi de 3,4% em 2014 e 3,6% em 2018.
Isso ilustra a importância de alavancarmos a competitividade da estrutura produtiva brasileira, o que requer não somente preços macroeconômicos (taxas de juros e de câmbio) em patamares favoráveis e estáveis para as exportações, mas também reformas estruturais, como a tributária, e políticas industrial, tecnológica e ambiental que respondam aos desafios das novas tecnologias e da mudança climática. Instrumentos mais amplos de financiamento a nossas exportações e integração com outros mercados por meio de acordos comerciais possibilitariam uma abertura horizontal, transparente e gradual.
Em contraste com o desempenho do Brasil, a China, que é líder global na exportação de manufaturados, registrou avanço ininterrupto no ranking de complexidade entre 1995 e 2014, passando da 46ª para a 18ª posição, na qual se manteve em 2018, embora seu ICE tenha aumentado um pouco (1,29 em 2014 e 1,34 em 2018). Ou seja, enquanto em 1995 a China precisaria subir 21 posições para alcançar o Brasil, em 2018 era o Brasil que precisaria ascender 31 posições para alcançar a China.
Apesar de o ICE da China ter aumentado muito pouco no período em tela, o “espaço do produto”, elaborado a partir dos dados do Atlas da Complexidade, indica que a probabilidade de a China aumentar sua complexidade econômica nos próximos anos é bem mais alta do que a do Brasil.
E como evoluíram as exportações brasileiras e chinesas nos mercados de destaque para a indústria do Brasil (Mercosul, Aladi e Nafta)?
Entre 2014 e 2018, o estudo do IEDI mostra que a pauta de exportação brasileira em alguns casos se tornou um pouco mais complexa. Ao que tudo indica, num contexto de desaceleração econômica na América Latina e de baixo dinamismo econômico doméstico, o Brasil procurou se adaptar ao avanço da concorrência chinesa não somente aumentando as vendas externas de commodities (produtos de baixa complexidade), mas também de produtos da indústria de transformação com índices de complexidade relativamente mais elevados, sobretudo do setor automotivo (como “carros” e “peças para veículos”) e, em menor medida, do setor de máquina (como “bulldozers, angledozers, niveladores etc.” que passou a figurar na lista dos principais produtos exportados em 2018.).
Considerando as três regiões, essa estratégia teve maior sucesso no Mercosul. Embora o crescimento das vendas externas para essa região tenha sido de somente 2,4% (o menor entre essas regiões se excluirmos do total da Aladi a Venezuela – cuja crise econômica resultou num recuo de 87,5% das exportações brasileiras), o perfil da pauta para a Argentina melhorou, principalmente em função do aumento da participação de produtos do setor automotivo.
O acordo comercial entre Brasil e Argentina certamente contribuiu para esse desempenho, mas essa mesma evolução positiva ocorreu em países com os quais o Brasil não tem este tipo de acordo, como o Uruguai no Mercosul, e Chile, Colômbia e Peru na Aladi.
No caso da Aladi, quando se considera as mudanças de participação no total dos países entre 2014 e 2018, a tendência também foi de melhora no perfil da pauta brasileira, pois a participação da Venezuela (cuja pauta era a mais desfavorável em termos de complexidade nos dois anos) despencou de 28,5% em 2014 para 4% em 2018.
Em contrapartida, aumentou a participação da Colômbia e Peru, cujas pautas melhoraram no período analisado (em função, em grande medida, do aumento da participação de “carros”). O aumento da participação de produtos do setor químico (como polietileno, poliacetais e medicamentos), com ICPs um pouco mais elevados (numa faixa intermediária entre 0,50 e 1,00) também contribuiu para esse desempenho favorável.
Já no Nafta, o perfil das exportações em termos de complexidade, que já era baixo em função da pauta exportadora para os Estados Unidos e Canadá ser concentrada em commodities, se deteriorou ainda mais no período em tela. Isso porque, a pauta exportadora para o México, com maior participação do setor de máquinas e, sobretudo, veículos (associada ao acordo comercial no setor automotivo), se tornou menos complexa devido à perda de participação de “carros”.
Em contrapartida, nas vendas externas da China para o Nafta despontaram os produtos com maior complexidade dos setores de eletrônicos e máquinas para os três países da região, com uma tendência geral de melhora em termos de grau de complexidade.
Como os produtos produzidos pelos diversos países se alteram ao longo do tempo, os índices de complexidade do produto (ICP) também variam. Por exemplo, quando um produto passa a ser menos complexo, significa que mais países passaram a produzir aquele produto ou que os países exportadores do produto sofreram uma redução de sua complexidade econômica.
Essas mudanças também contribuíram para a melhora no desempenho das exportações brasileiras pelo critério da complexidade econômica já que o ICP de alguns produtos importantes na pauta brasileira para os países considerados (como “carros”), aumentou no período em tela. Ao mesmo tempo, o ICP de produtos dos setores de eletrônicos e máquinas com maior grau de complexidade (como “transmissores de TV e rádio” e “computadores”), com elevada participação nas exportações chinesas para as três regiões analisadas, sofreram redução no mesmo período.
Todavia, frente à concorrência da China (cujas exportações são mais diversificadas e com maior presença de produtos de ICP relativamente alto), os avanços do Brasil entre 2014 e 2018 permanecem limitados, ainda mais se considerarmos a importante influência dos fatores conjunturais mencionados anteriormente.
Os resultados desta Carta reforçam a visão do IEDI apresentada no documento “Por uma indústria padrão mundial”, em que argumenta que o Brasil deveria adotar uma estratégia industrial que fortalecesse a produção de bens mais complexos, associada a uma política de comércio exterior que estimulasse a exportação de produtos com ICP mais elevados. Nossas competências em setores como automotivo, de eletrônicos e de máquinas poderiam, assim, ser ampliadas em direção a bens similares aos que já produzimos, porém de maior complexidade.
Relações comerciais com os países do Mercosul, Aladi e Nafta, que importam do Brasil produtos manufaturados de maior complexidade econômica, permanecem estratégicas para o Brasil, embora o país deva estabelecer vínculos comerciais com o maior número possível de países.
Introdução
Embora a China tenha se tornado o principal mercado de destino de exportações brasileiras de commodities desde 2009, sua consolidação como produtora e exportadora de produtos manufaturados tem afetado negativamente a indústria brasileira por dois canais: a invasão de importados chineses no nosso mercado interno e o crescimento das exportações chinesas para as três principais regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados – Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (Estados Unidos, Canadá e México).
O presente estudo trata do tema da concorrência entre Brasil e China na exportação de manufaturados nessas regiões, compreendendo a versão mais atualizada do acompanhamento realizado pelo IEDI. Edições anteriores podem ser consultadas nas Cartas IEDI n. 590, 769, 826, 900 e 972.
As Cartas anteriores calcularam indicadores de dinamismo e de grau de ameaça para as exportações dos dois países (em termos agregados e setoriais) direcionadas para os mercados do Mercosul, Aladi e Nafta nos períodos 2008-2012, 2012-2015 e 2015-2017, respectivamente. Os resultados mostraram que a trajetória de aumento da concorrência das exportações chinesas logo após a crise financeira global e a tendência de aumento da especialização das exportações brasileiras em produtos pouco dinâmicos nessas três regiões perdeu intensidade a partir de 2015.
Contribuíram para este desempenho fatores externos e internos, dentre os quais a apreciação do renminbi, a depreciação do real, a recessão doméstica, a então vigência do Reintegra (instrumento de devolução ao exportador de impostos pagos e não ressarcidos no momento) e o maior dinamismo da economia mundial.
As Cartas n. 826 e n. 972, por sua vez, se debruçou sobre a complexidade econômica do total de produtos exportados pelo Brasil e pela China para essas três regiões (Mercosul, Aladi e Nafta). A presente Carta atualiza esta análise comparando as informações de 2014 e 2018, que é o último ano com dados disponíveis, decorrente de recente atualização.
A fonte de dados é o Atlas da Complexidade Econômica (http://atlas.cid.harvard.edu/), que reúne uma série de indicadores de complexidade dos bens exportados por diferentes países. Para obter os dados de complexidade por produto exportado para os países que integram essas regiões, as informações desse Atlas foram cruzadas com as informações de comércio por produto do Trademap, construído pelo Centro de Comércio Internacional (ITC) da UNCTAD/WTO.
O Atlas da Complexidade é resultado do trabalho dos economistas Ricardo Hausmman e César Hidalgo (respectivamente da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts-MIT dos Estados Unidos), que argumentam que a complexidade das exportações é determinante do crescimento econômico de longo prazo dos países. Isto porque, alguns conjuntos de produtos no núcleo do tecido produtivo são mais essenciais para dinamizar outras atividades produtivas, por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, sejam de oferta (porque reduzem custos produtivos e geram progresso técnico), sejam de demanda (porque criam e expandem mercados).
Em outras palavras, alguns setores produtivos estabelecem mais conexões com o restante das atividades econômicas. Neste grupo estão, principalmente, produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde. Já petróleo cru, algodão, arroz e soja tendem a ter menor conectividade e complexidade. Petróleo refinado, em contrapartida, é um dos produtos mais complexos, o que sinaliza que exportar recursos naturais não significa necessariamente uma baixa capacidade tecnológica. Sua transformação produtiva pode, na verdade, gerar bens de alto valor agregado.
O comércio exterior brasileiro e chinês por complexidade econômica
O comércio exterior brasileiro (bens e serviços) sofreu uma mudança significativa entre 2014 e 2018, passando de um déficit de US$ 52.163 milhões para um superávit de US$ 26.851 milhões. Contribui para esse resultado o recuo de 25,7% do déficit na balança de serviços, mas seu principal determinante foi a melhora do desempenho da balança de bens, que registrou um saldo positivo de US$ 62.585 milhões em 2018, contra um déficit de US$ 4.056 milhões em 2014.
Essa melhora decorreu, sobretudo, da recessão no biênio 2015-2016 e do baixo crescimento da economia brasileira nos dois anos subsequentes (como ressaltado em várias Cartas IEDI) e, em menor medida, da depreciação do real no período (18,5% em termos efetivos reais). A taxa de câmbio mais competitiva contribuiu para o avanço de 6,6% das exportações que, todavia, poderia ter sido mais expressivo num contexto de maior dinamismo da demanda externa e melhor desempenho dos preços das commodities exportadas pelo Brasil.
O impacto do baixo dinamismo doméstico fica evidente na forte retração das compras externas (22,6%), que são altamente pró-cíclicas em função do alto conteúdo importado da indústria brasileira. Já a corrente de comércio diminuiu 10%.
Considerando o desempenho por destino (somente disponível para a balança de bens), as importações recuaram de forma generalizada, mas em diferentes intensidades: a maior queda foi registrada no caso da Aladi (-29,8%), seguida pelo Mercosul (-22,6%), Nafta (-15,9%) e China (somente -5,6%).
Já no âmbito das exportações, o desempenho foi divergente: recuo somente para a Aladi (-12,1%) – em função do virtual colapso das exportações para a Venezuela, como detalhado abaixo – e crescimento de, respectivamente, 2,4%, 11,7% e 58,1% para o Mercosul, Nafta e China. A depreciação cambial no período pode ter favorecido esse crescimento no caso das duas primeiras regiões que importam, sobretudo, bens manufaturados do Brasil. Para a China, predominam as exportações de commodities, cujo desempenho é pouco afetado pela variação cambial.
A composição do saldo também se alterou de forma expressiva. Este se tornou positivo para todas as regiões, pois o déficit de mais de US$ 10 bilhões com o Nafta se converteu num superávit de US$ 482 milhões. Já o superávit com a China se tornou quase 9 vezes maior, como reflexo, sobretudo, do aumento das exportações e, em menor medida, da queda das importações, mencionados acima. No caso do Mercosul, mais do que duplicou. A menor alta foi registrada no saldo para a Aladi, mas também foi significativa (quase 50%).
Considerando a composição das exportações brasileiras, nota-se uma alta participação de produtos minerais e agrícolas, que representavam mais de 50% da pauta do país nos dois anos considerados (cada setor é representado por uma cor na figura a seguir).
Todavia, em 2018 houve uma pequena redução do peso da mineração e um suave aumento do setor agrícola. A maior mudança no período foi o aumento da participação dos veículos, de 5,84% para 8,34%. Já na pauta de exportação da China predominaram os produtos manufaturados mais elaborados, com destaque para máquinas e produtos eletrônicos, mas o peso do setor têxtil (de menor intensidade tecnológica) manteve-se elevado, embora tenha recuado em 2018 relativamente a 2014.
O Índice de Complexidade Econômica (ICE) do Atlas da Complexidade permite a análise das pautas exportadoras em termos da complexidade econômica dos países, que está relacionada à sofisticação de sua estrutura produtiva. Essa sofisticação, por sua vez, é medida a partir da combinação de informações sobre a diversidade da economia de um país no que diz respeito à quantidade e à ubiquidade dos produtos exportados, isto é, o número de países que exportam esses mesmos produtos.
De acordo com o indicador, economias sofisticadas seriam diversificadas e exportariam produtos com baixa ubiquidade, pois apenas poucos países produziriam esses produtos sofisticados. O contrário ocorreria para economias pouco sofisticadas.
De acordo com o ICE, os dois países mantiveram praticamente a mesma posição entre 2014 e 2018. O Brasil desceu uma posição (da 50ª para a 49ª), mas o ICE ficou estável (0,21), ou seja, a mudança foi reflexo do desempenho do ICE dos outros países. Na análise da evolução ao longo do tempo a partir de 1995, quando ocupava a 25a posição no ranking, o Brasil apresentou uma redução (piora) contínua até 2008, oscilando nas posições 48ª-50ª a partir de então.
No caso da China, apesar de ligeiras oscilações, houve avanço contínuo a partir de 1995, da 46ª posição para a 18ª em 2014, se mantendo estável a partir de então. O ICE também variou pouco entre os dois anos considerados (1,29 e 1,34, respectivamente). Ou seja, enquanto em 1995 a China precisaria subir 21 posições para alcançar o Brasil, em 2018 o Brasil precisaria ascender 31 posições para alcançar a China.
Os dados do Atlas da Complexidade também permitem a elaboração do “espaço do produto”, que pode ser utilizado para analisar a estrutura produtiva e contribui, ao lado do ICP, para a análise da complexidade econômica de um país e das suas exportações.
Esse “espaço” mostra os produtos com vantagem comparativa revelada (VCR) – representados pelos pontos coloridos na figura a seguir (como nos demais gráficos, cada cor refere-se a um setor de atividade) – ou seja, cuja participação nas exportações globais foi maior do que se esperaria dado o volume das exportações do país em questão e o tamanho do mercado global desses produtos.
Em 2017, a China tinha 377 produtos, mais do que o dobro do Brasil (138 produtos). Um maior número de produtos com VCR indica a maior competitividade do país, mas não necessariamente uma maior complexidade econômica, bem como o potencial de aumentar essa complexidade.
Para avaliar essas duas últimas características, o “espaço de produto” também inclui uma rede formada por pontos cinzas conectados (que formam uma nuvem na área de maior concentração de pontos). A ideia subjacente a essa rede é que novas capacidades serão adquiridas mais facilmente se forem combinadas com outras capacidades já existentes.
Por essa razão, os países, provavelmente, passam a produzir novos produtos que utilizam capacidades já disponíveis, ou seja, se tornam mais diversificados se começarem a produzir novos produtos similares aos que já produzem, sendo a similaridade calculada com base no conhecimento necessário para a produção de um produto.
Por exemplo, se o conhecimento para produzir camisetas for similar ao necessário para produzir camisas e diferente do necessário para produzir motores, então a probabilidade de um país que exporta camisetas também exportar camisas é maior do que a probabilidade de passar a produzir e exportar motores.
Assim, a probabilidade de que um par de produtos seja exportado pelo país sugere que esses produtos sejam similares. Essa ideia é utilizada para medir a proximidade entre pares de produtos. O conjunto de todas as proximidades forma uma “rede de espaço de produto”, que conecta pares de produtos que são altamente prováveis de serem exportados.
A rede de cada país se diferencia em função dos produtos produzidos, indicados pelos pontos coloridos, enquanto os não-produzidos pelo país estão em cor cinza. Cada cor corresponde a um setor (as mesmas utilizadas no gráfico das exportações acima). Além disso, os produtos mais sofisticados e de maior valor agregado se localizam no centro da rede, enquanto produtos de menor sofisticação e agregação de valor na sua periferia.
A estrutura do espaço do produto é importante pois ela indica a possibilidade de um país passar a produzir novos produtos, o que significa uma diversificação de sua pauta e de sua estrutura produtiva. Um espaço do produto altamente conectado (ou seja, com mais pontos coloridos e pontos da mesma cor, ou seja, mais setores e produtos do mesmo setor, respectivamente) sugere que é mais fácil para essa economia aumentar sua complexidade econômica, ampliando a quantidade de produtos produzidos e exportados.
Ao contrário, quando as conexões são dispersas, é mais difícil avançar na complexidade econômica do país. Assim, a probabilidade de a China aumentar sua complexidade econômica é mais alta do que a do Brasil, já que a China apresenta mais pontos coloridos na rede com produtos próximos (da mesma cor) e o Brasil apresenta uma rede bem mais dispersa com menos pontos, como indicado no gráfico abaixo.
Complexidade das Exportações Brasileiras e Chinesas para Mercados Selecionados
Esta seção analisa as exportações brasileiras e chinesas para os países do Mercosul, Aladi e Nafta, qualificando o tipo de produto exportado a partir do Índice de Complexidade do Produto (ICP). Esse índice mede a diversidade e a sofisticação do know-how produtivo necessário para produzir um bem, fornecido pelo Atlas da Complexidade.
O ICP é calculado com base em quantos países podem produzir o produto e a complexidade econômica desses países. Assim, o índice captura a quantidade e a sofisticação do know-how necessário para produzir o bem.
Os produtos mais complexos, que apenas poucos países de alta complexidade podem produzir, incluem maquinários sofisticados, eletrônicos e químicos. Já os produtos menos sofisticados, que a maior parte dos países produz, inclusive aqueles países com menor complexidade econômica, incluem matérias-primas e produtos agrícolas simples.
Como os produtos produzidos pelos diversos países se alteram ao longo do tempo, os índices de complexidade do produto também variam. Por exemplo, quando um produto passa a ser menos complexo, significa que mais países passaram a produzir aquele produto.
Como mencionado anteriormente, os dados foram obtidos a partir do cruzamento das informações de tipo de produto e ICP do Atlas da Complexidade com as informações de comércio por produto para diferentes países do Trademap.
Mercosul. As exportações brasileiras para o Mercosul aumentaram somente 2,4% entre 2014 e 2018, pois o crescimento das exportações para a Argentina e, principalmente, para o Uruguai foi tímido (respectivamente, 4,7% e 2,2%), enquanto as exportações para o Paraguai recuaram 7,8%. Com isso, a participação da Argentina no total das vendas externas brasileiras para o Mercosul avançou ligeiramente (de 69,9% em 2014 para 71,5% em 2018) e do Paraguai recuou de 15,6% para 14,1%. Já o Uruguai manteve a mesma participação (14,4%).
As exportações da China para o Mercosul (excluindo o Brasil) cresceram 5,4%, mas continuaram bem inferiores às provenientes do Brasil. Seu principal destino também foi a Argentina, cuja participação no total aumentou de 66,6% em 2014 para 69,2% em 2018, já que as vendas externas para esse país aumentaram 9,6%, enquanto aquelas direcionadas ao Uruguai recuaram 15,8%. Com isso, o Uruguai passou a responder por 17,0% do total dessas vendas em 2017 (contra 21,3% em 2014). Já as exportações chinesas para o Paraguai avançaram 19,7% (ao contrário do observado no caso do Brasil), resultando no aumento do seu peso no total no 12,1% para 13,7%.
Os principais produtos brasileiros exportados para a Argentina pertencem ao setor de veículos, cuja participação no total aumentou de 18,6% em 2014 para 25,53% em 2018, com um peso importante para “carros”, “peças e acessórios para veículos” e “caminhões e vans”.
Entre 2014 e 2018, aumentou a participação de “caminhões e vans” e, principalmente, de “carros”, em detrimento de “peças e acessórios para veículos” – que apresentam um IPC mais alto. Já os produtos que aumentaram de participação nas exportações têm ICP relativamente mais baixo (“carros” e, sobretudo, “caminhões e vans”), mas em ambos os casos o índice aumentou no período analisado.
Vale mencionar igualmente outra mudança positiva em termos do ICP: o minério-de-ferro (cujo ICP é negativo) deixou de figurar entre os cinco principais produtos brasileiros exportados para a Argentina, sendo substituído por “Tratores”, do setor de veículos cujo ICP é relativamente mais elevado. Assim, considerando os cinco produtos mais exportados, pode-se afirmar que a pauta brasileira para a Argentina se tornou mais complexa em 2018 em relação à 2014.
A pauta exportadora chinesa para a Argentina é bastante diferente da brasileira, sendo mais diversificada e com maior peso dos setores de eletrônicos, de máquinas e de químicos. Contudo, mudanças relevantes ocorreram entre 2014 e 2018 no que diz respeito aos principais produtos exportados.
Enquanto em 2014 os três principais produtos chineses exportados à Argentina, em ordem decrescente, foram “telefones”, “outros componentes org./inorgânicos” e “computadores, em 2018 foram partes de rádios, telefones e TVs”, “monitores de projetores” e “ar condicionado”, cujos IPCs são significativamente inferiores aos produtos que ocupavam a mesma posição em 2014. Somente os produtos que ocupavam a quarta e quinta posição tinham IPCs mais altos em 2018 relativamente à 2014.
Assim, a pauta exportadora chinesa para a Argentina sofreu uma piora em termos de complexidade no período em tela, movimento contrário ao observado no caso do Brasil.
No caso do Uruguai, como já destacado, as exportações brasileiras avançaram ligeiramente, enquanto as chinesas recuaram. A análise da pauta exportadora brasileira para esse país mostra uma pior composição em termos de ICP do que a pauta para a Argentina. Contudo, essa composição melhorou em 2018 comparativamente à 2014.
O peso das vendas de petróleo bruto, o principal produto brasileiro exportado ao Uruguai nos dois anos, aumentou um pouco, mas o seu IPC, embora tenha permanecido negativo, registrou uma ligeira melhora.
Contudo, a mudança mais significativa ocorreu na 2ª posição: carros (com IPC superior à unidade) subiram para a 2ª posição, substituindo “mate” (ICP também negativo). Outra mudança positiva foi o aumento do IPC de “caminhões e vans”, que reduziram sua participação, mas se mantiveram na 3ª posição em 2018.
Assim como no caso da Argentina, as exportações chinesas para o Uruguai são mais diversificadas do que as brasileiras, com peso significativo de produtos dos setores de eletrônicos e de máquinas com IPC relativamente alto.
Nesse caso, não é possível afirmar se houve melhora ou piora na sua composição entre 2014 e 2018 pela “dança das cadeiras” nas cinco primeiras posições – cujo peso no total varia num intervalo bem estreito, entre 3,22% e 4,99%.
A 1ª posição no ranking dos cinco produtos chineses mais exportados ao Uruguai passou a ser ocupada por “inseticidas, fungicidas, etc.” do setor químico, cujo IPC tornou-se positivo (0,0895 contra -0,0409 em 2014), mas muito inferior ao IPC de “computadores”, que ocupavam essa posição em 2014 (IPC de 0,824). A 3ª posição no ranking também piorou, pois “carros” foram substituídos por “brinquedos e jogos”, com menor IPC. Em contrapartida, as demais posições (2ª, 4ª e 5ª) melhoraram, já que produtos com IPCs maiores substituíram produtos com IPCs menores.
As exportações brasileiras para o Paraguai, que recuaram entre 2014 e 2018, são diversificadas, mas concentradas em produtos com baixo ICP. Considerando os cinco principais produtos, houve mudanças importantes entre 2014 e 2018, que resultaram numa pequena melhora em termos de ICP na comparação com 2014 em função, principalmente, do aumento da participação de “carros” do setor de veículos, que se tornou o 2º principal produto exportado. Contudo, o 1º lugar no ranking continuou ocupado por produto com ICP negativo, “fertilizantes diversos”, que era o 2º principal em 2014. Também houve melhora nas 3ª e 5ª posições.
Já no caso das exportações chinesas para o Paraguai, que aumentaram no período analisado, houve mudanças no ranking dos cinco produtos mais exportados, que sugerem uma deterioração em termos de grau de complexidade dos produtos. Apesar de “transmissores de TV e rádio” do setor de eletrônicos tenha sustentado a 1ª posição com um peso ligeiramente menor semelhante (mas com pequena melhora do IPC), nas demais posições houve piora. Enquanto em 2014 produtos mais elaborados do setor de máquinas (“computadores” e “jogos”) ocupavam os 2º e 3º lugares, em 2018 eles foram substituídos por produtos do setor químico, com ICPs menores. Na 4ª e 5ª posições também houve piora.
Em suma, no Mercosul, embora de forma geral a pauta de exportação chinesa para os três países da região tenha uma composição mais positiva em termos de complexidade de produto, essa composição piorou no período analisado quando consideramos o ranking dos cinco produtos mais exportados.
Em contrapartida, houve melhora do desempenho das exportações brasileiras por esse critério, em função, principalmente, das mudanças positivas na composição das exportações para a Argentina, que respondem por quase 70% do total do Mercosul e nas quais predominam produtos de ICP mais elevado na comparação com aquelas destinadas aos demais países da região. Ademais, a composição dessas exportações também melhorou no caso do Uruguai e Paraguai (embora nesse caso tenham recuado em termos de valor).
Aladi. As exportações brasileiras para a Aladi (Chile, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela e Equador) diminuíram 12,1% entre 2014 a 2018 em decorrência, sobretudo, da forte queda (-87,5%) das exportações para a Venezuela (associada à grave crise econômica neste país), que era o 2º principal destino em 2014, respondendo por 28,5% do total, percentual ligeiramente inferior ao registrado pelo Chile.
Em 2018, o Chile manteve-se como 1º país de destino na região, mas sua participação no total aumentou 10 pontos percentuais (para 44,7%) e a Colômbia passou a ocupar a 2ª posição, respondendo por 19,4% do total. As exportações brasileiras para a Bolívia também recuaram no período, mas em intensidade muito menor (cerca de 10%).
Ao contrário do Mercosul, para a Aladi as exportações chinesas são muito superiores às brasileiras e avançaram 4,6% (percentual menor do que o registrado para o Mercosul), sendo o Chile também o mercado mais importante, responsável por 41,3% do total em 2018. A única queda ocorreu igualmente nas vendas externas para a Venezuela (-79,7%).
Nas exportações brasileiras para o Chile, que registraram a maior taxa de crescimento na região (28,2%), predominaram nos dois anos “petróleo bruto”, com IPC negativo, mas sua participação no total recuou cerca de 12 pontos percentuais no período em tela, atingindo de 32% em 2018.
A segunda posição também não se alterou, sendo ocupada nos dois anos por “carne bovina”, produto também pouco elaborado, cuja participação no total aumentou ligeiramente, para 6% em 2018. Contudo, as demais posições no ranking dos 5 produtos mais exportados pelo Brasil para o Chile melhoraram em termos de complexidade, sendo ocupadas por produtos do setor de veículos (“carros”, “caminhões e vans” e “tratores” em 2018), que tem ICPs relativamente mais elevados e passaram a responder conjuntamente por 13,2% do total.
Já as exportações chinesas para o Chile que avançaram 22,3% (menos que as brasileiras), e têm expressiva participação do setor de vestuário, seguido pelos setores de eletrônicos e de máquinas. Contudo, considerando os principais produtos exportados em 2018, os destaques foram “transmissores de TV e rádio”, “computadores” e “ferro laminado plano” “, com ICP maior do que dos produtos do setor de vestuário. O único produto desse setor que figurou no ranking dos cinco principais produtos foi “suéters e similares” (cujo ICP é negativo), respondendo por menos de 2% total em 2018.
Em contrapartida, “laminados planos de outras ligas de aço”, cujo ICP é elevado (1,7) e ocupava a 5ª posição em 2014, perdeu participação e deixou de constar no ranking dos produtos mais exportados em 2018.
Assim, pode-se afirmar que a pauta de exportações da China para o Chile é mais diversificada que a do Brasil e com uma participação maior de produtos com grau de complexidade relativamente maior, mas considerando os cinco produtos mais exportados a desvantagem do Brasil diminuiu em 2018 comparativamente a 2014. Em contrapartida, a China passou a exportar produtos tradicionalmente exportados pelo Brasil, como “carros”.
No caso das exportações brasileiras para a Colômbia, que aumentaram 17,7% no período em tela (a 3ª maior taxa de crescimento no âmbito da Aladi), em 2018 os setores químico, de veículos, alimentos e máquinas foram os mais importantes da pauta. Assim como no caso das exportações brasileiras para os outros países analisados, os produtos principais apresentam um baixo ICP.
Na comparação de 2018 com 2014, uma mudança positiva foi o aumento da participação de “carros”, que se tornou o principal produto exportado com uma participação de 8,93% do total e ICP maior do que “hidrocarbonetos acíclicos”, que ocupava essa posição em 2014. Ademais, como o IPC de “carros” aumentou significativamente e “turbinas de gás” subiram para a 2ª posição, houve uma melhora no grau de complexidade das exportações quando se considera os dois produtos com maior participação na pauta. Na 4ª posição também houve melhora, enquanto as 3ª e 5ª posições passaram a ser ocupadas por produtos com menores IPC relativamente à 2014.
As exportações chinesas para a Colômbia, que cresceram bem menos que as brasileiras no período analisado (8,7%), seguiram o mesmo padrão observado nos demais países analisados, com uma alta presença dos setores de eletrônicos, de máquinas e de vestuário. Em 2018, o setor químico aumentou sua participação.
Considerando os produtos mais exportados pela China, pode-se afirmar que houve uma melhora em termos de complexidade entre 2014 e 2018. “Transmissores de TV e rádio” e “Computadores” permaneceram nas duas primeiras posições no ranking dos cinco produtos mais exportados e passaram a ter ICPs relativamente mais elevados na comparação de 2018 com 2014. A única piora nesse ranking ocorreu na 3ª posição, com a substituição de “telefones” (ICP de 1,02) por “pneus novos de borracha” (ICP de 0,436).
Nas exportações brasileiras para o Peru, que registraram a segunda maior taxa de crescimento entre os países da região no período analisado (18,8%), os setores de veículos, alimentos, químico, e metais apresentaram participação significativa. Na análise dos cinco produtos exportados, houve melhora nas três primeiras posições, que passaram a ser ocupadas, respectivamente, por “caminhões e vans”, “carros” e “papel para fins gráficos”. Já nas duas posições seguintes, houve piora em relação a 2014 na composição em termos de ICP.
As exportações chinesas para o Peru cresceram bem mais que as brasileiras (32,8%, a maior alta na região), sob liderança dos setores de eletrônicos, de máquinas, de têxteis e de metais. Considerando o ranking dos cinco principais produtos exportados, não houve mudanças nas duas primeiras posições, que continuaram sendo ocupadas, respectivamente, por “transmissores de TV e rádio” e “computadores” – cujos IPCs aumentaram entre os dois anos -, mas houve piora nas três posições seguintes, pois “telefones” (com IPC superior à unidade em 2014) deixou de figurar nesse ranking, sendo substituído na 3ª posição por “brinquedos e jogos” (IPC de 0,187 em 2018), e as duas posições seguintes passaram a ser ocupadas por produtos com IPC negativo.
Nas exportações brasileiras para a Bolívia (que recuaram no período, como já mencionado), os setores líderes em 2018 foram metais, alimentos, químico e, máquinas. Neste último caso, “barras de ferro” aparecem como o produto mais importante (8,35% do total em 2018), cujo ICP é negativo.
Assim como no comércio brasileiro com os demais países da Aladi, as principais exportações brasileiras para a Bolívia têm um ICP relativamente baixo. Além disso, sua composição deteriorou-se ainda mais no período analisado, pois “tratores”, que ocupava a 2ª posição em 2014 (IPC superior a 1) deixou de figurar na lista dos cinco principais produtos, sendo substituído por “preparação de alimentos” (IPC de 0,11). Houve melhora somente nas 4ª e 5ª posições.
Nas exportações chinesas para a Bolívia, os principais setores em 2018 foram automotivo, de máquinas, de eletrônicos e de químicos. Na comparação de 2018 com 2014, houve melhora nas duas primeiras posições, com “transmissores de TV e rádio” e “turbinas a vapor” (IPCs de, respectivamente, 0,674 e 0,945) substituindo “inseticidas e fungicidas” e “caminhões e vans”, com IPCs muito mais baixos. Outra melhora foi registrada na 4ª posição, com “carros” (IPC de 1,05) substituindo “outras aeronaves” (IPC de 0,268). Já as 3ª e 5ª posições registraram piora pelo menos critério.
As exportações brasileiras para a Venezuela, que sofreram forte retração (de quase 87,5%) em função da crise econômica nesse país (como já mencionado), têm uma pauta bem diferente das exportações para os demais países da Aladi, com uma alta presença do setor de alimentos, que tem uma participação de mais de 50% no total. Dos cinco principais produtos exportados pelo Brasil para a Venezuela em 2018, quatro tinham ICPs com índice negativo.
Já as exportações chinesas para a Venezuela têm uma participação mais alta de produtos manufaturados, com destaque para o setor de máquinas nos dois anos analisados, mas com predomínio de produtos com IPCs relativamente baixos no ranking dos cinco mais exportados.
Na comparação de 2018 com 2014, houve mudanças em todas posições desse ranking. “Aeronaves e espaçonaves” assumiram a 1ª posição, respondendo por 14,8% do total exportado – cujo IPC é baixo, mas superior ao de “ônibus”, que ocupava essa posição em 2014. Em relação dos demais produtos do ranking, também houve melhora nas 4ª e 5ª posições.
As exportações brasileiras para o Equador tinham uma participação alta dos setores químico, de metais, de máquinas e de alimentos em 2018. Na pauta dos cinco principais exportados, nos dois anos figuraram produtos com baixos IPCs, mas houve mudanças positivas e negativas entre 2014 e 2018.
Na 1ª posição, “polietileno” foi substituído por “ferro laminado” (com IPC relativamente mais alto). Já a 2ª posição registrou piora, pois “medicamentos”, que tinha o maior IPC dessa pauta em 2014, passou para a 5ª posição (e seu IPC aumentou em 2018 frente à 2014). Vale destacar que “medicamentos” não consta na pauta dos principais produtos dos outros países analisados.
Em contrapartida, a 4ª posição passou a ser ocupada por “bullzers, angledozers, niveladores, etc.” (que não constava nessa pauta em 2014), com IPC mais alto do que “estruturas de ferro ou aço”, que ocupava a mesma posição em 2014 (e também mais alto que os demais produtos da lista dos cinco mais exportados em 2014 e 2018).
No caso das exportações chinesas para o Equador, o setor de máquinas foi o mais importante (embora tenha perdido participação frente à 2014), seguido por metais e químicos em 2018. Na comparação com 214, o setor de eletrônicos, cujos produtos em geral têm IPC relativamente elevado, também perdeu participação.
Considerando os cinco produtos mais exportados, há uma melhora na 1ª posição com a substituição de “computadores” por “carros” (com IPC mais elevado), mas piora significativa na 2ª posição pois “aparelhos de transmissão para rádio” foram substituídos por “ferro laminado”, cujo ICP é negativo. Em contrapartida, houve melhora na 3ª posição com “aço laminado” (IPC de 1,83) substituindo “monitores e projetores” (IPC de 0,364). Já as 4ª e 5ª posições pioraram.
Em suma, na Aladi, as exportações brasileiras e chinesas não somente tiveram desempenho divergente em termos de valor exportado (redução de mais de 12% e alta de quase 5%, respectivamente), mas também se diferenciaram no que diz respeito à complexidade econômica.
De forma geral, a pauta brasileira para a região tem produtos de menor grau de elaboração do que a Chinesa. O pior perfil por esse critério foi observado nas exportações brasileiras para o Chile e Venezuela, com elevada participação de produtos primários (Petróleo bruto e alimentos), com ICPs não somente baixos, mas negativos.
Já nas pautas para os demais países da região a composição foi um pouco melhor devido à presença na lista de principais itens exportados de produtos dos setores de veículos (como carros, com IPC superior à unidade em 2018) e químico (como polietileno, poliacetais e medicamentos), com ICPs um pouco mais elevados, numa faixa intermediária entre 0,50 e 1,00.
Assim, quando se consideram as mudanças de participação no total dos países da Aladi entre 2014 e 2018, a tendência foi de melhora no perfil da pauta brasileira para a região, pois a participação da Venezuela (cuja pauta era a mais desfavorável em termos de complexidade nos dois anos) despencou de 28,5% em 2014 para 4% em 2018, enquanto a participação da Colômbia e Peru, cujas pautas melhoraram no período analisado (em função, em grande medida, do aumento da participação de “carros”) aumentou.
Já as exportações chinesas para a região são bem mais diversificadas, com maior presença de produtos dos setores de eletrônicos, seguido pelo de máquinas, incluindo um número maior (relativamente ao Brasil) de produtos com ICP relativamente alto (como “transmissores de TV e rádio” e “computadores”), mas nas pautas de alguns países também se destacam produtos com complexidade relativamente baixa dos setores de vestuário e calçados, químico e de metais.
Considerando as mudanças de participação dos países no total exportado para região, a forte redução da participação da Venezuela (de 15,4% para 3,0%) também contribuiu positivamente para o perfil da pauta exportadora chinesa para a região. Embora a pauta chinesa para esse país seja mais complexa que a brasileira, ela é menos complexa do que a pauta para os países cuja participação no total aumentou no período (Chile, Colômbia e Peru).
Nafta. As exportações brasileiras para o Nafta aumentaram 11,7% entre 2014 e 2018. As altas taxas de crescimento das vendas externas para o México e, sobretudo, Canadá (44,9% e 22,8%, respectivamente) não tiveram impacto significativo no desempenho agregado devido ao pequeno peso desses países no total exportado para essa região (7% e 11%, respectivamente). Já as vendas externas do Brasil para os Estados Unidos, que responderam por cerca de 80% no total nos dois anos considerados, aumentaram somente 7,3%.
Em contrapartida, as exportações chinesas aumentaram 21,8%, como resultado, sobretudo, do avanço de 20,8% das vendas para os Estados Unidos, que respondeu por cerca de 85% do total nos dois anos. As taxas de crescimento para os demais países também foram elevadas, mas as respectivas participações no total são ainda menores do que no caso do Brasil (6,4% e 7,9%, respectivamente).
A pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos sofreu pouca alteração entre 2014 e 2018. Os principais produtos brasileiros exportados para esse país, maior economia do mundo, tinham um índice de complexidade baixo e, em alguns casos, negativo, caso do produto com maior participação na pauta (Petróleo em bruto).
Já as exportações chinesas para os Estados Unidos têm uma maior sofisticação, com participação de produtos do setor de máquinas e de eletrônicos, mas também de têxteis, com menor IPCs. Na comparação de 2018 frente a 2014 dos cinco produtos mais exportados, embora produtos com baixo ICP (como “móveis” e “brinquedos e jogos”) tenham despontado nas 4ª e 5ª posições, houve melhora nas 2ª e 3ª posições, com “computadores” e “peças e acessórios para máquinas” substituindo produtos com IPCs relativamente mais baixos (respectivamente, “transmissores de TV e rádio” e “telefones). Já na 1ª posição houve piora, com “transmissores de TV e rádio” ocupando o lugar de “computadores.
As exportações brasileiras para o Canadá tinham uma participação bastante elevada de produtos com menor elaboração e IPCs negativos dos setores de metais e alimentos nos dois anos. “Óxido de alumínio” ocupou a 1ª posição nos dois anos, respondendo por quase 32% do total em 2018, seguido por “ouro”, “cana-de-açúcar e sacarose” e “produtos semi-acabados de ferro”, todos com IPCs negativos.
A única mudança positiva no período analisado ocorreu na 5ª posição do ranking dos produtos mais exportados, que passou a ser ocupada por um produto com IPC positivo do setor de máquina (“bulldozers, angledozers, niveladores etc.”) em 2018.
Já as exportações chinesas para o Canadá nos dois anos tinham como setores mais importantes o de eletrônicos e de máquinas com IPCs positivos com destaque para os seguintes produtos em 2018: “transmissores de TV e rádio” e “computadores”, com ICPs de valor intermediário; e “peças de veículos”, com ICP mais elevado. A única piora em relação à 2014 foi a perda de posição de “telefones”, que deixou de figura na lista dos cinco produtos mais exportados.
As exportações brasileiras para o México têm uma participação elevada do setor de máquinas e veículos, com produtos de maior complexidade (sobretudo “carros” e “peças para veículos”), ao contrário do observado nos demais países da região. Esse resultado está associado ao acordo comercial entre os dois países envolvendo este setor.
Contudo, considerando a lista dos cinco produtos mais exportados, houve piora em 2018 em comparação com 2014. “Carros” (cujo IPC aumentou no período em tela para 1,05) passou da 1ª posição em 2014 para a 5ª posição em 2018, enquanto “motores de ignição por faísca” (com IPC bem inferior, de 0,697) se tornou o produto mais exportado. O produto com maior IPC nos dois anos (“peças e veículos”) também perdeu participação no total, descendo uma posição para o 4ª lugar, com “aves” (IPC de somente 0,0418) passando para o 3º lugar. Já na 2ª posição houve melhora, com “motores de veículos” substituindo “hidrocarbonetos acíclicos”.
As exportações chinesas para o México têm um peso mais elevado de produtos do maior grau de complexidade, com destaque para “circuitos eletrônicos integrados” e “telefones” do setor de eletrônicos (em 1º e 2º lugares, respectivamente, na lista dos mais exportados). Produtos do setor de máquinas, com ICP alto ou intermediário também são relevantes, como “peças e acessórios para máquinas”. Embora “computadores”, com IPC relativamente elevado, deixaram de figurar nessa lista, houve melhora em todas as cinco primeiras posições em termos de complexidade.
Em suma, no caso do Nafta, as exportações brasileiras para os Estados Unidos e Canadá concentraram-se em commodities com índice de complexidade relativamente baixo, como “petróleo bruto”, “óxido de alumínio” e “cana de açúcar e sacarose” e “café”. Já a pauta para o México teve um maior grau de complexidade em função da alta participação de produtos do setor automobilístico, mas se deteriorou no período analisado.
Em contrapartida, nas vendas externas da China para essa região despontaram produtos com maior complexidade dos setores de eletrônicos e de máquinas para os três países da região, com uma tendência geral de melhora em termos de grau de complexidade.