Carta IEDI
Expansão interrompida
A primeira metade do ano se encerrou com a produção industrial estagnada e isso após dois meses seguidos de retração. As altas taxas de juros no país e o ambiente de incertezas, agravado pela errática imposição de tarifas de importação pelos EUA, erodiram os fatores de expansão da nossa indústria.
Na passagem de mai/25 para jun/25, a indústria registrou resultado de apenas +0,1%, já corrigidos os eventuais efeitos sazonais. Antes disso, o recuo havia sido de -0,6% tanto em abril como em maio. Na primeira metade do ano apenas mar/25 veio acompanhado de algum crescimento na série com ajuste +1,6%.
Desde o terceiro trimestre do ano passado que o setor praticamente não saiu do lugar, justamente o período em que a taxa básica de juros, a Selic, voltou a subir, saindo de 10,5% a.a. para 15% a.a. agora em meados de 2025.
Ainda na série com ajuste sazonal, a indústria registrou -0,1% no 4º trim/24, +0,2% no 1º trim/25 e +0,1% no 2º trim/25, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Ou seja, não há dúvidas a respeito do minguado dinamismo do setor.
No contraste interanual, com a ajuda das bases de comparação, as variações são mais positivas, mas ainda assim a desaceleração é evidente: +3,9% no 3º trim/24; +3,1% no 4º trim/24; +2,1% no 1º trim/25 e +0,5% no 2º trim/25.
Este último resultado trimestral de +0,5% é a mais baixo desde meados de 2023, quando a produção industrial registrou -0,1% na comparação interanual. Em jun/25, o resultado chegou a ser negativo: -1,3% ante jun/24. Muito disso está concentrado na indústria de transformação, cuja produção caiu -0,7% no 2º trim/25 e -2,2% em junho último.
Dois macrossetores ficaram no vermelho no 2º trim/25: bens de consumo semi e não duráveis, com -5,9%, devido a combustíveis (-20,9%), farmacêutica (-6,1%) e têxteis (-6,7%), e bens de capital, com -1,2%, devido a bens de capital para energia (-0,2%), construção (-4,3%) e transporte (-4,9%).
Bens de consumo duráveis, que vinham apresentando um forte crescimento desde o 2º trim/24, teve importante moderação, passando de +11,4% em jan-mar/25 para +5,5% em abr-jun/25, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. Por sua vez, a produção de bens intermediários, em boa medida devido à cadeia automobilística, mostrou-se resiliente, retomando o padrão de crescimento de +3% no 3º trim/25.
Dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE, 40% recuaram no 2º trim/25 no contraste com igual período de 2024 e 28% desaceleraram em comparação com o resultado do primeiro trimestre do ano. Ou seja, para uma parcela majoritária de 68% os indícios não são bons.
Regionalmente, metade dos 18 parques industriais acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho e dos que cresceram outros três perderam ritmo, somando 67% das indústria locais com o pé no freio. Vale observar ainda que 1/3 dos parques indústria não só caíram no 2º trim/25 como também tinham ficado no negativo no 1º trim/25.
A indústria paulista, que é das mais diversificadas do país, amargou queda de -5,0% em abr-jun/25: seu pior resultado desde o 4º trim/2021. Influenciaram muito para isso alguns de seus ramos, como o extrativo (-22,5%), alimentos (-10,8%) e biocombustíveis e derivados de petróleo (-7,4%), mas também farmacêutica e farmoquímicos (-33,4%) e máquinas e equipamentos elétricos (-8,3%). Ao todo 61% de seus ramos ficaram no vermelho.
No início do segundo semestre, o quadro continuou restringido, segundo os indicadores de confiança, que pioraram em jul/25. O tarifaço sobre exportações brasileiras para os EUA e as dúvidas sobre a amplitude das suas implicações dificultam ainda mais uma reversão da desaceleração recente da nossa indústria.
Resultados da Indústria
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial brasileira teve crescimento de apenas +0,1% em jun/25 frente ao mês anterior na série com ajuste sazonal, interrompendo dois meses consecutivos de queda na produção, período em que acumulou perda de -1,2%.
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com jun/24, o total da indústria decresceu -1,3%, após avançar +3,3% em mai/25. Cabe destacar que não houve influência de efeito calendário, já que jun/25 teve o mesmo número de dias úteis de jun/24 (20).
No acumulado do primeiro semestre de 2025, o índice da produção da indústria apontou crescimento de +1,2% em relação a jan-jun/24. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, avançou +2,4% em jun/25, assinalando perda de ritmo frente ao resultado do mês anterior (+2,8%).
A variação de +0,1% da atividade industrial na passagem de mai/25 para jun/25 na série com ajuste sazonal foi impulsionado pelos resultados positivos em dois dos quatro macrossetores. Bens de capital (+1,2%) e bens de consumo duráveis (+0,2%) assinalaram as taxas positivas, com ambas voltando a crescer após recuarem no mês anterior (-1,6% e -3,3%, respectivamente). Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (-1,2%) e de bens intermediários (-0,1%) recuaram no mesmo período, com o primeiro marcando o terceiro mês seguido de queda na produção; e o segundo repetindo a magnitude de perda verificada no mês imediatamente anterior.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o decréscimo de -1,3% da indústria total em jun/25 foi puxado por dois dos quatro macrossetores. Bens de consumo semi e não duráveis (-8,8%) e bens de capital (-1,2%) assinalaram as taxas negativas, acompanhando o movimento registrado pelo total da indústria. Por outro lado, os setores produtores de bens intermediários (+1,7%) e de bens de consumo duráveis (+0,2%) observaram maior produção na comparação entre jun/25 e jun/24.
O macrossetor produtor de bens de consumo semi e não duráveis recuou -8,8% em jun/25 frente a jun/24, terceiro mês consecutivo de queda na produção. O desempenho foi explicado pelo recuo observado no grupamento de carburantes (-27,6%), de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-3,2%), de não duráveis (-4,3%) e de semiduráveis (-2,1%). Por outro lado, o único impacto positivo foi assinalado pelo subsetor de alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+30,0%).
O macrossetor de bens de capital recuou -1,2%, voltando a mostrar resultado negativo após crescer no mês anterior (+1,4%). Em jun/25, o segmento foi influenciado pelos recuos observados nos grupamentos de bens de capital de uso misto (-6,4%), para fins industriais (-0,8%), para equipamentos de transporte (-0,6%) e para construção (-1,2%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital agrícolas (+2,4%) e para energia elétrica (+1,6%) assinalaram os impactos positivos.
Ainda na comparação com jun/24, os bens intermediários tiveram expansão de +1,7%, quarta taxa positiva consecutiva. O avanço do índice desse mês foi explicado pelo aumento da produção nos produtos associados às atividades de indústrias extrativas (+3,8%), metalurgia (+4,0%), produtos têxteis (+13,8%), produtos químicos (+3,2%), produtos de borracha e de material plástico (+5,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,3%), enquanto as pressões negativas foram registradas por produtos alimentícios (-5,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,2%), celulose, papel e produtos de papel (-2,0%) e produtos de minerais não metálicos (-1,0%).
O setor de bens de consumo duráveis cresceu +0,2% em jun/25 frente a igual período do ano anterior e marcou a décima terceira taxa positiva consecutiva. O setor foi impulsionado pela maior fabricação de motocicletas (+45,8%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+0,7%). Por outro lado, os principais impactos negativos foram assinalados por eletrodomésticos da “linha branca” (-16,4%) e automóveis (-2,1%).
Em bases trimestrais, o setor industrial assinalou expansão de +0,5% no período abr-jun/25, reduzindo o ritmo frente aos resultados do 1º trim/25 (2,1%), do 4ºtrim/24 (+3,1%) e 3º trim/24 (+3,9%), todas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de menor dinamismo foi verificado em três dos macrossetores: bens de consumo semi e não duráveis (de +1,3% para -5,9%), bens de consumo duráveis (de +11,4% para +5,5%) e bens de capital (de +4,5% para -1,2%), enquanto o segmento de bens intermediários (de +1,3% para +3,0%) foi o único que apontou ganho de ritmo.
Dessa forma, a indústria avança +1,2% no acumulado do primeiro semestre de 2025, mostrando maior dinamismo na produção de bens de consumo duráveis (+8,3%), impulsionada, em grande medida, pela maior produção de automóveis (+9,2%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+8,7%). Os setores produtores de bens intermediários (+2,2%) e de bens de capital (+1,5%) também assinalaram taxas positivas no índice acumulado do de 2025 até junho. Por outro lado, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis, ao recuar -2,6%, registrou a única taxa negativa no fechamento do primeiro semestre do ano.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou pequena variação positiva (+0,1%) em jun/25 frente a mai/25 na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em jun/25 a indústria de transformação puxou o resultado para cima, avançando +0,2% nesta comparação, enquanto a produção da indústria extrativa recuou -1,9%.
Na comparação com jun/24, a queda de -1,3% da indústria geral foi puxada pela indústria de transformação, que decresceu -2,2%, enquanto o ramo extrativo apontou crescimento de +3,8%. No acumulado de 2025 até junho, o resultado de +1,2% na indústria geral, deveu-se tanto pelo desempenho da indústria de transformação (+0,9%), quanto pelo ramo extrativo (+3,2%).
No resultado frente a mai/25, com ajuste sazonal, observou-se um perfil disseminado de taxas positivas, alcançando 17 dos 25 ramos industriais pesquisados. Entre as atividades, a influência positiva mais importante foi assinalada por veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,4%), seguida por metalurgia (+1,4%), celulose, papel e produtos de papel (+1,6%), produtos de borracha e de material plástico (+1,4%), outros equipamentos de transporte (+3,2%), produtos químicos (+0,6%), e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+1,7%).
Por outro lado, entre as atividades da indústria de transformação que mostraram recuo na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,3%) e produtos alimentícios (-1,9%) exerceram os principais impactos.
Na comparação com o mesmo mês de 2024, o setor industrial assinalou retração de -1,3% em jun/25, com resultados negativos em 12 dos 25 ramos, 37 dos 80 grupos e 48,2% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências na indústria de transformação foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-13,2%), produtos alimentícios (-3,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,4%), bebidas (-5,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,0%) e celulose, papel e produtos de papel (-1,8%).
Por outro lado, entre as atividades que tiveram expansão na produção, manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+14,2%), metalurgia (+4,0%), produtos de borracha e de material plástico (+5,0%), produtos químicos (+1,9%) e produtos têxteis (+9,4%), entre outras, foram os destaques positivos.
No acumulado de jan-jun/25, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +1,2%, com aumento de produção em 18 dos 25 ramos, 52 dos 80 grupos e 55,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas no total da indústria foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+5,7%), máquinas e equipamentos (+8,5%), produtos químicos (+4,1%) e metalurgia (+4,7%).
Outras contribuições positivas importantes foram assinaladas pelos ramos de produtos têxteis (+11,4%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+9,6%), produtos de borracha e de material plástico (+2,1%) e produtos de metal (+1,9%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-jun/24, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,1%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, principalmente, pela menor produção de álcool etílico e de óleo diesel.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou positivamente +0,2 ponto percentual na passagem de mai/25 (83,7%) para jun/25, quando registrou valor de 83,9%. Em jul/25, a capacidade instalada caiu -1,4 p.p., chegando a 82,5%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada ficou praticamente estável, com alta de apenas +0,1 p.p. entre maio e junho de 2025 (%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação entre jun/24 e jun/25, essa variável registrou decréscimo de -0,4 pontos percentuais.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,6 pontos em jun/25, decrescendo -0,8 ponto frente a mai/25.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 50,6 pontos em mai/25 para 49,7 pontos em jun/25. A indústria extrativa assinalou significativa alta nos níveis dos estoques, visto que foi de 44,2 pontos em mai/25 para 48,3 pontos em jun/25.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques cresceu de 50,5 pontos em mai/25 para 49,7 pontos em jun/25, sinalizando que os estoques estão menores que o desejado. Cabe lembrar que o nível de equilíbrio é de 50,0 pontos, visto que acima desse valor há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. Nos casos do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 52,0 pontos e 49,7 pontos, respectivamente.
Em jun/25, 28% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), enquanto no mês anterior foi de 32%. Entre os ramos acima de 50 pontos em jun/25 destacaram-se: Limpeza e Perfumaria (52,6 pontos), couros (52,6 pontos), químicos (51,9 pontos), celulose e papel (51,4 pontos), vestuário (51,3 pontos) e alimentos (51,2 pontos).
Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: biocombustíveis (42,2 pontos), impressão e reprodução (42,3 pontos), madeira (43,0 pontos), produtos diversos (44,8 pontos) e borracha (45,3 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 47,7 pontos em jul/25, recuando 1,2 p.p. frente a jun/25. Na passagem de jun/25 para jul/25, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 51,4 para 50,3 pontos, e dessa forma, manteve-se na zona de otimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios, por sua vez, decresceu -1,6 p.p., mantendo-se na região pessimista (42,3 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV caiu -2,0 p.p na passagem de jun/25 para jul/25, registrando 94,8 pontos, ficando ainda na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de jul/25 foi influenciado pela queda do seu componente referente às avaliações do futuro, que passou de 96,5 pontos em jun/25 para 92,5 pontos em jul/25, sendo que o índice da situação atual foi de 97,0 pontos em jun/25 para 97,3 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jun/25, ficou em 48,3 pontos, recuando para 48,2 pontos em jul/25, o terceiro resultado consecutivo abaixo da marca de 50 pontos, indicando piora do quadro de negócios do setor.