Carta IEDI
Sem ânimo
A economia brasileira vai completando sem ânimo a primeira metade de 2019. Neste sentido, o desempenho dos grandes setores no mês de maio é enfático: tanto a indústria como o comércio e os serviços não saíram do lugar em relação a abril, já descontadas as eventuais sazonalidades.
Nos serviços, que há pouquíssimo tempo começou a dar sinais de recuperação, o quadro é exatamente este, de paralisia: 0% na passagem de abril para maio. O comércio varejista foi o único a conseguir ficar na região positiva: +0,2% e isso somente se forem incluídas as vendas de veículos, autopeças e material de construção, pois em seu conceito restrito o resultado foi de -0,1%. Já a indústria renovou suas perdas e foi quem pior se saiu: -0,2%.
Tais variações sinalizam para um esgotamento do crescimento econômico, caso seja mantida a presente marcha da atividade econômica ou que as mudanças nas expectativas da provável aprovação da reforma da providência não sejam suficientes para mudar o quadro atual, a recuperação da economia será modesta em 2019, aproximando-se de uma quase estagnação.
O ritmo de crescimento dos principais setores da economia no agregado destes cinco primeiros meses do ano aponta para isso ao estar pouca coisa acima da mera estabilidade (0%). A indústria permanece no vermelho: -0,7% em jan-mai/19 frente a igual período do ano anterior. As vendas reais do varejo encontram-se no mesmo nível, mas do lado positivo: +0,7%. O quadro só melhora se for considerado seu conceito ampliado (+3,3%), devido a bases muito baixas de comparação tanto no segmento de veículos como no de material de construção.
Nos casos tanto da indústria como do varejo é patente a deterioração das trajetórias. Isso porque um ano atrás, isto é, em jan-mai/18, a indústria crescia 2%, puxada por um forte dinamismo em bens de consumo duráveis (+13,9%) e bens de capital (+9,6%) e tendo como eixo a expansão da produção de São Paulo (+4,8%), o maior e mais completo parque industrial do país. Agora em jan-mai/19, bens de consumo duráveis e de capital crescem apenas +3,3% e +1,9%, respectivamente, e indústria paulista quase não se move (+0,5%)
O varejo, por sua vez, avançava a uma taxa cinco vezes maior do que a atual em seu conceito restrito (+3,2%) e ao dobro da velocidade em seu conceito ampliado (+6,4%). As vendas aumentavam a uma intensidade muito mais forte no segmento de supermercados, alimentos e bebidas (+5,6% em jan-mai/18 contra -0,5% em jan-mai/19), mas também em eletrodomésticos (+4% e -1,5%, respectivamente) e em veículos e autopeças (+17,8% contra +10,6%)
Já o faturamento real do setor de serviços acumula alta de +1,4% nos cinco meses de 2019 cobertos por dados oficiais. É o único setor que melhorou sua situação em relação a jan-mai/18 (-1,3%), mas isso porque só recentemente conseguiu estancar suas perdas. Mesmo assim, o início do presente ano sinalizava um ritmo de recuperação superior (+2,9% no 1º bim/19) que começou a enfraquecer à medida que o semestre foi avançando.
Dois segmentos muito associados ao ritmo geral de atividade econômica têm restringido uma reação mais expressiva do setor de serviços. São os casos dos serviços de transporte, seus auxiliares e correios (-0,9% em jan-mai/19), bem como os serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,2%), que são geralmente demandados pelas empresas. Devido a seu forte potencial empregador, sem uma dinamização maior dos serviços dificilmente o desemprego recuará significativamente dos níveis recordes em que se encontra atualmente.
Indústria
Em maio de 2019, a produção da indústria encolheu -0,2% em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, devido a contribuições negativas em 70% de seus ramos e 53% das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE.
O resultado de maio foi a terceira taxa negativa da série com ajuste sazonal, mantendo o padrão de variações muito próximas a zero, que tem caracterizado o presente ano. Isso indica que não há nenhum movimento que possa levantar a indústria do tombo que levou com a entrada do ano.
O desempenho acumulado nos cinco meses de 2019 frente ao mesmo período do ano anterior permanece negativo, em -0,7%, e só não foi pior devido à base de comparação interanual muito baixa para o mês de mai/19, que permitiu uma variação de +7,1%. Cabe lembrar que as últimas semanas de maio de 2018 foram marcadas pela greve dos caminhoneiros, que bloqueou o fluxo de mercadorias e perturbou a linha de produção de muitas empresas.
Do ponto de vista dos macrossetores industriais, apenas bens intermediários acumulam perdas em jan-mai/19 (+2%), refletindo em boa medida os efeitos do desastre de Brumadinho sobre o desempenho dos ramos extrativistas. Além disso, dois dos demais macrossetores no azul viram redução de suas taxas de crescimento em comparação com jan-mai/18. Bens de capital passou de +9,6% para +1,9%; bens de consumo duráveis, de +13,9% para +3,3%. Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, avaçaram de -0,4% em jan-mai/18 para +1,2% em jan-mai/19.
Regionalmente, entre os que não se saíram bem na passagem de abril para maio, estão estados de norte a sul do país, como a região Nordeste como um todo (-0,9%), Mato Grosso (-0,7%), Minas Gerais (-1,0%) e Rio Grande do Sul (-1,4%), mas a virtual estabilidade de São Paulo, que é o maior e mais completo parque industrial do país, é quem deu o tom ao agregado nacional da indústria. Sua produção variou apenas +0,1%, já descontados os efeitos sazonais.
De fato, São Paulo vem apresentando uma fase de baixo dinamismo depois de uma sequência de resultados negativos desde meados de 2018. Esta evolução, que foi decisiva para jogar o total Brasil em uma nova fase recessiva desde o final do ano passado, mas agora vem ajudando a amenizar suas perdas. Por enquanto, contudo, sua contribuição é mínima e não está sendo suficiente para restabelecer plenamente o crescimento da indústria nacional.
No acumulado de janeiro a maio de 2019, frente ao mesmo período do ano anterior, enquanto São Paulo registra +0,5%, o total Brasil ainda está com -0,7% de retração. A atual contribuição paulista se mostra bastante restringida, se comparada ao que ocorria nos primeiros cinco meses de 2018.
Ou seja, se São Paulo não é mais um obstáculo importante, tampouco é uma fonte de dinamismo industrial. Estivesse a indústria paulista com um ritmo de crescimento superior, o total nacional do setor já poderia ter se restabelecido do período recessivo, mesmo que sua expansão viesse a ser bastante modesta.
A fraqueza de São Paulo se deve ao fato de que praticamente metade dos ramos da indústria paulista não vem conseguindo aumentar produção nestes cinco meses de 2019. As maiores perdas no acumulado jan-mai/19 cabem a produtos de limpeza, cosméticos e perfumaria (-5,4%), farmoquímicos e farmacêuticos (-4,1%), informática e eletroeletrônicos (-1,3%) e borracha e plástico (-1,3%). Todos estes ramos registraram taxas positivas em jan-mai/18.
Ao lado de São Paulo, os estados da região Sul também contribuem positivamente para o crescimento industrial. Neste caso, porém, a taxas bastante superiores. Em jan-mai/19, a alta chega a dois dígitos no Paraná (+10,4%), seguida por Rio Grande do Sul (-8,9%) e Santa Catarina (+6,1%). Estes estados são os que vem apresentando trajetórias mais consistentes de recuperação.
Em contrapartida, a maioria das demais localidades permanece no vermelho, como o Nordeste como um todo, que não saiu do lugar em relação a um ano atrás, ao registrar -1,5% tanto em jan-mai/18 como em jan-mai/19, enquanto o Amazonas reverteu uma alta de +17,2% em uma retração de -1,8% neste mesmo período. Pará e Rio de Janeiro também cresciam em jan-mai/18 e agora perdem produção.
Em um quadro ainda mais grave, pois já estavam no vermelho no acumulado dos cinco primeiros meses do ano passado e aprofundaram ainda mais suas quedas em jan-mai/19, estão Minas Gerais, Espírito Santo e Mato Grosso.
Comércio
Não foi apenas a indústria que parou de crescer nos últimos meses. Um quadro de letargia também caracteriza o desempenho das vendas do comércio varejista, muito prejudicadas pelo desemprego em um dos patamares mais elevados da história recente do país e pelas condições de crédito às famílias que deixou de apresentar melhoras adicionais.
Em maio último, as vendas reais do varejo restrito ficaram no negativo, registrando -0,1% frente ao mês anterior já descontados os efeitos sazonais. Variações muito próximas da estagnação (isto é, de 0%) é o que tem marcado a sequência de resultados deste o início do ano. Deste modo, o nível de vendas de maio é virtualmente o mesmo daquele de dezembro de 2018 (+0,1%). Em outras palavras, a recuperação do varejo, assim como a da indústria, vai ficando cada vez mais rarefeita.
Tomado em seu conceito ampliado, isto é, considerando as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o varejo apresenta um quadro menos intenso de prostração, mas que tampouco ajuda muito a superar as grandes perdas sofridas nos últimos anos de crise. Na passagem de abril para maio, já descontada a sazonalidade, o resultado foi de apenas +0,2%, pela segunda vez consecutiva.
Assim, mesmo com algum atraso, o varejo ampliado também oscila em torno da estabilidade no fim do primeiro semestre de 2019. Seu nível de vendas encontra-se 2,3% acima do de dezembro do ano passado, devido sobretudo aos meses de janeiro e março. O que tem causado esta trajetória é o desempenho com forte oscilação de um mês para outro do segmento de automóveis, para quem as altas, ao menos, têm sido mais expressivas do que as quedas.
À medida que os meses passam, a continuidade destes resultados fracos vai dando o tom de 2019 que, na sua primeira metade, tem sido claramente de involução. O caso ainda não é de retorno ao negativo no acumulado do ano, como ocorre na indústria, mas a direção não é nenhum pouco favorável.
Em janeiro-maio de 2019, frente a igual período do ano anterior, as vendas reais do varejo cresceram apenas +0,7%, o que representa cerca de 1/5 do crescimento de jan-mai/18 (+3,2%). Em seu conceito ampliado, o diferencial é de quase metade, graças a bases muito baixas de comparação: +3,3% em jan-mai/19 e +6,4% em jan-mai/18.
No vermelho, estão segmentos como supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,5% em jan-mai/19), cujas vendas foram influenciadas negativamente por um ritmo inferior de crescimento da massa de rendimento das famílias e pela inflação de alimentos em domicilio correndo acima do IPCA geral, mas também combustíveis e lubrificantes (-0,3%), tecidos, vestuário e calçados (-0,2%), eletrodomésticos (-1,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-27,1%), que passa por transformações estruturais com o avanço da digitalização.
Em crescimento, por vezes em ritmo razoável, estão aqueles segmentos cujas vendas estiveram dentre as que mais recuaram na crise e que, por isso, apresentam hoje muito espaço para recomposição. É o caso de veículos e autopeças (+10,6% em jan-mai/19), mas que ainda assim não deixou de apresentar redução de sua taxa de crescimento em relação ao acumulado dos primeiros cinco meses de 2018 (+17,8%).
Outros setores em alta em 2019 até o mês de maio foram material de construção (+5,3%) e equipamentos e material de escritório, informática e comunicação (2%), cujos avanços adicionais frente ao resultado de jan-mai/18 existem, mas não são intensos. Já bens outros bens de consumo pessoal e doméstico (+5,5%), que incluem as lojas de departamento, crescem menos do que no início do ano passado.
Serviços
O quadro de paralisia foi generalizado em maio de 2019. Assim como a indústria (-0,2%) e o varejo ampliado (+0,2%), o desempenho do setor de serviços não saiu do lugar em relação a abril, já descontados os efeitos sazonais. Seu faturamento real registrou 0%, fazendo com que seu nível permanecesse -1,1% inferior ao do último mês de 2018.
Se a ausência de crescimento é grave para os demais setores da economia, notadamente para a indústria, cujas perdas na crise foram intensas, é também para os serviços, que só há pouquíssimo tempo começou a dar os primeiros passos no caminho da recuperação. Devido a seu forte potencial empregador, sem uma dinamização maior do setor dificilmente o desemprego sairá dos níveis recordes em que se encontra atualmente.
Os primeiros meses de 2019 traziam a esperança de termos uma reação mais satisfatória do agregado dos serviços, mas à medida que o semestre vem passando tem ocorrido uma acomodação do seu ritmo de crescimento. Embora pareça ter deixado para trás a fase de declínio, a realidade atual do setor é de crescimento modesto.
A taxa de +2,9% apresentada no acumulado do primeiro bimestre de 2019 caiu para apenas +1,4% em jan-mai/19. Embora este resultado nos primeiros cinco meses de 2019 seja diametralmente oposto à queda de -1,3% de jan-mai/18, ele ainda é restringido pelo desempenho de dois importantes segmentos, cujo comportamento costuma refletir de perto o nível geral da atividade econômica.
São os casos dos serviços de transporte, seus auxiliares e correios, bem como os serviços profissionais, administrativos e complementares, que são geralmente demandados pelas empresas. Estes são os dois únicos segmentos de serviços ainda no vermelho.
No caso dos transportes, o declínio é mais intenso em seu componente de transporte aéreo (-3,5% em jan-mai/19), mas que passou a ser acompanhado mais recentemente pelo recuo do faturamento real também do ramo de transportes terrestres (-2,4% no trimestre mar-mai/19), decorrente da perda de força da recuperação econômica dos últimos meses. Com isso o desempenho de jan-mai/19 é pior do que de igual período de 2018.
Já em relação aos serviços profissionais, administrativos e complementares, depois de perdas sucessivas de faturamento desde início de 2015, os resultados permanecem negativos no acumulado de 2019 até o mês de maio, mas ao menos vêm se aproximando da estabilidade. A queda de -1,8% em jan-mai/18 se reduziu para apenas -0,2% em jan-mai/19.
Todos os outros três segmentos de serviços identificados pelo IBGE (informação e comunicação; serviços prestados às famílias; e outros serviços), assim como o agregado especial de serviços de turismo, encontram-se em um quadro melhor do que estavam um ano atrás.
A sequência de resultados positivos mais consistente cabe aos serviços prestados às famílias (+4,7% em jan-mai/19), tanto em função dos serviços de alojamento e alimentação como de outros serviços. Como compreendem muitas atividades informais, o desempenho desta fração do setor de serviços está associado à criação de postos de trabalho sem carteira assinada ou por conta própria, que tem marcado a melhora do quadro do emprego desde o início da recuperação da economia.