IEDI na Imprensa - Alta dos preços impulsiona exportação
Valor Econômico
Recuperação da cotação de commodities como minério de ferro ajuda nas vendas ao exterior
Mariana Ribeiro e Marta Watanabe
Os dois primeiros meses do ano mantêm a expectativa de analistas de uma balança comercial em 2021 com exportações puxadas por preços de commodities e uma retomada de importações, embora haja incerteza sobre ritmo de recuperação da atividade e sobre a evolução do câmbio.
No primeiro bimestre a balança comercial acumulou pequeno superávit de US$ 27 milhões, resultado de US$ 30,99 bilhões em exportações e US$ 30,96 bilhões em importações, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. O saldo positivo do período, bem menor que o de US$ 638 milhões de iguais meses de 2020, é atribuído tanto ao atraso na safra da soja, cujos embarques devem deslanchar a partir de março, quanto à reação das importações.
Os meses de janeiro e fevereiro são insuficientes para traçar tendência do ano, mas nada parece indicar mudança no cenário esperado, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A entidade mantém projeção de alta de exportação de 14% puxada principalmente por preços. As importações, diz, num reflexo de lenta retomada da economia, devem crescer em ritmo menor, de 6%.
Nas exportações, os preços já mostram que devem fazer diferença, diz Castro. A tonelada de minério de ferro subiu de US$ 68,2 para US$ 119,8 de fevereiro de 2020 para igual mês deste ano, segundo dados da Secex. O desmembramento de volumes e preços deixa mais claro que os preços têm comandado a alta das exportações, avalia. Enquanto a quantidade embarcada caiu 5% em fevereiro, os preços médios subiram em dólar 9,2%, o que permitiu alta de 3,9% no valor exportado total. No primeiro bimestre o valor embarcado total avançou 8,5%.
Nos próximos meses, as exportações devem continuar beneficiadas pela retomada global e pelos altos preços das commodities, aponta o economista Silvio Campos Neto em nota da Tendências Consultoria. Nesse sentido, destaca-se a expectativa positiva para os embarques de minério de ferro, com projeção de alta de 39,5% em dólares ante 2020, e para a soja. Os embarques do grão, aponta, estão avançando, mas seguem comprometidos pelo atraso da colheita da safra 2020/21. O valor exportado em soja recuou 33,1% em fevereiro, contra igual mês de 2020.
Já as importações, diz Campos Neto, devem ser favorecidas pela recuperação interna, ainda que o dólar alto e as incertezas locais representem riscos. As projeções da Tendências para o ano contemplam altas de 9,1% nas exportações e de 11,2% nas importações, com saldo esperado em US$ 52,1 bilhões. A Secex projeta superávit de US$ 53 bilhões.
No primeiro bimestre, segundo os dados oficiais, a importação cresceu 10,7% em relação a igual período de 2020. O subsecretário de Inteligência e Estatísticas da Secex, Herlon Brandão, afirmou que a alta nas importações brasileiras parece estar dentro de um contexto de recuperação da atividade econômica. Ainda há, no entanto, muito instabilidade e “é difícil” saber se o movimento irá se manter.
Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, ressalta que a alta de importações no primeiro bimestre foi puxada por bens intermediários, que subiram 21,4%. Esse aumento, diz ele, reflete a reposição de estoques de insumos pela indústria de transformação, o que indica retomada de importações, embora a continuidade e ritmo desse movimento ainda dependa de câmbio e da recuperação da demanda doméstica.
Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), concorda que o avanço no nível da importação de intermediários se deve ao processo de normalização do desabastecimento de insumos em período recente. Boa parte do efeito, do avanço de 10,7% das importações totais no primeiro bimestre, porém, aponta, veio de plataformas de petróleo, que inflaram os desembarques deste ano. Retirando-se as plataformas da conta, calcula, as importações totais subiram 5,8% no primeiro bimestre. Na indústria de transformação, sob igual critério, a alta foi de 3,8%, sempre na comparação interanual, na média por dia útil.