Análise IEDI
Impactos iniciais do coronavírus sobre o emprego
Os dados da Pnad Contínua divulgados hoje pelo IBGE trazem uma mostra parcial do que poderemos enfrentar nos próximos meses. A trajetória da taxa de desocupação se manteve sem grandes alterações, recuando lentamente quando comparada ao mesmo período do ano anterior, de movo a evitar eventuais sazonalidades. Foi de 12,2% no 1º trim/20 e de 12,7% no 1º trim/19.
Há, porém, uma deterioração na criação de novas vagas. No 1º trim/20, a ocupação total teve seu pior desempenho para o agregado dos três primeiros meses do ano desde 2013, com declínio de -2,5% em comparação com o trimestre imediatamente anterior.
Frente a jan-mar/19, a ocupação registrou variação de +0,4% nesta entrada de 2020, que representa o resultado mais fraco desde que o emprego começou a se recuperar em meados de 2017. Para se ter uma ideia, o adicional de ocupados em relação ao mesmo período do ano anterior caiu de 1,8 milhão de pessoas no 4º trim/19 para apenas 360 mil no 1º trim/20.
Ou seja, a engrenagem de criação de empregos, que já era fraca, deu sinais de estar parando. E isso só não se reflete, ainda, na taxa de desemprego porque o contingente de pessoas em busca de trabalho caiu -0,2%, sob influência das medidas de isolamento social adotadas na segunda metade de março.
Por ora, os efeitos negativos são mais fortes nos segmentos mais vulneráveis à conjuntura, como era de se esperar. Como mostram as variações interanuais a seguir, nesta etapa inicial foi o emprego sem carteira assinada que retrocedeu, embora conta própria e mesmo o emprego com carteira tenham perdido muito de seu crescimento.
• Ocupação total: +1,6% no 3º trim/19; +2,0% no 4º trim/19 e +0,4% no 1º trim/20;
• Trabalho com carteira assinada: +0,5%; +2,2% e +0,5%, respectivamente;
• Trabalho sem carteira assinada: +3,4%; +3,2% e -0,9%;
• Trabalhador por conta própria: +4,3%; +3,3% e +1,7%, respectivamente.
O declínio de -0,9% nos postos sem carteira assinada representa uma quebra de trajetória neste tipo de ocupação que, ao lado do conta própria, vinha liderando a reativação do emprego depois da crise de 2015-2016. Esta foi a primeira taxa negativa desde o 1º trim/16 e está muito vinculada ao recuo da ocupação em setores tais como comércio varejista, alojamento e alimentação e construção, muito afetados pelas medidas de isolamento.
Já os trabalhadores por conta própria, cuja atividade em geral corresponde aos chamados “bicos”, não deixaram de crescer no 1º trim/20, mas passaram por desaceleração substancial. A variação de +1,7%, ante o mesmo período do ano anterior, é a metade daquela de out-dez/19 (+3,3%) e a menor desde que este tipo de ocupação voltou a crescer no 3º trim/17.
Os postos com carteira assinada, por sua vez, estavam ensaiando uma reação mais intensa no final do ano passado, mas este movimento foi claramente interrompido. Sua taxa interanual de crescimento saiu de +2,2% no 4º trim/19 para apenas +0,5% no 1º trim/20.
Tal comportamento do emprego formal está associado à menor criação de vagas pela indústria, dado que a forma preponderando de contratação de funcionários pelo setor é por meio de carteira assinada. O emprego industrial desacelerou de +3,3% no 4º trim/19 para +1,5% no 1º trim/20. Outro setor a também contribuir para esta involução foi o de serviços de informação, comunicação, financeiros, imobiliários, profissionais e administrativos.
O quadro do trabalho formal ainda pode se agravar a depender da eficácia das medidas de preservação do emprego tomadas pelo governo e da magnitude da recessão em 2020. Em março e, em alguma medida, também em abril, o adiantamento de férias e o layoff em alguns setores podem amortecer a queda neste tipo de ocupação.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre janeiro de 2019 e março de 2020 foi de 12,2%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, outubro a dezembro de 2019, houve retração de 1,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve queda de 0,5 p.p., quando registrou 12,7%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.398, apresentando acréscimo de 1,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve expansão de 0,8%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 216,3 bilhões no trimestre que se encerrou em março, registrando retração de 1,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 1,5% quanto ao mesmo trimestre do ano passado (R$ 213,1 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 92,2 milhões de pessoas, apresentando variação negativa de 2,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez), e aferiu-se incremento de 0,4% frente ao mesmo trimestre do ano passado (91,9 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu crescimento de 10,5%, com 12,9 milhões de pessoas. Na comparação com o mesmo trimestre de 2019 observou-se retração de 4,0%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,1 milhões de pessoas, retração de 1,0% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 0,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (105,2 milhão de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, apresentaram variações positivas os seguintes grupamentos de atividades: Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,4%), Outros serviços (2,1%), Transporte, armazenagem e correios (1,7%), Indústria geral (1,5%) e Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,5%).
Por outro lado, os agrupamentos que apresentaram retração foram: Serviços domésticos (-2,2%), Construção (-2,1%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,9%), Alojamento e alimentação (-1,3%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,9%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparada ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se incrementos nas seguintes categorias: setor público (2,6%), trabalhador por conta própria (1,7%) e trabalho privado com carteira (0,5%). Em sentido oposto, as demais categorias apresentaram retrações: trabalho familiar auxiliar (-10,5%), trabalho doméstico (2,1%), empregador (-1,1%) e trabalho privado sem carteira (-0,9%).