Análise IEDI
Freio no consumo, desaceleração do PIB
Os dados divulgados hoje pelo IBGE indicam continuidade da desaceleração do PIB brasileiro no 3º trim/25, condicionada pelo consumo das famílias, que ficou estagnado, ensejando nova perda de ritmo nos serviços.
É um sinal positivo para o Banco Central, pois mostra que a subida dos juros vem desaquecendo a economia, inclusive naquelas atividades menos sensíveis a crédito e juros. Não fosse o aumento do consumo do governo (+1,3%), este movimento se revelaria ainda mais claramente nos resultados de hoje.
Na passagem do 2º para o 3º trim/25, o PIB total do país variou somente +0,1% já descontados os efeitos sazonais, menos do que no trimestre anterior (+0,3%) e ainda menos em relação à entrada do ano (+1,5% no 1º trim/25). A perda de dinamismo veio do consumo das famílias, que após crescer +0,6% nos dois primeiros trimestres do ano, ficou praticamente estável agora em jul-set/25, ao registrar somente +0,1%.
• PIB total: +1,5% no 1º trim/25; +0,3% no 2º trim/25 e +0,1% no 3º trim/25;
• Consumo das famílias: +0,6%; +0,6% e +0,1%, respectivamente;
• Consumo do governo: +1,3%; 0% e +1,3%;
• Formação bruta de capital fixo: +2,3%; -1,5% e +0,9%;
• Exportações: +3,6%; +1,0% e +3,3%;
• Importações: +5,1%; -2,4% e +0,3%, respectivamente.
Um dinamismo menor do consumo também ajudou a manter nossas importações quase estagnadas no 3º trim/25 (+0,3% com ajuste), a despeito da valorização cambial ao longo do ano e mesmo depois do recuo no trimestre anterior (-2,4%). Como as exportações cresceram mais fortemente (+1,0% no 2º trim/25 para +3,3% no 3º trim/25), demonstrando que no agregado o tarifaço americano foi mitigado, o setor externo deu contribuição positiva para o PIB.
Outro fator relacionado com a desaceleração do consumo foi percebido, do lado da oferta, no setor de serviços, cujo PIB também ficou praticamente estagnado ao variar +0,1%, já descontados os efeitos sazonais. Os serviços pessoais, representados na categoria “outros serviços” foi um dos que mais perdeu dinamismo (de +1,0% para +0,2%), assim como atividades financeiras (de +1,3% para -1,0%).
O comércio, também incluído no PIB do setor de serviços, registrou +0,4% no 3º trim/25, com ajuste sazonal, mantendo-se muito próximo da estabilidade, como tem sido a regra no presente ano. Cabe lembrar que este é um ramo dos serviços mais sensível à alta de juros e compreende um importante canal de escoamento da produção industrial, que vem perdendo fôlego desde a virada do ano.
Outro resultado a se notar na divulgação de hoje do IBGE é a relativa reação no investimento, que cresceu +0,9% na série com ajuste, após cair -1,5% no 2º trim/25. O adjetivo “relativo” deve-se ao fato de ter contado com a base baixa de comparação do trimestre anterior, por sua alta ter sido insuficiente para eliminar a queda do 2º trim/25 e, sobretudo, pela conjuntura de elevado custo de capital no país, devido ao patamar da Selic em dois dígitos.
A melhora recente do investimento guarda estreita relação com a construção, setor este incluído no PIB da indústria total. Depois de dois resultados negativos consecutivos, a construção cresceu +1,3% no 3º trim/25. Além das atividades imobiliárias residenciais, notadamente as de alto padrão, os investimentos em infraestrutura também têm se mostrado dinâmicos.
Acompanhamento da ABDIB, recentemente divulgado, estima que em 2025 as inversões em infraestrutura crescerão +3%, sobre uma base de comparação já elevada. Na origem deste desempenho estão os investimentos privados (+6%), notadamente em saneamento e em transporte e logística, fruto de melhorias regulatórias e de compromissos estabelecidos nos contratos de concessão/PPP.
Apesar deste desempenho agregado positivo do investimento, vale enfatizar os efeitos devastadores das altas taxas de juros vigentes no país. Aquela parcela do investimento diretamente relacionada com a modernização de nossa estrutura produtiva, que asseguraria uma performance superior de nossa produtividade, está no vermelho, comprimida pelo custo de capital.
A desagregação da formação bruta de capital físico é realizada periodicamente pelo IPEA. A última informação disponível é ago/25 – não completando o 3º trim/25, portanto –, mas que ilustra o que tem ocorrido. Segundo este indicador, os investimentos em máquinas e equipamentos encolheram -0,9% no trimestre findo em ago/25, já descontados os efeitos sazonais: -0,8% no caso de bens nacionais e -2,5% no caso de máquinas e equipamentos importados.
Outro dado a corroborar este quadro é a produção física de bens de capital, que segundo enfatizamos na Análise IEDI de 02/12/25, pisou fortemente no freio neste ano, passando de +8,4% em jan-out/24 para um recuo de -0,6% em jan-out/25.
Por falar em indústria, no 3º trim/25 o PIB da indústria total acusou crescimento +0,8% frente o trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais. Foi o melhor resultado nesta comparação em 2025 e, desta vez, contou com ajuda da indústria de transformação, que após duas quedas seguidas (-1,1% e -0,4%), teve seu PIB aumentado em +0,3%.
Entretanto, além de baixo, este resultado da indústria de transformação ficou longe de recompor as perdas anteriores. Ademais, o quadro do setor segue aquém daquele do ano passado. Frente ao mesmo período de 2024, registrou perda de -0,2% no 2º trim/25 e de -0,6% no 3º trim/25.
Poucas atividades perderam tanto dinamismo como a indústria de transformação em 2025 se comparadas com o ano passado.
No agregado dos três primeiros trimestres de 2025, o PIB da indústria de transformação registra variação de apenas +0,5% frente a um aumento de +2,4% do PIB total do país. Esse ritmo de crescimento é quase sete vezes menor do que era em jan-set/24 (+3,4%) e fica atrás apenas dos resultados dos ramos de eletricidade, água, gás e esgoto (-0,8%) e dos serviços de administração, saúde e educação públicas (+0,3%).





