Análise IEDI
Destaques do PIB Brasil no início de 2021
Os dados do PIB divulgados hoje pelo IBGE surpreenderam positivamente ao indicar expansão de +1,2% no 1º trim/21, frente ao final do ano passado, já descontados os efeitos sazonais. Segundo noticiado pela imprensa, as projeções frequentes no mercado apontavam para um resultado em torno da metade disso.
Esta é, sem dúvida, uma boa notícia, sobretudo para um período de progressiva deterioração do quadro sanitário do país. Algumas observações, contudo, podem ser feitas para qualificar este resultado global.
A primeira delas é que um dinamismo mais robusto ficou muito concentrado em algumas poucas atividades econômicas, notadamente a agropecuária (+5,7% ante o 4º trim/20, com ajuste) e a indústria extrativa (+3,2%), que recuperaram perdas do final de 2020. Esse desempenho tem mais a ver com o restante do mundo do que propriamente com a evolução da economia brasileira.
O crescimento da Ásia, que mais rapidamente controlou a pandemia, e o avançar da vacinação nos EUA e Europa favoreceram o comércio mundial (+4% no 1º trim/21, segundo a Unctad) e os preços de commodities agrícolas e minerais, ajudando a impulsionar as exportações brasileiras destes produtos.
Em seu agregado, as exportações totais do país, segundo o IBGE, registraram alta de +3,7% no 1º trim/21, após dois trimestres seguidos de declínio. Embora as vendas externas de outros produtos, como manufaturados, também tenham reagido, muito disso deve-se às atividades primárias.
Juntamente com a construção civil, que ao registrar +2,1% compensou a paralisia do final de 2020 (-0,2%), a dinamização dos setores primários via exportação também contribuiu para a expansão do investimento, por exemplo, com a compra máquinas e equipamentos agrícolas. A Alta da formação bruta de capital de fixo foi de +4,6%, como mostram as variações com ajuste a seguir.
• PIB: -9,2% no 2º trim/20; +7,8% no 3º trim/20; +3,2% no 4º trim/20 e +1,2% no 1º trim/21;
• Consumo das famílias: -11,4%; +7,6%; +3,2% e -0,1%, respectivamente;
• Consumo do governo: -7,8%; +3,3%; +0,9% e -0,8%;
• Formação bruta de capital fixo: -16,1%; +11,3%; +20,0% e +4,6%;
• Exportações: +1,5%; -1,7%; -1,1% e +3,7%;
• Importações: -11,4%; -7,3%; +19,3% e +11,6%, respectivamente.
A segunda observação a ser feita é que os demais componentes da demanda interna ficaram no vermelho. Como mostram os dados acima, o consumo do governo caiu -0,8% e o consumo das famílias registrou -0,1%, sob influência da interrupção do auxílio emergencial, do elevado desemprego e da piora da pandemia.
Do lado da oferta, os setores mais dependentes da demanda interna também apresentaram um dinamismo fraco. Foi o caso do setor de serviços como um todo, cuja taxa de crescimento no 1º trim/21, de apenas +0,4% já descontados os efeitos sazonais, ficou muito aquém daquela do 4º trim/20 (+2,7%). Só não foi pior porque transportes cresceram +3,6%, com a ajuda do escoamento da produção agropecuária.
Foi também o caso da indústria. Em sua totalidade, devido ao ramo extrativo e à construção, como mencionado anteriormente, conseguiu se sair melhor do que o setor de serviços, ao registrar +0,7%. Apesar disso, sofreu desaceleração em relação ao último quarto de 2020 (+1,6%) devido ao recuo da indústria de transformação, que tem sofrido com a falta de insumos, aumento de custos e com o desaquecimento do consumo das famílias.
Conforme o IEDI já vinha observando a partir dos dados mensais de produção física, a recuperação da indústria de transformação perdeu ritmo na entrada de 2021. Nas estatísticas do PIB, que medem o valor adicionado do setor, houve queda de -0,5% no 1º trim/21 em comparação com o mesmo período do ano anterior, já descontados os efeitos sazonais.
A última observação é que riscos não negligenciáveis ainda pairam sobre o desempenho futuro de nossa economia, a exemplo, do efeito da disseminação da variante indiana do coronavírus no território nacional, do ritmo insuficiente de vacinação, da crise hídrica que, ao impactar a inflação, retira poder de compra da população e pode levar a aumentos adicionais do nível de juros do país, da difícil compatibilização entre medidas emergenciais e ajustamento das finanças públicas etc.
Todos estes são fatores que podem comprometer um crescimento mais robusto em 2021, ainda que haja um carregamento estatístico positivo herdado da evolução do PIB em 2020. As projeções do final de maio do Boletim Focus do BCB apontam para alta de +3,96% do PIB brasileiro em 2021 e as da OCDE, divulgadas ontem, para +3,7%. Em relação a seu cenário de mar/21, a OCDE reduziu a projeção para 2022 de 2,7% para 2,5%.
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$2,048 trilhões a preços correntes no primeiro trimestre de 2021, apresentando expansão de 1,2% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Com relação ao primeiro trimestre de 2020, houve variação positiva de 1,0%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior houve decréscimo aferido de 2,8%. No acumulado do ano para 2021, o PIB em valores correntes atingiu R$2,048 trilhões.
Ótica da oferta. Frente ao quarto trimestre de 2020, a partir de dados dessazonalizados, houve acréscimo de 5,7% para o setor agropecuário, para o setor da indústria registrou-se expansão de 0,7% e para serviços houve variação positiva de 0,4%.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, três dos quatro segmentos analisados apresentaram variações positivas: indústrias extrativas (3,2%), construção (2,1%) e produção e distribuição de eletricidade, gás e água (0,9%). Em sentido contrário, o segmento das indústrias de transformação sofreu variação negativa de -0,5%.
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, seis setores apresentaram variações positivas: transporte, armazenagem e correio (3,6%), intermediação financeira e seguros (1,7%), informação e comunicação (1,4%), comércio (1,2%), atividades imobiliárias (1,0%) e outras atividades de serviços (0,1%). O segmento de administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social registrou retração de -0,6%.
No comparativo frente ao mesmo trimestre do ano anterior (jan-fev-mar 2020), a partir de dados dessazonalizados, o setor agropecuário apresentou variação positiva de 5,2%, enquanto o setor da indústria apresentou expansão de 3,0% e o setor de serviços registrou decréscimo de 0,8%.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior houve variações positivas em dois dos três setores analisados: indústrias de transformação (5,6%) e produção e distribuição de eletricidade, gás e água (2,1%). Os dois segmentos restantes registraram decréscimos: indústrias extrativas (-1,3%) e construção (-0,9%).
No setor de serviços cinco dos sete segmentos analisados apresentaram incrementos nessa mesma base de comparação: informação e comunicação (5,5%), atividades financeiras de seguros e serviços relacionados (5,1%), atividades imobiliárias (3,9%), comércio (3,5%) e transporte, armazenagem e correio (1,3%). Os dois segmentos restantes apresentaram variações negativas: outras atividades de serviços (-7,3%) e administração, saúde e educação públicas (-4,4%).
No acumulado nos últimos 4 trimestres frente aos 4 trimestres imediatamente anteriores, o setor agropecuário apresentou expansão de 2,3%, enquanto observaram-se retrações no setor da indústria (-2,7%) e no setor de serviços (-4,5%).
No setor industrial, a contribuição positiva nessa base de comparação deu-se por conta da produção e distribuição de eletricidade, gás e água (0,5%). Os setores restantes apresentaram retrações: construção (-6,9%), indústrias de transformação (-2,7%) e indústrias extrativas (-0,3%).
Ainda na comparação do acumulado nos últimos 4 trimestres frente aos 4 trimestres imediatamente anteriores, o setor de serviços apresentou variações positivas em três dos sete segmentos analisados: atividades financeiras de seguros e serviços relacionados (5,0%), atividades imobiliárias (3,0%) e informação e comunicação (0,8%). Os quatro setores restantes apresentaram retrações: outras atividades de serviços (-13,0%), transporte, armazenagem e correio (-8,6%), administração, saúde e educação públicas (-5,5%) e comércio (-2,4%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, no primeiro trimestre de 2021 frente ao quarto trimestre de 2020, para dados com ajuste sazonal, houve acréscimos nas seguintes categorias: importações de bens e serviços (11,6%), formação bruta de capital fixo (4,6%) e exportações de bens e serviços (3,7%). Por outro lado, houve decréscimo nas categorias: consumo do governo (-0,8%) e consumo das famílias (-0,1%).
Na comparação frente ao primeiro trimestre de 2020, três categorias apresentaram expansões: formação bruta de capital fixo (17,0%), importações de bens e serviços (7,7%) e exportações de bens e serviços (0,8%). Os demais seguimentos registraram retrações: consumo do governo (-4,9%) e consumo das famílias (-1,7%).
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos últimos quatro trimestres frente aos quatro trimestres imediatamente anteriores, houve variação positiva na categoria de formação bruta de capital fixo (2,0%). Por sua vez, as demais categorias analisadas registraram retrações: importações de bens e serviços (-9,2%), consumo das famílias (-5,7%), consumo do governo (-5,7%) e exportação de bens e serviços (-1,0%).