Análise IEDI
Por trás da queda
Em jan/24, a indústria brasileira devolveu tudo aquilo que havia crescido em dez/23. O ano passado se encerrou com um avanço de +1,6%, que, segundo os dados revisados pelo IBGE, foi o mais intenso desde set/20 na série com ajuste sazonal. Esta sinalização positiva, entretanto, durou pouco e em jan/24 a produção industrial recuou -1,6%. Dez/23 trouxe um alento passageiro, mas não totalmente perdido.
Há aspectos dos dados divulgados hoje pelo IBGE que atenuam o significado da queda deste início de ano.
Em primeiro lugar, o número de ramos sem crescimento reduziu em comparação com o final do ano passado. Dos 25 ramos acompanhados, 8 ficaram estáveis ou perderam produção em jan/24 contra 11 ramos em dez/23. Isso equivale a 32% ante 44%, respectivamente.
Em segundo lugar, os macrossetores que acumularam mais meses adversos ao longo de 2023 conseguiram ampliar produção em jan/24. Foi notadamente o caso de bens de capital (+5,2%), como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, mas também de bens de consumo duráveis (+1,4%).
• Industria geral: 0% em out/23; +0,6% em nov/23; +1,6% em dez/23 e -1,6% em jan/24;
• Bens de capital: -0,5%; -1,4%; -0,8% e +5,2%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,7%; +1,6%; +1,9% e -2,4%;
• Bens de consumo duráveis: -2,0%; -3,0%; +6,3% e +1,4%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; +0,2%; 0% e -1,0%, respectivamente.
Embora a indústria de transformação tenha tido um mês de perda, dando sequência a uma trajetória oscilante entre altas e baixas, a intensidade do retrocesso não foi suficiente para anular a expansão de dez/23 (-0,3% ante +0,7%, com ajuste).
Isso implica que muito da retração de jan/24 deve-se ao ramo extrativo, que após dois meses seguidos de expansão (+3,4% em nov/23 e +3,2% em dez/23) recuou mais fortemente em janeiro último: -6,3%.
Um terceiro aspecto a mitigar a adversidade do desempenho agregado de jan/24 é que na comparação interanual, isto é, frente ao mesmo período do ano anterior, houve crescimento não apenas para a indústria geral, como para todos os seus macrossetores.
É verdade que bases de comparação modestas ajudaram, mas a alta na indústria geral, de +3,6%, foi a mais elevada desde jun/21 (+12,1%), quando o setor ainda respondia aos efeitos negativos da pandemia de Covid-19 do ano anterior.
Cabe enfatizar a alta de +0,4% em bens de capital. Ainda que bastante fraco, foi o primeiro resultado positivo para este macrossetor desde mar/23 (+0,3% ante mar/22). Aqui, as bases deprimidas de comparação tiveram um papel importante, isso porque, nos últimos 20 meses, 17 deles foram de declínio na comparação interanual.
Esta é uma parcela da indústria muito prejudicada pelas elevadas taxas de juros e pelas incertezas frequentemente presentes em anos de troca de governo. Em 2024, estes fatores não devem jogar tanto contra o investimento e, consequentemente, contra a produção de bens de capital.
Vale notar que em jan/24, a produção de bens de capital para a própria indústria se expandiu em +2,6% ante jan/23. Este resultado, que funciona como uma proxy parcial dos investimentos industriais, pode vir a ser uma quebra de tendência importante, já que, trimestre após trimestre, só se verificou sinal negativo neste segmento da indústria de bens de capital desde o final de 2021.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de janeiro de 2024 divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou recuo de 1,6% frente ao mês de dezembro de 2023, na série livre de influências sazonais. No acumulado em doze meses registrou-se incremento de 0,4%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior (janeiro de 2022), aferiu-se a variação positiva de 3,6%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (dezembro/2023), segundo dados com ajuste sazonal, o segmento de bens de capital cresceu 5,2% e o segmento de bens duráveis cresceu 1,4%. As outras três categorias analisadas apresentaram variação negativa: bens de consumo (-1,5%), bens intermediários (-2,4%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,0%).
No resultado observado na comparação com o mesmo mês do ano passado (janeiro/2023), todas as categorias apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens intermediários (4,8%), bens semiduráveis e não duráveis (2,6%), bens de consumo (2,5%), bens duráveis (1,4%) e os bens capital (0,4%).
No acumulado no ano registrou-se crescimento em todas as categorias: bens intermediários (4,8%), bens semiduráveis e não duráveis (2,6%), bens de consumo (2,5%), bens duráveis (1,4%) e bens capital (0,4%).
No índice acumulado em 12 meses, quatro segmentos assinalaram resultados positivos: bens duráveis (0,4%), bens de consumo (1,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (1,9%) e bens intermediários (0,9%). O segmento de bens de capital (-10,6%) caíram.
Setores. Na comparação de janeiro de 2024 com o mesmo mês do ano passado (janeiro de 2023), houve variação positiva no nível de produção em 16 dos 25 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: fabricação de produtos de madeira (16,1%), impressão e reprodução de gravações (14,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,1%), fabricação de bebidas (10,2%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (9,1%). Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: produtos têxteis (-2,0%), vestuário (-3,6%), produtos diversos (-4,5%), máquinas e equipamentos (-7,9%), produtos farmacêuticos (-21,9%).
Na comparação do acumulado nos últimos 12 meses, a produção industrial apresentou variação positiva em oito dos 25 ramos analisados, com destaque para os itens impressão e reprodução de gravações (10,8%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (8,4%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (6,9), fabricação de produtos do fumo (4,7%) e produtos alimentícios (3,6%). Já máquinas e equipamentos (-7,2%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,3%), produtos diversos (-7,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,3%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-9,5%) apresentaram as maiores quedas.