Análise IEDI
Crescimento do PIB, mas perda de tração na indústria
No 1º trim/25, o PIB brasileiro interrompeu a trajetória de desaceleração que vinha apresentando desde a segunda metade do ano passado. Como já esperado, o principal motivo por trás disso foi a forte expansão da agropecuária, cujas vendas ao exterior foram importantes para trazer as exportações de volta ao terreno positivo. Já a indústria, prejudicada pela alta dos juros, deu sequência à sua perda de tração, tal como o IEDI vinha apontando em suas Análises mensais.
Na passagem do último trimestre de 2024 para o 1º trim/25, descontados os efeitos sazonais o PIB total do Brasil registrou expansão de +1,4%, depois de ter ficado praticamente estagnado no final do ano passado (+0,1%).
O PIB da agropecuária cresceu +12,2% nessa mesma comparação, ajudado por condições climáticas que favoreceram a safra no primeiro trimestre em algumas culturas, como soja, milho, arroz e fumo.
Do lado da oferta, tivemos um perfil muito parecido com a entrada de 2023: forte avanço na agropecuária, estagnação na indústria e baixo dinamismo nos serviços. A diferença se dá pelo lado da demanda, com mais consumo das famílias e investimento e menos consumo do governo e setor externo.
Ainda nos dados livres de efeito sazonal, o PIB da indústria de transformação voltou a ficar no vermelho: -1,0% ante o 4º trim/24, aprofundando sua trajetória de desaceleração. Foi a primeira queda desde o 4º trim/23. A construção também recuou, neste caso -0,8%. Cabe observar a carga desfavorável da alta das taxas de juros para estas frações da indústria, mais sensíveis às condições do crédito.
• PIB total: +0,8% no 3º trim/24; +0,1% no 4º trim/24 e +1,4% no 1º trim/25;
• PIB da agropecuária: +1,4%; -4,4% e +12,2%, respectivamente;
• PIB da indústria total: +0,9%; +0,2% e -0,1%;
• PIB da indústria de transformação: +1,1%; +0,6% e -1,0%;
• PIB dos serviços: +0,8%; +0,2% e +0,3%, respectivamente.
Indústria de transformação e construção condicionaram o declínio de -0,1% do PIB da indústria total, se sobrepondo à evolução positiva do ramo extrativo (+2,1%) e do de eletricidade, gás, água, saneamento (+1,5%), que contaram com bases baixas de comparação, já que caíram na maior parte de 2024.
No caso da indústria de transformação, o desempenho frente ao mesmo período do ano anterior não chegou a ser negativo, mas apresentou forte perda de ritmo, registrando +2,8%, isto é, praticamente metade do resultado do 4º trim/24 (+5,3%). Foi o mais fraco desde a entrada do ano passado e a primeira vez, desde então, que ficou abaixo do resultado do PIB total do país (+2,9%).
Em tempos de aguda necessidade de ajustamento das finanças públicas, o menor dinamismo industrial é uma má notícia para o governo, já que o setor como um todo responde por quase 35% da arrecadação de tributos federais e a indústria de transformação sozinha por cerca de 25%.
Do lado da demanda, o investimento e o consumo das famílias reagiram depois de um resultado muito fraco no último trimestre de 2024, registrando +3,1% e +1,0% na série com ajuste sazonal, respectivamente. A alta do consumo foi suficiente apenas para compensar a queda anterior (-0,9%), ou seja, pouco evoluiu na virada de 2024 para 2025.
No caso da formação bruta de capital fixo, isto é, do investimento, houve contribuição pontual da aquisição de plataforma de petróleo, o que também ajudou para que a importação total no PIB aumentasse +5,9% no 1º trim/25, superando assim a expansão das nossas exportações (+2,9%).
No caso do consumo das famílias, a reação não se traduziu em melhora do PIB de serviços, que continuou bastante próximo da estabilidade: +0,3% no 1º trim/25 e +0,2% no 4º trim/24, frente ao período anterior com ajuste sazonal. Comércio (+0,3%), atividades financeiras (+0,1%) e transportes (-0,6%) tiveram os resultados mais fracos.
Por fim, o consumo do governo seguiu desacelerando, de +0,8% no 3º trim/24 para +0,5% no 4º trim/24 e então para +0,1% no 1º trim/25, sempre na comparação com o período anterior e já descontados os efeitos sazonais. Na comparação interanual vem se mantendo pouco acima de 1%, após forte crescimento entre o 2º trim/23 e o 1º trim/24.