Carta IEDI
Crise e Inovação no Brasil
Se existe uma deficiência que o Brasil precisa urgentemente corrigir é sua baixa disposição à inovação. A despeito das iniciativas positivas dos últimos anos, falta engajamento das empresas, são insuficientes os programas públicos de apoio à ciência, tecnologia e inovação, há pouca interação e coordenação entre instituições de pesquisa, empresas e setor público e pouca integração internacional e falta mão de obra qualificada, entre outras lacunas.
A despeito disso, instituições de nosso sistema de inovação conseguiram reagir rapidamente aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, a exemplo de editais específicos lançados pela Fapesp e pela Finep, além de outros casos. Empresas associadas aos Institutos Senai e às Unidades Embrapii também promoveram reconversão de linhas de produção e soluções inovadoras. Tudo isso poderia ter tido uma escala muito maior se as deficiências mencionadas anteriormente não estivessem tão presentes.
A Carta IEDI de hoje analisa os dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), para o triênio 2015-2017, recentemente divulgada pelo IBGE. As evidências não são nada animadoras, embora reflitam em grande medida a grave crise econômica de 2015/2016 e a parca recuperação que tivemos desde então. Enquanto o restante do mundo acelera seus esforços para inovar, dando início a um novo paradigma tecnológico, o Brasil peca ao não conseguir constituir um ambiente propício à inovação.
O baixo dinamismo do PIB em 2018 e 2019 e o choque que a pandemia de covid-19 está provocando em 2020 não trazem boas perspectivas para a reversão da situação apresentada por esta última edição da PINTEC.
A seguir, resumimos os principais destaques da evolução entre as duas últimas pesquisas realizadas pelo IBGE, mas o leitor pode encontrar mais detalhes ao longo do estudo.
Entre 2012-2014 e 2015-2017, a taxa de inovação do conjunto de atividades da PINTEC, que mede a proporção de empresas que introduziram novos produtos e processos no período caiu de 36% para 33,6%. O volume total de recursos aplicados em inovação retrocedeu -17,4%.
Mais grave ainda foi o recuo do indicador de esforço de inovação, que passou de 2,54% para apenas 1,95% das receitas líquidas de venda das empresas neste mesmo período. Ou seja, encolheu cerca de ¼, acompanhando a retração geral do investimento corporativo no período.
A indústria de transformação contribuiu para este declínio, embora seu esforço de inovação tenha caído um pouco menos que o total geral: cerca de -22%, ao passar de 2,16% da sua receita de vendas em 2012-2014 para 1,69% em 2015-2017.
A despeito de todas essas involuções, ao menos tentou-se preservar o dispêndio com P&D, que é o componente mais tecnológico do processo de inovação. Para o conjunto das empresas da PINTEC, houve aumento de +3,7%. Ainda que para a indústria de transformação tenha ocorrido queda de -2,9%, o setor continua sendo o maior responsável por estes investimentos, com 66,6% do total.
Assim, o esforço de P&D recuou menos que o esforço de inovação, passando de 0,77% das receitas para 0,74% no total das empresas e de 0,68% para 0,62% no caso da indústria de transformação. Alguns ramos industriais, porém, preservaram ou intensificaram seus esforços de P&D, como químicos, veículos, informática e eletrônicos, entre outros.
A redução dos esforços de inovação e de P&D da indústria por si só já é muito desfavorável, mas é ainda mais preocupante o enfraquecimento do desenvolvimento tecnológico nos alicerces da geração e difusão de inovações tecnológicas para o setor industrial, mas também para outras atividades, incluindo a agricultura, a pecuária, a mineração, a construção civil e boa parte dos serviços.
É isso que significa a forte queda dos investimentos em P&D do núcleo dos setores produtores de equipamentos, sejam eles mecânicos, elétricos e eletrônicos. Os dispêndios em P&D de equipamentos eletrônicos, que representam cada vez mais o núcleo difusor de ganhos de produtividade da indústria e de outros setores, caiu -30% entre 2012-2014 e 2015-2017. Em aparelhos elétricos e máquinas e equipamentos (sobretudo mecânicos) as quedas foram de -50% e -20%, respectivamente.
Além da busca por preservação dos investimentos em P&D, “outro mal menor” ocorrido no período 2015-2017 foi a queda moderada do número das inovações consideradas “novas para o mundo”, de -3,4% frente a 2012-2014.
Em alguns ramos industriais, houve um movimento mais favorável com aumento do número e da importância relativa destas inovações “para o mundo”, um resultado que merece ser ressaltado e avaliado positivamente. Foram os casos de papel e celulose, farmoquímicos e farmacêuticos, metalurgia, equipamentos de informática, automobilística e petróleo, biocombustíveis e química.
Resultados gerais da PINTEC 2015-2017
A divulgação pelo IBGE dos dados da mais recente da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), para o triênio 2015-2017, confirmou aquilo que mais temiam os profissionais da área e os analistas do tema, conhecedores do campo da inovação e da situação das empresas: um retrocesso indiscutível dos esforços (recursos destinados a introduzir novos produtos e a desenvolver novos processos) e de alguns dos resultados da inovação (a efetiva introdução de novos produtos no mercado e a adoção de novos processos produtivos). Afinal, havia muitas razões para esse temor.
Em termos do desempenho da economia, o período engloba dois anos consecutivos de recessão (2015 e 2016) e um ano de um ensaio muito tímido de recuperação (2017). Além dessa retração do nível de atividade da economia, o período esteve marcado por vários fatores de instabilidade também no ambiente político, o que evidentemente cria dificuldades para a tomada de decisões empresariais.
Por último, em parte como decorrência do elemento anterior, o período também não foi exatamente pródigo em instrumentos de apoio aos esforços de inovação das empresas. Em que pesem todos esses fatores, os resultados surpreenderam pela intensidade do recuo observado.
Vale observar que a abrangência da pesquisa do IBGE inclui as atividades industriais de extração e transformação e alguns serviços (de utilidade pública, como eletricidade, gás e telecomunicações; e a ampla área de informática).
O investimento em inovação para o total de empresas da PINTEC recuou 17,4% em 2015-2017 frente a 2012-2014, a mesma intensidade do que na indústria de transformação. Tiveram um desempenho pior o setor extrativo (-27,2%) e os serviços (-20,2%) representados na pesquisa. Única atividade a ampliar seus investimentos foi eletricidade e gás (+53,2%).
A taxa de inovação propriamente dita do conjunto de atividades da PINTEC, que mede a proporção de empresas que introduziram novos produtos e processos no período de três anos encerrado em 2017, reduziu-se em pouco mais de 2 pontos percentuais, passando de 36% em 2012-2014 para 33,6% em 2015-2017.
Esse recuo foi moderado se comparado com aquele verificado no indicador de intensidade do esforço de inovação, que mede a proporção da receita destinada pelas empresas à inovação, que caiu de 2,54% para 1,95% no mesmo período para o conjunto das atividades econômicas cobertas pela PINTEC.
Essa redução no esforço de inovação de quase ¼ do nível registrado no triênio anterior acompanhou de perto o recuo da taxa de investimentos da economia, que sistematicamente entre 2014 e 2017.
Os resultados gerais podem ser vistos no quadro seguinte, para cada uma das quatro atividades agregadas (Indústria extrativa, Indústria de transformação, Eletricidade e gás e Serviços selecionados), com desagregação de primeiro nível para a indústria de transformação.
A taxa de formação bruta de capital fixo, a medida das Contas Nacionais que expressa o esforço global de formação de novas capacidades produtivas (ou “investimentos produtivos”), que o IBGE produz e divulga anualmente, reduziu-se de 19,9% do PIB em 2014 para 14,6% do PIB em 2017, quando atingiu o menor nível da série histórica desde 1947 e menos de metade do seu ponto máximo, atingido nos anos 1970.
É conhecida a relação que existe entre os investimentos em capacidade produtiva e os esforços e investimentos em inovação: ambos estão sujeitos aos determinantes da conjuntura econômica e das perspectivas da economia para o futuro próximo. Portanto, a redução dos investimentos em inovação insere-se no processo mais amplo de redução do conjunto dos investimentos da economia brasileira.
A esperança de que as empresas confrontem a conjuntura adversa com mais investimentos em inovação e tecnologia não resiste ao exame dos processos decisórios que ocorrem nas organizações. E com mais forte razão quando a conjuntura apresenta grande instabilidade, redução de instrumentos de apoio e atenção voltada para outras prioridades, como a redução do endividamento e o enfrentamento do encolhimento de seus mercados.
O desempenho da indústria de transformação
A grande maioria dos setores industriais contribuiu para o resultado agregado de redução do esforço de inovação: nada menos de 21 dos 24 setores (ou 87,5% do total) apresentaram retração de seus investimentos em novos produtos e processos, que definem o esforço no ciclo completo de inovação.
Nesse cenário extremamente desfavorável, soa como nota positiva que pelo menos os investimentos de pesquisa e desenvolvimento, que é o componente mais tecnológico do processo de inovação, tenham sido preservados na maioria dos setores. Para o total das empresas, houve aumento de 3,7% destes investimentos. Na indústria de transformação, entretanto, caíram 2,9%, ainda que alguns ramos tenham apresentado avanços significativos, como alimentos, bebidas, farmoquímicos, farmacêuticos, minerais não metálicos etc.
Do ponto de vista do esforço inovativo, porém, houve uma pequena redução de sua intensidade para o total das empresas. Passou de 0,77% da receita líquida de vendas em 2012-2014 para 0,74% em 2015-2017 para o conjunto das atividades da pesquisa. Quando se exclui do universo considerado a indústria extrativa e os serviços, a redução apresentada pela indústria de transformação foi de 0,06 p.p., de 0,68% para 0,62%.
Apesar de a maioria dos 24 setores industriais da transformação ter apresentado redução dos seus investimentos inovação, um bom número deles preservou ou intensificou os seus esforços de desenvolvimento tecnológico, presumivelmente porque essa seria a sua melhor estratégia de preservação da sua posição industrial e de mercado em meio a uma conjuntura muito adversa.
Isso quer dizer que as empresas reduziram substancialmente os seus esforços de inovação, mas dentro deles preservaram as equipes (e possivelmente os projetos) que envolvem desenvolvimentos tecnológicos, cuja interrupção representaria perdas irrecuperáveis.
Uma vez que o recuo das despesas de inovação registradas pela PINTEC (2014-2017) foi muito superior, em termos relativos, ao pequeno recuo dos investimentos em P&D, o peso desses investimentos no total das despesas de inovação elevou-se no conjunto das atividades econômicas cobertas pela PINTEC (+25,5%), na Indústria (+17,5%) e na maioria dos setores industriais de transformação (17 dos 24).
Os resultados consolidados do quadro anterior, para os esforços de inovação, podem ser visualizados de modo desagregado no gráfico a seguir. Ele mostra uma frequente redução dos recursos destinados à implantação e ao desenvolvimento de atividades de inovação, sejam elas de cunho estritamente tecnológico ou de outra natureza. Há exceções, mas a tendência predominante é negativa.
Há várias explicações possíveis para o pequeno recuo dos esforços de P&D, quando os relacionados com a inovação se reduziram tão expressivamente. É possível que as empresas, em meio ao cenário muito adverso, tentaram preservar o núcleo do seu processo de inovação, que é o desenvolvimento de tecnologias, e reduziram esses investimentos muito menos do que fizeram com as demais despesas, de caráter complementar.
Assim, mantiveram ao menos o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, possivelmente confiando que este ativo é mais importante do que as demais atividades do processo de inovação. Essa explicação dá conta do que aconteceu em termos consolidados, e, portanto, em alguns dos setores industriais mais importantes, mas há exceções e vale a pena destacar ambos os tipos.
O gráfico abaixo ilustra o comportamento que acabamos de apresentar. O tamanho dos círculos representa a receita líquida de cada uma das 11 atividades em que agregamos (com propósitos de simplificação e homogeneidade) os setores da indústria de transformação, a posição horizontal representa a evolução dos recursos dedicados à inovação e a posição vertical a evolução dos recursos dedicados a pesquisa e desenvolvimento (que são uma parte dos recursos para inovação). A concentração de pontos no quadrante inferior esquerdo mostra o recuo registrado nos recursos dedicados à inovação e também dos recursos destinados a P&D, embora em menor proporção.
Entre todos os setores industriais, o mais importante em termos de receita líquida de vendas é o de alimentos – entre 1/6 e 1/5 da receita total da indústria de transformação, a depender do ano considerado. Em razão das dimensões absolutas deste setor, é ele que mais investe em inovação, embora a intensidade (como proporção da receita) seja modesta e tenha se reduzido, passando de 1,35% no triênio anterior para e 0,96% em 2015-2017. Esta queda de seu esforço inovativo não apenas não se estendeu ao esforço de P&D como este apresentou ligeira elevação: de 0,15% para 0,17%.
Embora com outras proporções, este mesmo movimento de intensificação dos esforços de P&D está patente em outros setores industriais (Bebidas, Fumo, Têxtil, Vestuário, Calçados, Madeira, Celulose, Produtos farmoquímicos e farmacêuticos, Artigos de borracha e plástico, Produtos de minerais não-metálicos, Metalurgia, Fabricação de produtos de metal, Outros equipamentos de transporte, Móveis e Produtos diversos). Sem motivos para celebração, este dado é um mal menor (do que seria uma redução substancial também dos investimentos em P&D).
Mas há um elemento mais preocupante que acompanha esta evolução. O núcleo dos setores produtores de equipamentos – mecânicos, elétricos e eletrônicos - merece um exame em separado, por sua importância da geração e difusão de progresso tecnológico e no oferecimento de soluções novas para produtos e processos de outros setores (da indústria, mas não apenas, também dos demais setores de atividade, incluindo a agricultura, a pecuária, a mineração, a construção civil e boa parte dos serviços).
Os equipamentos eletrônicos, que representam cada vez mais o núcleo difusor de ganhos de produtividade da indústria e de muitas outras atividades econômicas (do primário e do terciário), além de produtos de consumo, apresentou virtual estabilidade dos gastos de inovação (+2%) e um recuo forte dos investimentos em P&D (-30%).
É difícil falar em preservação de um núcleo de desenvolvimento tecnológico, em uma indústria tão dinâmica e com tantas oportunidades como é a eletrônica, quando a intensidade dos seus investimentos em P&D foi reduzida em 30%.
O caso da fabricação de máquinas e aparelhos elétricos, o segundo alicerce da indústria de equipamentos, é ainda mais preocupante em termos da evolução de despesas em inovação (- 33%) e de investimentos em P&D (-50%).
Por último, o terceiro segmento de máquinas e equipamentos (sobretudo mecânicos) apresentou uma redução muito forte das despesas de inovação, de 34%, e de 20% nos investimentos em P&D.
A redução dos esforços de inovação e de P&D da indústria é preocupante, mas é extremamente preocupante constatar o enfraquecimento do desenvolvimento tecnológico dos alicerces da geração e difusão de inovações tecnológicas no sistema industrial.
O alcance da inovação
Um dos indicadores mais relevantes para examinar o alcance da inovação desenvolvida pelas empresas e setores cobertos pela PINTEC é o grau de novidade dessas inovações. As pesquisas de inovação como a PINTEC, orientadas pelo Manual de Oslo, que foi criado para essa finalidade precisa, definem o grau ou alcance das inovações em três níveis: para a empresa, para o mercado nacional, para o mercado mundial.
Evidentemente, não existe uma imposição evolutiva, mas é normal que as empresas adquiram competências ao longo do tempo, apoiadas em esforços e resultados passados, que permitem definir objetivos progressivamente mais ambiciosos.
O processo de desenvolvimento de competências e de aprendizado para novos produtos e processos é cumulativo e dá-se ao longo do tempo, passo a passo, de maneira gradual, embora empresas de base tecnológica, como algumas startups, possam ser criadas para o desenvolvimento de um produto ou um processo novo para o mercado mundial, explorando por exemplo um conhecimento novo que ainda não suscitou a aplicação vislumbrada. Evidentemente, entre desenvolver e introduzir a inovação e conseguir explorar essa inovação em termos mundiais há uma distância enorme.
O quadro abaixo, de maneira coerente com o que foi apresentado nos parágrafos anteriores, mostra que o número de inovações (de produto e processo) reduziu-se em entre os triênios de 2012-2014 e 2015-2017: de 67.070 para 55.380 no conjunto das atividades da PINTEC ou de 38.484 para 33.261 no âmbito da indústria de transformação.
As reduções observadas nos dois âmbitos (total das atividades e indústria de transformação) são coerentes com o encolhimento observado nos dispêndios em inovação. Mas o quadro permite outras inferências, em convergência com o registro de que houve um esforço por parte da indústria e das demais atividades cobertas pela PINTEC para preservar o núcleo tecnológico das equipes e dos seus projetos de desenvolvimento de novos produtos e processos. Houve, entre os dois triênios, uma evolução apreciável da participação das inovações classificadas como “novo para o mundo”, tal como as classificaram e declararam as empresas.
Em 7 dos 11 agrupamentos homogêneos do quadro 2 verificou-se uma elevação da importância relativa das inovações consideradas “novas para o mundo”, um resultado que merece ser ressaltado e avaliado positivamente. Infelizmente, também aqui, o núcleo tecnológico da indústria, representado pelos três segmentos fabricantes de equipamentos (informáticos, elétricos e mecânicos), teve um comportamento menos uniforme.
O segmento de equipamentos elétricos teve um comportamento estável neste quesito, o de máquinas e equipamentos mecânicos preponderantemente mecânicos apresentou redução da proporção de inovações de maior alcance, e apenas o de equipamentos informáticos apresentou uma elevação - por sinal, muito expressiva (de 2,3% para 7,8%) - da proporção de inovações de alcance mundial. Em que pese a importante redução do número total de inovações de produto e processo deste setor, de 1.790 para 1.090, o número total de projetos categorizados pelas empresas respondentes como “novos para o mundo” aumentou de forma importante.
Obstáculos para inovar
As principais dificuldades relatadas pelas 75.184 empresas (3 em cada 5 empresas da pesquisa) que não implementaram inovações estão compreendidas na categoria abrangente “condições de mercado”.
Embora o caráter muito abrangente e vago desta categoria de impedimento dificulte uma análise mais minuciosa e precisa, compreende-se que mais de 45 mil empresas esbarrem em dificuldades de mercado que consideram impeditivas para a introdução de inovações.
Dadas as limitações tecnológicas de muitas empresas brasileiras e todas as dificuldades de acesso a recursos de apoio à inovação, que só aumentaram no período coberto por esta edição da PINTEC (2015-2017), o mercado aparece como a principal dificuldade precisamente porque o potencial inovador é modesto. É preciso superar esta limitação das empresas, que é também uma fragilidade do sistema nacional de inovação.
Quando as empresas adquirem um nível mínimo de capacitação técnica e passam a dispor de recursos dedicados para a inovação, elas vão se tornando crescentemente capazes e passam a desdobrar a competência acumulada em oportunidades novas. Só há ganhos nesse processo - ganhos privados e ganhos sistêmicos.
Por essa razão, a redução substancial dos apoios à inovação registrada no período é motivo para grande preocupação. Ela sinaliza crescentes dificuldades para empresas que desenvolvem tecnologias novas de produtos e processos com o propósito de se tornarem mais competitivas e mais rentáveis, ao mesmo tempo em que desestimulam fortemente o ingresso nesse universo daquelas que ainda não o fazem.
Por um lado, as grandes empresas (com opção pelo “lucro declarado”) ainda dispõem dos incentivos de inovação e de P&D, mas eles abarcam um número muito reduzido da generosa demografia empresarial brasileira. Por outro lado, o conjunto de programas públicos de apoio alcançou um número muito menor de empresas, com encolhimento de 39,9% para 26,2% das empresas.
A redução significativa do número de empresas que contaram com recursos públicos para o financiamento da aquisição de máquinas e equipamentos para produtos e processos inovadores sofreu de todas a maior redução – de 29,9% para 12,9% - e isso era esperado em razão da queda muito expressiva dos investimentos (formação bruta de capital fixo) que o período registrou.
A inovação colaborativa
O exame da origem das inovações, que permite identificar a importância da própria empresa ou de colaborações externas, também evidencia a modéstia dos esforços e o relativo isolamento das empresas quanto aos seus esforços de inovação.
A indústria de transformação, núcleo do processo de criação e difusão de novas soluções baseadas em P&D, mostra que a imensa maioria de novos produtos é desenvolvida exclusivamente pela própria empresa inovadora (78,6%), com relativamente reduzida participação de outras empresas ou instituições (7,5% em colaboração e 10,7% diretamente por outras empresas e instituições). Isso é exatamente o inverso do que ocorre no caso das inovações de processo, em que 63,5% das inovações resultam inteiramente de terceiros.
Essa diferença entre inovações de produto e de processo reflete sobretudo a extrema dependência das mudanças inovadoras nos processos produtivos com relação aos fornecedores de máquinas e equipamentos e a modéstia dos esforços de inovação em produtos, que não dependem de desenvolvimentos colaborativos capazes de ampliar os esforços e os resultados da inovação.
O peso do mercado interno
Os dois gráficos apresentados a seguir ilustram o alcance das inovações introduzidas pelas empresas de todos os segmentos cobertos pela PINTEC (além da indústria, os serviços). Constata-se que o móvel principal da inovação das empresas é o mercado doméstico e que os segmentos cujas inovações estão desde a partida inseridas em um contexto mais aberto – a economia global – são raros.
Considerações finais
O quadro da inovação retratado pela PINTEC 2015-2017 não é um alento para todos os que acreditam que a inovação e a inovação baseada em desenvolvimento tecnológico são chaves para o desenvolvimento industrial e para o alcance de um patamar superior de competitividade.
Todas as informações recolhidas pela coleta sistemática realizada pelos técnicos do IBGE só confirmam aquilo que os profissionais das empresas e das instituições de apoio vêm constatando, em campo: o reconhecimento da importância e da necessidade de perseverarem em esforços em prol da inovação é compartilhado pelas empresas e pelos organismos afeitos ao tema, mas as condições das empresas, dos mercados e do ambiente institucional não têm sido favoráveis.
Por isso, também, a indústria ainda está longe de poder constituir um ciclo virtuoso de desenvolvimentos tecnológicos e inovações que alimentem a sua competitividade, o seu crescimento e os seus resultados financeiros, realimentando os processos de desenvolvimento tecnológico e de inovações. Os desafios da inovação no Brasil ainda estão por ser equacionados.