Carta IEDI
Balança Comercial da Indústria no Trimestre da Pandemia
Na primeira metade de 2020, o déficit da balança comercial da indústria de transformação avançou 66% frente ao mesmo período de 2019, atingindo R$ 19,1 bilhões. Cerca de 2/3 desse resultado, porém, deveu-se aos três primeiros meses do ano, pois com o choque da Covid-19, que derrubou o nível de atividade industrial e consequentemente as importações do setor, o déficit da indústria recuou no 2º trimestre de 2020. As exportações também retrocederam no período.
Assim, a pandemia teve o papel de reduzir o déficit industrial nos últimos meses ao custo de uma queda adicional da corrente de comércio do setor. Importou-se menos porque foi comprometido o crescimento da economia brasileira e exportou-se menos porque a crise global do coronavirus travou o comércio internacional. Isso além dos problemas dos problemas de competitividade que continuam existindo em nossa economia, cuja real solução passa por uma reforma tributária profunda e abrangente.
Esta Carta IEDI analise os fluxos de comércio internacional da indústria brasileira na primeira metade de 2020, enfatizando o desempenho de abril-junho que concentrou a maior parte dos efeitos econômicos derivados da pandemia de coronavirus. Para isso, utilizou-se a classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica da OCDE.
Nesta nova versão, a indústria de transformação é classificada em quatro das cinco faixas de intensidade: alta, média-alta, média e média-baixa. O segmento de baixa intensidade inclui os produtos da agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura e não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação.
A seguir uma síntese dos resultados encontrados.
Na indústria de alta tecnologia, o déficit comercial aumentou +10% na primeira metade de 2020 ante o mesmo período do ano anterior, mas pouco disso deveu-se ao 2º trim/20, cuja variação foi de apenas +2,3% na mesma comparação. Este desempenho refletiu a redução de -15,6% das importações desta faixa, devido aos ramos aeronáutico e eletroeletrônico. Suas exportações, contudo, recuaram ainda mais: -58,2% ante 2º trim/19, condicionadas pela queda de quase -74% da indústria aeronáutica.
Ainda na alta tecnologia, como seria de esperar em face da pandemia, houve aumento nas importações de produtos farmacêuticos de +10,3% no 1º trim/20 e de +2% no 2º trim/20 frente ao mesmo período do ano anterior, concorrendo para o déficit de US$ 4,4 bilhões desses bens na primeira metade do ano (+7,8%).
Já na faixa de média-alta tecnologia, seu déficit comercial subiu +9% em jan-jun/20 frente a igual período de 2019, a despeito do recuo de -3,8% no 2º trim/20. Neste caso também as exportações (-41,1%) caíram muito mais do que as importações (-21,8%) em abr-jun/20. Entre os diferentes ramos, a indústria automobilística e o setor químico foram os que mais pesaram para as menores vendas externas. Do lado das importações, os condicionantes foram máquinas e equipamentos, máquinas e aparelhos elétricos, além de veículos automotores.
Vale notar que os retrocessos das exportações destas faixas de maior intensidade tecnológica em 2020 foram tão intensos que levaram a participação da alta e média-alta tecnologia no total das vendas externas da indústria de transformação para 25,8%, o mais baixo dos últimos anos. A fração da alta tecnologia isoladamente foi reduzida à metade do que era na primeira de metade de 2008, passando de 8,1% para apenas 4,1%.
Na indústria de média tecnologia, por sua vez, o superávit de US$ 4,4 bilhões em jan-jun/19 reverteu-se em déficit de US$ 1,1 bilhão em jan-jun/20. Isso deveu-se à forte deterioração do ramo de construção de embarcações, com importações em alta tanto no 1º trim/20 quanto no 2º trim/20 devido às operações do setor naval, abarcando plataformas, mas também do ramo de metalurgia, maior exportador desta faixa, mas que viu suas vendas externas encolherem em ambos os trimestres.
Por fim, a média-baixa tecnologia não apenas apresentou superávit na primeira metade de 2020, como seu saldo aumentou +6% em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso decorreu de uma alta concentrada no 2º trim/20 (+18%), devido ao ramo alimentício, cujas exportações registraram +13,9% no período, muito influenciadas pelo avanço da safra agrícola. Para a faixa como um todo, as vendas externas recuaram -4,3% em abr-jun/20 e as importações, -25,8% em função de derivados de petróleo; têxteis, vestuário e calçados e alimentos.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
A bastante atípica primeira metade de 2020 fechou com superávit comercial de US$ 22,3 bilhões, abaixo dos alcançados nos três anos anteriores para o mesmo acumulado. A redução do superávit ocorreu com exportações caindo 7,1%, de US$ 109,4 bilhões para US$ 101,7 bilhões, o menor montante exportado para primeiro semestre desde 2016. As importações retrocederam 5,2%, ficando em US$ 79,4 bilhões.
Esse superávit foi obtido principalmente pelo saldo positivo de US$ 41,4 bilhões dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais, sendo o melhor resultado para janeiro-junho em toda a série. Suas exportações atingiram em US$ 47,7 bilhões, patamar também recorde em dólares correntes para acumulado até o sexto mês.
No caso dos produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação, o déficit aumentou frente à metade inicial do ano anterior, saindo de US$ 11,5 bilhões para US$ 19,1 bilhões. Apesar desse aumento, ainda está abaixo do registrado nos seis meses iniciais dos anos de 2011 a 2015. As exportações declinaram 15,6%, para US$ 54,0 bilhões, seu menor montante exportado desde o primeiro semestre de 2009. As importações decresceram 3,2%, ficando em US$ 73,1 bilhões.
Em suma, enquanto o saldo dos bens típicos da indústria de transformação se deteriorou nos dois primeiros trimestres do ano na comparação com os mesmos períodos de 2019, os superávits dos demais bens foram maiores tanto no primeiro quanto no segundo trimestre. No cômputo final, o superávit do primeiro semestre diminuiu muito em função do primeiro trimestre quando o déficit dos produtos da indústria de transformação foi bem maior, o que pode ser atribuído a uma perspectiva de retomada, ou até para a própria atualização do capital físico. Todavia o segundo trimestre se caracterizou pela redução forte de toda a corrente de comércio, como seria de esperar devido ao distanciamento social e fechamento de atividades econômicas para enfrentamento da pandemia da covid-19.
Atendo-se ao segundo trimestre do ano, o saldo positivo de US$ 17,8 bilhões só não superou o do mesmo período de 2017. Porém o superávit maior ocorreu com corrente de comércio cadente. As exportações retrocederam 8,6% frente a abril-junho de 2019, parando em US$ 53,2 bilhões. As importações caíram 14,8%, ficando em US$ 35,4 bilhões. No segundo trimestre de 2020, o superávit também se deveu aos demais produtos – bens agropecuários e minerais: saldo de US$ 23,8 bilhões. Tal resultado decorreu do fato de o Brasil ter exportado 7,1% a mais desses produtos em relação a abril-junho de 2019, chegando a US$ 26,8 bilhões, enquanto as importações diminuíram 25,1%.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações declinaram 20,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficando em US$ 26,4 bilhões. Desse modo, o déficit chegou a US$ 6,0 bilhões, acima do registrado em abril-junho do ano passado, déficit de US$ 4,4 bilhões. As importações dos produtos em questão também caíram, para US$ 32,5 bilhões, queda de 13,7%.
A balança por intensidade tecnológica
Como salientado em carta anterior, a nova classificação por intensidade de P&D ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não apenas as da indústria de transformação do esforço anterior. Ademais, se antes foram definidas quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D ou tecnológica. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes compõem as quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na faixa de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto à faixa de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Desse modo, esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõem essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Feitas tais considerações, pode-se esmiuçar a balança comercial brasileira a partir dessa versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Considerando primeiramente os desempenhos no acumulado do ano, o intercâmbio externo de bens produzidos por atividades tidas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica experimentou déficit de US$ 12,2 bilhões em janeiro-junho, maior do que os dos quatro anos anteriores para primeiro semestre. Ainda que haja produtos oriundos de serviços – publicação de software, tal saldo negativo é quase integralmente relacionado a bens da indústria de transformação. As exportações dos bens da indústria de transformação sofreram declínio próximo de 50%, caindo para US$ 2,2 bilhões. Tal queda decorreu principalmente da menor venda de aeronaves, principal item de exportação dessa faixa. Em que pese tanto, ainda são os itens aeronáuticos os únicos superavitários. O complexo eletrônico experimentou queda nas exportações com recuo ainda maior nas importações, reduzindo um pouco o déficit de seus produtos, que continua em patamar elevado, na casa dos US$ 8 bilhões. Os produtos farmacêuticos registraram déficits maiores, o que era de se esperar no contexto da pandemia, com as importações crescendo 6,0%.
A faixa de média-alta intensidade encerrou o período com déficit de US$ 20,3 bilhões, o maior dentre as cinco faixas. Ainda assim, sua magnitude ficou menor do que a registrada em igual acumulado de 2011 a 2015. Suas exportações recuaram 28,2% no contraponto entre semestres iniciais de 2020 e de 2019, ficando em US$ 11,7 bilhões. Tal recuo foi puxado pela retração nas vendas externas de veículos automotores, reboques e semi-reboques, registrando déficit, embora de menor magnitude que no primeiro semestre de 2019. O saldo dos produtos químicos (exceto farmacêuticos) permaneceu como maior déficit, enquanto máquinas e equipamentos não especificados noutros ramos teve o maior aumento no déficit, uma combinação de retração das exportações com incremento nas importações.
Quanto aos produtos tipicamente originários de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, seu intercâmbio registrou déficit no primeiro semestre, de US$ 1,1 bilhão, contrastando com os superávits dos anos anteriores que lhe caracterizavam. As exportações caíram 19,5%, atingindo US$ 11,0 bilhões. As importações, por sua vez, cresceram 30,5%. A mudança de sinal refletiu a queda nas exportações em todos os ramos, com destaque para a variação dos produtos da construção naval e para recuo de 8,6% em produtos metalúrgicos, devido a sua representatividade na pauta exportadora, bem como refletiu o incremento importador também da construção de embarcações.
Quanto ao grupamento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 32,1 bilhões em janeiro-junho de 2020. Mesmo com o retrocesso nas exportações de bens da indústria de transformação (-2,0%) e da extração mineral (-9,2%) puxando a queda da faixa (-5,2%), as retrações nas importações foram bem mais contundentes, destacando-se a de coque, produtos derivados do petróleo e afins dentre os industrializados e a de produtos minerais. A redução nas importações refletiu sobremaneira o menor consumo decorrente do distanciamento social como medida para mitigar a pandemia.
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados observou superávit de US$ 23,7 bilhões, maior do que no mesmo acumulado de 2019, com aumento de 20,6% das exportações. Esse incremento é quase equivalente ao das vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 21,6%, dado o pouco peso dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens industrializados.
Passando para a comparação entre abril-junho de 2020 e igual trimestre de 2019, no segundo trimestre de 2020, o déficit da faixa de alta intensidade, de US$ 5,7 bilhões, ficou um pouco maior, mesmo com as exportações caindo 58,2%. Tais quedas foram puxadas pelos três ramos, com destaque para os produtos aeronáuticos, registrando forte queda. As importações caíram menos, mas dada sua magnitude, permitiu um déficit menor, principalmente pela redução nas importações de bens eletrônicos, mesmo com aumento nas importações de produtos farmacêuticos.
Passando para o segmento de média-alta, este experimentou déficit de US$ 9,0 bilhões, um pouco menor do que o déficit do segundo trimestre de 2019. As exportações caíram 41,1%, ficando em US$ 5,1 bilhões, uma queda generalizada, com expressão maior no caso das vendas externas de automóveis. As importações de mercadorias dessa faixa, por sua vez, declinaram 21,8%
Abril-junho de 2019 para a faixa de média intensidade foi de déficit, de US$ 372 milhões, em contraste com o superávit de US$ 2,9 bilhões no mesmo trimestre de 2019. Além da queda de 18,4% nas exportações, ficando em US$ 5,3 bilhões, as importações de bens da indústria de transformação dessa faixa cresceram 56,7% em abril-junho devido às operações do setor naval. Destaque-se também o papel dos produtos da metalurgia, com superávit de US$ 3,2 bilhões.
Quanto aos fluxos comerciais faixa de média-baixa intensidade tecnológica no segundo trimestre de 2020, suas exportações, US$ 25,0 bilhões, representaram uma queda de 11,9% frente a abril-junho de 2019. Enquanto as exportações de minérios recuaram 21,3%, para US$ 10,0 bilhões, as dos produtos da indústria de transformação dessa faixa, retrocederam 4,3%, ficando em US$ 15 bilhões. Desse modo, o superávit de todos os bens do segmento de média-baixa intensidade foi de US$ 17,2 bilhões, um pouco abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, posto que suas importações caíram ainda mais, 27,3%. A força do agronegócio brasileiro se mostra nessa faixa por conta da indústria de alimentos e bebidas, cujas exportações cresceram nessa base de comparação.
A faixa de baixa intensidade apresentou aumento no superávit no segundo trimestre, chegando a US$ 15,6 bilhões, uma combinação de incremento de 37,2% nas exportações, atingindo US$ 16,6 bilhões, com redução de 7,9% nas compras externas. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
No acumulado até junho de 2020, como visto, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade aumentou vis-à-vis o mesmo semestre de 2019, chegando a US$ 12,2 bilhões. Apesar de maior, ficou abaixo dos déficits para janeiro-junho registrados nos anos de 2011 a 2015. Como agravante, esse déficit maior ocorreu com retração de 48,8% nas exportações em dólares correntes, caindo para US$ 2,2 bilhões. As importações declinaram 6,5%.
Os produtos típicos da indústria aeronáutica permanecem como os únicos superavitários dessa faixa, saldo de US$ 306 milhões. Porém esse foi o menor superávit desde janeiro-junho de 2015, com declínio de 61,9% em suas vendas externas, ficando em US$ 1,1 bilhão. As exportações de bens eletrônicos também recuaram bastante, 37,2%, sendo que seu volume já era pouco expressivo. As importações de eletrônicos diminuíram 12,5%, consubstanciando um volume importado de US$ 8,7 bilhões e déficit de US$ 8,2 bilhões.
No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas declinaram 5,4%, ficando em US$ 624 milhões, contribuindo para o déficit de US$ 4,4 bilhões, com incremento nas importações de 6,0%, já esperado pelo contexto da pandemia.
Em abril-junho, o saldo dos bens das indústrias de alta intensidade ficou deficitário em US$ 5,7 bilhões, maior o que o déficit do mesmo período de 2019. Suas exportações declinaram 58,2%, caindo para US$ 981 milhões. As importações também retrocederam, queda de 15,8%, ficando em de US$ 7,6 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais conformaram o único grupo desse segmento a lograr superávit em abril-junho, mas de apenas US$ 88 milhões. Suas exportações declinaram 73,6%, ficando em US$ 418 milhões. Em que pese o efeito da pandemia, desde o terceiro trimestre de 2018 as exportações tem caído na comparação com igual período do ano anterior. Já as importações recuaram 23,0%.
Os bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para a balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 3,6 bilhões. O déficit menor do que no segundo trimestre de 2019 refletiu a redução no consumo doméstico, concorrendo para a menor corrente de comércio desses produtos. As já pouco expressivas exportações ficaram reduzidas a US$ 251 milhões, queda de 40,9%, enquanto as importações foram de US$ 3,8 bilhões, mesmo com redução de 23,6% no montante importado.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 2,2 bilhões. Suas exportações recuaram 9,5%, vendendo US$ 313 milhões para outros países. As importações desses bens, a seu turno, cresceram 2,0%, atingindo US$ 2,5 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta intensidade apresentou déficit de US$ 20,3 bilhões na primeira metade de 2020, o maior dentre as quatro faixas de intensidade e o maior desde 2016 para primeiro semestre. Suas exportações diminuíram 28,2%, caindo para US$ 11,7 bilhões em janeiro-junho. As importações também caíram, mas como menor intensidade, queda de 8,3%, ficando em US$ 32,0 bilhões.
Os produtos da indústria automobilística experimentaram saldo negativo de US$ 532 milhões, déficit até menor do que no mesmo acumulado de 2019. Suas exportações declinaram 39,7%, ficando em US$ 3,3 bilhões, com as importações também diminuindo, queda de 40,8%. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 361 milhões, maior do que no primeiro semestre do ano passado, com recuo de 63,2% nas exportações, ficando em meros US$ 42 milhões.
Os dois grupamentos ligados a bens de capital tiveram comportamentos distintos. O de equipamentos não especificados noutras atividades teve déficit de US$ 5,5 bilhões, exportando 30,2% menos do que no primeiro semestre de 2019, ficando em US$ 3,0 bilhões. Suas importações cresceram 18,3% no mesmo período. Já os materiais e equipamentos elétricos, tiveram resultado negativo de US$ 2,4 bilhões, déficit menor do que nos seis primeiros meses de 2019, com exportações de US$ 1,1 bilhão, 15,2% menor do que o montante exportado no mesmo acumulado de 2019. As importações também diminuíram, queda de 10,8%.
Quanto aos produtos químicos, exclusive farmacêuticos, experimentou déficit de US$ 10,7 bilhões, mais da metade do déficit de todo o segmento de média-alta intensidade. O Brasil exportou US$ 4,0 bilhões desses bens, queda de 15,6%, sendo que as importações retrocederam 7,5%.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 849 milhões, com queda de 12,5% nas exportações, que ficaram em US$ 164 milhões. Como seria de esperar, suas importações cresceram 5,5%, dadas as necessidades de enfrentamento da covid-19.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 74 milhões, com recuo de 41,3% nas exportações, mas com acréscimo de 98,5% nas aquisições externas, chegando a US$ 41 milhões.
No segundo trimestre, o déficit dessa faixa foi de US$ 9,0 bilhões, com retração de 41,1% nas exportações frente a abril-junho de 2019, ficando em US$ 5,1 bilhões. Pari passu, as importações caíram 21,8%.
As exportações de produtos químicos (exclusive farmacêuticos) decresceram 16,9%, parando em US$ 2,0 bilhões, enquanto as importações retrocederam 8,0% no comparativo entre segundos trimestres, ficando em US$ 7,4 bilhões. Assim o déficit atingiu US$ 5,4 bilhões, respondendo por mais da metade do saldo negativo dessa faixa.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 300 milhões. Os produtos automobilísticos registraram déficit de US$ 158 milhões em abril-junho de 2020. Suas exportações no segundo trimestre foram de US$ 1,2 bilhão, uma retração de 61,9% frente ao mesmo período de 2019. Suas importações caíram 61,0%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações declinaram 79,1%, enquanto as importações caíram 15,6%, levando a um resultado negativo de US$ 142 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 1,9 bilhão e de US$ 1,0 bilhão, respectivamente, ambos de menor magnitude do que no mesmo trimestre de 2019. No ramo de M&E, suas exportações caíram 43,0%, ficando em US$ 1,2 bilhão, enquanto as importações diminuíram 18,9%. Ou seja, o incremento das importações no semestre se deveu estritamente ao primeiro trimestre do ano. Já as exportações de aparelhos e materiais elétricos recuaram 27,2%, chegando a US$ 536 milhões, enquanto as aquisições externas decresceram 25,7%.
As exportações de I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos caíram 22,0% em abril-junho de 2020, US$ 79 milhões. Suas importações cresceram 9,3%, chegando a US$ 551 milhões e déficit de US$ 471 milhões.
Já o intercâmbio de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 41 milhões no segundo trimestre de 2020, com suas exportações caindo 43,5%, parando em US$ 67 milhões, enquanto suas importações cresceram 153,4%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As vendas externas em dólares correntes de bens oriundos tipicamente de indústrias de média intensidade tecnológica declinaram 19,6% no primeiro semestre, ficando em US$ 11,0 bilhões. Como as importações cresceram 30,5%, a balança se deteriorou, saindo da condição superavitária para déficit de US$ 1,1 bilhão, mesmo contando com ramos reconhecidamente impulsionadores das vendas externas brasileiras.
Tal mudança de sinal ocorreu sobretudo devido ao ramo naval, por conta de plataformas, estruturas flutuantes, cujas importações cresceram 144,4% no contraponto entre primeiros semestres de 2020 e 2019, “importando-as” do próprio Brasil. Essas operações fizeram com que o fluxo de entrada no País alcançasse US$ 5,2 bilhões, enquanto as exportações declinaram 99,4%. Daí o saldo negativo de US$ 5,2 bilhões.
Passando para os demais ramos, os produtos da metalurgia lograram superávit de US$ 5,8 bilhões, imponente, mas aquém de seus equivalentes dos três anos anteriores. Suas exportações diminuíram 8,6%, ficando em US$ 9,1 bilhões, enquanto as importações desses itens declinaram 3,2%. O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos, sofreu uma redução de 25,5% em suas exportações, ficando em US$ 665 milhões, acompanhada de um decréscimo de 15,2% nas importações.
Os dois grupos de bens restantes registraram resultado negativo no acumulado até junho. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 1,5 bilhão, puxado por retração de 18,6% nas exportações, ficando em US$ 1,0 bilhão e ampliação de 4,6% nas importações. Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) tiveram déficit de US$ 183 milhões, com quedas quase parelhas nas exportações (-27,6%) e nas importações (-28,2%).
Atendo-se ao segundo trimestre de 2020, as exportações de gêneros típicos da indústria de média intensidade tecnológica diminuíram 18,4% frente a igual período de 2019, parando em US$ 5,3 bilhões. As importações, a seu turno, cresceram 56,7%. Dessa forma, o saldo, que já fora deficitário no primeiro trimestre do ano, também ficou negativo em abril-junho último, déficit de US$ 372 milhões.
Novamente as variações agudas, em especial nas importações, decorreram das embarcações, por conta das operações envolvendo plataformas de petróleo, concorrendo quer para a redução nas exportações, quer para o aumento nas importações. Assim, as importações do segmento naval atingiram US$ 2,8 bilhões, praticamente a mesma magnitude do déficit.
Os produtos metalúrgicos, de balança superavitária, lograram saldo de US$ 3,2 bilhões, expressivo, mas abaixo do obtido no mesmo trimestre do ano passado. Suas exportações recuaram 14,4% no mesmo confronto, ficando em US$ 4,5 bilhões. As importações também diminuíram, variação de -27,0%. Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 40 milhões, com exportações caindo 35,7%, ficando em US$ 285 milhões, enquanto as importações foram reduzidas em 25,9%.
Passando para os demais itens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 709 milhões, com queda de 32,2% nas vendas para o exterior, exportando, portanto, US$ 454 milhões, e retração de 4,9% nas importações. Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 54 milhões foi acompanhado de retração de 43,1% nas exportações, ficando em US$ 75 milhões, e de queda de 48,1% nas importações.
Bens da indústria de transformação de média-baixa baixa intensidade tecnológica
As exportações de mercadorias produzidas pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica declinaram 2,0% no primeiro semestre de 2020, ficando em US$ 29,1 bilhões. Ainda assim, o superávit de US$ 14,6 bilhões superou o do mesmo acumulado de 2019, decorrência da redução de 8,5% nas importações desses itens, US$ 14,5 bilhões.
Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, logrou expansão de 10,7% nas exportações, que atingiu em US$ 18,5 bilhões, enquanto suas importações caíram 10,5%, levando ao saldo de US$ 15,6 bilhões. Já o intercâmbio de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit de US$ 5,0 bilhões, exportando US$ 5,7 bilhões, 21,5% menos do que na primeira metade de 2019.
A balança de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis etc., por sua vez, registrou déficit de US$ 1,6 bilhão, bem menor do que no mesmo acumulado do ano passado. Suas exportações aumentaram 1,6%, chegando a US$ 2,9 bilhões, enquanto as importações retrocederam 29,8%. Ou seja, a redução desse déficit também contribuiu para a melhora do resultado comercial dos bens da indústria de transformação dessa faixa de intensidade tecnológica.
O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados registrou déficit de US$ 1,1 bilhão, ligeiramente menor do que no mesmo período do ano anterior, mas com uma corrente de comércio bem menor. Suas exportações caíram 25,9%, parando em US$ 1,1 bilhão, enquanto as importações diminuíram 15,7%. Já o saldo dos produtos metálicos agiu em sentido contrário, com o déficit subindo de US$ 1,4 bilhão no primeiro semestre de 2019 para US$ 3,3 bilhões. Concorreram para tanto a redução de 36,2% nas exportações, ficando em US$ 802 milhões, e o aumento de 58,2% nas importações.
Especificamente no segundo trimestre de 2020, o País exportou 4,3% a menos dos bens tipicamente oriundos dos ramos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica, ficando em US$ 15,0 bilhões. O País importou US$ 5,9 bilhões desses produtos, declínio de 25,8% em relação ao segundo trimestre de 2019. O recuo maior das importações contribuiu para o superávit de US$ 9,1 bilhões em abril-junho, acima do registrado no mesmo trimestre do ano anterior.
O intercâmbio de alimentos da indústria, bebidas e tabaco teve saldo positivo de US$ 9,0 bilhões, puxado pelo aumento de 13,9% nas exportações, atingindo US$ 10,2 bilhões, com suas importações caindo 21,3%. Os produtos madeireiros, de papel e celulose também obteve superávit de monta, US$ 2,6 bilhões, mas com exportações cadentes, US$ 2,9 bilhões, variação de -20,3%, sendo que as importações também caíram, 31,3%.
Já as vendas para o exterior de derivados de produtos de petróleo e afins caíram 30% no segundo trimestre, ficando em US$ 1,1 bilhão. Mas suas importações caíram ainda mais, 55,6%, fazendo com que o déficit fosse de US$ 401 milhões, bem abaixo do registrado no primeiro trimestre do ano e do observado no mesmo período de 2019.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de produtos de metal recuaram 51,8%, ficando em US$ 331 milhões. Suas importações, ao contrário, cresceram 38,8%, culminando no resultado negativo de US$1,7 bilhão. Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit também aumento frente ao segundo trimestre de 2019, mas de modo mais discreto, chegando a US$ 465 milhões. Suas exportações caíram 46,9%, ficando em US$ 398 milhões, enquanto as importações caíram 25,5%