Carta IEDI
A retomada da indústria mundial
De acordo com o último relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), a produção industrial mundial voltou a crescer no 3º trim/20. Foi o primeiro trimestre de reação após do choque da Covid-19 e variações positivas marcaram o desempenho de todos os grupos de países.
Frente ao trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais, a alta atingiu +12,1%. Com isso, a defasagem em relação ao ano passado diminuiu, mas continuou presente: -1,1% ante o 3º trim/19.
Apesar dos sinais favoráveis, a UNIDO alerta para o fato de que o recente aumento no número de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus, em muitas partes de mundo, pode trazer recuo adicional da atividade industrial nos próximos meses. As incertezas a respeito da produção e distribuição das vacinas contra a Covid-19 também podem vir a exercer pressão negativa.
A retomada no 3º trim/20, embora tenha sido disseminada, foi puxada pelos países emergentes (exceto China), cuja indústria de transformação cresceu +23,3% frente ao trimestre anterior, depois de uma retração de -20,2% no 2º trim/20. Neste grupo, a maior alta veio da América Latina, com +26%.
A China, que foi o primeiro país a sofrer os efeitos econômicos da Covid-19, já se recupera há dois trimestres. Depois do recuo de -18,1% no 1º trim/20, registrou +24,1% e +7,4% no 2º e 3º trim/20, sempre em comparação com o trimestre anterior, com ajuste sazonal. Com isso, a indústria chinesa está acima do nível de produção do ano passado. No 3º trim/20 apontou +8,2% ante o 3º trim/19.
Já nas economias avançadas, a indústria de transformação cresceu +12,4% no 3º trim/20, depois de uma queda de -14,5% no 2º trim/20. Com uma recuperação apenas parcial, seu desempenho ante o mesmo período do ano anterior acusa queda de -5,9%, isto é, mais grave do que no caso dos países emergentes (-3,7%, exceto China).
No grupo dos avançados, a Europa foi quem melhor se saiu ao apresentar aumento de +15,9% frente ao trimestre anterior. É, porém, uma das áreas a apresentar segunda onda de contágio do novo coronavírus, o que tende a comprometer um adicional resultado desta ordem no final do ano.
Na América do Norte, a indústria de transformação avançou +12,1% e na Ásia do Leste, +8,3% frente a abr-jun/20. Em ambos os casos, estas altas foram menos intensas do que as quedas do 2º trim/20 (-14,8% e -12,3%, respectivamente).
Com o intuito de incorporar informações mais recentes, o IEDI elaborou, a partir de dados dos próprios países, da OCDE e da Eurostat, um ranking internacional de crescimento da produção indústria em diversos países para o acumulado de 2020, com dados disponíveis até out/20.
Dentre os 42 países acompanhados, o Brasil ocupou uma posição intermediária, referente à 22ª colocação, com um resultado negativo de -6,6% ante jan-out/19, com ajuste sazonal. Mesmo assim, ficamos à frente de países como EUA, Reino Unido, Japão, Espanha, França e Alemanha.
Por fim, o relatório da UNIDO também mostra que as indústrias de média-alta e alta tecnologia, que congregam muitos ramos de bens de capital e de consumo duráveis, lideraram a retomada da indústria no 3º trim/20.
No período de jul-set/20, o grupo de setores de média-alta e alta tecnologia registrou variação de +0,1%, após despencar -10,6% no 2º trim/20. O grupo de média intensidade tecnológica, que teve as maiores perdas em abr-jun/20 (-12,3%), permaneceram no vermelho no 3º trim/20, com -1,6%.
A indústria de transformação mundial no terceiro trimestre de 2020
O relatório trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) referente ao terceiro trimestre de 2020 mostra os sinais recuperação da atividade econômica mundial, após severa crise nos primeiros seis meses de 2020, reflexo dos efeitos da pandemia de COVID-19.
Cabe destacar, entretanto, que o grau de incerteza em relação à recuperação continua elevado, visto que muitas das economias desenvolvidas estão presenciando uma segunda onda da pandemia, com aumento de infecções. Assim, a sustentabilidade da reação industrial ainda não está assegurada.
No terceiro trimestre de 2020, a indústria mundial assinalou queda de -1,1% frente ao mesmo período de 2019, após agudo recuo de -11,1% no segundo trimestre do ano.
Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, houve avanço de +12,1%, o primeiro resultado positivo desde o fim de 2019, visto que nos dois primeiros trimestres de 2020, a indústria havia registrado variação de -6,9% e de -4,6%, respectivamente.
O recuo da atividade econômica em 2020 é o primeiro de tamanha magnitude desde a crise financeira de 2008/2009. Será necessário aguardar para que seja verificado se o padrão de recuperação será o mesmo da crise anterior, quando após quatro trimestres de quedas consecutivas, a produção industrial registrou variações positivas excepcionais.
Segundo a UNIDO, os dados mais recentes refletem os efeitos da pandemia de COVID-19 na atividade econômica e uma recuperação incipiente, deixando as incertezas que marcaram os trimestres anteriores para segundo plano, como Brexit e medidas comerciais protecionistas.
A pandemia continua forçando os governos a intervir na economia, à medida que os países industrializados voltaram a registrar aumento do número de infectados em uma nova onda da pandemia.
Ademais, a UNIDO alerta que a redistribuição da produção manufatureira global na direção das economias mais industrializadas pode se acelerar nos próximos anos, já que elas buscarão uma redução da dependência por produtos importados.
A melhora relativa dos dados no trimestre entre julho e setembro de 2020 foi puxado pelo desempenho de todos os grupos de países. As nações industrializadas, que no segundo trimestre de 2020 registraram queda de -16,3% da atividade industrial comparado ao mesmo período de 2019, assinalaram no terceiro trimestre uma variação ainda negativa, mas bem menos intensa: -5,9%.
Nas economias em desenvolvimento e emergentes, mesmo excluindo a China, que deu início à sua recuperação antes do restante do mundo, o resultado foi melhor do que no grupo dos desenvolvidos: houve recuo de -3,7%, sinalizando um quadro menos grave do que no trimestre anterior, quando havia registrado -22%.
A China, que registrou a queda mais intensa no primeiro trimestre de 2020, pois foi o primeiro país atingido pelo novo coronavírus, assinalou uma acentuada elevação da atividade industrial, de +8,2%, no terceiro trimestre ano frente a igual período de 2019. Em comparação com o trimestre imediatamente anterior a alta foi de +7,4%, depois do avanço de +24,1% no segundo trimestre.
Desempenho Industrial nas Economias industrializadas
A indústria de transformação das economias industrializadas registrou queda de -5,9% no trimestre de julho-setembro de 2020 frente ao mesmo período do ano passado. Isto é, importante amenização depois da contração de -16,3% do segundo trimestre, quando os países foram fortemente afetados pela pandemia de COVID-19 e tiveram que estabelecer medidas para contenção da doença.
Em relação ao trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal, o setor chegou a registrou alta de +12,4% nas economias industrializadas. Embora vigoroso, este desempenho não compensou integralmente a perda de -14,5% no trimestre anterior.
Apesar da ampla volatilidade que a pandemia tem provocado, cabe destacar que a indústria de transformação desse grupo de países já assinalava trajetória de desaceleração desde o fim de 2018, com queda de produção desde meados de 2019: -0,5% no 2º trim/19; -0,7% no 3º trim/19; - 1,6% no 4º trim/19 e de -2,4 no 1º trim/20, sempre frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Principal condicionante para esta sequência de recuos foi o ambiente de disputas comerciais e tarifárias entre EUA, China e União Europeia, além das incertezas do Brexit.
Na América do Norte, houve recuo de -6,1% no terceiro trimestre, após forte queda de -16,0% no trimestre anterior. Esse resultado está associado à atividade manufatureira dos Estados Unidos, que registrou variação de -6,1%, após recuo de -15,6% no trimestre anterior.
As economias desenvolvidas do Leste Asiático, por sua vez, registraram recuo de -5,9% no terceiro trimestre de 2020, após declínio de -13,0% no período entre abril e junho de 2020.
A produção da indústria japonesa, maior potência industrial da região, ainda registrou retrocesso de dois dígitos: -12,5%, após recuo de -20,5% no trimestre anterior. Em direção oposta, Taiwan e Singapura registraram avanços na produção industrial, crescendo +5,9% e +10,6% no terceiro trimestre, respectivamente, devido ao desempenho dos setores de computadores e eletrônicos e indústria farmacêutica.
A produção industrial das economias europeias apresentou recuo de -5,9% no período entre julho e setembro de 2020 frente ao mesmo período de 2019, isto é, de quase 1/3 do recuo de -19,2% apresentado no trimestre anterior.
Os dados desagregados mostram que os países da Área do Euro têm obtido desempenhos inferiores aos demais, especialmente aqueles com setores industriais mais importantes: a indústria manufatureira da Itália registrou variação de -4,6%; enquanto a produção da Espanha caiu -5,5% e a da França, -7,3%. Na Alemanha, o ritmo de declínio foi de dois dígitos, de -10,2%.
Fora da zona do Euro, o destaque negativo na Europa foi o Reino Unido, com queda da produção industrial de -8,8% no terceiro trimestre de 2020, seguindo um recuo de -23,6% no trimestre anterior.
Os efeitos da pandemia sobre as economias industrializadas ainda são incertos, segundo a UNIDO, visto que os dados mais recentes apontam para uma segunda onda, com Europa e Estados Unidos como os principais centros do aumento de contaminações.
Desempenho Industrial nas economias em desenvolvimento e emergentes
No primeiro trimestre de 2020, a indústria de transformação chinesa foi a mais afetada pelo surto de Covid-19, mas os dados do segundo trimestre já registravam uma rápida recuperação da produção. Agora no terceiro trimestre do ano, a comparação com o mesmo período de 2019 indica um avanço nada desprezível de +8,2% e de 7,4% ante o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais. Assim, a indústria chinesa já superou o patamar de produção pré-pandemia.
A maior parte dos setores da indústria chinesa registrou crescimento no terceiro trimestre de 2020, com apenas algumas exceções. Dentre os setores com melhor desempenho no terceiro trimestre estão: computadores e eletrônicos (+8,9%), equipamentos elétricos (+15,8%), maquinário (+11,2%) e automóveis (+16,7%).
Nas economias em desenvolvimento da Ásia, houve decréscimo de -5,3% no período entre julho e setembro de 2020 relativamente a igual período de 2019, seguindo uma queda de -23,3% no segundo trimestre do ano. O desempenho dos países desse grupo foi bem variado: enquanto a produção industrial aumentou no Vietnã (+2,6%) e Paquistão (+4,4%), na Índia (-6,8%), Mongólia e Tailândia (ambas com variação de -8,1%) e Filipinas (-17,0%) continuaram a registrar fortes quedas.
A indústria de transformação da América Latina, que desde 2018 tem registrado desaceleração na atividade, registrou retração de -4,0% da produção no terceiro trimestre de 2020 frente mesmo trimestre do ano anterior, após recuo de -24,2% no trimestre anterior.
O resultado mais recente da América Latina foi puxado pela indústria de transformação do México (-7,2%), Argentina (-3,8%) e, em menor medida, do Brasil (-0,4%). Por outro lado, Costa Rica e Nicarágua registraram aumentos de produção de +0,8% e +1,8%, respectivamente.
Já quanto as economias emergentes da África, registraram recuo de -4,0% da produção industrial no terceiro trimestre de 2020, após decréscimo de -15,0% no trimestre anterior. Os resultados individuais também foram diversos: enquanto a produção manufatureira de Senegal e Ruanda aumentou +2,7% e +5,9%, respectivamente, caiu na Nigéria (-2,6%), Tunísia (-3,1%) e África do Sul (-8,4%).
A indústria de transformação das demais economias em desenvolvimento registrou um decréscimo de +3,6%. A indústria da Turquia, maior produtor industrial do grupo, assinalou crescimento de +8,1%. Os demais países apresentaram perfil variado: a produção industrial na Grécia caiu -1,6 %, na Croácia a variação foi de -2,3 %, na Romênia, de -4,6% e na Ucrânia, de -8,5 %.
Análise setorial
Segundo a UNIDO, os três grupos de produtos por intensidade tecnológica, que já apresentavam tendência de declínio das taxas de crescimento desde o início de 2018, registraram queda na produção de pelo menos -5% no primeiro trimestre de 2020 de pelo menos -10% no segundo trimestre.
No período entre julho e setembro do presente ano, os setores de média alta e alta tecnologia, parecem estar recuperando mais rápido, enquanto os demais grupos continuam registrando quedas mais acentuadas.
A taxa de crescimento do grupo de produtos de média intensidade tem deteriorado desde o início de 2019. A pandemia aprofundou essa tendência, resultando na variação negativa de -12,3% segundo trimestre de 2020 e de -1,6% no terceiro trimestre.
No trimestre de julho e setembro de 2020, relativamente a igual período do ano anterior, o grupo de média-alta e alta intensidade tecnológica registrou variação de +0,1% no terceiro trimestre, após despencar -10,6% no segundo trimestre de 2020.
Além dos efeitos da pandemia de COVID-19, outro fator decisivo para o declínio gradual desde 2018 têm sido o crescimento das incertezas relacionadas às restrições comerciais, com uma significativa influência nas decisões do consumidor e demanda por esses bens de maior intensidade tecnológica.
A produção de máquinas e veículos assinalaram grandes reduções na produção nos últimos trimestres. Por outro lado, a fabricação de computadores, eletrônicos e ópticos produtos, equipamentos elétricos, bem como produtos farmacêuticos aumentaram +5,7%, +4,8% e +2,6%, respectivamente.
De acordo com a UNIDO, a produção de bens essenciais, como alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos, foi menos afetada pela Covid-19. No terceiro trimestre do ano, a produção de produtos farmacêuticos e computadores e equipamentos eletrônicos registrou alta moderada em quase todos os grupos de países.
A produção de bens de capital e bens duráveis, como máquinas e equipamentos, veículos e móveis, por sua vez, assinalou novo recuo. Da mesma forma, têxteis, vestuário e couro assinalaram elevadas variações negativas no terceiro trimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019.
Perspectivas
Segundo relatório UNIDO, as previsões para indústria manufatureira indicam uma queda de -8,7% em 2020, principalmente devido às estratégias de contenção da pandemia de Covid-19 por meio de lockdowns econômicos e sociais.
Essas medidas tiveram um grande impacto na demanda do consumidor, que também diminuiu devido às incertezas por conta das proibições de viagens, trabalho remoto, perda de empregos etc., e na oferta, visto que a produção de certos bens foi interrompida em todo o mundo por vários meses.
O ano anterior já havia apontado para uma desaceleração no crescimento da manufatura, principalmente por causa do comércio contínuo e tensões tarifárias entre os dois maiores produtores industriais do mundo, China e Estados Unidos. De acordo com as projeções da UNIDO, a indústria dos EUA deverá registrar variação de -11,6% em 2020 frente a 2019, enquanto a indústria chinesa deverá registrar um recuo de -1,4% no mesmo período.
A indústria manufatureira das economias industrializadas da Europa deverá sofrer uma queda -14,1% no valor adicionado em 2020 frente a 2019, comparado com o crescimento de +0,8% em 2019. A estimativa é de que a indústria na América Latina registre uma queda de -13,6%, aprofundando o declínio já observado em 2019.
Ranking Indústria Mundial
A partir dos dados coletados pela OCDE, IBGE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 42 países para o acumulado do ano de 2020.
Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2020 vai até outubro, porém para alguns casos considera o período de janeiro a setembro ou agosto. Esta diferença com o avançado do ano tende a influenciar menos os resultados nacionais e, consequentemente, o ranking mundial.
O resultado da indústria no Brasil no período janeiro-outubro/20 foi negativo, chegando a -6,6%, após queda de -1,1% em 2019 e dois anos consecutivos de crescimento: 2017 (+2,5%) e 2018 (+1,0%). A indústria brasileira já assinalava tendência declinante desde 2019, entretanto os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam para um grande agravamento do quadro, refletindo sobretudo os efeitos da pandemia de COVID-19.
Esse desempenho negativo colocou o Brasil na 22ª colocação entre os 42 países da amostra selecionada pelo IEDI no acumulado do ano de 2020, à frente, portanto, de países como os EUA (24º), Reino Unido (31º), Japão (34º) Espanha (36º), França (37º) e Alemanha (40º). A indústria chinesa registrou seu terceiro resultado positivo consecutivo em outubro: +1,8%, após +0,4% em agosto e +1,2% em setembro.