Carta IEDI
Avanço industrial e Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil
Não podemos mais repetir os erros do passado, nem ignorar o futuro. O Brasil não pode se furtar de enfrentar obstáculos e divergências em relação ao restante do mundo que vêm nos distanciando, há muito tempo, de um processo de desenvolvimento socioeconômico.
Por isso, o IEDI defende uma agenda de ações que melhorem o ambiente de negócios do País e que nos aproximem de padrões e práticas comuns aos países com desempenho socioeconômico superior ao nosso. Os principais eixos desta agenda serão sintetizados nesta Carta IEDI, mas encontram-se em sua integralidade no documento “Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil”, disponível no site do Instituto.
Assim, o IEDI busca contribuir com o processo de construção do futuro do País, identificando os principais obstáculos que devemos remover para restabelecer uma trajetória de crescimento sustentado e promover a melhoria das condições de vida da população. A tarefa é complexa e só terá sucesso com coordenação política e debate democrático e qualificado de ideias entre os agentes sociais.
Idiossincrasias e anacronismos, em contraste, cobrarão um preço ainda mais elevado do País neste momento em que a economia global deve acelerar um conjunto de profundas transformações – que já estão em curso, vale enfatizar – em direção à maior sustentabilidade ambiental e social, à digitalização dos processos produtivos e à busca por resiliência das cadeias de valor.
As principais economias globais já despertaram para o que está em jogo nas próximas décadas e se apressaram em desenhar políticas de desenvolvimento socioeconômico que costuram a dimensão conjuntural de criação de emprego e maior crescimento da economia na saída da pandemia à dimensão estrutural de modernização de suas estruturas produtivas, para se tornarem mais sustentáveis, avançadas e eficientes.
A indústria está entre as mais poderosas alavancas das transformações em curso. Isso porque, cada vez mais associada a serviços sofisticados e a outras atividades, inclusive primárias, a indústria estabelece um ecossistema em torno de si com capacidade de introduzir inovações que podem revolucionar os processos produtivos, mas também os padrões de consumo e estilos de vida das populações.
Não é à toa que o fortalecimento das competências industriais e tecnológicas vem sendo considerado questão-chave pelos países desenvolvidos. E não é de agora. Cabe observar que o florescimento de amplas estratégias industriais no mundo todo já tem quase uma década. A UNCTAD mapeou, entre 2008 e 2016, 114 estratégias em uma centena de países que juntos correspondem a 90% do PIB global, sendo que 74% delas foram adotadas após 2013.
Não se trata de dirigismo estatal, nem de ter mais ou menos Estado. Estas são visões ultrapassadas. O importante é que setor público e setor privado se articulem de forma virtuosa para construir uma trajetória de crescimento econômico sustentável e de melhoria das condições de vida dos cidadãos.
No Brasil, sinaliza o atraso em que está o País neste debate a recorrente necessidade de ser lembrado da importância da indústria para a pesquisa, desenvolvimento e inovação, para a aceleração do crescimento do PIB, para a geração de empregos de qualidade e para a arrecadação tributária, entre outros atributos fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico.
Acostumou-se ver, nas últimas décadas, o retrocesso da indústria brasileira no PIB do País e no total de nossas exportações, mas também a persistente perda de participação do Brasil no valor adicionado da indústria mundial e no total do comércio global de manufaturas. Estamos abrindo mão de uma das principais engrenagens do desenvolvimento socioeconômico que os países têm à sua disposição.
Esse retrocesso resulta de um acúmulo de fatores de diferentes naturezas, macro e microeconômicos, geopolíticos, sistêmicos e particulares, que distorceram nosso ambiente econômico. É preciso alterar esta trajetória em benefício de um maior desenvolvimento socioeconômico de nosso País.
Mesmo partindo de um quadro desfavorável, dada a heterogeneidade da indústria brasileira, o Brasil conta com empresas modernas e competitivas da porta para dentro de suas fábricas, que acompanham as tendências mundiais em direção à digitalização e sustentabilidade.
Estas empresas, muitas vezes líderes de suas cadeias produtivas e mais bem integradas à economia global, podem funcionar como núcleo de difusão de novas tecnologias e novas práticas para o conjunto do sistema industrial do país, por meio de suas redes de colaboradores, fornecedores e clientes. O que precisamos é criar condições para que estes casos se multipliquem.
Para isso, é incontornável que respeitemos algumas precondições, todas de crucial importância. A primeira delas diz respeito à manutenção da tranquilidade institucional em nosso País, sem a qual o Estado se torna uma grande força desestabilizadora.
A segunda refere-se à obtenção de uma trajetória favorável das contas públicas capaz de nos propiciar uma tendência de médio e longo prazo de equilíbrio fiscal. Só assim poderemos assegurar comportamento adequado para variáveis importantes, como inflação e taxas de juros. Vale enfatizar a interação entre estas duas primeiras condições, já que o equilíbrio fiscal tende a ser posto em risco diante da fragilização das instituições.
A terceira compreende uma trajetória de redução de nossas desigualdades sociais. Um país com baixa mobilidade social está condenado a ser menos competitivo e pouco inovador. Um sistema educacional equânime e de qualidade é a base para assegurar a ascensão social não apenas material, mas também política e intelectual de nossos cidadãos. Educar mais e melhor os brasileiros é peça-chave na engrenagem do desenvolvimento socioeconômico.
E finalmente, a quarta condição, refere-se ao compromisso com a sustentabilidade ambiental, pela sua interpolação com as demais precondições e pelo legado às futuras gerações.
Com estas condições presentes, poderemos caminhar com mais assertividade na questão da competitividade e a da produtividade, pilar essencial da agenda de desenvolvimento socioeconômico.
Já passou da hora de retirarmos o elefante da sala que consiste no chamado “Custo Brasil”, a começar por nosso sistema tributário injusto, complexo e oneroso, que coloca as empresas nacionais, de qualquer que seja o setor, em pé de desigualdade com suas concorrentes internacionais.
As fontes de Custo Brasil são inúmeras e vão muito além da tributação, representando, segundo o Ministério da Economia, um ônus equivalente a nada menos do que 22% do nosso PIB nacional. É este o peso que nossas empresas carregam nas costas e que as deixa para trás na corrida concorrencial, seja no mercado externo seja no mercado doméstico.
Assim, o IEDI também avalia como muito pertinentes e inadiáveis iniciativas de grande alcance, tais como a sequência da Reforma Trabalhista; o desenvolvimento do mercado de capitais e o novo papel do BNDES; a diminuição do custo do crédito; os ajustes na regulação econômica e a redução da insegurança jurídica; e o incentivo aos investimentos em infraestrutura, inclusive aquela necessária à transformação digital e à sustentabilidade.
Nesta mesma direção, é preciso aprofundar a inserção competitiva da economia brasileira no mundo, preferencialmente por meio do maior número de frentes possíveis de negociações de acordos comerciais, com ênfase em três princípios: gradualismo, horizontalidade e transparência. Além disso, é necessário que tenhamos a iniciativa de reduzir nossas barreiras internas aos fluxos de comércio.
Importante frisar que, cumpridos os princípios de gradualismo, horizontalidade e transparência, o compromisso com a abertura de nossa economia, independentemente de sua forma, deve ser incondicional, isto é, não se vinculando à obtenção prévia de sucesso em outros aspectos da agenda de desenvolvimento.
O Brasil não pode ficar isolado do mundo e cabe sobretudo à indústria estreitar os laços com o exterior. Isso porque são as cadeias industriais, mais longas e complexas, que criam as pontes e, quando bem inseridas no mundo, importam para exportar, não apenas bens, mas também serviços conexos às suas mercadorias.
Ao criarmos condições para avanços mais robustos na competitividade e produtividade de nossas empresas, a maior integração do Brasil na economia mundial, valendo-se de sua participação em cadeias globais de valor, abrirá caminho para que possamos ampliar nossas exportações de bens e serviços mais sofisticados e intensivos em tecnologia.
O IEDI, como tem feito há 32 anos, desde sua fundação, almeja acelerar o desenvolvimento socioeconômico do nosso País, a partir da perspectiva da indústria. Neste sentido, o Instituto sempre buscou estabelecer princípios e sugerir ações para a constante reinvenção de nossas competências industriais. O objetivo é fazer sistematicamente com que a indústria avance e não se perenize o padrão passado.
Para isso, o IEDI defende, além dos condicionantes destacados acima, uma estratégia industrial voltada para o futuro, com ênfase na geração e difusão de mudanças tecnológicas, com efeitos positivos sobre a produtividade e competividade e com implicações importantes sobre as formas organizacionais das empresas e sobre a totalidade da estrutura produtiva brasileira.
Introdução
O Brasil está diante de um momento decisivo, cada vez mais difícil de ser ignorado. Há muito tempo o País vem apresentando um dinamismo econômico insatisfatório, exíguas melhorias nas condições de vida de sua população e insuficiente cuidado com o meio ambiente. Um desempenho agravado nos últimos anos e evidenciado pela pandemia de Covid-19.
Embora o desenvolvimento de vacinas e o avanço do processo de imunização contra novos surtos de coronavírus tendam a restabelecer a sociabilidade e contribuam para a normalização dos negócios, alguns processos de transformação da economia mundial, que já vinham se desenhando, devem ganhar massa crítica na saída da atual crise. É o caso da crescente digitalização dos processos produtivos e da emersão da indústria 4.0, da busca por resiliência e também do reforço da agenda de sustentabilidade socioambiental.
São nestas direções que o mundo caminha, como sinalizam os programas de recuperação anunciados pelas grandes potências globais, a exemplo dos EUA, da União Europeia e da China, que associam objetivos de geração de emprego e aceleração do PIB à modernização de suas estruturas produtivas, na busca de sustentabilidade, mas também de maior produtividade e maior competitividade nos mercados globais. Estamos testemunhando o surgimento de um “novo mundo”, cujo principal vetor é a indústria.
O avanço da digitalização impulsionará ainda mais a integração entre a indústria e os serviços, transformando modelos de negócio, melhorando a coordenação de cadeias produtivas complexas e incentivando sua internacionalização. Tecnologias associadas à automação e a inteligência artificial tornam as atividades mais intensas em capital e reduzem a competitividade da mão de obra mais barata de países emergentes, incentivando a verticalização e o reshoring a países desenvolvidos. Já a fabricação aditiva por meio de impressoras 3D, por exemplo, favorece a produção em menores escalas, permitindo sua aproximação dos mercados consumidores, e uma governança mais descentralizada. Todas estas possibilidades tendem a impactar profundamente a organização das cadeias globais de valor nos próximos anos.
As novas tecnologias também devem contribuir no esforço mundial para alavancar a “economia verde” e a sustentabilidade dos modelos de negócio, dos padrões de consumo e da atuação dos governos. Assim como a redução do uso de combustíveis fósseis, o aprimoramento de fontes de energia limpa e a ampliação de sua participação na matriz energética dos países são aspectos fundamentais na agenda ambiental, o que confere grande vantagem potencial ao Brasil.
Contudo, além destas vertentes, a busca por sustentabilidade também exige que o conjunto das atividades produtivas seja ambientalmente mais eficiente. Os países do G20 estão comprometidos com a redução de suas emissões de CO2 por unidade de valor adicionado da indústria, algo que o Brasil ainda está por fazer. Não dar a devida atenção a estas questões implicará para empresas e países a deterioração de imagem pública e das suas relações com clientes, fornecedores, colaboradores e investidores e a perda de oportunidades de negócio em geral.
A importância da indústria no desenvolvimento dos países
A indústria, cada vez mais integrada com outras atividades, como o setor agropecuário e, sobretudo, com serviços sofisticados, vem dando origem a ecossistemas que potencializam seus atributos e que alavancam o desenvolvimento. Isso porque esses ecossistemas são capazes de revolucionar a própria forma da indústria produzir, mas também a das demais atividades da economia, por meio de novas máquinas, sistemas, equipamentos e demais bens de capital e por meio de novos produtos e processos intermediários. E também revoluciona padrões e estilos de vida das populações por meio de bens de consumo e serviços inovadores.
O Brasil não pode se furtar de inserir em sua agenda de desenvolvimento socioeconômico o reconhecimento da indústria como destacado eixo de crescimento. O preço de negligenciar o avanço acelerado do padrão internacional de competitividade, produtividade e sofisticação tecnológica é ficarmos cada vez mais isolados do mundo e privados dos efeitos positivos do crescimento do PIB global e das modernas tendências tecnológicas, reduzindo significativamente nosso potencial de crescimento.
A tarefa que temos pela frente é complexa e requer coordenação política e debate democrático e qualificado de ideias. Por isso, no documento “Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil”, o IEDI busca colaborar com a construção de uma agenda para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, identificando os principais pontos para que possamos estabelecer uma trajetória de crescimento sustentado.
Para o IEDI, o fortalecimento da indústria brasileira é parte fundamental desta agenda. Por isso, a necessidade da sua modernização, em linha com o padrão tecnológico emergente no mundo, de modo a viabilizar o avanço da produtividade e competitividade. O Brasil não pode mais deixar de aproveitar em sua total potencialidade os atributos industriais para sua prosperidade.
É preciso reforçar que a indústria é um dos mais importantes motores do desenvolvimento socioeconômico e destacada fonte de novos produtos, serviços, tecnologias e processos. Há muitas evidências a este respeito e o IEDI sistematizou as mais importantes na íntegra de seu documento de posicionamento. Seu papel estratégico para os países se acentuou ainda mais com a pandemia do coronavírus, pela interrupção de elos das cadeias globais de valor e pela dificuldade de obtenção de equipamentos e materiais essenciais, inclusive para o enfrentamento desta crise.
Mesmo partindo de um quadro desfavorável, dada a heterogeneidade da indústria brasileira, que em muitas áreas ainda emprega tecnologias obsoletas, e mesmo estando atrasado, diante de escassas políticas públicas de suporte à revolução 4.0, o Brasil conta com empresas modernas e competitivas da porta para dentro de suas fábricas, que acompanham as tendências mundiais em direção à digitalização e sustentabilidade.
Estas empresas, muitas vezes líderes de suas cadeias produtivas e mais bem integradas à economia global, podem funcionar como núcleo de difusão de novas tecnologias e novas práticas para o conjunto do sistema industrial do país, por meio de suas redes de colaboradores, fornecedores e clientes.
Removendo Obstáculos ao Desenvolvimento do País
Embora a indústria seja o ponto de partida de nossa reflexão, não é o único aspecto a ser enfatizado. Retomar o caminho do crescimento sustentado e do desenvolvimento socioeconômico requer o avanço em quatro condições precedentes, todas de crucial importância para viabilizar o restante da agenda.
A primeira destas condições refere-se à manutenção da tranquilidade institucional em nosso País, sem o que não é provável o atingimento das demais condições precedentes e muito menos a implementação de uma agenda consistente para o desenvolvimento socioeconômico.
A segunda condição consiste na obtenção de uma trajetória favorável das contas públicas associada a um avanço significativo da governança do Estado. Por isso, devem ser preservados e incrementados os esforços já realizados nesta direção. Sem isso não teremos as condições econômicas minimamente adequadas para avançar, como bem exemplificado pela trajetória recente da inflação e das taxas de juros. É fundamental assegurar uma tendência de médio e longo prazo de equilíbrio fiscal.
A terceira condição diz respeito a uma trajetória de redução de nossas desigualdades sociais a partir de políticas e instrumentos que almejem, de forma contínua, o acesso mais equânime de nossa população às oportunidades de avanço educacional, social e profissional e a partir de políticas assertivas de combate à pobreza. Mais uma vez, é pouco provável que possamos atingir as demais condições precedentes sem que haja avanços neste sentido.
E finalmente, como a quarta condição, um avanço continuado e decisivo na questão da sustentabilidade ambiental, seja pela sua interpolação com as demais condições precedentes, seja pelo compromisso nosso com as futuras gerações.
A partir do avanço nestas condições precedentes, poderemos caminhar com mais assertividade na questão da competitividade e a da produtividade, pilar essencial da agenda de desenvolvimento socioeconômico. Destaca-se aqui a necessidade de uma Reforma Tributária primeiramente focada na unificação dos impostos sobre o consumo de bens e serviços, que deverá (i) promover a simplificação do sistema tributário com a redução do custo de prestação dos tributos e da insegurança jurídica, (ii) eliminar a cumulatividade de impostos e o acúmulo de créditos dos contribuintes, com a sua pronta devolução, (iii) desonerar completamente as exportações e os investimentos e (iv) através da tributação no destino, de forma abrangente e com alíquotas horizontais, eliminar incentivos disfuncionais a formas de realização das atividades que acabam adicionando custos sistêmicos.
A modernização de nossa estrutura tributária deveria ser guiada não apenas pela busca de eficiência e não elevação da carga total de impostos sobre a sociedade, mas também pelo princípio da justiça social. Isso implica em um segundo momento, uma revisão dos impostos sobre a renda de pessoas físicas e jurídicas. O melhor equilíbrio das bases de tributação no País, nos aproximando dos parâmetros médios dos países da OCDE, funcionaria como um guia importante na direção de reduzir as excentricidades de nosso sistema de impostos e melhorar sua progressividade. Finalmente, ainda na agenda tributária, assim que houver espaço na agenda do equilíbrio fiscal, seria importante reduzir, ao longo do tempo, a tributação sobre os salários, aproximando nossa alíquota daquela praticada na OCDE.
O IEDI também avalia como pertinentes iniciativas adicionais de grande alcance: a sequência da Reforma Trabalhista, contribuindo para aumento da produtividade e adaptação às novas formas de trabalho; o desenvolvimento do mercado de capitais e o novo papel do BNDES; a diminuição do custo do crédito; os ajustes na regulação econômica e a melhora do ambiente de negócios, reduzindo a insegurança jurídica; e o incentivo aos investimentos em infraestrutura.
A exemplo dos planos de retomada pós-pandemia de outros países, o Brasil pode ter nos investimentos de infraestrutura relevante instrumento de aceleração do emprego e do crescimento econômico, com os avanços regulatórios necessários e a constituição de mecanismos de financiamento capazes de atrair o investimento privado. Pode igualmente requerer a recomposição da parcela pública dos investimentos, em grande medida complementar às inversões privadas na área. É importante, inclusive, que constituamos a infraestrutura necessária para a transformação digital e a sustentabilidade.
Nesta mesma direção, é preciso acelerar a agenda de inserção competitiva da economia brasileira no mundo, de modo firme e incondicional a outras reformas necessárias. O País deve, preferencialmente, abrir o maior número de frentes possíveis de negociações de acordos comerciais, enfatizando o gradualismo, a horizontalidade e a transparência, e ter iniciativa para reduzir suas barreiras internas aos fluxos de comércio. O ingresso na OCDE também seria relevante neste processo, pois nos possibilitaria alinhar normas e procedimentos com as principais economias mundiais, que têm demonstrado resultados mais favoráveis que os nossos.
Com uma boa gestão da agenda da competitividade e da produtividade seria possível reduzir ao longo do tempo o chamado “Custo Brasil”, que representa cerca de 22% do PIB brasileiro, segundo estimativa da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia. O que, de forma concomitante, mas não vinculada, à maior integração internacional do Brasil, potencializaria os ganhos advindos deste processo.
Uma nova Estratégia Industrial para o Brasil
O avanço das atividades industriais no País é também fundamental para a construção da agenda de desenvolvimento socioeconômico. A contribuição do setor será maximizada se, como fazem muitos outros países desenvolvidos e em desenvolvimento, for adotada uma estratégia industrial que vise, em última análise, elevar a produtividade e a competitividade do setor e do País. Ações nesta direção, que já vinham ganhando destaque no mundo ao longo dos últimos anos, devem ser reforçadas no período pós-pandemia. O IEDI, em suas diferentes divulgações, vem acompanhando de perto este movimento, cujas linhas gerais também são abordadas no documento de posicionamento que subsidiou esta Carta.
Na estratégia a ser seguida pelo Brasil, cabe mencionar os seguintes temas:
1.O País deve criar condições para absorver as tecnologias emergentes na revolução da Indústria 4.0, em curso a nível mundial, e também promover, por meio de ferramentas horizontais, o desenvolvimento e a aplicação dessas inovações.
2.Potencialização da inovação, por meio do apoio às atividades de P&D das instituições de ciência e tecnologia públicas e do setor privado, do fortalecimento da educação básica e tecnológica e através de programas consistentes que articulem universidades, institutos de pesquisa, setor produtivo e governo.
3.Fomento à modernização do parque industrial, através de instrumentos horizontais e com limite temporal, com o objetivo de impulsionar a produtividade e competitividade e para melhorar a performance socioambiental das empresas brasileiras.
4. Mobilização de competências industriais, sem comprometer o objetivo de produtividade e competitividade das empresas, para o enfrentamento de desafios sociais, muitos deles agravados pela pandemia, como segurança sanitária, saneamento e sustentabilidade ambiental.
5.Aumento da exportação de manufaturados, em especial de produtos mais complexos e intensivos em tecnologia, o que pressupõe a maior inserção competitiva de nossa economia.
6.Agregação de valor a atividades primárias em que o Brasil apresenta grande potencial de desenvolvimento ou reconhecida vantagem competitiva.
Vale enfatizar que como eixo de um projeto de desenvolvimento socioeconômico, a estratégia industrial não se confunde com uma defesa de privilégios para um setor e sim a identificação e promoção de atividades industriais impulsionadoras, isto é, geradoras e difusoras, de mudança tecnológica para a economia como um todo, com efeitos positivos sobre a produtividade, mas também com implicações sobre as formas organizacionais das empresas e sobre as estruturas produtivas dos países.
Em direção à sustentabilidade social e ambiental
O IEDI acredita que os princípios e diretrizes recomendados no documento “Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil” serão de grande valia para colocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável.
Para que o desenvolvimento chegue a todos, como já foi observado, é preciso acelerar as políticas públicas no campo social e torná-las mais efetivas em mudar esta trágica realidade do País: o enorme contingente de brasileiros sem as condições mínimas de renda e de acesso à saúde, à moradia, à educação de qualidade, à segurança e ao saneamento.
Um país com baixa mobilidade social está condenado a ser menos competitivo e pouco inovador. É urgente redefinirmos a alocação de recursos públicos de forma a eliminar estas distorções. A pandemia ressaltou ainda mais a necessidade desta ação.
Um sistema educacional equânime e de qualidade é a base para assegurar a ascensão social não apenas material, mas também política e intelectual de nossos cidadãos. Não há progresso sem educação. E ademais, diante das novas tecnologias e das novas necessidades do mercado de trabalho, será estratégica a modernização do ensino profissional no País para atender a demanda das empresas e manter a empregabilidade das pessoas. Educar mais e melhor os brasileiros é peça-chave na engrenagem do desenvolvimento socioeconômico.
Também é fundamental que os efeitos positivos de políticas sociais acertadas não sejam mitigados pelas distorções da estrutura de arrecadação do próprio setor público. Não é lógico que o gasto público promova a redução da desigualdade social ao mesmo tempo em que sua arrecadação a eleve. Por isso, o País deve assegurar equidade ao seu sistema tributário, evitando mecanismos regressivos e eliminando ao longo do tempo tratamentos desiguais com benefícios injustificáveis.
O avanço no quadro social do País tem a capacidade de tornar o mercado consumidor ainda mais pujante e de elevar a produtividade do trabalho, o que fortaleceria a indústria, bem como todos os demais setores da economia.